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VERSO 6

sampracaratsu nānā-yāgeṣu viracitāṅga-kriyeṣv apūrvaṁ yat tat kriyā-phalaṁ dharmākhyaṁ pare brahmaṇi yajña-puruṣe sarva-devatā-liṅgānāṁ mantrāṇām artha-niyāma-katayā sākṣāt-kartari para-devatāyāṁ bhagavati vāsudeva eva bhāvayamāna ātma-naipuṇya-mṛdita-kaṣāyo haviḥṣv adhvaryubhir gṛhyamāṇeṣu sa yajamāno yajña-bhājo devāṁs tān puruṣāvayaveṣv abhyadhyāyat.

sampracaratsu — quando começava a realizar; nānā-yāgeṣu — várias classes de sacrifícios; viracita-aṅga-kriyeṣu — nos quais se realizavam os ritos suplementares; apūrvam — remoto; yat — tudo o que; tat — isso; kriyā-phalam — o resultado desse sacrifício; dharma-ākhyam — em nome da religião; pare — à transcendência; brahmaṇi — o Senhor Supremo; yajña-puruṣe — o desfrutador de todos os sacrifícios; sarva-devatā-liṅgānām — que manifestam todos os semideuses; mantrāṇām — dos hinos védicos; artha-niyāma-katayā — devido a ser o controlador dos objetos; sākṣāt-kartari — diretamente o realizador; para-devatāyām — a origem de todos os semideuses; bhagavati — a Suprema Personalidade de Deus; vāsudeve — a Kṛṣṇa; eva — com certeza; bhāvayamānaḥ — sempre pensando; ātma-naipuṇya-mṛdita-kaṣāyaḥ — através de sua habilidade nessa espécie de pensamento, livre de toda luxúria e ira; haviḥṣu — os artigos a serem oferecidos no sacrifício; adhvaryubhiḥ — quando os sacerdotes peritos em sacrifícios mencionados no Atharva Veda; gṛhyamāṇeṣu — tomando; saḥ — Mahārāja Bharata; yajamānaḥ — o sacrificante; yajña-bhājaḥ — os recipientes dos resultados do sacrifício; devān — todos os semideuses; tān — a eles; puruṣa-avayaveṣu — como diferentes partes e membros do corpo da Suprema Personalidade de Deus, Govinda; abhyadhyāyat — ele pensava.

Após realizar os preâmbulos de vários sacrifícios, Mahārāja Bharata, em nome da religião, oferecia os resultados à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva. Em outras palavras, ele executava todos os yajñas para a satisfação do Senhor Vāsudeva, Kṛṣṇa. Mahārāja Bharata concluiu que, como os semideuses são diferentes partes do corpo de Vāsudeva, Ele controla aqueles que são explicados nos mantras védicos. Porque pensava dessa maneira, Mahārāja Bharata estava livre de toda a contaminação material, tal como o apego, a luxúria e a cobiça. Quando os sacerdotes estavam prestes a oferecer no fogo os artigos sacrificatórios, Mahārāja Bharata sabiamente compreendeu como a oferenda feita aos diversos semideuses eram simples oblações aos diversos membros do Senhor. Por exemplo, Indra é o braço da Suprema Personalidade de Deus, e Sūrya [o Sol] é Seu olho. Assim, Mahārāja Bharata considerava que as oferendas feitas aos diferentes semideuses destinavam-se, na verdade, aos diferentes membros do Senhor Vāsudeva.

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus afirma que quem ainda não desenvolveu o serviço devocional puro de śravaṇaṁ kīrtanam, ouvir e cantar, deve executar seus deveres prescritos. Como Bharata Mahārāja era um devoto grandioso, alguém poderia perguntar por que ele realizou tantos sacrifícios que, na verdade, reservam-se aos karmīs. O fato é que ele estava simplesmente seguindo as ordens de Vāsudeva. Como Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (18.66), sarva dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim.” Em tudo o que fizermos, devemos nos lembrar constantemente de Vāsudeva. De um modo geral, as pessoas têm o forte hábito de oferecer reverências a vários semideuses, mas Bharata Mahārāja simplesmente queria satisfazer o Senhor Vāsudeva. Como afirma a Bhagavad-gītā (5.29), bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram. Pode-se realizar um yajña com o intento de agradar um semideus específico, porém, quando o yajña é oferecido ao yajña-puruṣa, Nārāyaṇa, os semideuses ficam satisfeitos. O propósito de executar diferentes yajñas é satisfazer o Senhor Supremo. Podemos executá-los em nome de diferentes semideuses ou diretamente. Se oferecemos diretamente oblações à Suprema Personalidade de Deus, os semideuses ficam naturalmente satisfeitos. Se regamos a raiz de uma árvore, ficam automaticamente satisfeitos os galhos, os ramos, as frutas e as flores. Quem oferece sacrifícios aos diversos semideuses deve lembrar-se de que os semideuses são meras partes do corpo do Supremo. Se adoramos a mão de uma pessoa, tencionamos satisfazer a própria pessoa. Se massageamos as pernas de uma pessoa, na verdade não servimos às pernas, senão que servimos à pessoa que possui as pernas. Todos os semideuses são diferentes partes do Senhor, e, caso ofereçamos serviço a eles, estamos servindo ao próprio Senhor, na verdade. A adoração aos semideuses é mencionada na Brahma-saṁhitā, mas, de fato, os ślokas advogam a adoração à Suprema Personalidade de Deus, Govinda. Por exemplo, a Brahma-saṁhitā (5.44) faz a seguinte menção acerca da adoração à deusa Durgā:

sṛṣṭi-sthiti-pralaya-sādhana-śaktir ekā
chāyeva yasya bhuvanāni bibharti durgā
icchānurūpam api yasya ca ceṣṭate sā
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

Seguindo as ordens de Śrī Kṛṣṇa, a deusa Durgā cria, mantém e aniquila. Śrī Kṛṣṇa também confirma essa declaração na Bhagavad-gītā (9.10), mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram: “Esta natureza material está agindo sob Minha direção, ó filho de Kuntī, e está produzindo todos os seres móveis e inertes.”

É imbuídos desse estado de espírito que devemos adorar os semideuses. Porque a deusa Durgā satisfaz Kṛṣṇa, devemos prestar respeitos à deusa Durgā. Porque o senhor Śiva não é nada além do corpo funcional de Kṛṣṇa, devemos prestar respeitos ao senhor Śiva. Igualmente, devemos prestar respeitos a Brahmā, Agni e Sūrya. Existem muitas oferendas a diferentes semideuses, e jamais devemos nos esquecer de que essas oferendas geralmente se destinam a satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Bharata Mahārāja não desejava receber nenhuma bênção dos semideuses. Ele queria apenas satisfazer o Senhor Supremo. No Mahābhārata, entre os mil nomes de Viṣṇu, menciona-se yajña-bhug yajña-kṛd yajñaḥ. O desfrutador de yajña, o realizador de yajña e o próprio yajña são o Senhor Supremo. O Senhor Supremo é o executante de tudo, mas, devido à ignorância, a entidade viva pensa que é o agente. Enquanto pensarmos que somos os autores, produziremos karma-bandha (cativeiro à atividade). Se agirmos para yajña, para Kṛṣṇa, não haverá karma-bandha. Yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ: “Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Viṣṇu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material.” (Bhagavad-gītā 3.9)

Seguindo as instruções de Bharata Mahārāja, devemos agir não para a nossa satisfação pessoal, mas para satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. A Bhagavad-gītā (17.28) afirma também:

aśraddhayā hutaṁ dattaṁ
tapas taptaṁ kṛtaṁ ca yat
asad ity ucyate pārtha
na ca tat pretya no iha

Os sacrifícios, as austeridades e as caridades executadas sem fé na Suprema Personalidade de Deus não são permanentes. Independentemente dos rituais executados, são chamados de asat, “impermanentes”. Portanto, são inúteis tanto nesta vida quanto na próxima.

Reis como Mahārāja Ambarīṣa e muitos outros rājarṣis que eram devotos puros do Senhor simplesmente passavam seu tempo servindo ao Senhor Supremo. Quando o devoto puro executa algum serviço por intermédio de outra pessoa, ele não deve ser criticado, pois suas atividades destinam-se a satisfazer o Senhor Supremo. Pode ser que o devoto recorra a um sacerdote para que esse sacerdote, então, execute algo karma-kāṇḍa, e o sacerdote talvez não seja um vaiṣṇava puro, mas, como o devoto deseja satisfazer o Senhor Supremo, ele não deve ser criticado. A palavra apūrva é muito significativa. As ações resultantes de karma se chamam apūrva. Ao agirmos piedosa ou impiamente, não acontecem resultados imediatos. Portanto, esperamos pelos resultados, que se chamam apūrva. Os resultados manifestam-se no futuro. Mesmo os smārtas aceitam esse apūrva. Os devotos puros agem simplesmente para o prazer da Suprema Personalidade de Deus; logo, os resultados de suas atividades são espirituais, ou permanentes, contrastando com aqueles dos karmīs, que são impermanentes. A Bhagavad-gītā (4.23) confirma isso:

gata-saṅgasya muktasya
jñānāvasthita-cetasaḥ
yajñāyācarataḥ karma
samagraṁ pravilīyate

“O trabalho do homem que não está apegado aos modos da natureza material e que está situado em pleno conhecimento transcendental funde-se por completo na transcendência.”

O devoto sempre está livre da contaminação material. Ele está plenamente situado em conhecimento, em razão do que seus sacrifícios visam a satisfazer a Suprema Personalidade de Deus.

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