VERSO 17
iti teṣāṁ vṛṣalānāṁ rajas-tamaḥ-prakṛtīnāṁ dhana-mada-raja-utsikta-manasāṁ bhagavat-kalā-vīra-kulaṁ kadarthī-kṛtyotpathena svairaṁ viharatāṁ hiṁsā-vihārāṇāṁ karmāti-dāruṇaṁ yad brahma-bhūtasya sākṣād brahmarṣi-sutasya nirvairasya sarva-bhūta-suhṛdaḥ sūnāyām apy ananumatam ālambhanaṁ tad upalabhya brahma-tejasāti-durviṣaheṇa dandahyamānena vapuṣā sahasoccacāṭa saiva devī bhadra-kālī.
iti — assim; teṣām — deles; vṛṣalānām — os śūdras, através de quem todos os princípios religiosos são destruídos; rajaḥ — na paixão; tamaḥ — na ignorância; prakṛtīnām — tendo naturezas; dhana-mada — na forma de arrogância, devido à riqueza material; rajaḥ — pela paixão; utsikta — envaidecidas; manasām — cujas mentes; bhagavat-kalā — uma expansão da expansão plenária da Suprema Personalidade de Deus; vīra-kulam — o grupo de personalidades elevadas (os brāhmaṇas); kat-arthī-kṛtya — desrespeitando; utpathena — pelo caminho errado; svairam — independentemente; viharatām — que se comportam; hiṁsā-vihārāṇām — cuja ocupação é cometer violência contra os outros; karma — a atividade; ati-dāruṇam — muito aterrorizante; yat — aquela que; brahma-bhūtasya — de uma pessoa autorrealizada nascida em família brāhmaṇa; sākṣāt — diretamente; brahma-ṛṣi-sutasya — do filho nascido de um brāhmaṇa dotado de elevada consciência espiritual; nirvairasya — que não tinha inimigos; sarva-bhūta-suhṛdaḥ — um benquerente de todos os demais; sūnāyām — no último instante; api — muito embora; ananumatam — não sendo sancionado pela lei; ālambhanam — contra o desejo do Senhor; tat — isto; upalabhya — percebendo; brahma-tejasā — com a refulgência da bem-aventurança espiritual; ati-durviṣaheṇa — sendo muito brilhante e ofuscante; dandahyamānena — queimando; vapuṣā — com um corpo físico; sahasā — subitamente; uccacāṭa — ficou dividida (a deidade); sā — ela; eva — na verdade; devī — a deusa; bhadra-kālī — Bhadra Kālī.
Todos os ladrões e assaltantes que se prepararam para adorar a deusa Kālī tinham uma mentalidade rasteira e estavam atados aos modos da paixão e da ignorância. Dominava-os o desejo de tornarem-se ricos; portanto, tiveram a audácia de desobedecer aos preceitos dos Vedas, a ponto de organizarem-se para matar Jaḍa Bharata, uma alma autorrealizada nascida em família brāhmaṇa. Devido à sua inveja, esses assaltantes levaram Jaḍa Bharata para ser sacrificado diante da deusa Kālī. Semelhantes pessoas vivem entregues a atividades invejosas e, portanto, ousaram tentar matar Jaḍa Bharata. Jaḍa Bharata era o melhor amigo de todas as entidades vivas. Ele não era inimigo de ninguém, e estava sempre absorto em meditar na Suprema Personalidade de Deus. Ele nascera de um bom pai brāhmaṇa, e matá-lo era proibido, mesmo que ele fosse um inimigo ou uma pessoa perigosa. Em todo caso, não havia razão alguma para se matar Jaḍa Bharata, e a deusa Kālī não podia tolerar isso. Ela percebeu de imediato que esses assaltantes pecaminosos estavam prestes a matar um grande devoto do Senhor. Subitamente, o corpo da deidade se rompeu em dois, e a deusa Kālī emergiu pessoalmente em um corpo incandescente e que apresentava uma intensa e ofuscante refulgência.
SIGNIFICADO—De acordo com os preceitos védicos, deve-se matar apenas quem é um agressor. Se alguém se aproxima determinado a matar, podemos tomar uma ação imediata e matá-lo em legítima defesa. Também se afirma que se pode matar alguém que venha atear fogo na casa ou violar ou raptar a esposa alheia. O Senhor Rāmacandra matou toda a família de Rāvaṇa porque esse raptou Sua esposa, Sītādevī. Contudo, os śāstras não sancionam o ato de matar quando visa a outros propósitos. Aqueles que comem carne recebem a permissão de matar animais em sacrifício aos semideuses, que são expansões da Suprema Personalidade de Deus. Esse é um tipo de restrição ao consumo de carne. Em outras palavras, o abate de animais também é restringido mediante certas regras e regulações dos Vedas. Considerando esses pontos, não havia razão para matar Jaḍa Bharata, que nascera em uma família brāhmaṇa, respeitável e elevadíssima. Ele era uma alma consciente de Deus e benquerente de todas as entidades vivas. Os Vedas não dão apoio algum ao intento que os ladrões e assaltantes tinham de matar Jaḍa Bharata. Em consequência disso, para proteger o devoto do Senhor, a deusa Bhadra Kālī surgiu da deidade. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica que, devido à refulgência Brahman de um devoto do quilate de Jaḍa Bharata, a deidade se partiu. Somente ladrões e assaltantes situados nos modos da paixão e ignorância e enlouquecidos pela opulência material oferecem homens em sacrifício diante da deusa Kālī. As instruções védicas não sancionam isso. Atualmente, existem no mundo inteiro muitas centenas e milhares de matadouros mantidos por uma população arrogante e insanamente cobiçosa da opulência material. A escola bhāgavata jamais apoiaria semelhantes atividades.