VERSO 4
tasyāpi ha vā ātmajasya vipraḥ putra-snehānubaddha-manā āsamāvartanāt saṁskārān yathopadeśaṁ vidadhāna upanītasya ca punaḥ śaucācamanādīn karma-niyamān anabhipretān api samaśikṣayad anuśiṣṭena hi bhāvyaṁ pituḥ putreṇeti.
tasya — dele; api ha vā — com certeza; ātma-jasya — de seu filho; vipraḥ — o brāhmaṇa pai de Jaḍa Bharata (o louco e desvairado Bharata); putra-sneha-anubaddha-manāḥ — que estava compelido pela afeição a seu filho; ā-sama-āvartanāt — até o término do brahmacarya-āśrama; saṁskārān — o processo purificatório; yathā-upadeśam — como os śāstras prescrevem; vidadhānaḥ — executando; upanītasya — daquele que tem um cordão sagrado; ca — também; punaḥ — novamente; śauca-ācamana-ādīn — prática de limpeza, ablução da boca, pernas, mãos etc.; karma-niyamān — os princípios reguladores das atividades fruitivas; anabhipretān api — embora não desejado por Jaḍa Bharata; samaśikṣayat — ensinados; anuśiṣṭena — ensinava a seguir os princípios reguladores; hi — na realidade; bhāvyam — deve ser; pituḥ — do pai; putreṇa — o filho; iti — assim.
A mente do pai brāhmaṇa estava sempre repleta de afeição por seu filho, Jaḍa Bharata [Bharata Mahārāja]. Portanto, ele estava sempre apegado a Jaḍa Bharata. Como não conseguia entrar no gṛhastha-āśrama, Jaḍa Bharata simplesmente executou o processo purificatório até o final do brahmacarya-āśrama. Embora Jaḍa Bharata não quisesse aceitar as instruções de seu pai, o brāhmaṇa o instruía sobre como manter-se limpo e como lavar-se, julgando pertinente que ao pai cabe ensinar o filho.
SIGNIFICADO—Jaḍa Bharata era o mesmo Bharata Mahārāja, mas agora no corpo de um brāhmaṇa, e ele intencionalmente se fazia passar por estúpido, surdo, mudo e cego. Na verdade, ele estava bem alerta internamente. Ele distinguia perfeitamente os resultados das atividades fruitivas e os resultados do serviço devocional. No corpo de brāhmaṇa, Mahārāja Bharata, em seu íntimo, estava absorto por completo em serviço devocional; portanto, não havia por que se submeter aos princípios reguladores que regem as atividades fruitivas. Como se confirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.13), svanuṣṭhitasya dharmasya saṁsiddhir hari-toṣaṇam. Devemos satisfazer Hari, a Suprema Personalidade de Deus. Esta é a perfeição dos princípios reguladores que regem as atividades fruitivas. Além disso, afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.8):
dharmaḥ svanuṣṭhitaḥ puṁsāṁ
viṣvaksena-kathāsu yaḥ
notpādayed yadi ratiṁ
śrama eva hi kevalam
“Os deveres [dharma] executados pelos homens, não importa em que estejam ocupados, não passam de esforços inúteis se não provocam atração pela mensagem da Personalidade de Deus.” Essas atividades karma-kāṇḍa são necessárias para aquele que não desenvolveu a consciência de Kṛṣṇa. Quem está estabelecido na consciência de Kṛṣṇa não precisa executar esses princípios que regulam o karma-kāṇḍa. Śrīla Mādhavendra Purī disse: “Ó princípios reguladores de karma-kāṇḍa, por favor, desculpai-me. Não posso seguir todos esses princípios reguladores, pois estou plenamente ocupado em serviço devocional.” Ele expressou o desejo de, em algum lugar, sentar-se debaixo de uma árvore e cantar continuamente o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Por conseguinte, ele não executava todos os princípios reguladores. Do mesmo modo, Haridāsa Ṭhākura nascera em família muçulmana e, desde o início de sua vida, jamais fora iniciado no sistema karma-kāṇḍa, mas, como estava sempre cantando os santos nomes do Senhor, Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou-o como nāmācārya, a autoridade no cantar dos santos nomes. Como Jaḍa Bharata, Bharata Mahārāja, em seu íntimo, estava sempre ocupado em serviço devocional. Como, durante três vidas consecutivas, executara os princípios reguladores, não estava interessado em continuar a executá-los, embora seu pai brāhmaṇa desejasse que ele o fizesse.