VERSO 6
evaṁ sva-tanuja ātmany anurāgāveśita-cittaḥ śaucādhyayana-vrata-niyama-gurv-anala-śuśrūṣaṇādy-aupakurvāṇaka-karmāṇy anabhiyuktāny api samanuśiṣṭena bhāvyam ity asad-āgrahaḥ putram anuśāsya svayaṁ tāvad anadhigata-manorathaḥ kālenāpramattena svayaṁ gṛha eva pramatta upasaṁhṛtaḥ.
evam — assim; sva — próprio; tanu-je — em seu filho, Jaḍa Bharata; ātmani — o qual ele considerava como sendo ele próprio; anurāga-āveśita-cittaḥ — o brāhmaṇa que estava absorto em amor por seu filho; śauca — limpeza; adhyayana — estudo da literatura védica; vrata — aceitando todos os votos; niyama — princípios reguladores; guru — do mestre espiritual; anala — do fogo; śuśrūṣaṇa-ādi — o serviço etc.; aupakurvāṇaka — do brahmacarya-āśrama; karmāṇi — todas as atividades; anabhiyuktāni api — embora não desejado por seu filho; samanuśiṣṭena — plenamente instruído; bhāvyam — deveria ser; iti — assim; asat-āgrahaḥ — mostrando indevida obstinação; putram — seu filho; anuśāsya — instruindo; svayam — ele próprio; tāvat — dessa maneira; anadhigata-manorathaḥ — não tendo satisfeito seus desejos; kālena — pela influência do tempo; apramattena — que não se esquece; svayam — ele próprio; gṛhe — a seu lar; eva — decerto; pramattaḥ — estando loucamente apegado; upasaṁhṛtaḥ — morreu.
O brāhmaṇa que era pai de Jaḍa Bharata considerava seu filho como sua vida e alma, de maneira que estava muito apegado a ele. Julgava sábio educar seu filho apropriadamente e, estando absorto nessa tarefa malograda, tentava ensinar a seu filho as regras e regulações de brahmacarya – incluindo a execução dos votos védicos, limpeza, estudo dos Vedas, os métodos reguladores, serviço ao mestre espiritual e o processo de oferecer sacrifícios de fogo. Empenhou-se ao máximo por ensinar tudo isso a seu filho, mas todos os seus esforços falharam. Dentro de seu coração, alimentava a esperança de que seu filho seria um estudioso erudito, mas todas as suas tentativas foram malsucedidas. Como todos, esse brāhmaṇa estava apegado ao seu lar, e havia se esquecido de que um dia morreria. A morte, contudo, não se esqueceu dele e, no momento adequado, ela apareceu e o levou.
SIGNIFICADO—Aqueles que estão demasiadamente apegados à vida familiar e se esquecem de que, no futuro, a morte virá levá-los, por estarem apegados, ficam incapazes de concluir seus deveres como seres humanos. O dever da vida humana é resolver todos os problemas da vida, mas, ao invés disso, as pessoas ficam apegadas aos afazeres e deveres familiares. Embora elas se esqueçam da morte, a morte não se esquecerá delas. Subitamente, elas serão expulsas da plataforma da vida familiar pacífica. Talvez alguém se esqueça de que morrerá, mas a morte nunca se esquece de vir pegar essa pessoa esquecida. A morte vem sempre na hora certa. O brāhmaṇa, pai de Jaḍa Bharata, queria ensinar ao seu filho o processo de brahmacarya, mas, devido ao desinteresse de seu filho em submeter-se ao processo de avanço védico, ele fracassou. Tudo em que Jaḍa Bharata pensava era voltar ao lar, voltar ao Supremo, executando serviço devocional através de śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ. Ele não se importava com as instruções védicas de seu pai. Quando alguém está plenamente interessado em servir ao Senhor, ele não precisa seguir os princípios reguladores especificados nos Vedas. É claro que, para um homem comum, os princípios védicos são imprescindíveis. Ninguém pode evitá-los. Mas quem alcançou a perfeição no serviço devocional não vê muita importância em seguir os princípios védicos. O Senhor Kṛṣṇa aconselhou que Arjuna se elevasse à plataforma de nistraiguṇya, a posição transcendental situada acima dos princípios védicos:
traiguṇya-viṣayā vedā
nistraiguṇyo bhavārjuna
nirdvandvo nitya-sattva-stho
niryoga-kṣema ātmavān
“Os Vedas tratam principalmente do tema dos três modos da natureza material. Ó Arjuna, torna-te transcendental a estes três modos. Liberta-te de todas as dualidades e de todos os anseios advindos da busca de lucro e segurança e estabelece-te no eu.” (Bhagavad-gītā 2.45)