VERSO 37
ṛṇais tribhir amuktānām
amīmāṁsita-karmaṇām
vighātaḥ śreyasaḥ pāpa
lokayor ubhayoḥ kṛtaḥ
ṛṇaiḥ — dos débitos; tribhiḥ — três; amuktānām — das pessoas que não estão livres; amīmāṁsita — sem levar em consideração; karmaṇām — o caminho do dever; vighātaḥ — ruína; śreyasaḥ — do caminho da boa fortuna; pāpa — ó pecaminosíssimo (Nārada Muni); lokayoḥ — dos mundos; ubhayoḥ — ambos; kṛtaḥ — consumada.
O prajāpati Dakṣa disse: Meus filhos não estavam de modo algum livres dos seus três débitos. Na verdade, eles não deram a devida consideração às suas obrigações. Ó Nārada Muni, ó personalidade de ação pecaminosa, obstruíste o progresso deles rumo à boa fortuna neste e no próximo mundo porque eles ainda estão endividados com as pessoas santas, os semideuses e seu pai.
SIGNIFICADO—Logo que nasce, um brāhmaṇa assume três espécies de débitos – os débitos com os grandes santos, os débitos com os semideuses e os débitos com o seu pai. O filho de um brāhmaṇa deve submeter-se ao celibato (brahmacarya) para saldar seus débitos com as pessoas santas, deve executar cerimônias ritualísticas para saldar seu débito com os semideuses, e deve gerar filhos para saldar seu débito com seu pai. O prajāpati Dakṣa argumentou que, embora se recomende a ordem renunciada como o meio de alguém alcançar a liberação, ninguém pode alcançar a liberação enquanto não cumprir suas obrigações para com os semideuses, os santos e seu pai. Uma vez que os filhos de Dakṣa não haviam se livrado desses três débitos, como é que Nārada Muni podia induzi-los a aceitarem a ordem de vida renunciada? Ao que tudo indica, o prajāpati Dakṣa não conhecia a decisão final dos śāstras. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (11.5.41):
devarṣi-bhūtāpta-nṛṇāṁ pitṝṇāṁ
na kiṅkaro nāyam ṛṇī ca rājan
sarvātmanā yaḥ śaraṇaṁ śaraṇyaṁ
gato mukundaṁ parihṛtya kartam
Todos estão endividados com os semideuses, com as entidades vivas em geral, com a sua família, com os pitās e assim por diante, mas, se alguém se rende plenamente a Kṛṣṇa, Mukunda, aquele que lhe pode conceder a liberação, mesmo que ele não execute yajña, estará livre de todos os débitos. Mesmo que alguém não consiga quitar seus débitos, estará livre de todos os débitos caso renuncie ao mundo material e fique com a Suprema Personalidade de Deus, cujos pés de lótus são o refúgio de todos. Esse é o veredito dos śāstras. Portanto, Nārada Muni estava completamente certo ao instruir os filhos do prajāpati Dakṣa a renunciarem a este mundo material imediatamente e se abrigarem na Suprema Personalidade de Deus. Infelizmente, o prajāpati Dakṣa, o pai dos Haryaśvas e dos Savalāśvas, não compreendeu o grande serviço prestado por Nārada Muni. Dakṣa, portanto, tratou-o por papa (personalidade de atividades pecaminosas) e asādhu (pessoa não-santa). Como era um grande santo e vaiṣṇava, Nārada Muni tolerou todas as acusações do prajāpati Dakṣa. Tudo o que Nārada fez foi executar seu dever de vaiṣṇava, libertando todos os filhos do prajāpati Dakṣa e os capacitando a voltarem ao lar, voltarem ao Supremo.