VERSO 50
svayaṁ niḥśreyasaṁ vidvān
na vakty ajñāya karma hi
na rāti rogiṇo ’pathyaṁ
vāñchato ’pi bhiṣaktamaḥ
svayam — pessoalmente; niḥśreyasam — a suprema meta da vida, a saber, os meios de se obter amor extático pela Suprema Personalidade de Deus; vit-vān — aquele que é entendido em serviço devocional; na — não; vakti — ensina; ajñāya — a uma pessoa tola e que não é versada na meta última da vida; karma — atividades fruitivas; hi — na verdade; na — não; rāti — administra; rogiṇaḥ — ao paciente; apathyam — algo não consumível; vāñchataḥ — desejando; api — embora; bhiṣak-tamaḥ — um médico experiente.
O devoto puro, plenamente versado na ciência do serviço devocional, jamais instruirá um tolo a ocupar-se em atividades fruitivas que propiciam o gozo material, e, muito menos, iria ajudá-lo a executar semelhantes atividades. Tal devoto é como um médico experiente que jamais encoraja um paciente a comer alimentos prejudiciais à sua saúde, mesmo que este os deseje.
SIGNIFICADO—Eis a diferença entre as bênçãos concedidas pelos semideuses e as concedidas por Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus. Os devotos dos semideuses pedem bênçãos com o simples fim de obter gozo dos sentidos, daí a Bhagavad-gītā (7.20) os descrever como sendo desprovidos de inteligência.
kāmais tais tair hṛta-jñānāḥ
prapadyante ’nya-devatāḥ
taṁ taṁ niyamam āsthāya
prakṛtyā niyatāḥ svayā
“Aqueles cujas mentes estão distorcidas por desejos materiais se rendem aos semideuses e, de acordo com suas próprias naturezas, seguem determinadas regras e regulações de adoração.”
Devido a profundos desejos de gozo dos sentidos, as almas condicionadas, em geral, são desprovidas de inteligência. Elas não sabem que bênçãos pedir. Portanto, os śāstras aconselham os não-devotos a adorarem vários semideuses para alcançarem benefícios materiais. Por exemplo, se alguém quer uma bela esposa, é aconselhado a adorar Umā, ou a deusa Durgā. Se alguém deseja se curar de uma doença, é aconselhado a adorar o deus do Sol. Entretanto, todos os pedidos de bênçãos aos semideuses se devem à luxúria material. No fim da manifestação cósmica, as bênçãos e aqueles que as outorgam estarão todos terminados. Se alguém se aproxima do Senhor Viṣṇu em busca de bênçãos, o Senhor lhe dará a bênção que o ajudará a voltar ao lar, voltar ao Supremo. Na Bhagavad-gītā (10.10), o próprio Senhor também confirma isso:
teṣāṁ satata-yuktānāṁ
bhajatāṁ prīti-pūrvakam
dadāmi buddhi-yogaṁ taṁ
yena mām upayānti te
O Senhor Viṣṇu, ou o Senhor Kṛṣṇa, instrui como é que o devoto que constantemente se ocupa em Seu serviço deve proceder para que, chegado o fim deste seu atual corpo material, possa aproximar-se do Senhor, que diz na Bhagavad-gītā (4.9):
janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna
“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo, não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.” Esta é a bênção do Senhor Viṣṇu, Kṛṣṇa. Após abandonar seu corpo, o devoto retorna ao lar, retorna ao Supremo.
O devoto pode cometer a tolice de pedir bênçãos materiais, mas, apesar das orações do devoto, o Senhor Kṛṣṇa não lhe outorga essas bênçãos. Portanto, as pessoas que são muito apegadas à vida material de modo geral não se tornam devotos de Kṛṣṇa ou Viṣṇu. Em vez disso, tornam-se devotos dos semideuses (kāmais tais tair hṛta jñānāḥ prapadyante ’nya-devatāḥ). Contudo, a Bhagavad-gītā não aprova as bênçãos dos semideuses. Antavat tu phalaṁ teṣāṁ tad bhavaty alpa-medhasām: “Os homens de inteligência escassa adoram os semideuses, e os frutos obtidos são limitados e temporários.” Um não vaiṣṇava, isto é, alguém que não está ocupado a serviço da Suprema Personalidade de Deus, é considerado um tolo com uma irrelevante quantidade de massa cinzenta.