VERSO 42
akṣaṁ daśa-prāṇam adharma-dharmau
cakre ’bhimānaṁ rathinaṁ ca jīvam
dhanur hi tasya praṇavaṁ paṭhanti
śaraṁ tu jīvaṁ param eva lakṣyam
akṣam — os raios (na roda da quadriga); daśa — dez; prāṇam — as dez classes de ar que fluem dentro do corpo; adharma — irreligião; dharmau — religião (dois lados da roda, superior e inferior); cakre — na roda; abhimānam — falsa identificação; rathinam — o quadrigário ou o proprietário do corpo; ca — também; jīvam — a entidade viva; dhanuḥ — o arco; hi — na verdade; tasya — seu; praṇavam — o mantra védico oṁkāra; paṭhanti — afirma-se; śaram — uma flecha; tu — mas; jīvam — a entidade viva; param — o Senhor Supremo; eva — na verdade; lakṣyam — o alvo.
As dez classes de ar que agem dentro do corpo são comparadas aos raios das rodas da quadriga, e o topo e a base da própria roda são chamados de religião e irreligião. A entidade viva no conceito de vida corpórea é o proprietário da quadriga. O mantra védico praṇava é o arco, a própria entidade viva pura é a flecha, e o alvo é o Ser Supremo.
SIGNIFICADO—Dez classes de ares vitais sempre fluem dentro do corpo material. Eles são chamados prāṇa, apāna, samāna, vyāna, udāna, nāga, kūrma, kṛkala, devadatta e dhanañjaya. Aqui, são comparados aos raios das rodas da quadriga. O ar vital é a energia de todas as atividades do ser vivo, as quais são ora religiosas, ora irreligiosas. Portanto, afirma-se que a religião e a irreligião são as porções superior e inferior das rodas da quadriga. Quando a entidade viva decide voltar ao lar, voltar ao Supremo, seu alvo é o Senhor Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus. No estado de vida condicionada, ninguém entende que a meta da vida é o Senhor Supremo. Na te viduḥ svārtha-gatiṁ hi viṣṇuṁ durāśayā ye bahir-artha-māninaḥ. Como não compreende a meta de sua vida, a entidade viva tenta ser feliz neste mundo material. Contudo, ao se purificar, ela abandona seu conceito de vida corporal e sua falsa identidade que a leva a agir como se ela pertencesse a certa comunidade, nação, sociedade, família e assim por diante (sarvopādhi-vinirmuktaṁ tat-paratvena nirmalam). Então, ela empunha a flecha de sua vida purificada e, com a ajuda do arco – o transcendental canto do praṇava, ou do mantra Hare Kṛṣṇa –, ela se arremessa em direção à Suprema Personalidade de Deus.
Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta que, visto que as palavras “arco” e “flecha” são usadas neste verso, alguém poderia argumentar que a Suprema Personalidade de Deus e a entidade viva se tornaram inimigos. Entretanto, embora a Suprema Personalidade de Deus possa tornar-se um aparente inimigo do ser vivo, isso é para Lhe dar prazer em Suas aventuras. Por exemplo, o Senhor lutou contra Bhīṣma, e a ação mediante a qual Bhīṣma trespassou o corpo do Senhor no campo de batalha de Kurukṣetra caracterizou um tipo de atitude ou relacionamento, os quais existem em total de doze. Quando a alma condicionada tenta atingir o Senhor disparando uma flecha contra Ele, o Senhor sente prazer, e a entidade viva recebe o privilégio de voltar ao lar, voltar ao Supremo. Outro exemplo dado a esse respeito é que Arjuna, como resultado de trespassar o ādhāra-mīna, ou o peixe dentro do cakra, obteve Draupadī como o valioso prêmio. Do mesmo modo, se alguém consegue varar os pés de lótus do Senhor Viṣṇu com a flecha do canto do santo nome do Senhor, em virtude de ter realizado essa atividade heroica no seu serviço devocional, ele recebe como prerrogativa sua volta ao lar, sua volta ao Supremo.