VERSO 37
paro ’py apatyaṁ hita-kṛd yathauṣadhaṁ
sva-dehajo ’py āmayavat suto ’hitaḥ
chindyāt tad aṅgaṁ yad utātmano ’hitaṁ
śeṣaṁ sukhaṁ jīvati yad-vivarjanāt
paraḥ — não pertencente ao mesmo grupo ou família; api — embora; apatyam — uma criança; hita-kṛt — que é benéfica; yathā — assim como; auṣadham — erva medicinal; sva-deha-jaḥ — nascida do próprio corpo de alguém; api — embora; āmaya-vat — como uma doença; sutaḥ — um filho; ahitaḥ — que não é um benquerente; chindyāt — deve-se cortar; tat — esta; aṅgam — parte do corpo; yat — a qual; uta — na verdade; ātmanaḥ — para o corpo; ahitam — não é benéfica; śeṣam — o resto; sukham — feliz; jīvati — vive; yat — do qual; vivarjanāt — cortando.
Embora uma erva medicinal nascida na floresta não esteja na mesma categoria do ser humano, se ela for benéfica, será mantida muito cuidadosamente. Do mesmo modo, alguém que não faz parte da família, mas é favorável, deve ser protegido como se fosse um filho. Por outro lado, se um membro do corpo está envenenado por uma doença, deve-se amputá-lo para que o resto do corpo continue saudável. Igualmente, quando o próprio filho de alguém se torna um rival, deve ser rejeitado, embora tenha nascido do próprio corpo dessa pessoa.
SIGNIFICADO—Śrī Caitanya Mahāprabhu instruiu todos os devotos do Senhor a serem mais humildes do que a grama e mais tolerantes do que uma árvore; caso contrário, eles sempre encontrariam reveses na execução de seu serviço devocional. Eis um exemplo vívido de como um devoto é perturbado por um não-devoto, mesmo no caso de este ser um pai afetuoso. O mundo material funciona de maneira tal que o pai não-devoto se torna inimigo do filho devoto. Tendo-se determinado a matar seu próprio filho, Hiraṇyakaśipu citou o exemplo de que é necessário amputar a parte do corpo que se tornou séptica e, portanto, nociva ao resto do corpo. Por outro lado, o mesmo exemplo também pode ser aplicado aos não-devotos. Cāṇakya Paṇḍita aconselha que tyaja durjana-saṁsargaṁ bhaja sādhu-samāgamam. Os devotos que de fato levam a sério o avanço na vida espiritual devem abandonar a companhia dos não-devotos e se manterem sempre na companhia de outros devotos. Estar muito apegado à existência material é ignorância porque a existência material é temporária e cheia de sofrimentos. Portanto, os devotos que estão determinados a realizar tapasya (penitências e austeridades) para compreenderem o eu, e que querem avançar na consciência espiritual, devem abandonar a companhia dos não-devotos ateístas. Embora mantivesse uma atitude de não-cooperação com a filosofia de seu pai Hiraṇyakaśipu, Prahlāda Mahārāja era tolerante e humilde. Hiraṇyakaśipu, todavia, sendo um não-devoto, estava tão contaminado que se dispôs até mesmo a matar seu próprio filho. Ele justificou isso se valendo da lógica da amputação.