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VERSO 26

śrī-brahmovāca
avikriyaṁ satyam anantam ādyaṁ
guhā-śayaṁ niṣkalam apratarkyam
mano-’grayānaṁ vacasāniruktaṁ
namāmahe deva-varaṁ vareṇyam

śrī-brahmā uvāca — o senhor Brahmā disse; avikriyam — à Personalidade de Deus, que jamais muda (ao contrário da existência material); satyam — a suprema verdade eterna; anantam — ilimitada; ādyam — a causa que origina todas as causas; guhā-śayam — presen­te no coração de todos; niṣkalam — sem nenhuma perda de potên­cia; apratarkyam — inconcebível, que não está dentro da jurisdição dos argumentos materiais; manaḥ-agrayānam — mais rápido do que a mente, inconcebível à especulação mental; vacasā — através do jogo de palavras; aniruktam — indescritível; namāmahe — todos nós, semideuses, oferecemos nossas respeitosas reverências; deva-varam — ao Senhor Supremo, que não é igualado ou suplantado por ninguém; vareṇyam — o adorável supremo, que é adorado através do mantra Gāyatrī.

O senhor Brahmā disse: Ó Senhor Supremo, ó imutável, ilimitada e suprema verdade. Sois a origem de tudo. Sendo onipenetrante, estais no coração de todos e, também, no átomo. Não tendes qua­lidades materiais. Na verdade, sois inconcebível. A mente não pode depreender-Vos através de especulação, e as palavras não conseguem descrever-Vos. Sois o mestre supremo de todos e, portanto, sois adorável para com todos. Nós Vos oferecemos nossas respeitosas reverências.

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus não é nenhuma criação mate­rial. Todas as coisas materiais têm que mudar, passando de uma forma para outra – por exemplo, a terra pode ser transformada em um pote de barro, o qual, por sua vez, acaba reduzindo-se a terra. Todas as nossas criações são temporárias, impermanentes. Entretan­to, a Suprema Personalidade de Deus é eterna, e, do mesmo modo, as entidades vivas, que são partes dEle, também são eternas (mamaivāṁśo jīva-loke jīva-bhūtaḥ sanātanaḥ). A Suprema Personalidade de Deus é sanātana, eterno, e as entidades vivas individuais também são eternas. A diferença é que Kṛṣṇa, ou Deus, é o eterno supre­mo, ao passo que as almas individuais, embora eternas, são dimi­nutas e fragmentárias. Como se afirma na Bhagavad-gītā (13.3): kṣetra-jñaṁ cāpi māṁ viddhi sarva-kṣetreṣu bhārata. Embora o Senhor seja um ser vivo e as almas individuais sejam seres vivos, o Senhor Supremo, ao contrário das almas individuais, é vibhu, onipe­netrante, e ananta, ilimitado. O Senhor é a causa de tudo. As entidades vivas são inúmeras, e o Senhor é único. Ninguém é maior do que Ele, e ninguém é igual a Ele. Assim, o Senhor é o supre­mo objeto adorável, como se depreende dos mantras védicos (na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate). O Senhor é supremo porque ninguém pode avaliá-lO através de especulação mental ou através do jogo de palavras. O Senhor pode viajar mais rápido do que a mente. Nos śruti-mantras da Īśopaniṣad, afirma-se:

anejad ekaṁ manaso javīyo
nainad devā āpnuvan pūrvam arṣat
tad dhāvato ’nyān atyeti tiṣṭhat
tasminn apo mātariśvā dadhāti

“Embora fixo em Sua morada, a Personalidade de Deus é mais veloz do que a mente e, em uma corrida, pode ultrapassar todos os outros. Os poderosos semideuses não podem aproximar-se dEle. Em­bora situado em um lugar, Ele controla aqueles que fornecem o ar e a chuva. Ele supera a todos em excelência.” (Īśopaniṣad 4). Logo, o Supremo jamais deve ser rebaixado à posição das entidades vivas subordinadas.

Porque, diferentemente da entidade viva individual, o Senhor está situado no coração de todos, nunca a entidade viva individual deve ser igualada ao Senhor Supremo. Na Bhagavad-gītā (15.15), o Senhor diz que sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭaḥ: “Eu estou situado no co­ração de todos.” Entretanto, isso não significa que todos sejam iguais ao Senhor. Nos śruti-mantras, também se afirma: hṛdi hy ayam ātmā pratiṣṭhitaḥ. No começo do Śrīmad-Bhāgavatam, declara-se: satyaṁ paraṁ dhīmahi. Os mantras védicos dizem: satyaṁ jñānam anantam and niṣkalaṁ niṣkriyaṁ śāntaṁ niravadyam. Deus é supre­mo. Embora, é claro, Ele não faça nada, Ele está fazendo tudo. Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (9.4):

mayā tatam idaṁ sarvaṁ
jagad avyakta-mūrtinā
mat-sthāni sarva-bhūtāni
na cāhaṁ teṣv avasthitaḥ

“Sob Minha forma imanifesta, Eu penetro este universo inteiro. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles.”

mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ
sūyate sacarācaram
hetunānena kaunteya
jagad viparivartate

“Esta natureza material, que é uma das Minhas energias, funciona sob Minha direção, ó filho de Kuntī, produzindo todos os seres móveis e imóveis. Obedecendo-lhe ao comando, esta manifestação é criada e aniquilada repetidas vezes.” (Bhagavad-gītā 9.10) Portanto, embora esteja silencioso em Sua mora­da, o Senhor está fazendo tudo através de Suas diferentes energias (parāsya śaktir vividhaiva śrūyate).

Todos os mantras védicos, ou śruti-mantras, estão incluídos nesse verso proferido pelo senhor Brahmā, pois Brahmā e seus seguido­res, o Brahma-sampradāya, compreendem a Suprema Personalidade de Deus através do sistema de paramparā. Temos que obter conhe­cimento através das palavras de nossos predecessores. Existem doze mahājanas, ou autoridades, sendo que Brahmā é um deles.

svayambhūr nāradaḥ śambhuḥ
kumāraḥ kapilo manuḥ
prahlādo janako bhīṣmo
balir vaiyāsakir vayam

(Bhāg. 6.3.20)

Pertencemos à sucessão discipular de Brahmā e, portanto, somos conhecidos como o Brahma-sampradāya. Assim como os semideu­ses seguem o senhor Brahmā para poderem compreender a Suprema Personalidade de Deus, também temos que seguir as autoridades do sistema de paramparā caso queiramos compreender o Senhor.

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