VERSO 27
vipaścitaṁ prāṇa-mano-dhiyātmanām
arthendriyābhāsam anidram avraṇam
chāyātapau yatra na gṛdhra-pakṣau
tam akṣaraṁ khaṁ tri-yugaṁ vrajāmahe
vipaścitam — ao onisciente; prāṇa — como a força viva funciona; manaḥ — como a mente funciona; dhiya — como a inteligência funciona; ātmanām — de todas as entidades vivas; artha — os objetos dos sentidos; indriya — os sentidos; ābhāsam — conhecimento; anidram — sempre desperto e livre da ignorância; avraṇam — sem um corpo material sujeito a dores e prazeres; chāyā-ātapau — o abrigo para todos que estão sofrendo de ignorância; yatra — onde; na — não; gṛdhra-pakṣau — parcialidade por algum ser vivo; tam — nEle; akṣaram — infalível; kham — onipenetrante como o céu; tri-yugam — aparecendo com seis opulências em três yugas (Satya, Tretā e Dvāpara); vrajāmahe — refugio-me.
A Suprema Personalidade de Deus conhece de maneira direta e indireta como é que tudo, inclusive a força viva, a mente e a inteligência, está funcionando sob Seu controle. Ele é o iluminador de tudo e não tem ignorância. Ele não possui um corpo material sujeito às reações de atividades anteriores, e Ele está livre da ignorância manifesta como parcialidade e educação material. Portanto, refugio-me nos pés de lótus do Senhor Supremo, que é eterno, onipenetrante e tão grande como o céu e que, em três yugas [Satya, Tretā e Dvāpara], aparece com seis opulências.
SIGNIFICADO—No começo do Śrīmad-Bhāgavatam, descreve-se a Suprema Personalidade de Deus da seguinte maneira: janmādy asya yato ’nvayād itarataś cārtheṣv abhijñaḥ. O Senhor é a origem de todas as emanações, e Ele conhece direta e indiretamente tudo o que se refere a todas as atividades que se realizam em Sua criação. Portanto, o Senhor é aqui chamado de vipaścitam, aquele que é pleno de todo o conhecimento ou que conhece tudo. O Senhor é a Alma Suprema e conhece tudo acerca das entidades vivas e seus sentidos.
A palavra anidram, que significa “sempre desperto e livre da ignorância”, é muito importante neste verso. Como se afirma na Bhagavad-gītā (15.15), mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca: é o Senhor quem proporciona a todos inteligência e esquecimento. Existem milhões e milhões de entidades vivas, e o Senhor lhes confere orientações. Portanto, Ele não tem tempo para dormir, e Ele nunca ignora nossas atividades. O Senhor é a testemunha de tudo; Ele vê o que estamos fazendo a cada momento. O Senhor não está coberto por um corpo resultante do karma. Nossos corpos são formados em consequência de nossos feitos passados (karmaṇā daiva-netreṇa), mas a Suprema Personalidade de Deus não possui um corpo material, daí Ele não ter avidyā, ignorância. Ele não dorme, mas sempre está alerta e desperto.
O Senhor Supremo é descrito como tri-yuga porque, embora tenha aparecido várias vezes em Satya-yuga, Tretā-yuga e Dvāpara-yuga, ao aparecer em Kali-yuga, Ele jamais declarou ser a Suprema Personalidade de Deus.
kṛṣṇa-varṇaṁ tviṣākṛṣṇaṁ
sāṅgopāṅgāstra-pārṣadam
Em Kali-yuga, o Senhor aparece como um devoto. Portanto, embora Ele seja Kṛṣṇa, Ele, tal qual um devoto, canta o mantra Hare Kṛṣṇa. Continuando, o Śrīmad-Bhāgavatam (11.5.32) recomenda:
yajñaiḥ saṅkīrtana-prāyair
yajanti hi sumedhasaḥ
Śrī Caitanya Mahāprabhu, cuja tez não é escura como a de Kṛṣṇa, mas é dourada (tviṣākṛṣṇam), é a Suprema Personalidade de Deus. Ele está acompanhado de associados, tais como Nityānanda, Advaita, Gadādhara e Śrīvāsa. Aqueles que são assaz inteligentes adoram esta Suprema Personalidade de Deus, realizando saṅkīrtana-yajña. Nessa encarnação, o Senhor Supremo apresenta-Se como não sendo o Senhor Supremo, daí Ele ser conhecido como Tri-yuga.