VERSO 19
smaratāṁ hṛdi vinyasya
viddhaṁ daṇḍaka-kaṇṭakaiḥ
sva-pāda-pallavaṁ rāma
ātma-jyotir agāt tataḥ
smaratām — das pessoas que sempre pensam nele; hṛdi — no âmago dos corações; vinyasya — pondo; viddham — espetados; daṇḍaka-kaṇṭakaiḥ — pelos espinhos da floresta de Daṇḍakāranya (enquanto o Senhor Rāmacandra vivia ali); sva-pāda-pallavam — as pétalas de Seus pés de lótus; rāmaḥ — o Senhor Rāmacandra; ātma-jyotiḥ — os raios de Seu brilho corpóreo, conhecido como brahmajyoti; agāt — entrou; tataḥ — além do brahmajyoti, ou em Seu próprio planeta Vaikuṇṭha.
Após concluir o sacrifício, o Senhor Rāmacandra, cujos pés de lótus às vezes eram espetados por espinhos quando Ele vivia em Daṇḍakāraṇya, pôs Seus pés de lótus nos corações daqueles que sempre pensam nEle. Então, entrou em Sua própria morada, o planeta Vaikuṇṭha, situado além do brahmajyoti.
SIGNIFICADO—Os pés de lótus do Senhor são sempre um tema de meditação para os devotos. Às vezes, quando o Senhor Rāmacandra caminhava pela floresta de Daṇḍakāraṇya, espinhos espetavam Seus pés de lótus. Os devotos, ao pensarem nisso, desmaiavam. O Senhor não sente dor ou prazer em nenhuma ação ou reação deste mundo material, mas os devotos não podem tolerar que mesmo um só espinho espete os pés de lótus do Senhor. Essa era a atitude das gopīs, ao pensarem em Kṛṣṇa caminhando pela floresta, com seixos e grãos de areia machucando Seus pés de lótus. Essa agonia pela qual passa o devoto não pode ser entendida pelos karmīs, jñānīs ou yogīs. Os devotos, que não podiam tolerar nem mesmo pensar que os pés de lótus do Senhor eram espetados por espinhos, ficaram ainda mais atribulados ao pensarem no desaparecimento do Senhor, pois, após terminar Seus passatempos neste mundo material, o Senhor retornaria à Sua morada.
A palavra ātma-jyotiḥ é significativa. O brahmajyoti, que é imensamente apreciado pelos jñānīs, ou filósofos monistas que desejam entrar nele a fim de obterem a liberação, são apenas os raios do corpo do Senhor.
yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-
koṭiṣv aśeṣa-vasudhādi-vibhūti-bhinnam
tad brahma niṣkalam anantam aśeṣa-bhūtaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
“Adoro Govinda, o Senhor primordial, que é dotado de grande poder. A fulgurante refulgência de Sua forma transcendental é o Brahman impessoal, que é absoluto, completo e ilimitado, e que manifesta muitas variedades de incontáveis planetas, os quais, com suas diferentes opulências, existem em milhões de universos.” (Brahma-saṁhitā 5.40) O brahmajyoti é o limiar do mundo espiritual; depois do brahmajyoti, estão os planetas Vaikuṇṭha. Em outras palavras, o brahmajyoti situa-se fora dos planetas Vaikuṇṭha, assim como o brilho solar permanece fora do Sol. Para entrar no planeta Sol, deve-se passar pelo brilho solar. Do mesmo modo, ao entrarem nos planetas Vaikuṇṭha, o Senhor ou os Seus devotos atravessam o brahmajyoti. Os jñānīs, ou filósofos monistas, devido ao fato de cultivarem uma concepção impessoal acerca do Senhor, não podem ingressar nos planetas Vaikuṇṭha, mas também não podem permanecer eternamente no brahmajyoti. Logo, passado algum tempo, eles voltam a cair neste mundo material. Āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ patanty adho ’nādṛta-yuṣmad-aṅghrayaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 10.2.32) Os planetas Vaikuṇṭha são encobertos pelo brahmajyoti, de modo que somente o devoto puro pode entender apropriadamente aqueles planetas.