VERSO 65
ye dārāgāra-putrāpta-
prāṇān vittam imaṁ param
hitvā māṁ śaraṇaṁ yātāḥ
kathaṁ tāṁs tyaktum utsahe
ye — aqueles Meus devotos que; dāra — esposa; agāra — casa; putra — crianças, filhos; āpta — parentes, sociedade; prāṇān — mesmo a vida; vittam — riqueza; imam — tudo isto; param — elevação aos planetas celestiais, ou tornar-se uno, imergindo no Brahman; hitvā — abandonando (todas essas ambições e parafernália); mām — em Mim; śaraṇam — refúgio; yātāḥ — tendo tomado; katham — como; tān — tais pessoas; tyaktum — de abandoná-las; utsahe — posso ser entusiasta dessa maneira (isto não é possível).
Visto que os devotos puros abandonam seus lares, esposas, filhos, parentes, riquezas e mesmo suas vidas simplesmente para servir-Me, sem nenhum desejo de obter progresso material nesta vida ou na próxima, como posso, em momento algum, abandonar tais devotos?
SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus é adorado com as palavras brāhmaṇya-devāya go-brāhmaṇa-hitāya ca. Logo, Ele é o benquerente dos brāhmaṇas. Durvāsā Muni decerto era um brāhmaṇa notável, mas, como não era devoto, não conseguia sacrificar tudo em serviço devocional. Na verdade, os grandes yogīs místicos são interesseiros. Prova disso é que, quando Durvāsā Muni criou um demônio para matar Mahārāja Ambarīṣa, o rei permaneceu fixo em seu lugar, orando à Suprema Personalidade de Deus e dependendo única e exclusivamente dEle, ao passo que, quando a vontade suprema do Senhor fez com que o cakra Sudarśana o perseguisse, Durvāsā Muni ficou tão perturbado que fugiu por todo o mundo e tentou refugiar-se em cada canto e recanto do universo, até que finalmente, temendo por sua morte, aproximou-se do senhor Brahmā, do senhor Śiva e também da Suprema Personalidade de Deus. Ele estava tão interessado em seu próprio corpo que queria matar o corpo de um vaiṣṇava. Portanto, ele não tinha uma inteligência muito boa, e como a Suprema Personalidade de Deus pode libertar uma pessoa sem inteligência? O Senhor na certa tenta dar toda proteção aos devotos que abandonaram tudo com o propósito de servi-lO.
Outro ponto neste verso é que o apego a dārāgāra-putrāpta – ao lar, à esposa, aos filhos, à amizade, à sociedade e ao amor – não é o processo para se alcançar o favor da Suprema Personalidade de Deus. Alguém que, na busca do prazer material, vive no aconchego do lar, não pode tornar-se um devoto puro. Às vezes, um devoto puro talvez se sinta apegado ou atraído à sua esposa, filhos e lar, mas, ao mesmo tempo, deseja servir ao Senhor Supremo na medida do possível. Para esse devoto, o Senhor toma medidas especiais para tirar todos os objetos de seu falso apego e, então, livrá-lo do apego à esposa, ao lar, aos filhos, aos amigos e assim por diante. Essa misericórdia especial é concedida ao devoto para que ele volte ao lar, volte ao Supremo.