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Capítulo Dez

A Beleza de Kṛṣṇa

Kṛṣṇa é conhecido como Madana-mohana porque Ele conquista a mente do Cupido. Ele também é conhecido como Madana-mohana porque aceita o serviço devocional das donzelas de Vraja e presta-lhes favores. Após conquistar o orgulho do Cupido, o Senhor ocupa-Se na dança da rāsa como o novo Cupido. Ele também é conhecido como Madana-mohana em virtude de Sua habilidade em conquistar as mentes das mulheres com Suas cinco flechas, chamadas: forma, sabor, aroma, som e tato. As pérolas do colar pendurado no pescoço de Kṛṣṇa são tão brancas quanto patos, e a pena de pavão que decora Sua cabeça é colorida como um arco-íris. Seus trajes amarelos são como o relâmpago no céu, e o próprio Kṛṣṇa é como nuvens recém-chegadas. As gopīs são como sinos de tornozelo em Seus pés, e quando, no campo, as nuvens derramam chuva sobre os grãos, parece que Kṛṣṇa está nutrindo os corações das gopīs, invocando Sua chuva de passatempos misericordiosos. Na verdade, os patos voam no céu durante a estação chuvosa, e também se podem ver arco-íris nesta época. Em Vṛndāvana, como um vaqueirinho, Kṛṣṇa divaga à vontade junto com Seus amigos, e ao tocar Sua flauta, todas as criaturas vivas, móveis e inertes, ficam arrebatadas em êxtase. Elas tremem, e lágrimas fluem de seus olhos.

Dentre as várias opulências de Kṛṣṇa, Seu amor conjugal é a culminante. Ele é o senhor de todas as riquezas, toda a força, toda a fama, toda a beleza, todo o conhecimento e toda a renúncia, e dentre essas, Sua beleza perfeita é Sua atração conjugal. A forma de Kṛṣṇa, a beleza conjugal, existe eternamente apenas em Kṛṣṇa, enquanto Suas outras opulências também estão presentes em Sua forma de Nārāyaṇa.

Ao descrever a sobre-excelência da atração conjugal de Kṛṣṇa, o Senhor Caitanya sentiu êxtase transcendental, e, segurando as mãos de Sanātana Gosvāmī, passou a proclamar quão afortunadas eram as donzelas de Vraja. Então, Ele recitou um verso do Śrīmad-Bhāgavatam (10.44.14):

gopyas tapaḥ kim acaran yad amuṣya rūpaṁ
  lāvaṇya-sāram asamordhvam ananya-siddham
dṛgbhiḥ pibanty anusavābhinavaṁ durāpam
  ekānta-dhāma yaśasaḥ śriya aiśvarasya

“A que magníficas penitências e austeridades devem ter-se submetido as donzelas de Vṛndāvana, pois elas podem beber o néctar do rosto de Kṛṣṇa, que possui toda a beleza, toda a força, todas as riquezas, toda a fama, e cujo brilho corpóreo é o centro de toda a beleza.”

Pode-se ver o corpo de Kṛṣṇa, o oceano da eterna beleza da juventude, movendo-se em ondas de beleza. Ao som de Sua flauta ocorre um redemoinho, e essas ondas e aquele redemoinho fazem os corações das gopīs palpitarem como folhas secas numa árvore, e ao caírem aos pés de lótus de Kṛṣṇa, aquelas folhas nunca mais podem levantar-se. Não há beleza que se compare à beleza de Kṛṣṇa, pois ninguém possui beleza maior ou igual à Sua. Porque Ele é a origem de todas as encarnações, incluindo a forma de Nārāyaṇa, a deusa da fortuna, que é uma companheira constante de Nārāyaṇa, abandona a associação deste e executa penitências a fim de obter a associação de Kṛṣṇa. Tal é a magnitude da sobre-excelente beleza de Kṛṣṇa, o eterno manancial de toda a beleza. Desta beleza é que todas as coisas belas emanam.

A atitude das gopīs é como um espelho sobre o qual o reflexo da beleza de Kṛṣṇa se revela a cada momento. Tanto Kṛṣṇa quanto as gopīs aumentam sua beleza transcendental a cada momento, e sempre há competição transcendental entre eles. Não é mediante a execução adequada de seu dever ocupacional, austeridades, yoga místico, cultivo de conhecimento ou orações, que alguém pode apreciar a beleza de Kṛṣṇa. Só aqueles que estão na plataforma transcendental de amor a Deus, aqueles que por amor se ocupam em serviço devocional, podem apreciar a beleza transcendental de Kṛṣṇa. Essa beleza é a essência de todas as opulências e é apreciada apenas em Goloka Vṛndāvana e em nenhum outro lugar. Kṛṣṇa outorga à forma de Nārāyaṇa qualidades como misericórdia, fama, etc., porém, a meiguice e magnanimidade de Kṛṣṇa não existem em Nārāyaṇa. Elas se encontram apenas em Kṛṣṇa.

Enquanto explicava a Sanātana todos esses versos do Śrīmad-Bhāgavatam, o Senhor Caitanya, saboreando-os intensamente, citou outro verso (Śrīmad-Bhāgavatam 9.24.65):

yasyānanaṁ makara-kuṇḍala-cāru-karṇa-
  bhrājat-kapola-subhagaṁ sa-vilāsa-hāsam
nityotsavaṁ na tatṛpur dṛśibhiḥ pibantyo
  nāryo narāś ca muditāḥ kupitā nimeś ca

“As gopīs costumavam saborear a beleza de Kṛṣṇa como uma cerimônia de desfrute perpétuo. Elas apreciavam o belo rosto de Kṛṣṇa, Suas belas orelhas decoradas com brincos, Sua testa ampla e Seu sorriso, e ao desfrutarem esta visão da beleza de Kṛṣṇa, elas criticavam o criador, Brahmā, pois, devido ao piscar de seus olhos, por alguns momentos elas não podiam ver Kṛṣṇa.”

O hino védico conhecido como kāma-gāyatrī descreve que o rosto de Kṛṣṇa é o rei de todas as luas. Em linguagem metafórica, existem muitas diferentes luas, mas todas elas reúnem-se em Kṛṣṇa. Existe a lua de Sua boca, a lua de Suas faces, as manchas lunares da polpa de sândalo em Seu corpo, as luas das pontas dos dedos de Suas mãos e as luas das unhas de Seus pés. Dessa maneira, há vinte e quatro luas e meia, e Kṛṣṇa é a figura central de todas elas.

O movimento dançante dos brincos, olhos e sobrancelhas de Kṛṣṇa é muito atrativo para as donzelas de Vraja. As atividades em serviço devocional aumentam-lhe o sentido. Que mais existe para dois olhos verem além do rosto de Kṛṣṇa? Porque, com apenas dois olhos, a pessoa não pode ver Kṛṣṇa muito bem, ela sente-se debilitada e, portanto, fica melancólica. Tal melancolia diminui um pouco quando ela critica o poder inventivo do criador. Entretanto, o insaciável contemplador do rosto de Kṛṣṇa lamenta: “Eu não tenho milhares de olhos, tenho apenas dois, e estes são perturbados pelos movimentos de minhas pálpebras. Portanto, deve-se entender que o criador deste corpo não é muito inteligente. Ele não é versado na arte do êxtase, senão que é um mero criador prosaico. Ele não sabe dispor as coisas convenientemente para que se possa ver apenas Kṛṣṇa”.

As mentes das gopīs sempre se ocupam em saborear a doçura do corpo de Kṛṣṇa. Ele é o oceano de beleza, e Seu belo rosto, Seu sorriso e o brilho do Seu corpo são muitíssimo atrativos para as mentes das gopīs. No Kṛṣṇa-karnāmṛta, Seu rosto, sorriso e brilho corpóreo foram descritos como doce, mais doce e dulcíssimo. O devoto perfeito de Kṛṣṇa fica enlevado ao ver a beleza do brilho corpóreo, do rosto e do sorriso de Kṛṣṇa, e ele se banha no oceano das convulsões transcendentais. Diante da beleza de Kṛṣṇa, essas convulsões frequentemente persistem sem tratamento, assim como as convulsões ordinárias que um clínico permitiria continuar, não dando sequer um gole de água como alívio.

O devoto sente cada vez mais a ausência de Kṛṣṇa, pois, sem Ele, ninguém pode beber o néctar de Sua beleza. Quando o devoto ouve o som transcendental da flauta de Kṛṣṇa, seu anseio de continuar ouvindo-a faz com que ele ultrapasse a cobertura do mundo material e entre no céu espiritual, onde o som transcendental da flauta penetra os ouvidos dos seguidores das gopīs. O som da flauta de Kṛṣṇa reside sempre dentro dos ouvidos das gopīs e aumenta-lhes o êxtase. Quando elas o ouvem, nenhum outro som pode penetrar seus ouvidos, e, ao serem questionadas por seus familiares, elas não conseguem responder-lhes adequadamente, pois todos esses belos sons estão vibrando em seus ouvidos.

Dessa maneira, o Senhor Caitanya explicou a constituição transcendental, as expansões, o brilho corpóreo e tudo, enfim, que está relacionado com Kṛṣṇa. Em suma, o Senhor Caitanya explicou Kṛṣṇa, a essência de tudo, como Ele é.

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