Capítulo Dezoito
Conversas com Prakāśānanda
Segundo os princípios dos sannyāsīs māyāvādīs, é estritamente proibido cantar, dançar e tocar instrumentos musicais, pois estas atividades são consideradas pecaminosas. Presume-se que o sannyāsī māyāvādī ocupe-se apenas no estudo do Vedānta. Por isso, quando os sannyāsīs māyāvādīs de Benares viram que o Senhor Caitanya deliciava-se com cantar, dançar, tocar instrumentos musicais e entoar sempre Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare, concluíram que Ele não era instruído e que, em virtude do sentimentalismo, estava desencaminhando Seus seguidores. A injunção de Śaṅkarācārya era que o sannyāsī deveria sempre se ocupar no estudo do Vedānta e contentar-se em vestir apenas um trapo e nada mais. Como o Senhor Caitanya não estudava formalmente o Vedānta nem parava de cantar e dançar, todos os sannyāsīs de Benares, bem como os chefes de família que os seguiam, costumavam criticá-lO.
Ao receber a notícia desta crítica por meio de Seus alunos e discípulos, o Senhor Caitanya apenas sorriu e partiu para Mathurā e Vṛndāvana. Depois, enquanto viajava de Mathurā a Jagannātha Purī, Ele voltou a passar em Benares, onde Se hospedou na casa de Candraśekhara, considerado śūdra, pois trabalhava como funcionário. Apesar disso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu ficou em sua casa. O Senhor Caitanya não fazia distinção entre brāhmaṇas e śūdras; aceitava qualquer um que fosse devotado. Habitualmente, um sannyāsī hospeda-se e come na casa de um brāhmaṇa, porém, Caitanya Mahāprabhu, sendo a independente Suprema Personalidade de Deus, usou de Seu critério e decidiu ficar na casa de Candraśekhara.
Naquela época, abusando de sua herança bramânica, os brāhmaṇas aprovaram uma lei estabelecendo que qualquer um que não tivesse nascido em família de brāhmaṇas devia ser considerado śūdra. Logo, mesmo os kṣatriyas e vaidyas também eram considerados śūdras. Como se supunha que os vaidyas eram descendentes de pais brāhmaṇas e mães śūdras, às vezes, eram chamados de śūdras. Assim, Candraśekhara Ācārya, embora pertencesse a uma família vaidya, era chamado de śūdra pelos habitantes de Benares. Enquanto ficou em Benares, o Senhor Caitanya permaneceu na casa de Candraśekhara e tomou Suas refeições na casa de Tapanamiśra.
Ao encontrar o Senhor Caitanya em Benares, Sanātana Gosvāmī aprendeu os processos e princípios do serviço devocional durante dois meses de ensino contínuo. As instruções do Senhor Caitanya a Sanātana Gosvāmī foram descritas na primeira parte deste livro. Depois de receber estes ensinamentos, Sanātana Gosvāmī foi autorizado a propagar os princípios do serviço devocional e do Śrīmad-Bhāgavatam. Durante essa época, tanto Tapanamiśra quanto Candraśekhara Ācārya estavam muito aborrecidos com as fortes críticas contra o Senhor Caitanya Mahāprabhu e, juntos, foram suplicar que o Senhor Se encontrasse com os sannyāsīs māyāvādīs.
“Ficamos mortificados ao ouvir as críticas desfavoráveis que os sannyāsīs māyāvādīs lançam contra Ti”, informaram ao Senhor Caitanya. “Na verdade, isto se tornou intolerável para nós.” Pediram ao Senhor que fizesse alguma coisa para que as críticas cessassem. Enquanto discutiam este assunto, um brāhmaṇa aproximou-se do Senhor Caitanya e convidou-O a sua casa. Todos os sannyāsīs tinham sido convidados exceto Caitanya Mahāprabhu, e agora o brāhmaṇa viera convidá-lO. Sabendo que o Senhor não Se associava com os sannyāsīs māyāvādīs, o brāhmaṇa prostrou-se aos pés de Caitanya Mahāprabhu e implorou-Lhe: “Embora saiba que não aceitas convites, ainda assim imploro-Te que venhas tomar prasāda em minha casa com os outros sannyāsīs. Se aceitares este convite, considerarei este fato como um favor especial”.
O Senhor aproveitou a oportunidade e aceitou o convite do brāhmaṇa a fim de encontrar-Se com os sannyāsīs māyāvādīs. De fato, este foi um arranjo feito pelo próprio Senhor. Embora o brāhmaṇa que O convidara soubesse que o Senhor não aceitava convites, ele estava muito ansioso por convidá-lO.
No dia seguinte, o Senhor Caitanya foi à casa do brāhmaṇa e viu que todos os sannyāsīs māyāvādīs estavam lá. Ele ofereceu Seus respeitos a todos os sannyāsīs, como era costume, e então foi lavar os pés. Depois, sentou-Se ao lado da bacia de lavar pés, um pouco afastado dos outros sannyāsīs. Enquanto estava lá sentado, os sannyāsīs viram um brilho refulgente emanando de Seu corpo. Sendo atraídos por esse brilho, todos os sannyāsīs māyāvādīs levantaram-se e ofereceram-Lhe respeitos. Havia entre eles um sannyāsī chamado Prakāśānanda Sarasvatī, que era o principal dos sannyāsīs impersonalistas. Ele dirigiu-se ao Senhor Caitanya com grande humildade, pedindo-Lhe que viesse sentar-Se com eles.
“Meu caro Senhor, por que estás sentado nesse lugar imundo?”, perguntou. “Por favor, vem sentar-Te conosco.”
“Oh! Pertenço a uma seita de sannyāsīs inferiores”, replicou o Senhor Caitanya. “Portanto, acho que não devia sentar-Me convosco. Deixa-Me ficar aqui.”
Prakāśānanda ficou surpreso ao ouvir isso de um homem tão erudito, e, tomando o Senhor pela mão, pediu-Lhe que viesse sentar-Se com ele. Quando, enfim, o Senhor Caitanya sentou-Se com eles, Prakāśānanda Sarasvatī disse: “Acho que Teu nome é Śrī Kṛṣṇa Caitanya e suponho que pertences a nossa seita māyāvādī, pois aceitaste sannyāsa de Keśava Bhāratī, que pertence à sampradāya de Śaṅkarācārya”.
Segundo a seita de Śaṅkara, há dez nomes diferentes para sannyāsīs. Destes, três nomes – Tīrtha, Āśrama e Sarasvatī – são dados aos sannyāsīs considerados mais iluminados e cultos. Sendo um vaiṣṇava, o Senhor Caitanya era naturalmente manso e humilde e queria dar o melhor assento a Prakāśānanda, pois este pertencia à sampradāya Sarasvatī. De acordo com os princípios de Śaṅkara, um brahmacārī da escola de Bhāratī chama-se Caitanya. Contudo, embora Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu tivesse tomado sannyāsa, conservou Seu nome de brahmacārī e não aceitou o título Bhāratī.
“Bem, Senhor”, continuou Prakāśānanda Sarasvatī, “pertences a nossa seita Śaṅkara e estás morando em Benares – então, por que não Te associas conosco? Qual é a razão? Além disso, és um sannyāsī e supõe-se que Te deveis ocupar apenas com o estudo do Vedānta, porém, vemos que, ao contrário, estás sempre cantando, dançando e tocando instrumentos. Qual é a razão? Estas são atividades de gente emotiva e sentimental, mas és um sannyāsī qualificado. Por que não estudar o Vedānta? Em virtude de Teu brilho, parece-nos que és tal qual o Supremo Nārāyaṇa, a Personalidade de Deus, porém, por Teu comportamento, pareces muito diferente. Por isso, estamos curiosos para saber por que ages desta maneira.”
“Meu caro senhor, Meu mestre espiritual considerava-Me um grande tolo”, respondeu o Senhor Caitanya. “Portanto, ele, de certa maneira, puniu-Me, dizendo que, por Eu ser tão tolo, não tinha capacidade para estudar o Vedānta. Dessa maneira, em troca ele deu-Me o cantar de Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Meu mestre espiritual disse-Me: ‘Basta continuares cantando este mantra Hare Kṛṣṇa; ele Te fará completamente perfeito’.”
Na realidade, o Senhor Caitanya não era tolo nem ignorante dos princípios do Vedānta. Seu objetivo era demonstrar à sociedade moderna que tolos sem um cabedal de penitências e austeridades não devem tentar estudar o Vedānta, apenas com um propósito recreativo. Em Seu Śikṣāṣṭaka, o Senhor Caitanya disse que a pessoa deve estar num estado de espírito humilde, deve considerar-se inferior à grama da rua, deve ser mais tolerante que uma árvore, deve estar destituída de sentido de prestígio e pronta a oferecer todo respeito aos outros. Nesse estado de espírito, pode-se recitar constantemente a filosofia vedānta ou o santo nome de Deus. O Senhor quis ensinar também que um estudante sério da ciência transcendental deve seguir as palavras de seu mestre espiritual. Segundo a estimativa do mestre espiritual, o Senhor Caitanya parecia um tolo; portanto, disse que Ele não deveria dedicar-Se ao estudo do Vedānta, senão que continuasse cantando o mantra Hare Kṛṣṇa. O Senhor Caitanya obedeceu rigorosamente a esta ordem. Em outras palavras, o Senhor Caitanya inculcou nos māyāvādīs que as palavras do mestre espiritual genuíno devem ser seguidas à risca. Seguindo-as, a pessoa torna-se perfeita sob todos os aspectos.
O Vedānta indica que a meta última do conhecimento védico é compreender Kṛṣṇa. Vedaiś ca sarvair aham eva vedyo vedānta-kṛd veda-vid eva cāham: “Através de todos os Vedas, é a Mim que se deve conhecer; na verdade, sou o compilador do Vedānta e sou aquele que conhece os Vedas” (Bhagavad-gītā 15.15). De fato, ao compreender o Vedānta, a pessoa conhece Kṛṣṇa e sua relação com Kṛṣṇa. Quem conhece Kṛṣṇa, conhece tudo. Semelhante pessoa está sempre ocupada no transcendental serviço amoroso a Kṛṣṇa. Na Bhagavad-gītā (10.8), o próprio Senhor confirma isto:
ahaṁ sarvasya prabhavo
mattaḥ sarvaṁ pravartate
iti matvā bhajante māṁ
budhā bhāva-samanvitāḥ
“Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que conhecem isto perfeitamente ocupam-se em Meu serviço devocional e adoram-Me de todo o seu coração.”
A entidade viva tem uma relação eterna com Kṛṣṇa, na posição de senhor e servo. Uma vez que este serviço esteja ausente – ou, em outras palavras, quando não se está situado em consciência de Kṛṣṇa – deve-se entender que o estudo do Vedānta é insuficiente. Quando alguém não conhece Kṛṣṇa ou não se ocupa em Seu transcendental serviço amoroso, presume-se que ele é avesso ao estudo do Vedānta e à compreensão da Suprema Personalidade de Deus. Todos devem seguir o caminho do estudo do Vedānta mostrado pelo Senhor Caitanya. Alguém enfatuado com sua pretensa educação e que não tem humildade menospreza a proteção do mestre espiritual autêntico. Acha que não precisa de um mestre espiritual e que pode atingir a perfeição máxima por meio de seus próprios esforços. Essas pessoas não são qualificadas para o estudo do Vedānta-sūtra. Aqueles que estão sob o encanto da energia material não seguem as instruções da sucessão discipular, senão que tentam fabricar algo por conta própria e, assim, extrapolam a esfera do estudo do Vedānta. Um mestre espiritual genuíno deve sempre condenar estes especuladores mentais independentes. Se o mestre espiritual autêntico aponta diretamente a tolice de um discípulo, ela não deve ser considerada de outra maneira.
Quem está imerso em total ignorância acerca da ciência de Deus não pode ser considerado erudito. Até certo ponto, todos que não são conscientes de Kṛṣṇa estão sujeitos à tolice. Às vezes, exibimos nossa tolice aceitando como mestre espiritual alguém apoucado de conhecimento. É nosso dever conhecer a Suprema Personalidade de Deus, cujos pés de lótus são adorados por todos os Vedas. Quem não O conhece e se orgulha de uma falsa compreensão do Vedānta é de fato um tolo. Tentativas mundanas de obter conhecimento acadêmico é apenas outra espécie de tolice. Enquanto alguém não conseguir entender a manifestação cósmica como representação dos três modos da natureza material, deve-se considerar que está nas trevas da embriaguez e preso à dualidade deste mundo material. Quem possui perfeito conhecimento do Vedānta, torna-se servo do Senhor Supremo, o mantenedor e sustentador de toda a manifestação cósmica. Enquanto não transcender o serviço ao limitado, a pessoa não poderá adquirir conhecimento do Vedānta.
Enquanto alguém estiver dentro da jurisdição limitada das atividades fruitivas ou envolvido em especulação mental, talvez esteja qualificado para estudar ou ensinar o conhecimento teórico do Vedānta-sūtra, porém, não poderá entender a vibração suprema, eterna, transcendental (completamente liberada) de Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Quem consumou a perfeição em cantar a transcendental vibração Hare Kṛṣṇa, não tem de aprender separadamente a filosofia do Vedānta-sūtra. Segundo os ensinamentos do mestre espiritual genuíno – Caitanya Mahāprabhu –, aqueles que não compreendem que a vibração transcendental não é diferente do Supremo e que tentam se tornar filósofos māyāvādīs ou peritos no Vedānta-sūtra são tolos. Estudar o Vedānta-sūtra através dos próprios esforços (o processo ascendente de conhecimento) é outro sinal de tolice. Todavia, aquele que adquiriu gosto em cantar a vibração transcendental, alcança de fato a conclusão do Vedānta. A esse respeito, há dois versos no Śrīmad-Bhāgavatam que são muito instrutivos. O primeiro conclui que, quando alguém de casta inferior está cantando a vibração transcendental, presume-se que ele executou todas as espécies de renúncia, austeridade e sacrifícios, e estudou todos os Brahma-sūtras. Dessa maneira, pode-se cantar Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. O segundo verso explica que quem canta as duas sílabas Ha-ri deve ter estudado todos os Vedas: o Ṛg Veda, Atharva Veda, Yajur Veda e Sāma Veda.
Por outro lado, há muitos pretensos devotos que consideram que o Vedānta não se destina a devotos. Semelhantes pessoas ignoram o fato de que o Vedānta é a plataforma última dos devotos puros. Todos os grandes ācāryas das quatro sampradāyas vaiṣṇavas fizeram comentários sobre o Vedānta-sūtra, porém, esses pseudodevotos conhecidos como prākṛta-sahajiyās evitam cuidadosamente o estudo do Vedānta-sūtra. Os prākṛta-sahajiyās confundem os devotos puros e os ācāryas vaiṣṇavas com especuladores mentais ou trabalhadores fruitivos. Por conseguinte, eles mesmos tornam-se māyāvādīs e abandonam o serviço ao Senhor Supremo.
Compreender o Vedānta-sūtra mediante conhecimento acadêmico jamais capacita alguém a entender o valor da vibração transcendental. Pessoas enredadas no conhecimento acadêmico são almas condicionadas confusas, devido ao fato de pensarem em termos de “eu” e “meu”. Portanto, elas são incapazes de desapegar suas mentes da energia externa. Quando a pessoa realmente obtém o conhecimento transcendental, livra-se desta dualidade e ocupa-se no transcendental serviço amoroso ao Senhor Supremo. O serviço ao Senhor é o único meio pelo qual alguém consegue desapegar-se das atividades materiais. Alguém iniciado corretamente por um mestre espiritual autêntico e ocupado em cantar Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare, aos poucos, liberta-se da concepção de “eu” e “meu” e apega-se ao transcendental serviço amoroso ao Senhor num dos cinco relacionamentos transcendentais. Este serviço transcendental não é assunto para corpos grosseiros e sutis. Só quando alguém entende que não há diferença entre o Supremo e Seu nome, poderá situar-se em consciência de Kṛṣṇa. Então, não mais será preciso fazer ajustes gramaticais. Ao contrário, ele fica ainda mais interessado em pedir ao Senhor: “Hare Kṛṣṇa – Ó meu Senhor, ó energia do Senhor, por favor, ocupai-me em Vosso serviço!”
O Senhor Caitanya explicou tudo isso a Prakāśānanda Sarasvatī e disse-lhe que ouvira essas instruções de Seu mestre espiritual. Informou ainda a Prakāśānanda Sarasvatī que Seu mestre espiritual ensinara-Lhe que o Śrīmad-Bhāgavatam é o verdadeiro comentário sobre o Vedānta-sūtra, conforme é declarado no Śrīmad-Bhāgavatam por Vyāsadeva, o autor do Vedānta-sūtra.
Considera-se que o estudante é perfeito quando compreende a identidade do santo nome e do Senhor Supremo. A menos que esteja sob o refúgio de um mestre espiritual realizado, seu conhecimento a respeito do Supremo é pura tolice. Todavia, pode-se entender plenamente o Senhor transcendental mediante serviço e devoção. Ao cantar o mantra Hare Kṛṣṇa sem ofensas, o Senhor Caitanya declarou que o mantra podia, de imediato, livrar uma alma condicionada da contaminação material. Nesta era de Kali, não há alternativa senão o cantar deste mahā-mantra. Declara-se que a essência de toda a literatura védica é o cantar deste santo nome de Kṛṣṇa: Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. O Senhor Caitanya também disse a Prakāśānanda Sarasvatī: “Para Me convencer deste fato essencial do conhecimento védico, Meu mestre espiritual ensinou-Me um verso do Bṛhan-nāradīya Purāṇa [38.126]. Harer nāma harer nāma harer nāmaiva kevalam/ kalau nāsty eva nāsty eva nāsty eva gatir anyathā: nesta era de desavenças e hipocrisia, o único meio de alcançar a liberação é cantar o santo nome do Senhor. Não há outra maneira. Não há outra maneira. Não há outra maneira”.
Em três dos quatro milênios (a saber, Satya-yuga, Tretā-yuga e Dvāpara-yuga), as pessoas tinham a honra de poderem entender a transcendência através do caminho da sucessão discipular. Contudo, na era atual, as pessoas não se interessam em sucessão discipular. Em vez disso, inventaram muitos caminhos de lógica e argumentação. Os Vedas não aprovam este esforço individual de compreender a transcendência suprema, o qual é conhecido como o processo ascendente. A Verdade Absoluta deve descer da plataforma absoluta. Ela não pode ser compreendida através do processo ascendente. O santo nome do Senhor – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare – é uma vibração transcendental, pois vem da plataforma transcendental, a morada suprema de Kṛṣṇa. Porque não há diferença entre Kṛṣṇa e Seu nome, o santo nome de Kṛṣṇa é tão puro, perfeito e liberado quanto o próprio Kṛṣṇa. Por meio da lógica e outros argumentos, os eruditos acadêmicos não têm acesso à compreensão da natureza transcendental do santo nome de Deus. O único caminho para se lograr a compreensão da natureza transcendental de Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare, é o cantar desses nomes com fé e apego. Este cantar nos libertará das designações oriundas dos corpos grosseiro e sutil.
Nesta era de lógica, argumentos e desavença, o cantar de Hare Kṛṣṇa é o único meio de se alcançar a autorrealização. Visto que apenas esta vibração transcendental pode livrar a alma condicionada, ela é considerada a essência do Vedānta-sūtra. Segundo a concepção material, há dualidade entre o nome, forma, qualidade, emoções e atividades de uma pessoa e a própria pessoa, porém, com relação à vibração transcendental, não existe semelhante limitação, pois ela procede do mundo espiritual. No mundo espiritual, não há diferença entre o nome e a qualidade da pessoa. No mundo material, decerto há diferença. Porque não conseguem compreender isso, os filósofos māyāvādīs não podem pronunciar a vibração transcendental.
O Senhor Caitanya, então, disse a Prakāśānanda Sarasvatī que, devido à ordem de Seu mestre espiritual, Ele estava sempre cantando Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. “Como resultado desse cantar”, disse o Senhor, “às vezes, fico muito impaciente e não consigo Me abster de dançar e rir ou chorar e cantar. De fato, fico tal qual um louco. Quando, pela primeira vez, quis saber se tinha enlouquecido por cantar Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare, acerquei-Me de Meu mestre espiritual e informei-lhe que tinha ficado louco cantando Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Então, perguntei-lhe qual era Minha verdadeira situação.”
Afirma-se no Nārada-pañcarātra:
eṣo vedāḥ ṣaḍ-aṅgāni
chandāṁsi vividhāḥ surāḥ
sarvam aṣṭākṣarāntaḥsthaṁ
yac cānyad api vāṅ-mayam
sarva-vedānta-sārārthaḥ
saṁsārārṇava-tāraṇaḥ
“Todos os rituais, mantras e conhecimento védicos estão resumidos em oito palavras: Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare.” Da mesma forma, declara-se no Kali-santaraṇa Upaniṣad:
hare kṛṣṇa hare kṛṣṇa
kṛṣṇa kṛṣṇa hare hare
hare rāma hare rāma
rāma rāma hare hare
iti ṣoḍaśakaṁ nāmnāṁ
kali-kalmaṣa-nāśanam
nātaḥ parataropāyaḥ
sarva-vedeṣu dṛśyate
“As dezesseis palavras – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare – destinam-se sobretudo a anular as contaminações de Kali. Para salvar-se da contaminação de Kali, não há alternativa senão cantar estas dezesseis palavras.”
O Senhor Caitanya informou a Prakāśānanda Sarasvatī que, quando Seu mestre espiritual O compreendeu, ele disse: “A natureza transcendental dos santos nomes – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare – é levar a pessoa à loucura espiritual. Qualquer um que cante sinceramente este santo nome, muito em breve consegue elevar-se à plataforma do amor a Deus e torna-se louco por Ele. Esta loucura oriunda do amor a Deus é a primeira etapa da perfeição para um ser humano”.
Em geral, o ser humano está interessado em religião, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação, porém, o amor a Deus está acima de tudo isso. Um mestre espiritual genuíno canta os santos nomes – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare –, e a vibração do som transcendental entra no ouvido do discípulo; caso este siga os passos de seu mestre espiritual e cante os santos nomes com o mesmo respeito, ele, na verdade, chega a adorar o nome transcendental. Ao ser adorado pelo devoto, o próprio nome transcendental expande Suas glórias dentro do coração do devoto. Quando está perfeitamente qualificado no cantar da vibração transcendental do santo nome, o devoto está apto a tornar-se mestre espiritual e salvar todas as pessoas do mundo. O canto do santo nome é tão poderoso que, pouco a pouco, estabelece sua hegemonia sobre tudo. O devoto que o canta, situa-se em êxtase transcendental e, em seu êxtase, ora ri, ora verte lágrimas e ora dança. Às vezes, ignorantes põem obstáculos no caminho do cantar deste mahā-mantra, porém, quem está situado na plataforma de amor a Deus canta alto o santo nome, para que todos os interessados ouçam. Como resultado, todos são iniciados no cantar dos santos nomes – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Cantando e ouvindo os santos nomes de Kṛṣṇa, podemos nos lembrar de Suas formas e qualidades.