Capítulo Dois
Sanātana Gosvāmī
vande ’nantādbhutaiśvaryaṁ
śrī-caitanya-mahāprabhum
nīco ’pi yat-prasādāt syād
bhakti-śāstra-pravartakaḥ
Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo uma pessoa na mais baixa forma de vida pode adotar o transcendental serviço devocional ao Senhor.
Após aceitar a ordem de vida renunciada (sannyāsa) o Senhor Caitanya viajou por toda a Índia. Durante este período, Ele foi a Maldah, um distrito da Bengala. Naquela área, havia uma aldeia chamada Rāmakeli, onde viviam dois ministros governamentais do regime de nababo Hussain. Esses dois ministros chamavam-se Dabir Khās e Sākara Mallik, e, posteriormente, trocariam seus nomes para Sanātana Gosvāmī e Rūpa Gosvāmī. Inspirados pelo Senhor Caitanya, eles decidiram retirar-se do serviço governamental e juntar-se ao Seu movimento de saṅkīrtana.
Após esta decisão, os dois irmãos imediatamente tomaram providências para deixar suas ocupações materiais, e designaram dois brāhmaṇas eruditos para executarem determinados rituais religiosos védicos que os capacitariam a entregar-se livremente ao serviço devocional a Kṛṣṇa. Essas atividades preliminares chamam-se puraścaryā. Essas solenidades ritualísticas exigem que, três vezes ao dia, a pessoa adore e ofereça respeitos aos antepassados, faça oblações ao fogo e respeitosamente ofereça alimentos a um brāhmaṇa erudito. Cinco itens – tempo, adoração, oferecimento de respeitos, apresentação de oblações ao fogo e oferecimento de alimento a um brāhmaṇa – compreendem puraścaryā. Este e outros rituais são mencionados no Hari-bhakti-vilāsa, o livro autorizado que fornece instruções.
Após executar esses rituais religiosos, o irmão mais novo, Sākara Mallik (Rūpa Gosvāmī), retornou ao lar com uma imensa quantia de dinheiro adquirida durante seu serviço governamental. De fato, as moedas de ouro e prata que ele trouxe enchiam um grande barco. Uma vez em casa, ele inicialmente dividiu em duas partes a riqueza acumulada, e uma destas ele distribuiu entre os brāhmaṇas e vaiṣṇavas. Desse modo, para a satisfação da Suprema Personalidade de Deus, cinquenta por cento de sua riqueza acumulada ele distribuiu a pessoas ocupadas no transcendental serviço amoroso ao Senhor Supremo. Os brāhmaṇas destinam-se a compreender a Verdade Absoluta, e uma vez que compreendem a Verdade Absoluta e realmente ocupam-se no amoroso serviço ao Senhor, eles podem ser chamados vaiṣṇavas. É de se esperar que tanto os brāhmaṇas quanto os vaiṣṇavas estejam inteiramente ocupados em serviço transcendental, e Rūpa Gosvāmī, considerando a importante posição transcendental deles, deu-lhes cinquenta por cento de sua riqueza. Os cinquenta por cento restantes voltaram a ser divididos ao meio – uma parte, ele distribuiu aos seus parentes e membros familiares dependentes, e a outra, ele guardou para emergências pessoais.
Tal distribuição de riqueza pessoal é muito instrutiva para todos os que desejam elevar-se em conhecimento espiritual. De uma maneira geral, a pessoa deixa para os membros de sua família toda a riqueza por ele acumulada, após o que se aposenta das atividades familiares para buscar progresso no conhecimento espiritual. Aqui, todavia, vemos que o comportamento de Rūpa Gosvāmī foi exemplar; ele determinou que cinquenta por cento de sua riqueza fosse utilizada para fins espirituais. Isto deveria servir de exemplo para todos. Os vinte e cinco por cento da fortuna que ele acumulara, mantidos para emergências pessoais, foram depositados numa boa firma comercial, pois naquele tempo não havia bancos. Dez mil moedas foram depositadas para cobrir as despesas feitas por seu irmão mais velho, Sanātana Gosvāmī.
Nessa ocasião, Rūpa Gosvāmī recebeu a informação que o Senhor Caitanya Mahāprabhu preparava-Se para sair de Jagannātha Purī de onde iria a Vṛndāvana. Rūpa Gosvāmī enviou dois mensageiros para obter informações precisas sobre o itinerário do Senhor, e pessoalmente planejou ir encontrar-se com o Senhor em Mathurā. Parece que, diferentemente do que aconteceu a Sanātana Gosvāmī, Rūpa Gosvāmī obteve permissão de ir ter com o Senhor. Por isso, Sanātana Gosvāmī confiou aos seus assistentes imediatos as responsabilidades do seu serviço governamental, e permaneceu em casa estudando o Śrīmad-Bhāgavatam. De fato, ele chegou a reunir dez ou vinte brāhmaṇas eruditos com quem começou um estudo intensivo do Śrīmad-Bhāgavatam. Enquanto estava absorto nessa ocupação, ele mandou dizer ao seu patrão, o nababo, que ficara doente. Contudo, o governante estava tão ansioso pelos conselhos governamentais emitidos por Sanātana Gosvāmī que subitamente apareceu em sua casa. Quando o nababo entrou na casa onde Sanātana Gosvāmī e os brāhmaṇas estavam reunidos, todos eles levantaram-se para recebê-lo com respeito e ofereceram-lhe um assento.
“Relataste estar doente”, disse o nababo a Sanātana Gosvāmī. “Mas eu enviei meu médico para ver-te, e ele informou que não tens doença nenhuma. Como eu não sabia por que estavas apresentando comprovantes de doença e não comparecias ao serviço, vim pessoalmente ver-te. Francamente, estou muito perturbado com o teu comportamento. Como sabes, dependo completamente de ti e de teu responsável trabalho no governo. Eu estava livre para tratar de outros assuntos porque contava contigo, mas se não retornas comigo, tua antiga dedicação ficará desperdiçada. Agora, qual é tua intenção? Por favor, dize-me.”
Ao ouvir isto, Sanātana Gosvāmī respondeu que não podia continuar seu trabalho e que seria muita gentileza do nababo se ele nomeasse outrem para fazer o trabalho que lhe fora confiado. Ao ouvir isto, o nababo ficou iradíssimo e disse: “Teu irmão mais velho vive como um caçador, e se também te retirares da administração, tudo estará acabado”. Dizia-se que o nababo costumava tratar Sanātana Gosvāmī como um irmão mais novo. Como estava principalmente ocupado em conquistar diferentes partes da região e também em caçar, o nababo dependia muitíssimo da ajuda administrativa de Sanātana Gosvāmī. Por isso, ele argumentou: “Se também te retiras do serviço governamental, como poderá a administração continuar?”
“És o governador de Gauḍa”, Sanātana Gosvāmī respondeu muito gravemente, “e infliges diferentes punições a diferentes espécies de criminosos. Logo, estás livre para punir a qualquer um de acordo com suas atividades.” Com esta resposta, Sanātana Gosvāmī deu a entender que, como o governante estava ocupado em caçar animais e em matar homens para expandir seu reino, pois então que ambos sofressem de acordo com os atos que estavam realizando. O nababo era inteligente, de modo que captou as intenções de Sanātana Gosvāmī. Ele deixou a casa irado, e logo em seguida partiu para conquistar Orissa. Ele ordenou a prisão de Sanātana Gosvāmī e determinou que este ficasse detido até que ele voltasse.
Ao saber que seu irmão mais velho havia sido preso pelo nababo, Rūpa Gosvāmī enviou a informação de que dez mil moedas estavam guardadas sob a custódia de um comerciante em Gauḍa (Bengala) e que este dinheiro poderia ser usado para libertar seu irmão.
Sanātana também ofereceu cinco mil moedas ao carcereiro da prisão onde ele estava detido. Ele aconselhou o carcereiro a alegremente aceitar as cinco mil moedas e a deixá-lo ir, pois, aceitando o dinheiro, receberia não apenas benefício material, mas também agiria corretamente, libertando Sanātana para concretizar propósitos espirituais.
“É claro que posso deixar-te ir”, respondeu o carcereiro, “pois fizeste muitos serviços para mim e estás a serviço do governo. Entretanto, tenho medo do nababo. Que fará ele quando souber que estás livre? Terei de explicar-lhe tudo. Como posso aceitar essa proposta?” Sanātana, então, inventou uma história que o carcereiro poderia utilizar para contar ao nababo como ele havia fugido e aumentou a oferta para dez mil moedas. Ávido por obter o dinheiro, o carcereiro aceitou a proposta e o deixou partir. Neste ínterim, Rūpa Gosvāmī, com seu irmão mais novo, Śrī Vallabha, havia partido para Vṛndāvana para encontrar-se com Caitanya Mahāprabhu.
Sanātana tratou então de ir ver o Senhor. Ele não viajou diretamente pela estrada, mas seguiu através das florestas até chegar a um local em Bihar chamado Pātaḍā. Lá, descansou num hotel, mas o hoteleiro, que contava com os serviços de um astrólogo, foi por este informado que Sanātana Gosvāmī tinha consigo algumas moedas de ouro. O hoteleiro, desejando obter o dinheiro, dirigiu a Sanātana Gosvāmī palavras com aparente ar de respeito. “Simplesmente descansa esta noite”, disse ele, “e de manhã providenciarei para que escapes desta floresta insidiosa.”
Contudo, Sanātana suspeitou de seu comportamento, e perguntou a seu servo Īśāna se ele tinha dinheiro, e Īśāna lhe contou que tinha sete moedas de ouro. Sanātana não gostou da ideia de que o servo estivesse carregando este dinheiro. Ficou irado contra ele e disse: “Por que carregas pela estrada este presságio da morte?”
Sanātana imediatamente pegou as moedas de ouro e ofereceu-as ao hoteleiro. Então pediu que este o ajudasse a cruzar a floresta. Informou-lhe que estava realizando uma viagem especial como representante do governo e como não podia seguir diretamente pela estrada, ficaria muito agradecido se o hoteleiro o ajudasse a atravessar as florestas e a escalar as montanhas.
“Eu sabia que tinhas oito moedas contigo, e pensava em matar-te para tomá-las de ti”, confessou o hoteleiro. “Mas posso ver que, como és um homem tão bondoso, não precisas oferecer-me o dinheiro.”
“Se não aceitares estas moedas, então outra pessoa as tirará de mim”, respondeu Sanātana. “Alguém me matará por causa delas, por isso é melhor que fiques com elas. Eu as ofereço a ti.” O hoteleiro, então, lhe deu todo o auxílio e, naquela mesma noite, ajudou-o a atravessar as colinas.
Ao emergir das colinas, Sanātana pediu que seu servo fosse para casa com a moeda que ainda mantinha consigo, pois Sanātana decidiu seguir sozinho. Após a partida de seu servo, Sanātana sentiu-se inteiramente livre. Com uma roupa rota e um cântaro na mão, começou a seguir em direção ao Senhor Caitanya Mahāprabhu. A caminho, se encontrou com seu rico cunhado que também trabalhava a serviço do governo e que lhe ofereceu um excelente cobertor, o qual Sanātana aceitou após as insistentes solicitações feitas pelo seu cunhado. A seguir, despediu-se dele e, sozinho, foi ver Caitanya Mahāprabhu em Benares.
Ao chegar a Benares, ficou sabendo que o Senhor estava lá, e alegrou-se muito. As pessoas disseram-lhe que o Senhor estava hospedado na casa de Candraśekhara Ācārya, e ele seguiu para lá. Embora estivesse dentro da casa, Caitanya Mahāprabhu pôde compreender que Sanātana havia chegado à porta, e pediu a Candraśekhara que chamasse o homem que estava sentado do lado de fora. “Ele é um vaiṣṇava, um grande devoto do Senhor”, disse Caitanya Mahāprabhu. Ao chegar à porta, Candraśekhara não viu nenhum vaiṣṇava, mas apenas um homem que parecia um mendigo. O Senhor então quis ver o mendigo, e quando Sanātana entrou no pátio, o Senhor Caitanya apressou-Se em vir vê-lo e abraçá-lo. Quando o Senhor o abraçou, Sanātana Gosvāmī ficou tomado de êxtase espiritual e disse: “Meu querido Senhor, por favor, não toques em mim”. Mas eles abraçaram-se e começaram a chorar. Vendo Sanātana e o Senhor Caitanya agindo dessa maneira, Candraśekhara ficou admirado. Afinal, Caitanya Mahāprabhu pediu que Sanātana se sentasse com Ele num banco. Ele estava tocando o corpo de Sanātana com Sua mão, e Sanātana voltou a pedir-lhe: “Meu querido Senhor, por favor, não toques em mim”.
“Estou tocando em ti só para Me purificar”, respondeu o Senhor, “pois és um grande devoto. Com teu serviço devocional podes salvar todo o Universo e dar a todos condições de voltar ao Supremo.”
O Senhor, a seguir, citou um verso do Śrīmad-Bhāgavatam segundo o qual uma pessoa que é um devoto do Senhor Kṛṣṇa e está cem por cento ocupada em serviço devocional é muito melhor do que um brāhmaṇa versado em todos os textos védicos mas que não se ocupa em serviço devocional ao Senhor. Porque leva o Senhor Supremo no coração, o devoto pode purificar tudo em todos os lugares.
Nos textos védicos afirma-se também que a Suprema Personalidade de Deus não dá muita importância a uma pessoa assaz erudita em todas as divisões dos Vedas, mas fica deveras contente com um devoto, mesmo que tenha nascido em família baixa. Se alguém oferece caridade a um brāhmaṇa que não é devoto, o Senhor não aceita; mas se algo é oferecido a um devoto, o Senhor aceita. Em outras palavras, tudo o que alguém deseja oferecer ao Senhor pode ser dado a Seus devotos. Caitanya Mahāprabhu também citou o Śrīmad-Bhāgavatam para ilustrar que se um brāhmaṇa não é devoto do Senhor Supremo, então, ele é inferior ao mais baixo dos inferiores, mesmo que seja dotado das doze qualidades bramânicas e tenha nascido em família elevada. Um devoto, embora nascido em família caṇḍāla (comedora de cachorro), pode purificar com seu serviço devocional cem gerações passadas e futuras de sua família, ao passo que um brāhmaṇa arrogante não pode sequer purificar a si próprio. Está dito no Hari-bhakti-sudhodaya (13.2):
akṣnoḥ phalaṁ tvādṛśa-darśanaṁ hi
tanoḥ phalaṁ tvādṛśa-gātra-saṅgaḥ
jihvā-phalaṁ tvādṛśa-kīrtanaṁ hi
su-durlabhā bhāgavatā hi loke
“Ó devoto do Senhor, ver-te é a perfeição dos olhos; tocar teu corpo é a perfeição das atividades corporais; e glorificar tuas qualidades é a perfeição da língua, pois é muito raro encontrar um devoto puro como tu.”
O Senhor disse então a Sanātana que Kṛṣṇa é muito misericordioso e é o salvador das almas caídas. “Ele salvou-te de Mahāraurava”, disse o Senhor. Este Mahāraurava, ou inferno, é descrito no Śrīmad-Bhāgavatam como um lugar designado a pessoas ocupadas em matar animais, pois no referido livro se diz que açougueiros ou comedores de animais vão para este inferno.
“Eu não conheço a misericórdia de Kṛṣṇa”, respondeu Sanātana, “mas posso compreender que Tua misericórdia para comigo é imotivada. Salvaste-me do enredamento existente na vida material.”
A seguir, o Senhor perguntou: “Como te livraste de tua prisão? Pelo que Eu sabia, tu estavas preso”. Sanātana narrou então toda a história de sua libertação. “Vi teus dois irmãos”, o Senhor informou-o, “e aconselhei-os a seguir em direção a Vṛndāvana.”
O Senhor Caitanya apresentou então Candraśekhara e Tapanamiśra a Sanātana, e Tapanamiśra amavelmente convidou Sanātana a jantar com ele. O Senhor pediu que Candraśekhara levasse Sanātana a um barbeiro para que ele adquirisse um aspecto mais “civilizado”, pois Sanātana deixara crescer uma longa barba da qual Śrī Caitanya Mahāprabhu não gostou. Ele pediu que Candraśekhara providenciasse para que Sanātana tomasse um banho e fizesse a barba, e também trocasse de roupas.
Após o banho, Candraśekhara deu-lhe algumas boas roupas. Ao ser informado de que Sanātana não aceitou as roupas novas, mas acabou ficando apenas com algumas roupas usadas oferecidas por Tapanamiśra, o Senhor Caitanya sentiu-Se muito contente. O Senhor foi à casa de Tapanamiśra para almoçar e pediu-lhe que guardasse comida para Sanātana. No entanto, Tapanamiśra não ofereceu alimento a Sanātana imediatamente, mas quando o Senhor terminou de comer, ficaram algumas sobras em Seu prato que foram oferecidas a Sanātana enquanto o Senhor descansava.
Após o descanso, o Senhor Caitanya apresentou um brāhmaṇa mahā-rāṣṭrīya, um devoto Seu, a Sanātana, e este brāhmaṇa mahārāṣṭrīya convidou Sanātana a almoçar diariamente em sua residência enquanto este permanecesse em Benares.
“Enquanto eu permanecer em Benares, mendigarei de porta em porta”, disse Sanātana. “Mas o Senhor será tão bondoso que aceitará o convite de ir almoçar diariamente em Tua casa.”
O Senhor Caitanya estava muito satisfeito com o comportamento de Sanātana, mas notou o valioso cobertor que recebera de seu cunhado quando estava a caminho de Benares. Embora o Senhor Caitanya deixasse passar despercebida a existência do cobertor, Sanātana compreendeu que Ele não aprovava que usasse sobre seu corpo tecido tão valioso, e por isso decidiu livrar-se dele. Dirigiu-se imediatamente à margem do Ganges, onde encontrou um mendigo lavando um lençol velho. Quando Sanātana pediu-lhe que trocasse o lençol velho por seu valioso cobertor, o mendigo pensou que Sanātana estava troçando dele. “Que é isto?”, o mendigo repreendeu-o. “Pareces ser um cavalheiro muito cortês, mas estás zombando de mim com tanta indelicadeza.”
“Não estou zombando de ti”, informou-o Sanātana. “Estou sendo muito sério. Será que farias a gentileza de trocar por este cobertor o teu lençol surrado?” Finalmente, o mendigo fez a troca, e Sanātana retornou para onde estava o Senhor.
“Onde está teu valioso cobertor?”, o Senhor perguntou imediatamente. Sanātana informou-O da troca, e o Senhor adorou sua atitude e agradeceu. “És bastante inteligente, e agora esgotaste toda a tua atração por riqueza material.” Em outras palavras, o Senhor aceita que alguém Lhe preste serviço devocional apenas quando se livra por completo de todas as posses materiais. O Senhor então disse a Sanātana: “Não ficaria muito condizente que fosses um mendigo e esmolasses de porta em porta levando contigo aquele valioso cobertor. Seria contraditório, e as pessoas sentir-se-iam aborrecidas com isto”.
“Tudo o que eu acaso faça para livrar-me do apego material é devido apenas à Tua misericórdia”, respondeu Sanātana. O Senhor ficou muito satisfeito com ele, e ambos conversaram sobre o progresso espiritual.
Antes deste encontro transcorrido entre o Senhor Caitanya e Sanātana Gosvāmī, o Senhor encontrou-Se com um devoto casado, chamado Rāmānanda Rāya. Neste encontro, que será discutido num capítulo subsequente, o Senhor Caitanya fez algumas perguntas a Rāmānanda Rāya, e Rāmānanda Rāya respondeu como se fosse o preceptor do Senhor. Entretanto, neste caso, Sanātana formulou perguntas ao Senhor às quais o próprio Senhor respondeu.
As instruções e ensinamentos do Senhor Caitanya são muito importantes para o povo em geral. Ele ensina o processo do serviço devocional, que é a ocupação constitucional de toda entidade viva, pois é dever de todo homem avançar na ciência espiritual. Muitos assuntos foram exaustivamente tratados nas conversas entre o Senhor Caitanya e Sanātana Gosvāmī. Devido à misericórdia do Senhor Caitanya, Sanātana foi capaz de apresentar-Lhe perguntas importantes, às quais Ele deu a resposta apropriada.
Através do encontro entre Sanātana e o Senhor Caitanya, aprendemos que, para compreender assuntos espirituais, a pessoa deve aproximar-se de um mestre espiritual como o Senhor Caitanya Mahāprabhu e fazer perguntas submissas. Confirma-se também na Bhagavad-gītā (4.34) que todos devem aproximar-se de uma autoridade com quem possam aprender a ciência da vida espiritual.