Capítulo Seis

Através do serviço devocional podemos entender que Kṛṣṇa, em primeiro lugar, manifesta-Se como svayam-rūpa, Sua forma pessoal, então como tadekātma-rūpa, e depois como āveśa-rūpa. Ele manifesta-Se em Sua forma transcendental sob esses três aspectos. O aspecto svayam-rūpa é a forma através da qual Kṛṣṇa pode ser compreendido por alguém que talvez não entenda Seus outros aspectos. Em outras palavras, a forma através da qual se obtém percepção direta de Kṛṣṇa chama-se svayam-rūpa, ou Sua forma pessoal. A tadekātma-rūpa é a forma que mais assemelha-se à svayam-rūpa, porém existem algumas diferenças nos aspectos corpóreos. A tadekātma-rūpa divide-se em duas manifestações – a expansão pessoal (svāṁśa) e a expansão de passatempo (vilāsa). No que se refere à āveśa-rūpa, quando Kṛṣṇa outorga a alguma entidade viva idônea poder para representá-lO, esta entidade chama-se āveśa-rūpa, ou śaktyāveśa-avatāra.

Pode-se classificar a forma pessoal de Kṛṣṇa em duas: svayam-rūpa e svayam-prakāśa. Em Sua svayam-rūpa (ou forma de passatempo), Ele permanece sempre em Vṛndāvana com seus habitantes. Pode-se dividir ainda essa forma pessoal (svayam-rūpa) em formas prābhava e vaibhava. Por exemplo, Kṛṣṇa expandiu-Se em múltiplas formas durante a dança da rāsa para dançar com cada gopī que participou na dança. Do mesmo modo, em Dvārakā, Ele expandiu-Se em dezesseis mil, cento e oito formas para atender a Suas dezesseis mil, cento e oito esposas. Há alguns exemplos de eminentes místicos que também expandiam suas características corpóreas de diferentes maneiras, mas Kṛṣṇa não Se expande através de nenhum processo de yoga. Cada expansão de Kṛṣṇa era um indivíduo separado. Na história védica, Saubhary Ṛṣi, um sábio, expandiu-se em oito formas através do processo de yoga, mas Saubhary Ṛṣi permaneceu um. No que diz respeito a Kṛṣṇa, quando Ele Se manifestou em diferentes formas, cada uma delas era um indivíduo separado. Ao visitar Kṛṣṇa em diferentes palácios de Dvārakā, Nārada Muni ficou espantado com isso, todavia Nārada nunca se espanta de ver as expansões do corpo de um yogī, porque ele próprio conhece este artifício.

O Śrīmad-Bhāgavatam, contudo, afirma que Nārada ficou deveras espantado de ver as expansões de Kṛṣṇa. Ele ficou imaginando como o Senhor, ao mesmo tempo, podia estar presente com Suas rainhas em cada um dos Seus dezesseis mil, cento e oito palácios. Com cada rainha, Kṛṣṇa em pessoa estava numa forma diferente e agia de diferentes maneiras. Em uma forma Ele ocupava-Se em brincar com Seus filhos, e em outra Ele executava algum dever doméstico. O Senhor conduz essas diferentes atividades ao situar-Se em Suas formas “emocionais”, conhecidas como expansões vaibhava-prakāśa. Da mesma maneira, existem outras ilimitadas expansões das formas de Kṛṣṇa, porém, mesmo ao dividirem-se ou expandirem-se sem limite, elas ainda assim são idênticas. Não há diferença entre uma e outra forma. Esta é a natureza absoluta da Suprema Personalidade de Deus.

No Śrīmad-Bhāgavatam, afirma-se que ao acompanhar Kṛṣṇa e Balarāma de Gokula a Mathurā, Akrūra entrou no rio Yamunā e pôde ver em suas águas todos os planetas do céu espiritual. Ali, ele também viu o Senhor sob Sua forma de Viṣṇu, bem como Nārada e os quatro Kumāras, que O estavam adorando. Como se afirma no Bhāgavata Purāṇa (10.40.7):

Existem muitos adoradores que se purificam mediante diferentes processos de adoração – tais como os vaiṣṇavas ou os arianos – que também adoram o Senhor Supremo de acordo com suas convicções e compreensão espiritual. Cada processo de adoração envolve a compreensão de diferentes formas do Senhor, como se menciona nas escrituras, mas a ideia última é adorar o próprio Senhor Supremo.

Em Seu aspecto vaibhava-prakāśa, o Senhor manifesta-Se como Balarāma. O aspecto de Balarāma é tão bom quanto o do próprio Kṛṣṇa, sendo que a única diferença é que a tez de Kṛṣṇa é escura e a de Balarāma é clara. Logo que adveio a este mundo, Kṛṣṇa também exibiu a forma vaibhava-prakāśa, aparecendo perante Sua mãe Devakī sob a forma de Nārāyaṇa de quatro braços. No entanto, a pedido de Seus pais, Ele assumiu uma forma com dois braços. Assim, ora Ele manifesta quatro braços, ora dois. A forma com dois braços é, de fato, vaibhava-prakāśa, e a forma com quatro braços é prābhava-prakāśa. Em Sua forma pessoal, Kṛṣṇa é exatamente como um vaqueirinho, e Ele assim Se considera. Porém, ao assumir a forma de Vāsudeva, Ele considera-Se o filho de um kṣatriya e age como um príncipe regente.

Sob Sua forma com dois braços, atuando como o vaqueirinho, filho de Nanda Mahārāja, Kṛṣṇa exibe na íntegra Sua opulência, forma, beleza, riqueza, atratividade e passatempos. Deveras, em alguns textos vaiṣṇavas encontra-se que, às vezes, em Sua forma de Vāsudeva, Ele fica fascinado pela forma de Govinda em Vṛndāvana. Dessa maneira, Ele, sob a forma de Vāsudeva, às vezes, deseja desfrutar tal como o vaqueirinho Govinda, embora a forma de Govinda e a de Vāsudeva sejam idênticas. Com relação a isto, há um trecho no Quarto Capítulo do Lalita-mādhava (4.19), no qual Kṛṣṇa Se dirige a Uddhava da seguinte maneira: “Meu querido amigo, a forma de Govinda, o vaqueirinho, fascina-Me. Na verdade, desejo ser como as donzelas de Vraja, que também ficam fascinadas por esta forma de Govinda”. Do mesmo modo, no Oitavo Capítulo, Kṛṣṇa diz: “Oh, como é maravilhoso! Quem é esta pessoa? Após vê-lO, estou tão fascinado que agora desejo abraçá-lO assim como o faz Rādhikā”.

Além disso, existem formas de Kṛṣṇa que são um pouco diferentes, e estas formas chamam-se tadekātma-rūpa. Estas podem ainda classificar-se em formas vilāsa e svāṁśa, que por sua vez têm muitos aspectos distintos e podem-se classificar em formas prābhava e vaibhava. No que diz respeito às formas vilāsa, existem inúmeras prābhava-vilāsas, através das quais Kṛṣṇa expande-Se como Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha. Às vezes, o Senhor considera-Se um vaqueirinho e, às vezes, considera-Se o filho de Vasudeva, um príncipe kṣatriya, e essa “consideração” de Kṛṣṇa chama-se “Seus passatempos”. Na verdade, Ele está presente da mesma maneira em Sua vaibhava-prakāśa e prābhava-vilāsa, mas aparece diferentemente como Balarāma e Kṛṣṇa. Suas expansões como Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha estão no catur-vyūha original, ou formas com quatro braços.

Em planetas e lugares diversos, há inúmeras manifestações com quatro braços, as quais se manifestam eternamente em Dvārakā e Mathurā. Das quatro principais formas com quatro braços (Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha) manifestam-se as vinte e quatro formas principais chamadas vaibhava-vilāsa, as quais recebem nomes distintos. Segundo a disposição dos diferentes símbolos (búzio, maça, lótus e disco) em suas mãos. As quatro principais manifestações de Kṛṣṇa encontram-Se em cada planeta do céu espiritual, e esses planetas chamam-se Nārāyaṇaloka ou Vaikuṇṭha-loka. No Vaikuṇṭha-loka, Ele Se manifesta sob a forma de Nārāyaṇa de quatro braços. De cada Nārāyaṇa manifestam-se as formas de Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha. Dessa maneira, Nārāyaṇa é o centro, e as quatro formas de Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha orbitam a forma de Nārāyaṇa. Cada uma dessas quatro formas volta a expandir-se em três, e todas elas têm diferentes nomes, começando com Keśava. Essas formas são doze ao todo, e são conhecidas por diferentes nomes segundo a disposição dos símbolos em suas mãos.

No que diz respeito à forma de Vāsudeva, as três expansões que se manifestam dEle são: Keśava, Nārāyaṇa e Mādhava. As três formas de Saṅkarṣaṇa são conhecidas como Govinda, Viṣṇu e Śrī Madhusūdana (contudo, deve-se observar que esta forma de Govinda não é a mesma forma de Govinda que Se manifesta em Vṛndāvana como o filho de Nanda Mahārāja). De igual modo, Pradyumna também Se divide em três formas conhecidas como Trivikrama, Vāmana e Śrīdhara; e as três formas de Aniruddha são conhecidas como Hṛṣīkeśa, Padmanābha e Dāmodara.