Capítulo Oito
Os Avatāras
O Senhor Caitanya continuou a explicar a Sanātana Gosvāmī que as expansões do Senhor Kṛṣṇa que vêm a esta criação material chamam-se avatāras, ou encarnações. A palavra avatāra significa “aquele que desce” e, neste caso, a palavra refere-se especificamente àquele que desce do céu espiritual. No céu espiritual, existem inumeráveis planetas Vaikuṇṭhas, dos quais as expansões da Suprema Personalidade de Deus vêm a este universo.
O primeiro advento da Suprema Personalidade de Deus, sob Sua expansão de Saṅkarṣaṇa, é Mahā-Viṣṇu, a encarnação puruṣa. No Śrīmad-Bhāgavatam (1.3.1), confirma-se que, ao descer como a primeira encarnação puruṣa da criação material, a Suprema Personalidade de Deus manifesta de imediato dezesseis energias elementares. Esse Mahā-Viṣṇu, que repousa dentro do Oceano Causal, é a encarnação original no mundo material. Ele é o Senhor do tempo, da natureza, da causa e efeito, da mente, do ego, dos cinco elementos, dos três modos da natureza, dos sentidos e da forma universal. Embora seja o amo de todos os objetos móveis e inertes do mundo material, Ele tem plena independência.
Como se confirma no Śrīmad-Bhāgavatam (2.9.10), a influência da natureza material não pode ultrapassar Virajā, o Oceano Causal. Os modos da natureza material (bondade, paixão e ignorância), bem como o tempo material, não exercem influência nos planetas Vaikuṇṭhas. Nestes planetas, os liberados companheiros de Kṛṣṇa vivem eternamente e são adorados tanto pelos semideuses quanto pelos demônios.
A natureza material age em dois aspectos, a saber, māyā e pradhāna. Māyā é a causa direta, e pradhāna refere-se aos elementos da manifestação material. Quando Mahā-Viṣṇu, o primeiro puruṣa-avatāra, lança Seu olhar sobre a natureza material, ela se agita, então, Ele fecunda com entidades vivas a matéria. Em virtude do simples olhar de Mahā-Viṣṇu, cria-se a consciência, conhecida como mahat-tattva. A Deidade predominante do mahat-tattva é Vāsudeva. Essa consciência criada divide-se, então, em três atividades departamentais, de acordo com os três guṇas, ou modos da natureza material. A consciência no modo da bondade é descrita no Décimo Primeiro Canto do Śrīmad-Bhāgavatam. A Deidade predominante do modo da bondade chama-se Aniruddha. A consciência no modo da paixão material produz inteligência, e a Deidade predominante neste caso é Pradyumna. Ele é o senhor dos sentidos. A consciência no modo da ignorância gera a produção do éter, do céu e da audição. A manifestação cósmica é uma combinação desses modos, e, dessa maneira, criam-se inúmeros universos. Ninguém pode calcular o número de universos.
Esses inúmeros universos são produzidos dos poros do corpo de Mahā-Viṣṇu. Assim como inúmeras partículas de poeira passam através dos minúsculos buracos de uma tela, inúmeros universos emanam dos poros do corpo de Mahā-Viṣṇu. Quando Ele exala, inúmeros universos são produzidos, e quando inala, eles são aniquilados. Todas as energias de Mahā-Viṣṇu são espirituais e nada têm a ver com a energia material. Na Brahma-saṁhitā (5.48), afirma-se que Brahmā, a deidade predominante de cada universo, vive apenas durante uma respiração do Mahā-Viṣṇu. Assim, Mahā-Viṣṇu é a Superalma original de todos os universos e também o seu senhor.
A segunda encarnação de Viṣṇu, Garbhodakaśāyī Viṣṇu, entra em cada um dos universos, enche-os com água produzida de Seu corpo e deita-Se nessa água. De seu umbigo cresce o caule de uma flor de lótus, e nessa flor de lótus nasce Brahmā, a primeira criatura. Dentro do caule desta flor de lótus existem quatorze divisões de sistemas planetários, que são criadas por Brahmā. Dentro de cada universo o Senhor está presente como Garbhodakaśāyī Viṣṇu, e Ele mantém cada universo e atende a suas necessidades. Embora esteja dentro de cada universo material, a influência da energia material não pode tocá-lO. Quando necessário, esse mesmo Viṣṇu assume a forma do Senhor Śiva e aniquila a criação cósmica. As três encarnações secundárias – Brahmā, Viṣṇu e Śiva – são as deidades predominantes dos três modos da natureza material. No entanto, o senhor do universo é Garbhodakaśāyī Viṣṇu, que é adorado como a Superalma Hiraṇyagarbha. Os hinos védicos descrevem-nO como aquele que tem milhares de cabeças. Embora esteja dentro da natureza material, Ele não é tocado por ela.
A terceira encarnação de Viṣṇu, Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, também é uma encarnação do modo da bondade. Ele é a Superalma de todas as entidades vivas e reside no oceano de leite dentro do Universo. Dessa maneira, Caitanya Mahāprabhu descreveu os puruṣa-avatāras.
O Senhor Caitanya descreveu a seguir os līlā-avatāras, ou avatāras de “passatempos”, e o Senhor indicou que eles são ilimitados. Contudo, Ele descreve alguns deles – por exemplo, Matsya, Kūrma, Raghunātha, Nṛsiṁha, Vāmana e Varāha.
No tocante aos guṇa-avatāras, ou encarnações qualitativas de Viṣṇu, eles são três – Brahmā, Viṣṇu e Śiva. Brahmā é uma das entidades vivas, porém, em virtude do seu serviço devocional, ele é muito poderoso. Essa entidade viva primordial, senhor do modo da paixão material, recebe de Garbhodakaśāyī Viṣṇu direto poder para criar inúmeras entidades vivas. Na Brahma-saṁhitā (5.49), Brahmā é comparado a joias valiosas influenciadas pelos raios do sol, e o Sol é comparado ao Supremo Senhor Garbhodakaśāyī Viṣṇu. Se, em alguma kalpa, não há uma entidade viva idônea, capaz de agir na qualidade de Brahmā, o próprio Garbhodakaśāyī Viṣṇu manifesta-Se como Brahmā, agindo como tal.
De modo semelhante, ao expandir-Se como o Senhor Śiva, o Senhor Supremo ocupa-Se, quando necessário, em aniquilar o Universo. O Senhor Śiva, em associação com māyā, tem muitas formas, que em geral perfazem onze. O Senhor Śiva não é uma das entidades vivas; ele é, mais ou menos, o próprio Kṛṣṇa. A este respeito, dá-se muitas vezes o exemplo do leite e do iogurte – o iogurte é uma preparação de leite, mas ainda assim ele não pode ser usado como leite. De igual modo, o Senhor Śiva é uma expansão de Kṛṣṇa, mas não pode agir como Kṛṣṇa, nem podemos nós obter do Senhor Śiva a restauração espiritual que obtemos de Kṛṣṇa. A diferença essencial é que o Senhor Śiva tem uma conexão com a natureza material, mas Viṣṇu ou o Senhor Kṛṣṇa não tem nada a ver com a natureza material. No Śrīmad-Bhāgavatam (10.88.3), afirma-se que o Senhor Śiva é uma combinação de três classes de consciência transformada, conhecidas como vaikārika, taijasa e tāmasa.
A encarnação de Viṣṇu, embora seja o senhor do modo da bondade dentro de cada universo, não está de modo algum em contato com a influência da natureza material. Embora Viṣṇu seja igual a Kṛṣṇa, Kṛṣṇa é a fonte original. Viṣṇu é uma parte, mas Kṛṣṇa é o todo. Essa é a versão dada pelos textos védicos. Na Brahma-saṁhitā, dá-se o exemplo de uma vela original que acende uma segunda vela. Embora as duas velas tenham o mesmo poder, aceita-se que uma é a original, e que a outra foi acesa pela original. A expansão Viṣṇu é como a segunda vela. Ela é tão poderosa quanto Kṛṣṇa, mas o Viṣṇu original é Kṛṣṇa. Brahmā e o Senhor Śiva são servos obedientes do Senhor Supremo, e o Senhor Supremo, sob a forma de Viṣṇu, é uma expansão de Kṛṣṇa.
Após descrever os līlā e guṇa-avatāras, o Senhor Caitanya explica a Sanātana Gosvāmī os manvantara-avatāras. Primeiro Ele afirma que é impossível contar os manvantara-avatāras. Em uma kalpa, um dia de Brahmā, manifestam-se quatorze Manus. Calcula-se que um dia de Brahmā perfaz quatro bilhões e trezentos e vinte milhões de anos, e Brahmā vive por cem anos dessa escala. Logo, se aparecem quatorze Manus em um dia de Brahmā, existem 420 Manus durante um mês de Brahmā, e durante um ano de Brahmā existem 5.040 Manus. Como Brahmā vive por cem de seus anos, calcula-se que existem 504.000 Manus manifestos durante o período de vida de um Brahmā. Visto que há inúmeros universos, ninguém pode imaginar a totalidade de encarnações manvantaras. Porque todos os universos são produzidos simultaneamente pela exalação do Mahā-Viṣṇu, ninguém pode sequer calcular quantos Manus manifestam-se de uma só vez.
Cada Manu recebe um nome diferente. O primeiro Manu chama-se Svāyambhuva e é filho de Brahmā. O segundo Manu, Svārociṣa, é filho da deidade predominante do fogo. O terceiro Manu, Uttama, é filho do rei Priyavrata. O quarto Manu, Tāmasa, é irmão de Uttama. O quinto Manu, chamado Raivata, e o sexto Manu, Cākṣuṣa, são irmãos de Tāmasa, mas Cākṣuṣa é filho de Cākṣu. O sétimo Manu chama-se Vaivasvata e é filho do deus do Sol. O oitavo Manu chama-se Sāvarṇi e também é filho do deus do Sol, nascido de uma esposa chamada Chāyā. O nono Manu, Dakṣasāvarṇi, é filho de Varuṇa. O décimo Manu, Brahmasāvarṇi, é filho de Upaśloka. Quatro outros Manus são conhecidos como Rudrasāvarṇi, Dharmasāvarṇi, Devasāvarṇi e Indrasāvarṇi.
Após descrever as encarnações Manu, o Senhor Caitanya explicou a Sanātana Gosvāmī os yuga-avatāras. Existem quatro yugas, ou milênios – Satya, Tretā, Dvāpara e Kali –, e em cada milênio o Senhor Supremo encarna, e cada encarnação tem uma cor específica de acordo com a yuga. Na Satya-yuga, a cor da principal encarnação é branca. Na Tretā-yuga, a cor é vermelha; na Dvāpara-yuga, a cor é escura (Kṛṣṇa); e, na Kali-yuga, a cor da principal encarnação é amarela (Caitanya Mahāprabhu). No Śrīmad-Bhāgavatam (10.8.13), o astrólogo Gargamuni, que calculou o horóscopo de Kṛṣṇa na casa de Nanda Mahārāja, também confirma isto.
Na Satya-yuga, o processo de autorrealização era a meditação, ensinado pela encarnação branca de Deus. Essa encarnação deu uma bênção ao sábio Kardama através da qual ele poderia ter como filho uma encarnação da Personalidade de Deus. Na Satya-yuga, todos meditavam em Kṛṣṇa, e toda entidade viva tinha conhecimento pleno. Na era atual, Kali-yuga, pessoas que não têm pleno conhecimento ainda estão tentando seguir este processo meditativo recomendado para uma era anterior.
O processo para autorrealização recomendado no milênio Tretā-yuga era a execução de sacrifício, o qual foi ensinado pela encarnação vermelha de Deus.
O processo para autorrealização recomendado no milênio Tretā-yuga era a execução de sacrifício, o qual foi ensinado pela encarnação vermelha de Deus.
namas te vāsudevāya
namaḥ saṅkarṣaṇāya
pradyumnāyāniruddhāya
tubhyaṁ bhagavate namaḥ
“Que eu ofereça minhas reverências à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha.”
Este foi o processo de autorrealização para a era Dvāpara. No milênio seguinte – a atual era de Kali – o Senhor encarna para pregar o canto do santo nome de Kṛṣṇa. Nesta era, o Senhor é amarelo (Caitanya Mahāprabhu) e, através do cantar dos nomes de Kṛṣṇa, ensina às pessoas o amor por Deus. O próprio Kṛṣṇa efetua esse ensinamento e, recitando, cantando e dançando com milhares de pessoas a segui-lO, exibe amor por Deus. O Śrīmad-Bhāgavatam (11.5.32) prediz o advento dessa encarnação específica da Suprema Personalidade de Deus:
kṛṣṇa-varṇaṁ tviṣākṛṣṇaṁ
sāṅgopāṅgāstra-pārṣadam
yajñaiḥ saṅkīrtana-prāyair
yajanti hi su-medhasaḥ
“Na era de Kali, o Senhor encarna como um devoto, cuja tez é amarelada, e está sempre cantando Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Embora seja Kṛṣṇa, Sua tez não é escura como a de Kṛṣṇa na Dvāpara-yuga, mas, sim, dourada. Na Kali-yuga, o Senhor ocupa-Se em pregar o amor por Deus através do movimento de saṅkīrtana, e as entidades vivas inteligentes adotam este processo de autorrealização.” No Śrīmad-Bhāgavatam (12.3.52), declara-se também:
kṛte yad dhyāyato viṣṇuṁ
tretāyāṁ yajato makhaiḥ
dvāpare paricaryāyāṁ
kalau tad dhari-kīrtanāt
“A autorrealização alcançada no milênio Satya através da meditação, no milênio Tretā através da execução de diferentes sacrifícios, e no milênio Dvāpara através da adoração do Senhor Kṛṣṇa, pode ser alcançada na era de Kali através do mero cantar dos santos nomes, Hare Kṛṣṇa.” O Viṣṇu Purāṇa (6.2.17) também confirma isso como segue:
dhyāyan kṛte yajan yajñais
tretāyāṁ dvāpare ’rcayan
yad āpnoti tad āpnoti
kalau saṅkīrtya keśavam
“Nesta era, é inútil a prática de meditação, de sacrifício e de adoração no templo. Mediante o simples cantar do santo nome de Kṛṣṇa – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare –, pode-se alcançar autorrealização perfeita.”
Quando o Senhor Caitanya descreveu a encarnação para esta era de Kali, Sanātana Gosvāmī, que fora ministro do governo e era muito perspicaz em tirar conclusões, perguntou ao Senhor: “Como podemos entender o advento de uma encarnação?” Com a descrição da encarnação para o milênio de Kali, Sanātana Gosvāmī pôde entender que, na verdade, o Senhor Caitanya era aquela encarnação de Kṛṣṇa, e também pôde entender que no futuro muitas pessoas tentariam imitar o Senhor Caitanya, porque o Senhor atuou como um brāhmaṇa comum, apesar de Seus devotos O aceitarem como uma encarnação. Como sabia que haveria muitos impostores, Sanātana perguntou ao Senhor: “Como podemos entender as características de uma encarnação?”
“Assim como, recorrendo aos textos védicos, podemos entender as diferentes encarnações para os diferentes milênios”, respondeu o Senhor, “podemos também entender quem, de fato, é a encarnação do Supremo nesta era de Kali.” Dessa maneira, o Senhor enfatizou sobretudo a referência às escrituras autorizadas. Em outras palavras, ninguém deve aceitar por capricho que uma pessoa é uma encarnação, mas deve tentar entender as características de uma encarnação, recorrendo às escrituras. Uma encarnação do Senhor Supremo nunca Se declara uma encarnação; porém, Seus seguidores devem verificar quem é uma encarnação e quem é um impostor, recorrendo às escrituras autorizadas.
Qualquer pessoa inteligente pode compreender as características de um avatāra mediante o conhecimento de dois aspectos – o aspecto principal, chamado personalidade, e os aspectos marginais. Nas escrituras, há descrições das características do corpo e das atividades de uma encarnação, e a descrição do corpo é o aspecto principal pelo qual se pode identificar uma encarnação. As atividades da encarnação são os aspectos marginais. Em relação a isso, no início do Śrīmad-Bhāgavatam (1.1.1), encontramos uma ótima descrição dos aspectos de um avatāra. Neste verso, usam-se os termos param e satyam, e o Senhor Caitanya indica que essas palavras revelam o aspecto principal de Kṛṣṇa. Os outros aspectos marginais indicam que Ele ensinou o conhecimento védico a Brahmā e que encarnou como puruṣa-avatāra para criar a manifestação cósmica. Estes são aspectos ocasionais manifestados para alguns propósitos especiais. Devemos ser capazes de entender e distinguir os aspectos principal e marginal de um avatāra. Ninguém pode declarar-se uma encarnação sem se referir a esses dois aspectos. Um homem inteligente não aceitará ninguém como um avatāra sem estudar os aspectos principal e marginal. Quando Sanātana Gosvāmī tentou confirmar que as características pessoais do Senhor Caitanya eram iguais àquelas da encarnação desta era, o próprio Senhor Caitanya fez uma confirmação indireta, dizendo apenas: “Deixemos de lado todas essas discussões e continuemos com a descrição dos śaktyāveśa-avatāras”.
O Senhor indicou então que os śaktyāveśa-avatāras são ilimitados e que ninguém pode calcular o seu número. No entanto, podem-se mencionar alguns deles como exemplos. As encarnações śaktyāveśas pertencem a duas classes: diretas e indiretas. Quando o próprio Senhor vem, Ele é chamado de sākṣāt, ou um śaktyāveśa-avatāra direto, e quando, para representá-lO, Ele dota de poder uma entidade viva, esta se chama uma encarnação indireta, ou āveśa. Exemplos de avatāras indiretos são os quatro Kumāras, Nārada, Pṛthu e Paraśurāma. Na realidade, eles são entidades vivas, porém, receberam da Suprema Personalidade de Deus poderes específicos. Quando o Senhor Supremo investe uma opulência específica em entidades específicas, estas se chamam āveśa-avatāras. Os quatro Kumāras representam sobretudo a opulência cognitiva do Senhor Supremo. Nārada representa o serviço devocional ao Senhor Supremo. O serviço devocional também é representado pelo Senhor Caitanya, que é considerado como a representação plena do serviço devocional. Em Brahmā, investiu-se a opulência do poder criativo; no rei Pṛthu, investiu-se o poder para manter as entidades vivas; e, em Paraśurāma, investiu-se o poder para matar elementos malignos. A respeito da vibhūti, o favor especial da Suprema Personalidade de Deus, descreve-se no Décimo Capítulo da Bhagavad-gītā que quando uma entidade viva tem poder ou beleza extraordinários, deve-se considerar que ela recebeu o favor especial do Senhor Supremo.
Exemplos de sākṣād-avatāras são a encarnação Śeṣa e a encarnação Ananta. Em Ananta, investiu-se o poder de sustentar todos os planetas; e, na encarnação Śeṣa, investiu-se o poder de servir ao Senhor Supremo.
Após descrever as encarnações śaktyāveśas, Caitanya Mahāprabhu passou a falar sobre a idade do Senhor Supremo. Ele disse que o Supremo Senhor Kṛṣṇa parece sempre um rapaz de dezesseis anos, e, ao desejar descer a este universo, Ele primeiro envia Seu pai e Sua mãe, que são Seus devotos, e então Ele próprio advém como uma encarnação, ou vem em pessoa. Todas as Suas atividades – desde a matança da demônia Pūtanā – são exibidas em inumeráveis universos, e são ilimitadas. Na verdade, a cada momento, a cada segundo, Suas manifestações e diversos passatempos são vistos em diferentes universos (brahmāṇḍas). Logo, Suas atividades são exatamente como as ondas do rio Ganges. Assim como não há limite para o fluxo das ondas do Ganges, não há interrupção do advento das encarnações do Senhor Kṛṣṇa em diferentes universos. Desde a infância, Ele exibe muitos passatempos, e afinal exibe a dança da rāsa.
Afirma-se que todos os passatempos de Kṛṣṇa são eternos, o que se confirma em toda escritura. Em geral, as pessoas não conseguem entender como Kṛṣṇa executa Seus passatempos, mas o Senhor Caitanya esclareceu isso, comparando Seus passatempos à órbita da Terra ao redor do Sol. De acordo com os cálculos astrológicos védicos, as vinte e quatro horas de um dia e uma noite dividem-se em sessenta daṇḍas. Os dias dividem-se de novo em 3.600 palas. Pode-se perceber o disco solar em cada sessenta palas, e esse tempo constitui uma daṇḍa. Oito daṇḍas perfazem um prahara, e o Sol nasce e se põe dentro de quatro praharas. Quatro praharas constituem também uma noite, e então o Sol nasce. Assim como todos os passatempos de Kṛṣṇa podem ser vistos em qualquer um dos universos, o Sol pode ser visto em seu movimento durante 3.600 palas.
O Senhor Kṛṣṇa permanece neste universo só por 125 anos, porém, todos os passatempos desse período manifestam-se em cada universo. Esses passatempos incluem desde Seu aparecimento, atividades infantis e juventude, até Seus últimos passatempos em Dvārakā. Porque estão presentes a todo momento em uma ou outra das miríades de universos, todos esses passatempos são considerados eternos. O Sol existe eternamente, embora o vejamos nascer e se pôr, aparecer e desaparecer, de acordo com nossa posição no planeta. Do mesmo modo, os passatempos do Senhor continuam acontecendo, embora possamos vê-los manifestos neste universo específico somente a certos intervalos. Sua morada é o planeta supremo conhecido como Goloka Vṛndāvana, e por Sua vontade este Goloka Vṛndāvana manifesta-se neste universo e também em outros universos.
Dessa maneira, o Senhor está sempre em Sua morada suprema, Goloka Vṛndāvana, e, por Sua vontade suprema, Suas atividades executadas lá também se manifestam em inumeráveis universos. Ao aparecer, Ele o faz nesses lugares específicos, e em toda manifestação exibem-se Suas seis opulências.