No edit permissions for Português

Capítulo 17

Abrigando-se em Kṛṣṇa, o Controlador Supremo

Verso 41

nānyatra mad bhagavataḥ
pradhāna-puruṣeśvarāt
ātmanaḥ sarva-bhūtānāṁ
bhayaṁ tīvraṁ nivartate

O terrível medo de nascer e morrer nunca pode ser eliminado por alguém que recorre a outro abrigo além de Mim, pois Eu sou o Senhor todo-poderoso, a Suprema Personalidade de Deus, a fonte original de toda a criação e também a Alma Suprema de todas as almas.

SIGNIFICADO—Aqui se indica que não se pode parar o ciclo de nascimentos e mortes a não ser que sejamos devotos puros do Senhor Supremo. Afirma-se que hariṁ vinā naiva sṛtiṁ taranti. Não podemos superar o ciclo de nascimentos e mortes a menos que sejamos favorecidos pela Suprema Personalidade de Deus. O mesmo conceito é confirmado neste verso: pode ser que alguém adote o sistema de entendimento da Verdade Absoluta através de sua própria e imperfeita especulação sensorial, ou pode ser que tente compreender o eu através do processo de yoga místico; mas, faça o que fizer, a menos que chegue ao ponto da rendição à Suprema Personalidade de Deus, nenhum processo poderá proporcionar-lhe a liberação. Talvez alguém pergunte se isso significa que quem se submete a muitas penitências e austeridades, seguindo estritamente as regras e regulações, está se esforçando em vão. O Śrīmad-Bhāgavatam (10.2.32) apresenta a resposta: ye ’nye ’ravindākṣa vimukta-māninaḥ. O senhor Brahmā e outros semideuses oraram ao Senhor, quando Kṛṣṇa estava no ventre de Devakī: “Meu querido Senhor de olhos de lótus, certas pessoas se enchem de orgulho com o pensamento de que se libertaram, ou que se tornaram unas com Deus, ou que se tornaram Deus, mas, apesar de pensarem dessa maneira arrogante, a inteligência delas não é louvável. Elas são menos inteligentes.” Afirma-se que a inteligência delas, quer muita, quer pouca, não é sequer purificada. Com inteligência purificada, a entidade viva não pode pensar em outra coisa senão em se render. A Bhagavad-gītā, portanto, confirma que a inteligência purificada surge em quem é muito sábio. Bahūnāṁ janmanām ante jñānavān māṁ prapadyate. Após muitos e muitos nascimentos, aquele que é realmente avançado em inteligência rende-se ao Senhor Supremo.

Sem o processo de rendição, ninguém pode alcançar a liberação. O Bhāgavatam diz: “Aqueles que são simplesmente arrogantes, julgando-se liberados mediante algum processo não devocional, não têm inteligência clara ou polida, pois ainda não se renderam a Ti. Apesar de executarem todas as espécies de austeridades e penitências, ou mesmo de chegarem à beira do entendimento espiritual acerca de Brahman, eles pensam que estão na refulgência de Brahman. Mas, na verdade, por não terem atividades transcendentais, caem em atividades materiais.” Não devemos nos contentar simplesmente com a noção de que somos Brahman. É preciso que nos ocupemos a serviço do Brahman Supremo; isso é bhakti. A ocupação de Brahman deve ser o serviço ao Para-brahman. Afirma-se que quem não se torna Brahman não pode servir a Brahman. O Brahman Supremo é a Suprema Personalidade de Deus, e a entidade viva também é Brahman. Sem a compreensão de que é Brahman, alma espiritual, servo eterno do Senhor, se alguém simplesmente pensa que é Brahman, sua compreensão é apenas teórica. É preciso compreender e, ao mesmo tempo, ocupar-se no serviço devocional ao Senhor, então é possível existir no status de Brahman. De outro modo, a entidade viva cai.

O Bhāgavatam diz que, como os não-devotos negligenciam o transcendental serviço amoroso aos pés de lótus da Personalidade de Deus, a inteligência deles não é pura, daí essas pessoas caírem. A entidade viva precisa ter alguma atividade. Se não se ocupa na atividade do serviço transcendental, certamente ela cai para a atividade material. E quando alguém cai para a atividade material, não há como resgatá-la do ciclo de nascimentos e mortes. O Senhor Kapila afirma aqui: “Sem Minha misericórdia” (nānyatra mad-bhagavataḥ). Aqui se declara que o Senhor é Bhagavān, a Suprema Personalidade de Deus, o que indica que é pleno de todas as opulências e, por isso, é perfeitamente competente para libertar-nos do ciclo de nascimentos e mortes. Ele também é chamado de pradhāna porque é o Supremo. Ele é equânime com todos, mas é especialmente favorável a alguém que se rende a Ele. Também se confirma na Bhagavad-gītā que o Senhor é equânime com todos; ninguém é Seu inimigo e ninguém é Seu amigo. Todavia, para quem se rende a Ele, Ele sente inclinação especial. Pela graça do Senhor, simplesmente por nos rendermos a Ele, podemos escapar deste ciclo de nascimentos e mortes. Caso contrário, poderemos continuar assim por muitas e muitas vidas e poderemos muitas vezes tentar outros processos para alcançar a liberação.

No momento atual, somos tão obtusos e tolos que não sabemos o que é bhayam e tīvram. A palavra tīvram significa “muito terrível”, e bhayam, “muito assustador”. Estamos enredados por um medo muito terrível, mas, devido ao encanto de māyā, nós nos tornamos tão obtusos que não ligamos para isso. No momento da morte, surgem inúmeros problemas, e ficamos muito amedrontados. Às vezes, quando está morrendo, a pessoa entra em coma e permanece inconsciente. Não sabemos a que tipo de teste amedrontador ela se submete. Talvez esteja sonhando com várias coisas, ou talvez esteja chorando. Ela não pode se expressar. Sobretudo aqueles que foram muito pecaminosos morrem dessa maneira. Após a morte, eles têm de entrar no ventre de outra mãe. Essa também é uma etapa muito amedrontadora. Fica-se comprimido em um saco, e esse saco está cheio de excremento e urina, e é preciso permanecer nesse saco apertado por nove meses.

Essa é uma situação horrível, mas nos esquecemos de tudo isso. Kṛṣṇa, portanto, diz na Bhagavad-gītā que nosso verdadeiro problema é janma-mṛtyunascimento e morte. Quando está comprimida dentro do ventre, incapaz de se mover, a entidade viva ora a Deus: “Por favor, livre-me desta condição horrível. Se o Senhor me libertar, prometo adorá-lO.” Finalmente, depois de nove meses, a entidade viva sai do ventre e, então, ela se submete a vários problemas na tentativa de ajustar-se à atmosfera de um novo planeta. Na infância, ela chora repetidamente, e é cem por cento dependente da misericórdia de sua mãe. Às vezes, a mãe não consegue descobrir o que a criança deseja. Às vezes, pode ser que uma formiga a esteja picando, mas a mãe pensa que ela está com fome. Há também insetos, vermes, mosquitos, excremento, urina e muitas outras coisas que atacam o novo corpo. Esses são os três tipos de sofrimentos; ainda assim pensamos ter logrado o progresso. Sofremos constantes ataques por uma coisa ou outra, apesar do que fechamos os olhos para não ver o nascimento, a velhice, a doença e a morte. Os ateus querem esquecer esses sofrimentos e, por isso, gostam de pensar que não há vida após a morte. São como avestruzes, que enterram a cabeça na terra quando um inimigo se aproxima.

Embora a entidade viva, dentro do ventre, prometa adorar Kṛṣṇa, ela não cumpre sua promessa depois de nascer. Depois que nasce e cresce, ela passa a querer um bom saldo bancário, uma esposa e filhos e, então, começa a pensar que seus problemas estão resolvidos e que ela viverá muito feliz. Seus problemas de fato não estão resolvidos. Ela pode ter algumas facilidades temporárias, mas o problema principal permanece. A cada minuto, a cada segundo, muita gente está morrendo e indo para Yamarāja. Aqueles que ficam vivos, contudo, pensam que não morrerão. Eles veem que seus amigos estão morrendo, mas, de uma forma ou outra, pensam ser eternos. Yudhiṣṭhira Mahārāja disse que esse era o fenômeno mais impressionante do mundo. Ninguém acredita que morrerá, apesar de todos estarem morrendo.

A entidade viva julga-se muito feliz em qualquer corpo que obtenha. Ela pode obter o corpo de um cão ou o corpo de um gato, mas ela fica feliz com seu corpo e não deseja perdê-lo. Isso se chama ilusão. Quando está em perigo, uma formiga corre em desespero. Isso acontece porque ela dá valor a seu corpo e não quer perdê-lo. Certa vez, o senhor Indra, o rei dos planetas celestiais, foi amaldiçoado por Bṛhaspati a se tornar um porco. Ele estava passeando pela Terra desfrutando com seu corpo de porco quando, por fim, o senhor Brahmā veio e lhe disse: “Meu querido Indra, você já sofreu o bastante. Agora, volte comigo para o seu reino celestial.” Indra, na forma de um porco, disse: “Para onde devo ir?” “Para os céus”, respondeu o senhor Brahmā. Indra, então, disse: “Não. Tenho família e filhos. Como posso ir? Estou muito feliz. Deixe-me ficar aqui.” Dessa maneira, todos pensam que são muito felizes, embora estejam em uma condição horrível e amedrontadora. Entretanto, quem é realmente inteligente pode compreender que não é de fato feliz, que está sofrendo. Afirma-se que a ignorância é bem-aventurança, mas essa é a bem-aventurança do porco. Quando alguém chega a compreender que não é verdadeiramente feliz neste mundo material, ele pode começar a libertar-se do sofrimento.

Não há possibilidade de alguém se libertar do sofrimento sem se abrigar aos pés de lótus de Kṛṣṇa. Há quem pense que pode se libertar do sofrimento através de abortos, matando a criança que se encontra no ventre. Dessa maneira, essas pessoas cometem um pecado após outro e se enredam cada vez mais. Por conseguinte, a entidade viva abortada terá de entrar no ventre de outra mãe para se submeter ao nascimento a que estava destinada. Depois, quando entra no ventre de outra mãe, ela talvez seja morta de novo, e pode ser que, por muitos anos, não possa ver a luz do Sol. Neste Kali-yuga, as pessoas se tornaram tão pecaminosas que não há possibilidade de salvação a menos que elas adotem a consciência de Kṛṣṇa. Toda a civilização humana está caindo no fogo ilusório de māyā. As pessoas voam para dentro desse fogo como se fossem mariposas. Quando existe uma bela fogueira, as mariposas vêm de uma longa distância, entram nela e, dessa maneira, são incineradas. Desse modo, o ser vivo morre, nasce, sofre e volta a morrer.

Ainda assim, Kṛṣṇa e Seus devotos são tão bondosos e compassivos que ficam infelizes de ver toda o sofrimento do mundo material. Kṛṣṇa é o pai de todas as entidades vivas e fica muito infeliz de ver Seus filhos sofrer. Kṛṣṇa, então, vem e solicita: “Por que você se deixa cativar por esta felicidade falsa, esta assim chamada felicidade? Abandone tudo e renda-se a Mim. Venha para Mim, e Eu o libertarei. Você, então, viverá muito feliz, em eternidade e bem-aventurança. Você não sofrerá nenhuma privação, nem será incomodado por nada.” Kṛṣṇa vem por este motivo. Na realidade, Ele não tem nada mais a fazer aqui, pois Sua agente prakṛti faz tudo. No entanto, por compaixão, Kṛṣṇa vem em Sua forma original ou em uma encarnação como Kapiladeva. Kṛṣṇa também envia Seu representante, que diz: “Seu patife! Simplesmente se refugie em Kṛṣṇa e seja feliz.”

Kṛṣṇa vem uma vez a cada dia de Brahmā, e Suas encarnações vêm também, para educar os tolos que pensam estar vivendo felizes nesta terra. Kapiladeva vem para apresentar esta filosofia sāṅkhya, que é devoção imaculada ao Senhor. Nesta passagem, Kapiladeva diz que o mundo inteiro está condenado à morte, a menos que se refugie no Senhor. Não há outra maneira de se salvar. Todos nos encontramos em uma situação muito assustadora, mas não compreendemos isso. Sob o encanto de māyā, julgamo-nos muito felizes, mas isso não é verdade. Se queremos alívio de nossa situação perigosa, temos de nos render à Suprema Personalidade de Deus e reviver nossa antiga relação com Ele. Que relação é essa? Todos somos Seus servos eternos. Ninguém deve pensar tolamente que se tornou uno com Deus ou igual a Ele. Tudo isso é resultado de patifaria. O começo do conhecimento é compreender que somos eternos filhos e servos de Kṛṣṇa. Não existe diferença entre um filho e um servo. O filho serve ao pai, exatamente como o servo presta serviço ao mestre. Existe afeição entre o mestre e o servo e entre o pai e o filho. O pai também serve ao filho de diversas maneiras; portanto, a relação é recíproca. Caitanya Mahāprabhu definiu que nosso svarūpa original, nossa identidade original, é a de ser servo eterno. Artificialmente, nós pensamos: “Eu sou independente. Não sou servo de ninguém. Tornei-me Deus, Bhagavān. Eu sou isto; eu sou aquilo.”

No mundo material, não é muito agradável ser servo de ninguém. Pensamos que ser servos de Deus também é assim, porque estamos infectados pela doença material. Pensamos que ser servo de Deus é como ser servo de algum homem qualquer, mas, no mundo espiritual, o servo e o servido são iguais. Por exemplo, o guru é servo de Kṛṣṇa, mas ele é aceito como Kṛṣṇa.

sākṣād dharitvena samasta-śāstrair
uktas tathā bhāvyata eva sadbhiḥ
kintu prabhor yaḥ priya eva tasya
vande guroḥ śrī-caraṇāravindam

“O mestre espiritual deve ser honrado tal qual o Senhor Supremo, porque ele é o servo mais íntimo do Senhor. Isso é corroborado por todas as escrituras reveladas e seguido por todas as autoridades. Ofereço, portanto, minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de tal mestre espiritual, que é um representante genuíno de Śrī Hari [Kṛṣṇa].” (Gurv-aṣṭaka 7) Esse é o veredito de todos os śāstras. O guru nunca diz: “Eu sou Kṛṣṇa, eu sou Deus, eu sou Bhagavān.” Ao contrário, o guru diz: “Sou o mais humilde servo do servo do servo de Deus.” Ele nem mesmo se diz servo direto. Ao contrário, ele é o servo de uma centena de outros servos. Gopī-bhartuḥ pada-kamalayor dāsa-dāsānudāsa. Não devemos tentar nos tornar servos diretos, pois isso não é possível. Primeiramente, temos de nos tornar servos dos servos. O guru é o servo de Kṛṣṇa, e, se nos tornarmos seu servo, então seremos um servo genuíno. Essa é nossa posição verdadeira. Portanto, Caitanya Mahāprabhu ora:

ayi nanda-tanuja kiṅkaraṁ
patitaṁ māṁ viṣame bhavāmbudhau

“Ó filho de Nanda Mahārāja, sou Teu servo eterno, porém, de alguma forma, caí no oceano de nascimentos e mortes.” (Śikṣāṣṭaka 5) Caitanya Mahāprabhu chama o Supremo Senhor Kṛṣṇa de filho de Nanda Mahārāja. Kṛṣṇa fica muito satisfeito se alguém O chama de filho de Vasudeva, Yaśodā ou Mahārāja Nanda. Kṛṣṇa gosta de ser chamado por nomes ligados a Seus devotos puros. Portanto, Ele é chamado de Yaśodā-nandana, Vasudeva-nandana, Rādhikā-ramaṇa e assim por diante. Assim, Caitanya Mahāprabhu dirige-Se a Kṛṣṇa dessa maneira. Ele diz que, embora seja servo eterno de Kṛṣṇa, de uma maneira ou outra ele caiu no oceano de nascimentos e mortes, aceitando um corpo após o outro, morrendo e nascendo repetidas vezes, não só neste planeta, mas em todo o universo, em diferentes espécies de vida. Essa é a situação das entidades vivas condicionadas, que vagam de uma vida para outra e de um planeta para outro por milhões e milhões de anos. Não ligamos para isso porque nos julgamos corajosos e destemidos. Por isso, somos muito orgulhosos, mas esse é o orgulho dos tolos. Como diz o ditado: “Os tolos se precipitam onde os anjos temem pisar.” A fim de nos salvarmos dessa situação amedrontadora, temos de nos abrigar na Suprema Personalidade de Deus. Esse é o veredito de todos os śāstras, e Kṛṣṇa vem com esse propósito ou envia Seus devotos, que trabalham dia e noite para propagar este movimento da consciência de Kṛṣṇa.

Verso 42

mad-bhayād vāti vāto ’yaṁ
sūryas tapati mad-bhayāt
varṣatīndro dahaty agnir
mṛtyuś carati mad-bhayāt

É por causa de Minha supremacia e por temor a Mim que o vento sopra; o Sol brilha por temor a Mim; e o senhor das nuvens, Indra, envia chuvas por temor a Mim. O fogo queima por temor a Mim, e, por temor a Mim, a morte vagueia fazendo seu serviço.

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, diz na Bhagavad-gītā que as leis naturais que são estabelecidas realizam-se corretamente em todas as atividades por causa de Sua superintendência. Ninguém deve pensar que a natureza funciona de forma automática, sem superintendência. A literatura védica diz que as nuvens são controladas pelo semideus Indra, o calor é distribuído pelo deus do Sol, o suave luar é distribuído por Candra, e o ar sopra sob o arranjo do semideus Vāyu. Contudo, acima de todos esses semideuses, a Suprema Personalidade de Deus é a principal entidade viva. Nityo nityānāṁ cetanaś cetanānām. Os semideuses também são entidades vivas comuns, porém, devido à sua fidelidadesua atitude de serviço devocional, eles foram promovidos a esses postos. Esses diferentes semideuses, ou diretores, tais como Candra, Varuṇa e Vāyu, são chamados adhikāri-devatā. Os semideuses são líderes departamentais. O governo do Senhor Supremo não consta apenas de um planeta, ou dois, ou três; há milhões de planetas e milhões de universos. A Suprema Personalidade de Deus tem um governo imenso e precisa de assistentes. Os semideuses são considerados membros de Seu corpo. Todas essas descrições são da literatura védica. Dadas essas circunstâncias, o deus do Sol, o deus da Lua, o deus do fogo e o deus do ar trabalham sob a direção do Senhor Supremo. A Bhagavad-gītā (9.10) confirma que mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram. As leis naturais estão sendo conduzidas sob Sua superintendência. Por Ele estar por trás de tudo, tudo está sendo executado pontual e regularmente.

Quem se abriga na Suprema Personalidade de Deus está completamente protegido de todas as demais influências. Ele já não serve nem tem obrigações com mais ninguém. Evidentemente, ele não é desobediente com ninguém, mas todo o poder de seu pensamento está absorto no serviço ao Senhor. As afirmações feitas pela Suprema Personalidade de Deus Kapila de que, sob Sua direção, o ar sopra, o fogo queima e o Sol fornece calor não são sentimentais. Pode ser que os impersonalistas digam que os devotos bhāgavatam criam e imaginam alguém como a Suprema Personalidade de Deus e atribuem-Lhe qualificações. Mas, na realidade, isso não é nem imaginação, nem uma imposição de poder artificial em nome do Supremo. Nos Vedas, declara-se que bhīṣāsmād vātaḥ pavate bhīṣodeti sūryaḥ: “Por temor ao Senhor Supremo, o deus do vento e o deus do Sol estão agindo.” Bhīṣāsmād agniś cendraś ca mṛtyur dhāvati pañcamaḥ: “Agni, Indra e Mṛtyu também atuam sob Sua direção.” Essas são afirmações dos Vedas.

Se até os semideuses estão sujeitos ao medo, o que dizer de nós, entidades vivas comuns? Na vida material, não somos muito felizes porque estamos sempre com medo de alguma coisa. Ninguém pode dizer: “Não tenho medo de nada.” Todos têm medo de alguma coisa. Não existe pássaro, fera, ser humano ou entidade viva que não tenha medo de algo. Isso acontece porque estamos absortos na concepção corpórea, pensando: “Eu sou este corpo.” Visto que todos pensam assim, todos temem a destruição do corpo. Quando aconteceu um terremoto em Los Angeles, todos saíram à rua gritando. Todos ficaram aterrorizados, pensando: “Agora a morte está chegando!” Assim é a natureza material. Há muitos acontecimentos na natureza que amedrontam. Ocorrem grandes ciclones e furacões. Há calor excessivo e chuva em demasia. Acontecem inundações, fome e guerras. Ainda assim, as pessoas pensam em ser felizes neste planeta.

Os cientistas modernos dizem que não existem semideuses nem Deus, e que todos esses acontecimentos ocorrem devido à natureza. É verdade que a natureza está agindo, mas a natureza, em última análise, não é nada senão matéria. A matéria não pode atuar sem o direcionamento de uma entidade viva. Não podemos dizer que a matéria age de forma independente. No oceano, sempre vemos grandes ondas se movendo. A água é matéria grosseira, mas o ar empurra essas ondas enormes e as leva à praia. Os cientistas dizem que a natureza age dessa e daquela maneira, mas a natureza não é independente. Recebemos informações dos śāstras autorizados de que a natureza age sob a orientação dos semideuses. Logo, não se pode dizer que esses processos acontecem de modo automático. Os cientistas admitem que a natureza age de forma maravilhosa, mas, em última análise, a natureza não está sob o controle deles. Os cientistas podem aceitar ou desafiar Kṛṣṇa, mas não podem desafiar as atividades da natureza. Todos são subordinados à natureza. A natureza, porém, age sob a orientação de Deus; todos, portanto, são subordinados a Deus.

O Sol, os oceanos, a terra, o espaço e tudo mais na criação material não passam de manifestações da energia externa de Kṛṣṇa. Nada é independente de Kṛṣṇa ou de Sua energia. Na Brahma-saṁhitā (5.44), declara-se que a natureza material é tão poderosa que tem o poder de criar, manter e destruir: Sṛṣṭi-sthiti-pralaya-sādhana-śaktir ekā. Entretanto, a natureza material age como uma sombra. Se colocamos a mão na frente da luz, podemos ver sua sombra movendo-se na parede. Analogamente, a natureza material age devido ao toque da alma espiritual. Não é possível que um automóvel dirija a si mesmo. Alguém, a alma espiritual, tem de estar lá dentro para apertar determinados botões. Em virtude do toque da alma espiritual, a máquina se move. O universo inteiro, de forma semelhante, move-se devido ao toque de Deus. Segundo os śāstras, o vento sopra, a água se move, o Sol brilha e a Terra gira sob a orientação da Suprema Personalidade de Deus. Se os diretores dos diferentes elementos materiais não trabalham corretamente, eles são punidos por seu mestre, Kṛṣṇa.

Quando esteve nesta Terra, Kṛṣṇa viu que o senhor Indra, o senhor dos céus e da chuva, estava um pouco orgulhoso. Assim, Kṛṣṇa aconselhou a Seu pai Nanda Mahārāja que não se preocupasse em adorar Indra. Ele disse a Seu pai: “Não há necessidade de oferecer sacrifícios a Indra. É melhor adorar a colina Govardhana, que é a representante de Deus. As vacas recebem pasto e cereais da colina Govardhana; portanto, é melhor adorá-la.” A princípio, Nanda Mahārāja não queria fazer isso, mas, por afeição a Kṛṣṇa, ele por fim concordou. Ao ver que Nanda Mahārāja estava adorando a colina Govardhana, Indra ficou muito irado e enviou nuvens perversas para inundar toda Vṛndāvana com uma enchente. Kṛṣṇa, então, mostrou a Indra que seu poder não era suficiente nem para competir com o dedo mindinho de Sua mão esquerda. Assim sendo, Kṛṣṇa ergueu a colina Govardhana com o mindinho de Sua mão esquerda e a usou como um guarda-chuva para salvar todo o povo de Vṛndāvana da tempestade enviada por Indra. O Śrīmad-Bhāgavatam narra todas essas histórias.

Desse modo, todos são servos. Ninguém pode de fato se dizer o senhor. Se simplesmente nos abrigamos em Kṛṣṇa, não temos de oferecer sacrifícios a diferentes semideuses. Se regamos a raiz da árvore, não precisamos regar seus galhos, ramos, flores ou frutos. Se alimentamos o estômago, não precisamos alimentar os olhos, as mãos e as pernas separadamente. De igual forma, se adoramos Kṛṣṇa, a origem de tudo, nenhuma outra adoração é necessária.

Enormes quantidades de riqueza são necessárias para a execução de sacrifícios. Em eras passadas, ofereciam-se toneladas de alimentos no fogo como sacrifício, mas isso não é possível nesta era. Portanto, recomenda-se o saṅkīrtana-yajña, o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Qualquer um pode cantar Hare Kṛṣṇa. Não há necessidade de instrumentos, apesar de o Senhor Caitanya ter introduzido o mṛdaṅga (tambor) e os karatālas (címbalos). Apenas bater palmas é suficiente. Qualquer um pode sentar-se com sua família, bater palmas e cantar Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Esse saṅkīrtana é muito fácil de realizar. À noite, as pessoas vão a restaurantes e cinemas e desperdiçam tempo e dinheiro em bares e bailes. Elas não se dão conta da situação amedrontadora decorrente de ter de nascer, envelhecer, adoecer e morrer. As pessoas são arrastadas pelas ondas da natureza material e, dessa maneira, submetem-se às suas leis. Não devemos desperdiçar nosso tempo agora que recebemos esta valiosa forma de vida humana, senão que devemos começar a resolver nossos problemas.

Por fim, tudo o que existe nesta Terra será aniquilado. No momento presente, três quartos da Terra estão cobertos de água. No princípio, a Terra inteira era coberta por água, mas, gradualmente, a água está secando, e mais terra está surgindo. Uma vez que a terra emergiu, calculamos que esta terra é o continente asiático, aquela é a América do Norte, aquela outra é a América do Sul, a África e assim por diante. No final, haverá somente terra e nenhuma água, e isso significa que a destruição, então, será completa. Porque não haverá água, o calor será abrasador, e a Terra enfim será reduzida a cinzas. Então, mais uma vez, ocorrerão chuvas e tudo irá se recompor, após o que se repetirá a destruição. Dessa maneira, as coisas passam a existir e são aniquiladas. Do mesmo modo, este corpo passa a existir, assume uma bela forma e, então, é destruído para sempre. Teremos de obter outro corpo. O corpo é como uma bolha. Está presente por um momento, depois arrebenta e se vai para sempre.

Simplesmente aceitamos uma bolha após outra, um corpo após o outro e, porque somos muito tolos, pensamos que seremos felizes dessa maneira. Kṛṣṇa vem como uma pessoa igual a nós, mas somos tão patifes que pensamos que Ele é apenas um homem, e esse é o nosso infortúnio. Se apenas nos rendemos a Kṛṣṇa, não precisamos nos sujeitar ao karma de diferentes corpos. Mesmo que tentemos prestar-Lhe algum serviço devocional e depois soframos uma queda, não perdemos nada; ao contrário, ganhamos tudo. Temos garantida uma vida humana em nosso próximo nascimento. Portanto, é para o nosso benefício aceitar Kṛṣṇa.

« Previous Next »