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Liberação da Ignorância e do Sofrimento
bhave ’smin kliśyamānānām
avidyā-kāma-karmabhiḥ
śravaṇa-smaraṇārhāṇi
kariṣyann iti kecana
E ainda há outros que dizem que Tu apareceste para renovar o serviço devocional de ouvir, lembrar, adorar e assim por diante, para que as almas condicionadas que sofrem de dores materiais aproveitem-se disso e obtenham a libertação.
Śrīmad-Bhāgavatam 1.8.35
Na Śrīmad-Bhagavad-gītā, o Senhor afirma que aparece em todos os milênios simplesmente para restabelecer o caminho da religião. O caminho da religião é feito pelo Senhor Supremo. Ninguém pode fabricar um novo caminho de religião, como costumam fazer certas pessoas ambiciosas. O verdadeiro caminho da religião é aceitar o Senhor como a autoridade suprema, e assim prestar-Lhe serviço com amor espontâneo. Um ser vivo não pode deixar de prestar serviço, porque ele é constitucionalmente feito para esse propósito. A única função do ser vivo é prestar serviço ao Senhor. O Senhor é grande, e os seres vivos são Seus subordinados. Portanto, o dever de todos é servir unicamente a Ele.
Desafortunadamente, os seres vivos, iludidos apenas devido a uma falsa concepção, tornam-se servos dos sentidos através do desejo material. Este desejo chama-se avidyā, ou ignorância. E, por causa de tal desejo, os seres vivos fazem diferentes planos para o desfrute material, centralizado na vida sexual pervertida. Portanto, eles se enredam na corrente de nascimento e morte, transmigrando para diferentes corpos, em diferentes planetas, sob a direção do Senhor Supremo. Por isso, a menos que a pessoa esteja além do limite da ignorância, ela não se pode livrar das três espécies de misérias da vida material. Esta é a lei da natureza.
O Senhor, contudo, por Sua misericórdia sem causa, porque Ele é mais misericordioso com os seres vivos que estão sofrendo do que eles possam esperar, aparece diante deles e renova os princípios do serviço devocional, que compreendem ouvir, cantar, lembrar, servir, adorar, orar, cooperar e render-se a Ele. A adoção de todos os itens acima mencionados, ou de qualquer um deles, pode ajudar a alma condicionada a sair da rede da ignorância, e assim libertar-se de todos os sofrimentos materiais criados pela sua condição de ser vivo iludido pela energia externa. Esse tipo particular de misericórdia é concedido ao ser vivo pelo Senhor, sob a forma do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Neste importante verso as palavras bhave ’smin significam “neste mundo material”. A palavra bhava também significa “crescer”, e refere-se àquilo que nasce. Neste mundo material existem seis tipos de mudanças: primeiro há o nascimento, depois crescimento, permanência por algum tempo, emissão de subprodutos, envelhecimento, e, finalmente, desaparecimento. Estas seis mudanças são chamadas de ṣaḍ-vikāra. O corpo, por exemplo, nasce numa certa data, cresce e permanece por algum tempo. Do corpo surgem vários subprodutos, na forma de filhos e filhas, e depois o corpo fica velho e fraco e, no final, quando está bem velho, morre.
Mas, quando meu corpo acaba, eu não acabo. Quando meu corpo grosseiro chega ao fim, eu permaneço no meu corpo sutil, composto de mente, inteligência e falso ego, e este corpo sutil me leva para outro corpo grosseiro. Embora todos tenham de aceitar um corpo sutil, os cientistas e médicos não conseguem vê-lo. Eu tenho uma mente, e você também, mas eu não posso ver a sua mente, nem você pode ver a minha. Eu tenho inteligência, e você também, mas você não pode ver minha inteligência, nem eu a sua, porque elas são muito sutis. Analogamente, a alma espiritual é ainda mais sutil. Então, como poderiam os cientistas vê-la? Se eles não conseguem ver a mente, a inteligência ou o falso ego, o que falar de ver a alma? Por isso, eles dizem: “O corpo é tudo, e não há mais nada”. Na verdade, entretanto, este não é o fato.
O fato é que a alma espiritual é muito, muito pequena. Bālāgra-śata-bhāgasya śatadhā kalpitasya ca (Śvetāśvatara Upaniṣad 5.9). A alma é uma décima milésima parte da ponta de um fio de cabelo. Suponhamos que peguemos um fio de cabelo e o dividamos em cem partes iguais. Podemos fazer isto? Não. Isto não é possível. Mas se pudéssemos, e novamente dividíssemos cada parte em cem partes iguais, cada nova parte seria do tamanho da alma espiritual.
Naturalmente, isto não pode ser compreendido através de conhecimento experimental. Então, como pode ser aprendido? Deve-se aprender da autoridade. Nosso conhecimento é tão imperfeito que não pode tratar desses assuntos tão sutis, e, porque não podem tratar dessas coisas, os patifes pensam que a matéria é a causa da vida. Apesar disso, eles não são capazes de demonstrar que a vida vem da matéria. Deixemo-los juntar elementos químicos em seus laboratórios e vejamos se produzem um pequeno inseto com patas, olhos, etc. Toda noite vemos muitos de tais insetos com patas e olhos, com os quais se aproximam da luz. Desde esses pequenos insetos até o Senhor Brahmā, existem 8.400.000 diferentes formas de vida, em meio as quais estamos viajando, de corpo em corpo, abandonando um e aceitando outro, como é declarado por Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā (tathā dehāntara prāptiḥ). Portanto, rejeitamos a palavra de Kṛṣṇa ou todas as teorias, ditas científicas, de que a vida vem da matéria; mas nós estamos comprometidos com a consciência de Kṛṣṇa, e, portanto, não podemos rejeitar a palavra de Kṛṣṇa. Nós aceitamos quando Kṛṣṇa diz que temos de viajar de um corpo para outro.
Toda entidade viva dentro deste mundo material está sob a influência de avidyā, ignorância. Avidyā-karma-saṁjñānyā tṛtīyā śaktir iṣyate. Deus, Kṛṣṇa, tem muitos milhões de potências (parāsya śaktir vividhaiva śrūyate), que foram agrupadas em três categorias – a potência externa, a potência interna e a potência marginal. A potência marginal e a potência interna são da mesma qualidade espiritual, mas a terceira potência, a externa, é inferior.
viṣṇu-śaktir parā proktā
kṣetrajñākhyā tathā parā
avidyā-karma-saṁjñānyā
tṛtīyā śaktir iṣyate
(Viṣṇu Purāṇa 6.7.61)
Neste mundo material, todos estão em ignorância (avidyā). Mesmo Brahmā era ignorante, antes que Kṛṣṇa lhe desse o conhecimento. Portanto, ninguém deve ter orgulho de seu conhecimento. Todos neste mundo material são patifes. Uma entidade viva individual deseja: “Se eu tivesse a oportunidade de estar no lugar do Senhor Brahmā, poderia criar um universo enorme”. Assim, ela recebe o corpo de Brahmā. E um pequeno inseto deseja: “Se eu pudesse fazer um pequeno buraco neste quarto, eu viveria pacificamente e comeria bem”. Assim, Brahmā deseja criar um universo, nós desejamos criar um arranha-céu, e uma formiga deseja fazer um buraco na parede, mas a qualidade do trabalho é uma só. Todos nós somos tolos, entretanto, porque não compreendemos que, uma vez que essas coisas são materiais, não vão durar para sempre. Devido à nossa ignorância, pensamos: “Isto é ótimo. Aquilo vai ser ótimo”. Kāma karmabhiḥ. Desenvolvemos algum desejo (kāma) e depois agimos de acordo. Isto resulta em muita dificuldade (kliśyanti). Tornar-se Brahmā não é algo muito fácil. Brahmā é uma posição muito elevada, e é oferecida a uma entidade viva que seja altamente qualificada em austeridades e penitências. Mas ele também é uma entidade viva como nós. Nos EUA, existem muitos cidadãos, e o Presidente Ford também é um cidadão, mas, por causa de seu trabalho duro e diplomacia, ele obteve a presidência. Ainda assim, ele é um cidadão comum. O Presidente Nixon, por exemplo, foi deposto e agora não é mais presidente. Isto é porque ele era um cidadão comum. Da mesma forma, se quisermos, também poderemos nos tornar Brahmā. Portanto, Bhaktivinoda Ṭhākura diz:
kīṭa-janma hao yathā tuyā dāsa
bahirmukha brahma-janme nāhi āśā
“Que eu me torne um inseto na casa de Seu devoto, porque, se eu cair na poeira dos pés de um devoto, minha vida será bem-sucedida”.
Bhaktivinoda Ṭhākura diz, bahirmukha brahma-janme nāhi āśā: “Eu não desejo me tornar Brahmā e não ser um devoto de Kṛṣṇa”.
Porque estamos em ignorância, māyā, a qualquer momento, podemos esquecer Kṛṣṇa. Por isso, devemos nos ocupar sempre na consciência de Kṛṣṇa para que não O esqueçamos. Kuntīdevī indica isto atavés das palavras śravaṇa-smaraṇārhāṇī. A palavra śravaṇa significa ouvir, smaraṇā significa “lembrar”, e ārhāṇī significa “adorar a Deidade de Kṛṣṇa”. Devemos sempre nos ocupar em ouvir sobre Kṛṣṇa, lembrá-lO e adorá-lO. Todos os centros do movimento da consciência de Kṛṣṇa estão abertos somente com esse propósito – para facilitar o cantar, dançar e adorar; para que, assim, não esqueçamos Kṛṣṇa. Sadā tad-bhāva-bhāvitaḥ: se sempre pensarmos em Kṛṣṇa, haverá uma chance de lembrarmo-nos dEle no fim da vida (ante nārāyaṇa-smṛtiḥ).
Tudo requer prática. Se alguém, por exemplo, deseja dançar no palco, tem de ensaiar muito para aprender a dança. Em seguida, se se tornar um bom dançarino, será aplaudido “Ah, que ótimo dançarino!”, mas ninguém pode dizer: “Eu vou para o palco e imediatamente serei um ótimo dançarino”. Isto não é possível. Alguém pode dizer “Não, não, não. Eu não vou comparecer ao ensaio. Por favor, mande-me já para o palco que eu quero me apresentar”. Mas o diretor não permitirá isto, porque ninguém pode se tornar um bom dançarino sem praticar. O verdadeiro propósito da vida é lembrar-se de Kṛṣṇa no momento da morte (ante nārāyaṇa-smṛtiḥ). Se, no momento da morte, a pessoa conseguir se lembrar de Kṛṣṇa, sua vida será exitosa.
Neste mundo material, todos são forçados a sofrer misérias materiais, mas os patifes não querem compreender isso porque estão absortos na ignorância. Um contrabandista pode agir mesmo sabendo que será preso e punido. Um ladrão pode saber que será preso e castigado por seus atos criminosos, e pode até já ter sido punido várias vezes, mas, ainda assim, comete o mesmo crime novamente (punaḥ punaś carvita carvanāṇām). Por quê? Ignorância. Ele está tão absorto em ignorância que não pensa “Eu estou sempre roubando, sendo preso repetidamente e sendo levado para a cadeia para ser castigado. Por que continuo fazendo isto? O resultado não é bom”. Alguém que seja muito inclinado sexualmente pode sofrer várias vezes de doenças venéreas, e submeter-se a tratamento, mas novamente recorrerá às prostitutas. Isto é avaidha stṛ-saṅga, sexo ilícito. Mas até mesmo o sexo autorizado envolve muitas dificuldades. Após o sexo, a mulher fica grávida, e tem de sofrer por nove meses, e durante o nascimento, às vezes, corre grande risco. E o pai, depois do nascimento da criança, tem de cuidá-la e trabalhar duro para prover a sua educação. Por conseguinte, a literatura védica diz: bahu-duḥkha-bhājaḥ – Após o sexo, lícito ou ilícito, existem muitos problemas. Tṛpyanti neha kṛpaṇāḥ: mas aquele que é um patife ignorante não ficará satisfeito. Em vez disso, fará as mesmas coisas repetidamente (punaḥ punaś carvita carvanāṇām). Isso é chamado de bhava-roga, a doença da existência material. Na civilização védica, portanto, as crianças são treinadas para permanecerem brahmacārīs, celibatários, e não se envolverem com problemas de sexo. Mas, se a pessoa é incapaz de manter-se brahmacārī, pode-se casar. Após ter sido treinado, no início, como um brahmacārī, ela não ficará muito tempo na vida familiar, mas rapidamente aceitará vānaprastha (a ordem retirada) e depois tomará sannyāsa, a ordem renunciada da vida.
yan maithunādi-gṛhamedhi-sukhaṁ hi tucchaṁ
kaṇḍūyanena karayor iva duḥkha-duḥkham
(Bhāgavatam 7.9.45)
Na civilização védica, portanto, as crianças são treinadas para permanecerem brahmacārīs, celibatários, e não se envolverem com problemas de sexo. Mas, se a pessoa é incapaz de manter-se brahmacārī, pode-se casar. Após ter sido treinado, no início, como um brahmacārī, ela não ficará muito tempo na vida familiar, mas rapidamente aceitará vānaprastha (a ordem retirada) e depois tomará sannyāsa, a ordem renunciada da vida.
Neste mundo material, todos estão sofrendo – os pássaros, as feras, as árvores, os animais, as plantas e até mesmo Brahmā e Indra. Indra também não está a salvo; ele está sempre ansioso em relação a seus competidores.
tat sādhu manye ’sura-varya dehināṁ
sadā samudvigna-dhiyām asad-grahāt
(Bhāgavatam 7.5.5)
Por que todos estão em ansiedade neste mundo material? Avidyā-kāma-karmabhiḥ: porque são ignorantes. Por isso, Kṛṣṇa adverte: “Seu patife, abandone essas bobagens e renda-se a Mim”. Esta é a maior misericórdia de Kṛṣṇa. Ele é o pai supremo. Por conseguinte, Ele diz diretamente, sarva-guhyatamam: “Este é o conhecimento mais confidencial”. Sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Seu patife, abandone tudo e renda-se a Mim”.
Portanto, Kuntī diz: “Você veio para ensinar a esses ignorantes e ocupá-los em ouvir, lembrar e adorar”. Isso é bhakti. Śravaṇam kīrtanaṁ viṣṇoḥ: deve-se ouvir e cantar sobre Viṣṇu, Kṛṣṇa. Mas logo que os devotos começam a ouvir e cantar sobre Viṣṇu, aparece algum svāmī ignorante que diz: “Não. Ouvir e cantar qualquer nome dará o mesmo resultado. Por que Viṣṇu? Por que não Kālī?” Na Bengala, há um grupo que inventou “kālī-kīrtana”, cantar o nome da semideusa Kālī. Que bobagem é essa? Na literatura védica, não existe tal coisa como kālī-kīrtana. Kīrtana significa śravaṇa-kīrtanaṁ viṣṇoḥ – ouvir e cantar sobre Viṣṇu, Kṛṣṇa. A literatura védica recomenda harer nāma, cantar o santo nome de Hari, Kṛṣṇa, e de ninguém mais.
Este śravaṇaṁ kīrtanaṁ, ouvir e cantar, foi maravilhosamente descrito por Śukadeva Gosvāmī, no Segundo Canto do Śrīmad-Bhāgavatam (2.4.15). Ele disse:
yat-kīrtanaṁ yad-smaraṇaṁ yad-īkṣaṇaṁ
yad-vandanaṁ yat-śravaṇaṁ yad-arhaṇam
lokasya sadyo vidhunoti kalmaṣaṁ
tasmai subhadra-śravase namo namaḥ
Antes de falar o Śrīmad-Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmī ofereceu suas reverências a Kṛṣṇa com este verso: Ele disse: “Ofereço minhas reverências a Ele, porque simplesmente ouvir sobre Ele é subhadra, auspicioso”. O Śrīmad-Bhāgavatam é a glorificação a Kṛṣṇa, e esta é a glorificação feita por Śukadeva Gosvām. Ele diz que uma pessoa pode ser perfeitamente purificada se glorificar Kṛṣṇa, ou meditar sobre Ele, ou simplesmente sentar-se perante a Deidade de Kṛṣṇa e vê-lO, pensando “Como Kṛṣṇa está bem vestido! Como Rādhārāṇī está bem vestida!” Quem não tem condição de cantar, ou tem uma mente tão perturbada que não consegue fixar-se em Kṛṣṇa, recebe uma oportunidade: “Aqui está a Deidade. Simplesmente veja-A”. Para quem está ocupado no serviço à Deidade, existe uma ótima oportunidade de vê-La constantemente, vinte e quatro horas por dia. Enquanto varre o chão do templo, enquanto veste a Deidade, enquanto A banha ou enquanto Lhe oferece comida, está sempre A vendo. Este é o processo do serviço devocional, mas as pessoas são tão desavergonhadas e tão caídas que nem mesmo vão ver a Deidade. “Ah!”, elas pensam, “o que é adoração à Deidade? É idolatria”. Elas adoram uma estátua de Gandhi, ou outra pessoa, mas, quando são convidadas a ver a adoração à Deidade, dizem: “Não, isto é adoração a um ídolo”.
Eu vi que, em Calcutá, no Chaurangi Square, há uma estátua do Senhor Asutosa Mukherji. Durante todo o ano, os corvos evacuam em sua cabeça, e o excremento fica grudado. Então, em um determinado dia do ano, pela manhã, os lavadores limpam a estátua com escovas, e à tardinha muitos homens importantes se aproximam para enguirlandá-la com flores. Depois que o dia acaba, eles se vão, e, no dia seguinte, os corvos voltam para, mais uma vez, evacuar em sua cabeça. Assim, este tipo de adoração é aceita – lavar o rosto do Senhor Asutosa Mukherji com a escova municipal – mas, se instalarmos a Deidade de Kṛṣṇa e A adorarmos belamente, as pessoas dirão que é idolatria.
Desse modo, as pessoas estão embaraçadas por estarem aprisionadas por avidyā, ignorância, e o método para educá-las e salvá-las das garras dessa ignorância é o serviço devocional. Como é explicado por Śukadeva Gosvāmī, pode-se cantar o nome de Kṛṣṇa ou meditar em Kṛṣṇa ou, se não conseguir meditar, pode-se simplesmente sentar e ver Kṛṣṇa. Mesmo uma criança pode ver: “Aqui está Kṛṣṇa. Aqui está Rādhārāṇī”. Mesmo uma criancinha, ou até mesmo um animal, pode fazer isto e se beneficiar; ou, se for mais inteligente, pode oferecer preces. E quem for perito, e tiver sido treinado por um mestre espiritual, pode executar a adoração apropriada.
Cristãos e muçulmanos também são vaiṣṇavas, devotos, porque eles oferecem preces ao Senhor. “Ó Deus”, eles dizem, “dê-nos o pão de cada dia”. Aqueles que oferecem esta prece podem não saber muito e estar num estágio inferior, mas este é o começo, porque se aproximaram de Deus. Ir a uma igreja ou mesquita também é atividade piedosa (catur-vidhā bhajante māṁ janāḥ sukṛtino ’rjuna). Assim, aqueles que começam desta maneira, tornar-se-ão vaiṣṇavas puros algum dia. Porém, a propaganda ateísta de que não se deve ir a uma igreja, templo ou mesquita é muito perigosa para a sociedade humana.
Pode-se não ser muito avançado, mas deve-se, pelo menos, tentar fazer alguma coisa para compreender Deus. Uma criança é mandada para a escola e, embora só esteja aprendendo o abecê, se tem interesse, pode um dia tornar-se erudita. Da mesma maneira, um homem piedoso pode, algum dia, se tornar um devoto puro. Por que abandonar a religião, tornar-se completamente secular e simplesmente abrir uma fábrica para produzir porcas e parafusos, trabalhar muito duro, beber e comer carne? Que tipo de civilização é esta? É devido a esta assim chamada civilização que as pessoas estão sofrendo.
É por ignorância que as pessoas pensam que abrindo fábricas serão felizes. Por que deveriam abrir fábricas? Não há necessidade. Existe tanta terra, e qualquer um pode produzir seus próprios grãos e comer suntuosamente, sem nenhuma fábrica. O leite também é obtenível sem fábricas. A fábrica não pode produzir leite ou grãos. A atual escassez de alimento no mundo se deve, principalmente, a essas fábricas. Enquanto todos estão trabalhando na cidade, para produzir porcas e parafusos, quem produz os grãos alimentícios? Vida simples e pensamento elevado, eis a solução para os problemas econômicos. Portanto, o movimento da consciência de Kṛṣṇa está ocupando devotos em produzir seu próprio alimento e viver em autossuficiência para que os patifes possam ver como viver pacificamente, comer de sua própria produção de cereais, beber leite e cantar Hare Kṛṣṇa.
O processo da consciência de Kṛṣṇa deve ser propagado vigorosamente por todo o mundo. Simplesmente por ver a Deidade, ou por juntar-se ao canto do mantra Hare Kṛṣṇa, as pessoas obterão um imenso benefício. Quem executa o kīrtana, cantar, é capaz de pensar em Kṛṣṇa. Alguém pode pensar: “Eu dancei e cantei Hare Kṛṣṇa por duas horas. Qual é o significado disto?” Isto é smaraṇa, pensar em Kṛṣṇa. A pessoa pode até mesmo pensar “Eu cantei Kṛṣṇa, Kṛṣṇa tolamente por duas horas”, mas isso também é smaraṇa. Por que o movimento da consciência de Kṛṣṇa está se espalhando, e as pessoas estão comprando livros sobre Kṛṣṇa? Porque são curiosas; elas dizem: “O que é isto? Kṛṣṇa?! Vamos ver este livro”. Então, elas veem imediatamente uma ilustração de Rādhā e Kṛṣṇa, e, se abrirem o livro, verão muito mais. No livro estão muitas preces de glorificação a Kṛṣṇa. Assim, alguns ouvirão sobre Kṛṣṇa, outros lerão, e, se forem suficientemente afortunados, tornar-se-ão conscientes de Kṛṣṇa e se ocuparão na adoração à Deidade. Esses métodos de serviço devocional – ouvir, cantar, pensar em Kṛṣṇa, e assim por diante – são tão perfeitos que, logo que alguém os adote (todos eles, alguns deles, ou mesmo apenas um deles), se purifica. Portanto, Śukadeva Gosvāmī ora: “Eu ofereço minha adoração a Suprema Personalidade de Deus, porque simplesmente por lembrá-lO, glorificá-lO ou vê-lO, conseguem-se tantos benefícios”.
Śukadeva Gosvāmī é uma das doze autoridades espirituais importantes, que são as autoridades que devemos seguir (mahājana yena gataḥ sa panthāḥ). Ele afirma que, através da realização desses processos de serviço devocional, seremos purificados da contaminação material. Quando? Sadyaḥ: imediatamente, sem demora. Este é o grande benefício do movimento da consciência de Kṛṣṇa.