VERSO 10
prakāśa-viśeṣe teṅha dhare tina nāma
brahma, paramātmā āra svayaṁ-bhagavān
prakāśa — de manifestação; viśeṣe — em variedade; teṅha — Ele; dhare — mantém; tina — três; nāma — nomes; brahma — Brahman; paramātmā — Paramātmā (Superalma); āra — e; svayam — Ele próprio; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus.
Em função de Suas manifestações variadas, Ele é conhecido sob três aspectos, chamados o Brahman impessoal, o Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus original.
SIGNIFICADO—Em seu Bhagavat-sandarbha, Śrīla Jīva Gosvāmī explica a palavra bhagavān. A Personalidade de Deus, sendo pleno de todas as potências concebíveis e inconcebíveis, é o absoluto Todo Supremo. O Brahman impessoal é uma manifestação parcial da Verdade Absoluta percebida na ausência de tais potências completas. A primeira sílaba da palavra bhagavān é bha, que significa “mantenedor” e “protetor”. A sílaba seguinte, ga, significa “líder”, “impulsionador” e “criador”. Va significa “morada” (todos os seres vivos moram no Senhor Supremo, e o Senhor Supremo mora dentro do coração de cada ser vivo). Combinando todos esses conceitos, a palavra bhagavān traz o sentido de potência inconcebível em conhecimento, energia, força, opulência, poder e influência, destituída de todas as variedades de inferioridade. Sem tais potências inconcebíveis, não é possível sustentar ou proteger plenamente. Nossa civilização moderna é sustentada por arranjos científicos inventados por grandes cérebros científicos. Portanto, mal podemos imaginar o gigantesco cérebro cujos arranjos sustêm a gravidade do número ilimitado de planetas e satélites e que cria o espaço ilimitado em que eles flutuam. Se considerarmos a inteligência necessária para colocar em órbita satélites fabricados pelo homem, não poderemos ser tão tolos a ponto de pensar que não existe uma inteligência gigantesca responsável pela disposição dos diversos sistemas planetários. Não há razão para se acreditar que todos os gigantescos planetas flutuam no espaço sem o arranjo superior de uma inteligência maior. Trata-se claramente desse assunto na Bhagavad-gītā (15.13), onde a Personalidade de Deus diz: “Eu entro em cada planeta, e, por meio de Minha energia, eles permanecem em órbita.” Se os planetas não estivessem sob o controle da Personalidade de Deus, todos eles se espalhariam como poeira no ar. Os cientistas modernos podem apenas explicar de maneira desajeitada essa força inconcebível da Personalidade de Deus.
As potências das sílabas bha, ga e va aplicam-se em termos de muitos significados diferentes. O Senhor protege e mantém tudo por intermédio de Seus diferentes agentes potenciais. Todavia, Ele próprio protege e mantém pessoalmente apenas Seus devotos, assim como um rei mantém e protege pessoalmente seus próprios filhos, confiando a manutenção e proteção do estado a vários agentes administrativos. O Senhor é o líder de Seus devotos, como nos ensina a Bhagavad-gītā, a qual menciona que a Personalidade de Deus ensina pessoalmente a Seus devotos amorosos como fazer determinado progresso no caminho da devoção e, assim, aproximar-se com certeza do reino de Deus. O Senhor é também o recipiente de toda a adoração oferecida por Seus devotos, para os quais Ele é o objetivo e a meta. O Senhor cria uma condição favorável para Seus devotos desenvolverem um senso de amor transcendental por Deus. Às vezes, Ele faz isso tirando à força os apegos materiais do devoto e afastando todos aqueles que o protegem materialmente, pois assim o devoto vê-se obrigado a depender inteiramente da proteção do Senhor. Dessa maneira, o Senhor mostra ser o líder de Seus devotos.
O Senhor não está diretamente ligado à criação, manutenção e destruição do mundo material, pois está eternamente envolvido com o gozo de bem-aventurança com Sua parafernália potencial interna. Não obstante, já que é o iniciador da energia material, bem como da potência marginal (os seres vivos), Ele Se expande como os puruṣa-avatāras, que são dotados de potências semelhantes às dEle. Os puruṣa-avatāras também estão na categoria de bhagavat-tattva, porque cada um deles é idêntico à forma original da Personalidade de Deus. As entidades vivas são Suas partículas infinitesimais e são qualitativamente iguais a Ele. Elas são enviadas a este mundo material para gozar de prazeres materiais e satisfazer seus desejos de serem indivíduos independentes, mas, de qualquer modo, continuam sujeitas à vontade suprema do Senhor. O Senhor indica a Si mesmo para o estado de Superalma a fim de supervisionar os arranjos para tais prazeres materiais. A esse respeito, o exemplo de uma quermesse temporária é bastante adequado. Se os cidadãos de um estado se reúnem numa quermesse para divertir-se por algum tempo, o governo indica um funcionário especial para supervisioná-la. Semelhante funcionário é dotado com todo o poder governamental, e por isso ele é idêntico ao governo. Quando termina a quermesse, tal funcionário não é mais necessário, em razão do que ele volta para casa. Tal funcionário é comparado ao Paramātmā.
Os seres vivos não são o todo de tudo. Sem dúvida, eles são partes do Senhor Supremo e qualitativamente iguais a Ele; porém, estão sujeitos a Seu controle. Sendo assim, nunca são iguais ao Senhor nem unos com Ele. O Senhor que Se associa com o ser vivo é o Paramātmā, ou o ser vivo supremo. Portanto, ninguém deve encarar em nível de igualdade os seres vivos diminutos e o supremo ser vivo.
A verdade onipenetrante que existe eternamente durante a criação, manutenção e aniquilação do mundo material e na qual os seres vivos descansam em transe chama-se Brahman impessoal.