VERSO 39
manuṣye racite nāre aiche grantha dhanya
vṛndāvana-dāsa-mukhe vaktā śrī-caitanya
manuṣye — um ser humano; racite — compilou; nāre — não pode; aiche — este; grantha — livro; dhanya — tão glorioso; vṛndāvana-dāsa — o autor, Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura; mukhe — de sua boca; vaktā — orador; śrī-caitanya — o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.
O tema desse livro é tão sublime que parece que Śrī Caitanya Mahāprabhu fala pessoalmente através dos escritos de Śrī Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura.
SIGNIFICADO—Em seu Hari-bhakti-vilāsa, Śrīla Sanātana Gosvāmī escreve o seguinte:
avaiṣṇava-mukhodgīrṇaṁ
pūtaṁ hari-kathāmṛtam
śravaṇaṁ naiva kartavyaṁ
sarpocchiṣṭaṁ yathā payaḥ
“Não se deve ouvir nada sobre Kṛṣṇa de um não-vaiṣṇava. Leite tocado pelos lábios de uma serpente tem efeitos venenosos; da mesma forma, discursos sobre Kṛṣṇa dados por um não-vaiṣṇava também são venenosos.”
Só um devoto puro pode escrever literatura transcendental estritamente de acordo com os princípios védicos e a conclusão dos Purāṇas e do Pāñcarātrika-vidhi. Não é possível que um homem comum escreva livros sobre bhakti, pois seus escritos não surtirão efeito. Mesmo que ele seja um estudioso muito erudito e perito em apresentar textos com linguagem florida, isso não ajudará em nada na compreensão da literatura transcendental. Mesmo que se escreva literatura transcendental com erros gramaticais, ela é aceitável caso seja escrita por um devoto, ao passo que a literatura dita transcendental escrita por um estudioso mundano não pode ser aceita, mesmo que tenha uma apresentação literária muito refinada. O segredo naquilo que o devoto escreve é que, ao escrever sobre os passatempos do Senhor, o Senhor o ajuda: ele não escreve por si mesmo. Como se afirma na Bhagavad-gītā (10.10), dadāmi buddhi-yogaṁ taṁ yena mām upayānti te. Uma vez que o devoto escreve a serviço do Senhor, o Senhor, interiormente, lhe dá tanta inteligência que ele se senta ao lado do Senhor e fica escrevendo livros. Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī confirma que o livro escrito por Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura foi, na verdade, falado pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu, e Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura só fez repetir as palavras. A mesma verdade se aplica ao Caitanya-caritāmṛta. Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī escreveu o Caitanya-caritāmṛta em sua velhice numa condição inválida, mas é uma obra tão sublime que Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja costumava dizer: “Chegará um tempo em que as pessoas do mundo aprenderão bengali para ler o Śrī Caitanya-caritāmṛta.” Estamos tentando apresentar o Śrī Caitanya-caritāmṛta nos idiomas ocidentais e não sabemos quão bem-sucedido ele será, mas, se alguém ler o Caitanya-caritāmṛta original em bengali, saboreará cada vez mais êxtase em seu serviço devocional.