VERSO 63
śūdra viṣayi-jñāne upekṣā nā karibe
āmāra vacane tāṅre avaśya milibe
śūdra — a quarta divisão social; viṣayi-jñāne — com a impressão de ser um homem mundano; upekṣā — menosprezo; nā karibe — não deves fazer; āmāra — meu; vacane — a pedido; tāṅre — a ele; avaśya — decerto; milibe — deves receber.
“Por favor, não o menosprezes, considerando-o pertencente a uma família de śūdras ocupada em atividades materiais. Peço-Te que Te encontres com ele sem falta.”
SIGNIFICADO—No varṇāśrama-dharma, o śūdra é a quarta divisão do quadro social. Paricaryātmakaṁ karma śūdrasyāpi svabhāva-jam. (Bhagavad-gītā 18.44) Os śūdras se destinam a se ocuparem a serviço das três classes superiores – brāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas. Śrī Rāmānanda Rāya pertencia à classe karaṇa, que equivale à classe kāyastha na Bengala. Em toda a Índia, considera-se essa classe como de śūdras. Afirma-se que os kāyasthas bengalis ocupavam-se originalmente em servir aos brāhmaṇas que vieram do norte da Índia para a Bengala. Mais tarde, a classe clerical ficou sendo os kāyasthas na Bengala. Hoje em dia, existem muitas classes mistas conhecidas como kāyasthas. É comum se dizer na Bengala que quem não pode afirmar ser de alguma classe específica pertence à classe kāyastha. Embora se considerem esses kāyasthas, ou karaṇas, como śūdras, eles são muito inteligentes e altamente educados. A maioria deles são profissionais, tais como advogados ou políticos. Assim, na Bengala, às vezes consideram-se os kāyasthas como kṣatriyas. Entretanto, na Orissa, considera-se da categoria śūdra a classe kāyastha, que inclui os karaṇas. Śrī Rāmānanda Rāya pertencia a essa classe karaṇa, logo era considerado um śūdra. Ele também foi o governador do sul da Índia, sob o regime de Mahārāja Pratāparudra, da Orissa. Em outras palavras, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya informou ao Senhor Caitanya Mahāprabhu que Rāmānanda Rāya, embora pertencente à classe śūdra, era um funcionário do governo de muita responsabilidade. De um modo geral, os materialistas, os políticos e os śūdras são desqualificados no tocante ao avanço espiritual. Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, portanto, pediu ao Senhor Caitanya Mahāprabhu que não menosprezasse Rāmānanda Rāya, o qual era muito avançado espiritualmente, embora nascido como śūdra e materialista.
Um viṣayī é aquele que é apegado à vida familiar e só mostra interesse por esposa, filhos e gozo mundano dos sentidos. Pode-se ocupar os sentidos quer em desfrute mundano, quer a serviço do Senhor. Aqueles que não se ocupam a serviço do Senhor e só se interessam em gozo material dos sentidos chamam-se viṣayī. Śrī Rāmānanda Rāya ocupava-se a serviço do governo e pertencia à classe karaṇa. Decerto que não era um sannyāsī com vestes açafroadas, mas estava na posição transcendental de chefe de família paramahaṁsa. Antes de tornar-se discípulo de Caitanya Mahāprabhu, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya considerava Rāmānanda Rāya um viṣayī ordinário por ele ser um chefe de família ocupado em serviço governamental. Contudo, ao iluminar-se realmente na filosofia vaiṣṇava, o Bhaṭṭācārya pôde entender a posição transcendental e sublime de Śrī Rāmānanda Rāya; portanto, referiu-se a este como adhikārī. Adhikārī é aquele que conhece a ciência transcendental de Kṛṣṇa e se ocupa a Seu serviço; portanto, costuma-se chamar a todos os devotos gṛhasthas de dāsa adhikārī.