No edit permissions for Português

Capítulo Sete

A Viagem do Senhor pelo Sul da Índia

Em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura resume o sétimo capítulo como segue. Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou a ordem de vida renunciada no mês de māgha (janeiro-fevereiro) e foi a Jagannātha Purī no mês de phālguna (fevereiro-março). Participou do festival de Dola-yātrā durante o mês de phālguna, e, no mês de caitra, liberou Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Durante o mês de vaiśākha, passou a viajar pelo sul da Índia. Ao sugerir que viajaria pelo sul da Índia sozinho, Śrī Nityānanda Prabhu providenciou-Lhe um brāhmaṇa ajudante, chamado Kṛṣṇadāsa. Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu estava para começar Sua viagem, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya deu-Lhe quatro jogos de roupa e pediu-Lhe que Se encontrasse com Rāmānanda Rāya, o qual, na época, residia às margens do rio Godāvarī. Juntamente com outros devotos, Nityānanda Prabhu acompanhou o Senhor até Ālālanātha, mas ali o Senhor Caitanya deixou todos para trás e seguiu em frente com o brāhmaṇa Kṛṣṇadāsa. O Senhor começou a cantar o mantra kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa he”. Em todas as vilas onde pernoitava, sempre que alguém vinha vê-lO em Seu albergue, o Senhor implorava-lhe que pregasse o movimento da consciência de Kṛṣṇa. Após ensinar o povo de uma vila, o Senhor prosseguia para outras vilas para aumentar o número de devotos. Dessa maneira, finalmente, Ele chegou a Kūrma-sthāna. Enquanto esteve ali, concedeu Sua misericórdia imotivada a um brāhmaṇa chamado Kūrma e curou outro brāhmaṇa, chamado Vāsudeva, que sofria de lepra. Após curar esse brāhmaṇa leproso, Śrī Caitanya Mahāprabhu recebeu o título de Vāsudevāmṛta-prada, que significa “aquele que concedeu o néctar ao leproso Vāsudeva”.

VERSO 1: O Senhor Caitanya Mahāprabhu, sendo muito compassivo para com um brāhmaṇa chamado Vāsudeva, curou-o da lepra. Transformou-o em um belo homem satisfeito com o serviço devocional. Presto minhas respeitosas reverências ao glorioso Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda Prabhu! Todas as glórias a Advaita Ācārya! E todas as glórias aos devotos do Senhor Caitanya!

VERSO 3: Após liberar Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, o Senhor desejou ir pregar no sul da Índia.

VERSO 4: Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou a ordem renunciada durante a quinzena da lua crescente do mês de māgha. Durante o mês seguinte, phālguna, Ele foi para Jagannātha Purī e residiu ali.

VERSO 5: Ao final do mês de phālguna, presenciou a cerimônia de Dola-yātrā, e, nessa ocasião, em Seu costumeiro amor extático por Deus, cantou e dançou de diversas maneiras.

VERSO 6: Durante o mês de caitra, enquanto vivia em Jagannātha Purī, o Senhor liberou Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, e, no começo do mês seguinte (vaiśākha), decidiu ir para o sul da Índia.

VERSOS 7-8: Śrī Caitanya Mahāprabhu convocou uma reunião de todos os Seus devotos e, segurando-os pelas mãos, informou-lhes humildemente: “Todos vós sois mais queridos a Mim do que Minha vida. Posso abandonar a Minha vida, mas abandonar-vos é muito difícil para Mim.”

VERSO 9: “Sois todos Meus amigos, e cumpristes adequadamente os deveres de um amigo ao trazer-Me aqui para Jagannātha Purī e dar-Me a oportunidade de ver o Senhor Jagannātha no templo.”

VERSO 10: “Agora, imploro de todos vós uma pequena caridade. Por favor, dai-Me permissão de partir para uma viagem pelo sul da Índia.”

VERSO 11: “Irei em busca de Viśvarūpa. Por favor, perdoai-Me, mas quero ir sozinho; não desejo levar ninguém coMigo.”

VERSO 12: “Queridos amigos, até que Eu regresse de Setubandha, todos vós deveis permanecer em Jagannātha Purī.”

VERSO 13: Sendo onisciente, Śrī Caitanya Mahāprabhu sabia que Viśvarūpa já falecera. Entretanto, necessitava fingir-Se de ignorante para poder ir ao sul da Índia e liberar o povo de lá.

VERSO 14: Ao ouvirem esta mensagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos os devotos ficaram muito tristes e permaneceram calados, com rostos taciturnos.

VERSO 15: Então, Nityānanda Prabhu disse: “Como é possível ires sozinho? Quem pode tolerar isso?”

VERSO 16: “Que um ou dois de nós Te acompanhem; caso contrário, poderás cair nas garras de salteadores e animais selvagens ao longo do caminho. Escolhe quem desejares, mas duas pessoas devem ir conTigo.”

VERSO 17: “Na verdade, conheço todos os caminhos para os diferentes lugares de peregrinação no sul da Índia. Basta Me ordenares que irei conTigo.”

VERSO 18: O Senhor respondeu: “Sou um mero dançarino, e Tu és o titereiro. Conforme moveres os fios para fazer-Me dançar, assim dançarei.”

VERSO 19: “Após aceitar a ordem de sannyāsa, decidi ir para Vṛndāvana, mas, em vez disso, levaste-Me para a casa de Advaita Prabhu.”

VERSO 20: “A caminho de Jagannātha Purī, quebraste Meu bastão de sannyāsa. Sei que todos vós tendes muita afeição por Mim, mas tais coisas perturbam Minhas atividades.”

VERSO 21: “Jagadānanda quer que Eu desfrute de gozo dos sentidos, e, por temor, faço tudo o que ele Me diz.”

VERSO 22: “Se Eu, às vezes, faço algo contra seu desejo; de raiva, ele fica três dias sem falar coMigo.”

VERSO 23: “Por ser um sannyāsī, é Meu dever deitar-Me no chão e tomar banho três vezes ao dia, mesmo durante o inverno. Mas Mukunda fica muito triste ao ver Minhas rigorosas austeridades.”

VERSO 24: “Naturalmente, Mukunda não diz nada, mas Eu sei que ele fica muito triste interiormente, e, ao vê-lo triste, fico duplamente infeliz.”

VERSO 25: “Apesar de Eu estar na ordem de vida renunciada e Dāmodara ser um brahmacārī, ele, ainda assim, mantém uma vara em sua mão só para educar-Me.”

VERSO 26: “Segundo Dāmodara, ainda sou um neófito quanto à etiqueta social; ele, portanto, não gosta de Minha natureza independente.”

VERSO 27: “Dāmodara Paṇḍita e outros são mais avançados em receber a misericórdia do Senhor Kṛṣṇa; são, portanto, independentes da opinião pública. Sendo assim, eles querem que Eu desfrute de gozo dos sentidos, muito embora isso seja antiético. Porém, como sou um pobre sannyāsī, não posso abandonar os deveres da ordem renunciada e, por isso, Eu os sigo estritamente.”

VERSO 28: “Portanto, todos vós deveis ficar aqui em Nīlācala por alguns dias enquanto Eu viajo sozinho pelos lugares sagrados de peregrinação.”

VERSO 29: Na verdade, o Senhor era controlado pelas boas qualidades de todos os Seus devotos. Fingindo atribuir falhas, Ele saboreou todas essas qualidades.

VERSO 30: Ninguém pode descrever adequadamente a afeição do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu por Seus devotos. Ele sempre tolerava toda espécie de infelicidade pessoal resultante de ter aceitado a ordem de vida renunciada.

VERSO 31: Às vezes, os princípios reguladores seguidos por Caitanya Mahāprabhu eram intoleráveis, e isso afetava imensamente todos os devotos. Apesar de observar estritamente os princípios reguladores, Caitanya Mahāprabhu não podia tolerar a tristeza sentida por Seus devotos.

VERSO 32: Portanto, para impedi-los de acompanhá-lO e ficarem infelizes, Śrī Caitanya Mahāprabhu declarou que as boas qualidades deles eram defeitos.

VERSO 33: Então, quatro devotos insistiram humildemente que pudessem ir com o Senhor; Caitanya Mahāprabhu, porém, por ser a independente Suprema Personalidade de Deus, não aceitou o pedido deles.

VERSO 34: Em seguida, o Senhor Nityānanda disse: “Qualquer que seja Tua ordem, esse é o Meu dever, não importando se resultará em felicidade ou infelicidade.”

VERSO 35: “Não obstante, ainda faço-Te um pedido. Por favor, considera-o e, caso o aches apropriado, por favor, aceita-o.”

VERSO 36: “Deves levar conTigo uma tanga, roupas externas e um pote d’água. Não deves levar nada além disto.”

VERSO 37: “Uma vez que Tuas duas mãos estarão sempre ocupadas em cantar e contar os santos nomes, como serás capaz de carregar o pote d’água e as roupas externas?”

VERSO 38: “Ao caíres inconsciente em amor extático por Deus ao longo do caminho, quem protegerá Teus pertences – o pote d’água, as roupas e assim por diante?”

VERSO 39: Śrī Nityānanda Prabhu prosseguiu: “Eis aqui um brāhmaṇa simples chamado Kṛṣṇadāsa. Por favor, aceita-o e leva-o conTigo. Este é o Meu pedido.”

VERSO 40: “Ele carregará Teu pote d’água e Tuas roupas. Podes fazer tudo o que desejares; ele não dirá uma palavra.”

VERSO 41: Aceitando o pedido do Senhor Nityānanda Prabhu, o Senhor Caitanya levou todos os Seus devotos à casa de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya.

VERSO 42: Assim que eles entraram na casa de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, este prestou reverências ao Senhor e ofereceu-Lhe um lugar para Se sentar. Após fazer todos os demais sentarem-se, o Bhaṭṭācārya sentou-se também.

VERSO 43: Após discorrerem sobre diversos tópicos acerca do Senhor Kṛṣṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu informou a Sārvabhauma Bhaṭṭācārya: “Vim à tua residência só para receber tuas ordens.”

VERSO 44: “Meu irmão mais velho, Viśvarūpa, tomou sannyāsa e foi para o sul da Índia. Agora, devo ir em busca dEle.”

VERSO 45: “Por favor, permite-Me ir, pois tenho que peregrinar pelo sul da Índia. Com tua permissão, logo retornarei muito satisfeito.”

VERSO 46: Ao ouvir isto, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya ficou muito perturbado. Agarrando os pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu, respondeu pesarosamente.

VERSO 47: “Após muitos nascimentos, devido a alguma atividade piedosa, obtive Tua associação. Agora, a providência está rompendo essa inestimável associação.”

VERSO 48: “Se um raio caísse sobre a minha cabeça ou se meu filho morresse, eu poderia tolerar isso, mas não posso suportar a tristeza de separar-me de Ti.”

VERSO 49: “Meu querido Senhor, és a independente Suprema Personalidade de Deus. Com certeza partirás. Sei disso. Ainda assim, peço-Te que fiques aqui por mais alguns dias para que eu possa ver Teus pés de lótus.”

VERSO 50: Após ouvir Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, Caitanya Mahāprabhu cedeu ao seu pedido, permanecendo alguns dias mais antes de partir.

VERSO 51: O Bhaṭṭācārya avidamente convidou o Senhor Caitanya Mahāprabhu a hospedar-Se em sua casa e O serviu de comida muito bem.

VERSO 52: A esposa do Bhaṭṭācārya, cujo nome era Ṣāṭhīmātā (a mãe de Ṣāṭhī), cozinhou para eles. As narrações desses passatempos são muito maravilhosas.

VERSO 53: Mais tarde, falarei sobre isto em pormenores, mas, por agora, desejo descrever a viagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu ao sul da Índia.

VERSO 54: Após permanecer cinco dias na casa de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, Śrī Caitanya Mahāprabhu pessoalmente pediu-lhe autorização para dirigir-Se ao sul da Índia.

VERSO 55: Após receber a permissão do Bhaṭṭācārya, o Senhor Caitanya Mahāprabhu foi visitar o Senhor Jagannātha no templo, levando o Bhaṭṭācārya conSigo.

VERSO 56: Ao ver o Senhor Jagannātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu também rogou Sua permissão. Então, o sacerdote imediatamente deu prasāda e uma guirlanda ao Senhor Caitanya.

VERSO 57: Assim, ao receber a permissão do Senhor Jagannātha sob a forma de uma guirlanda, Śrī Caitanya Mahāprabhu prestou-Lhe reverências e, com grande júbilo, preparou-Se para partir rumo ao sul da Índia.

VERSO 58: Acompanhado por Seus associados pessoais e por Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, Śrī Caitanya Mahāprabhu circum-ambulou o altar de Jagannātha. Então, o Senhor partiu para Sua viagem pelo sul da Índia.

VERSO 59: Enquanto o Senhor trilhava o caminho rumo a Ālālanātha, que se localizava à beira-mar, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya deu as seguintes ordens a Gopīnātha Ācārya.

VERSO 60: “Traze os quatro jogos de tanga e roupa externa que guardo em casa, e também alguma prasāda do Senhor Jagannātha. Podes carregar essas coisas com a ajuda de um brāhmaṇa.”

VERSO 61: Enquanto o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu partia, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya submeteu o seguinte a Seus pés de lótus: “Meu Senhor, tenho um pedido final, o qual espero que bondosamente satisfaças.”

VERSO 62: “Na cidade de Vidyānagara, às margens do Godāvarī, há um responsável funcionário do governo chamado Rāmānanda Rāya.”

VERSO 63: “Por favor, não o menosprezes, considerando-o pertencente a uma família de śūdras ocupada em atividades materiais. Peço-Te que Te encontres com ele sem falta.”

VERSO 64: Sārvabhauma Bhaṭṭācārya prosseguiu: “Rāmānanda Rāya é uma pessoa digna de associar-se conTigo; nenhum outro devoto pode comparar-se a ele no conhecimento das doçuras transcendentais.”

VERSO 65: “Ele é um estudioso muito erudito, bem como um perito nas doçuras devocionais. Na verdade, ele é muito elevado, e, se conversares com ele, verás como ele é glorioso.”

VERSO 66: “Ao falar pela primeira vez com Rāmānanda Rāya, não pude compreender que suas conversas e esforços eram todos transcendentalmente incomuns. Caçoei dele simplesmente porque era um vaiṣṇava.”

VERSO 67: O Bhaṭṭācārya disse: “Por Tua misericórdia, posso agora entender a verdade sobre Rāmānanda Rāya. Ao conversares com ele, também reconhecerás a sua grandeza.”

VERSO 68: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou o pedido feito por Sārvabhauma Bhaṭṭācārya de que Se encontrasse com Rāmānanda Rāya. Ao despedir-Se dele, o Senhor o abraçou.

VERSO 69: Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu ao Bhaṭṭācārya que O abençoasse ao mesmo tempo em que o Bhaṭṭācārya se ocupava no serviço devocional ao Senhor Kṛṣṇa em casa. O Senhor desejava regressar, pela misericórdia dele, a Jagannātha Purī.

VERSO 70: Ao dizer isso, Śrī Caitanya Mahāprabhu partiu em Sua jornada, e imediatamente Sārvabhauma Bhaṭṭācārya desmaiou, caindo ao chão.

VERSO 71: Embora Sārvabhauma Bhaṭṭācārya tivesse desmaiado, Śrī Caitanya Mahāprabhu não reparou nele. Pelo contrário, partiu rapidamente. Quem pode entender a mente e a intenção de Śrī Caitanya Mahāprabhu?

VERSO 72: Esta é a natureza da mente de uma personalidade incomum. Às vezes, é suave como uma flor; mas, outras vezes, dura como um raio.

VERSO 73: “Os corações daqueles que estão acima do comportamento comum são, às vezes, mais duros que um raio e, às vezes, mais suaves que uma flor. Como podem tais contradições conciliarem-se em grandes personalidades?”

VERSO 74: O Senhor Nityānanda Prabhu ergueu Sārvabhauma Bhaṭṭācārya e, com a ajuda de Seus homens, levou-o até sua casa.

VERSO 75: Imediatamente, todos os devotos foram e compartilharam da companhia de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Em seguida, Gopīnātha Ācārya chegou, trazendo as vestes e a prasāda.

VERSO 76: Todos os devotos acompanharam Śrī Caitanya Mahāprabhu até um local conhecido como Ālālanātha. Ali, todos prestaram-Lhe respeitos e ofereceram-Lhe diversas orações.

VERSO 77: Em grande êxtase, Śrī Caitanya Mahāprabhu dançou e cantou por algum tempo. De fato, todos os vizinhos foram vê-lO.

VERSO 78: Todos se puseram a bradar o santo nome do Senhor Hari em torno de Śrī Caitanya Mahāprabhu, que também é conhecido como Gaurahari. Imerso em Seu costumeiro êxtase de amor, o Senhor Caitanya dançou entre eles.

VERSO 79: O corpo de Śrī Caitanya Mahāprabhu era naturalmente muito belo. Era como ouro derretido revestido de roupa açafroada. Na verdade, Ele ficava belíssimo por ornamentar-Se com os sintomas de êxtase, que faziam Seu cabelo arrepiar-se, lágrimas jorrarem de Seus olhos e produzirem-se tremores e transpiração por todo o Seu corpo.

VERSO 80: Todos os presentes ficaram pasmos ao ver a dança e as transformações corpóreas de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Quem quer que ali chegasse não mais desejava voltar para casa.

VERSO 81: Todos – incluindo as crianças, os velhos e as mulheres – começaram a dançar e a cantar os santos nomes de Śrī Kṛṣṇa e Gopāla. Dessa maneira, todos flutuaram no oceano de amor a Deus.

VERSO 82: Vendo o canto e a dança do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, o Senhor Nityānanda predisse que, posteriormente, haveria dança e canto em todas as vilas.

VERSO 83: Ao ver que já estava ficando tarde, o Senhor Nityānanda Prabhu, o mestre espiritual, inventou um meio de dispersar a multidão.

VERSO 84: Quando o Senhor Nityānanda Prabhu levou Śrī Caitanya Mahāprabhu para almoçar ao meio-dia, todos foram correndo, pondo-se ao redor dEles.

VERSO 85: Após terminar de Se banharem, Eles retornaram ao templo ao meio-dia. Após admitir a entrada de Seus próprios homens, Śrī Nityānanda Prabhu fechou a porta que dava para a rua.

VERSO 86: Então, Gopīnātha Ācārya trouxe prasāda para os dois Senhores comerem, e, após Estes comerem, os restos do alimento foram distribuídos entre todos os devotos.

VERSO 87: Ao ouvirem falar disso, todas as pessoas se aproximaram da porta do templo e começaram a cantar o santo nome: “Hari! Hari!” Produziram, assim, um clamor estrondoso.

VERSO 88: Depois do almoço, Śrī Caitanya Mahāprabhu fê-los abrir a porta. Dessa maneira, com grande prazer, todos tiveram audiência com Ele.

VERSO 89: As pessoas iam e vinham até a noite. Todas elas se tornaram devotos vaiṣṇavas e começaram a cantar e a dançar.

VERSO 90: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu passou a noite naquele local e, com grande prazer, conversou sobre os passatempos do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 91: Na manhã seguinte, após tomar Seu banho, Śrī Caitanya Mahāprabhu partiu em Sua jornada rumo ao sul da Índia. Despediu-Se dos devotos abraçando-os.

VERSO 92: Embora todos eles tenham caído ao chão inconscientes, o Senhor não Se voltou para vê-los, senão que prosseguiu em frente.

VERSO 93: Ficando muito perturbado pela saudade, o Senhor prosseguia infeliz. Seu servo, Kṛṣṇadāsa, que carregava Seu pote d’água, seguia atrás.

VERSO 94: Todos os devotos permaneceram ali e jejuaram, mas, no dia seguinte, todos voltaram tristes para Jagannātha Purī.

VERSO 95: Quase como um leão louco, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu seguia em Sua jornada cheio de amor extático e realizando saṅkīrtana, o cantar dos nomes de Kṛṣṇa, da seguinte forma.

VERSO 96: O Senhor cantava:

VERSO 97: Recitando este verso, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, conhecido como Gaurahari, seguia Seu caminho. Assim que via alguém, pedia-lhe que entoasse: “Hari! Hari!”

VERSO 98: Quem quer que ouvisse o Senhor Caitanya Mahāprabhu cantar “Hari, Hari” também cantava o santo nome “Hari” e “Kṛṣṇa”. Dessa maneira, todos seguiam o Senhor, muito ansiosos por vê-lO.

VERSO 99: Passado algum tempo, o Senhor abraçava essas pessoas e as mandava de volta para casa após tê-las dotado de potência espiritual.

VERSO 100: Sendo assim dotados de poder, eles retornavam às suas próprias vilas, sempre cantando o santo nome de Kṛṣṇa e às vezes dando gargalhadas, chorando e dançando.

VERSO 101: Essas pessoas dotadas de poder costumavam pedir a qualquer pessoa – quem quer que avistassem – que cantassem o santo nome de Kṛṣṇa. Dessa maneira, todos os moradores da vila também se tornavam devotos da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 102: Pelo simples fato de verem tais indivíduos dotados de poder, pessoas de diversas vilas passavam a ser como eles pela misericórdia de seus olhares.

VERSO 103: Regressando às suas vilas, estes indivíduos também convertiam outros em devotos. Quando outros vinham ver esses devotos, também se convertiam.

VERSO 104: Dessa maneira, à medida que tais homens iam de vila em vila, todas as pessoas do sul da Índia tornaram-se devotos.

VERSO 105: Assim, ao passarem pelo Senhor em Sua jornada e serem abraçadas por Ele, muitas centenas de pessoas tornaram-se vaiṣṇavas.

VERSO 106: Em todas as vilas onde Śrī Caitanya Mahāprabhu hospedava-Se e aceitava doações, muitas pessoas iam vê-lO.

VERSO 107: Pela misericórdia do Senhor Supremo, Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos se tornaram devotos de primeira classe. Mais tarde, tornaram-se preceptores ou mestres espirituais e libertaram o mundo inteiro.

VERSO 108: Dessa maneira, o Senhor foi até a parte mais meridional da Índia, convertendo todas as províncias ao vaiṣṇavismo.

VERSO 109: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu não manifestou Suas potências espirituais em Navadvīpa; manifestou-as, porém, no sul da Índia e libertou todas as pessoas dali.

VERSO 110: Pode entender como o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu delega poderes a outros quem é realmente devoto do Senhor, tendo recebido Sua misericórdia.

VERSO 111: Quem não acredita nos incomuns passatempos transcendentais do Senhor é derrotado tanto neste mundo quanto no próximo.

VERSO 112: Deve-se entender que tudo o que afirmei sobre o início do movimento do Senhor refere-se também ao período em que o Senhor viajou pelo sul da Índia.

VERSO 113: Chegando ao lugar sagrado conhecido como Kūrma-kṣetra, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou a Deidade, ofereceu-Lhe orações e prestou-Lhe reverências.

VERSO 114: Enquanto esteve nesse local, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu vivia em Seu costumeiro êxtase de amor a Deus e ria, chorava, dançava e cantava. Todos que O viam ficavam pasmos.

VERSO 115: Após ouvir a respeito dessas maravilhosas ocorrências, todos iam até lá para vê-lO. Ao verem a beleza do Senhor e Seu êxtase, todos ficavam admirados.

VERSO 116: Todos se tornavam devotos pelo simples fato de ver o Senhor Caitanya Mahāprabhu. Punham-se a cantar “Kṛṣṇa” e “Hari” e todos os santos nomes. Todos eram mergulhados em grande êxtase de amor, e começavam a dançar com os braços erguidos.

VERSO 117: Outros que sempre os ouviam cantar os santos nomes do Senhor Kṛṣṇa também se tornavam vaiṣṇavas naquelas vilas.

VERSO 118: Por ouvir o santo nome de Kṛṣṇa, a região inteira tornou-se vaiṣṇava. Era como se o néctar do santo nome de Kṛṣṇa inundasse toda a região.

VERSO 119: Passado algum tempo, quando o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu manifestou Sua consciência externa, um sacerdote da Deidade do Senhor Kūrma deu-Lhe diversas oferendas.

VERSO 120: Eu já expliquei como Śrī Caitanya Mahāprabhu pregava, e não repetirei a explicação. Em todas as vilas que o Senhor entrava, Seu comportamento era o mesmo.

VERSO 121: Em uma vila, havia um brāhmaṇa védico chamado Kūrma. Ele convidou o Senhor Caitanya Mahāprabhu à sua casa com grande respeito e devoção.

VERSO 122: Este brāhmaṇa levou o Senhor Caitanya Mahāprabhu à sua casa, lavou-Lhe os pés de lótus e, com seus familiares, bebeu a água.

VERSO 123: Com grande afeição e respeito, este brāhmaṇa Kūrma fez Śrī Caitanya Mahāprabhu comer toda espécie de alimentos. Em seguida, os restos do alimento foram compartilhados entre todos os membros da família.

VERSO 124: Então, o brāhmaṇa começou a orar: “Ó meu Senhor, o senhor Brahmā medita em Teus pés de lótus, e esses mesmos pés de lótus vieram à minha casa.”

VERSO 125: “Meu querido Senhor, não tem limite a minha grande fortuna. Não se pode descrevê-la. Hoje, minha família, nascimento e riquezas tornaram-se todos gloriosos.”

VERSO 126: O brāhmaṇa suplicou ao Senhor Caitanya Mahāprabhu: “Meu querido Senhor, por favor, agracia-me e deixa-me ir conTigo. Não consigo mais tolerar as ondas de sofrimento provocadas pela vida materialista.”

VERSO 127: Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Não tornes a falar desta maneira. É melhor permaneceres em casa e sempre recitares o santo nome de Kṛṣṇa.”

VERSO 128: “Instrui todos a seguirem as ordens dadas pelo Senhor Śrī Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā e no Śrīmad-Bhāgavatam. Dessa maneira, torna-te um mestre espiritual e tenta libertar a todos nesta terra.”

VERSO 129: Śrī Caitanya Mahāprabhu aconselhou ainda ao brāhmaṇa Kūrma: “Se seguires esta instrução, tua vida materialista no lar não impedirá teu avanço espiritual. Na verdade, se seguires estes princípios reguladores, nós nos reencontraremos aqui, ou melhor, jamais perderás a Minha companhia.”

VERSO 130: Na casa de todo aquele que Śrī Caitanya aceitasse caridade tomando prasāda, Ele convertia seus habitantes ao Seu movimento de saṅkīrtana e aconselhava-os exatamente como aconselhou ao brāhmaṇa de nome Kūrma.

VERSOS 131-132: Durante Sua jornada, Śrī Caitanya Mahāprabhu passava a noite ou em um templo ou à beira da estrada. Sempre que aceitava comida de alguém, dava-lhe o mesmo conselho que deu ao brāhmaṇa chamado Kūrma. Ele adotou este método até retornar a Jagannātha Purī de Sua viagem pelo sul da Índia.

VERSO 133: Assim, acabo de descrever elaboradamente o comportamento do Senhor no caso de Kūrma. Dessa maneira, podereis conhecer o comportamento de Śrī Caitanya Mahāprabhu por todo o sul da Índia.

VERSO 134: Assim, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu pernoitava em um lugar e, na manhã seguinte, após banhar-Se, partia outra vez.

VERSO 135: Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu partiu, o brāhmaṇa Kūrma acompanhou-O por uma grande distância, mas, por fim, o Senhor Caitanya cuidou de o reenviar para a sua casa.

VERSO 136: Havia também um brāhmaṇa chamado Vāsudeva, que era uma pessoa grandiosa, mas que sofria de lepra. Na verdade, seu corpo estava cheio de vermes vivos.

VERSO 137: Embora sofresse de lepra, o brāhmaṇa Vāsudeva era iluminado. Assim que um verme caía de seu corpo, ele o pegava e recolocava no mesmo lugar.

VERSO 138: Então, certa noite, Vāsudeva ouviu falar da chegada do Senhor Caitanya Mahāprabhu e, de manhã, foi ver o Senhor na casa de Kūrma.

VERSO 139: Ao chegar à casa de Kūrma para ver Caitanya Mahāprabhu, o leproso Vāsudeva foi informado de que o Senhor já partira. Então, o leproso caiu ao chão inconsciente.

VERSO 140: Como Vāsudeva, o brāhmaṇa leproso, lamentava-se por não ter podido ver Caitanya Mahāprabhu, imediatamente o Senhor regressou àquele local e o abraçou.

VERSO 141: Ao ser tocado por Śrī Caitanya Mahāprabhu, tanto a lepra quanto sua aflição foram-se embora. Em verdade, o corpo de Vāsudeva ficou muito belo, para sua grande felicidade.

VERSO 142: Enchendo-se de admiração ao presenciar a maravilhosa misericórdia de Śrī Caitanya Mahāprabhu, o brāhmaṇa Vāsudeva começou a recitar um verso do Śrīmad-Bhāgavatam, tocando nos pés de lótus do Senhor.

VERSO 143: Ele disse: “‘Quem sou eu? Um pobre e pecaminoso amigo de brāhmaṇa. E quem é Kṛṣṇa? A Suprema Personalidade de Deus, que possui em plenitude as seis opulências. Não obstante, Ele me abraçou com Seus dois braços.’”

VERSOS 144-145: O brāhmaṇa Vāsudeva prosseguiu: “Ó meu misericordioso Senhor, esta misericórdia não é possível para entidades vivas comuns. Somente em Ti pode-se encontrar tal misericórdia. Ao ver-me, mesmo uma pessoa pecaminosa vai embora devido ao mau odor de meu corpo. Ainda assim, Tu tocaste em mim. Assim é o comportamento independente expresso pela Suprema Personalidade de Deus.”

VERSO 146: Por ser manso e humilde, o brāhmaṇa Vāsudeva temia ficar orgulhoso após ter sido curado pela graça de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 147: Para proteger o brāhmaṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu aconselhou-o a cantar o mantra Hare Kṛṣṇa incessantemente. Se fizesse assim, ele jamais ficaria desnecessariamente orgulhoso.

VERSO 148: Śrī Caitanya Mahāprabhu também aconselhou Vāsudeva a pregar sobre Kṛṣṇa e, assim, libertar as entidades vivas. Como resultado disso, Kṛṣṇa muito em breve o aceitaria como Seu devoto.

VERSO 149: Assim, depois de instruir o brāhmaṇa Vāsudeva desta maneira, Śrī Caitanya Mahāprabhu desapareceu daquele lugar. Os dois brāhmaṇas, Kūrma e Vāsudeva, abraçaram-se, então, um ao outro e começaram a chorar, lembrando-se das qualidades transcendentais de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 150: Assim, acabo de descrever como Śrī Caitanya Mahāprabhu curou o leproso Vāsudeva, recebendo, portanto, o nome Vāsudevāmṛta-prada.

VERSO 151: Encerro assim minha descrição da primeira viagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Sua visita ao templo de Kūrma e a liberação do brāhmaṇa leproso, Vāsudeva.

VERSO 152: Quem ouvir estes passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu com grande fé certamente alcançará muito em breve os pés de lótus do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 153: Admito não conhecer nem o começo nem o fim dos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Porém, tudo quanto escrevi foi o que ouvi da boca de grandes personalidades.

VERSO 154: Ó devotos, por favor, não considereis minhas ofensas a este respeito. Vossos pés de lótus são meu único refúgio.

VERSO 155: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta seguindo seus passos.

« Previous Next »