VERSO 194
pahilehi rāga nayana-bhaṅge bhela
anudina bāḍhala, avadhi nā gela
nā so ramaṇa, nā hāma ramaṇī
duṅhu-mana manobhava peṣala jāni’
e sakhi, se-saba prema-kāhinī
kānu-ṭhāme kahabi vichurala jāni’
nā khoṅjaluṅ dūtī, nā khoṅjaluṅ ān
duṅhukeri milane madhya ta pāṅca-bāṇa
ab sohi virāga, tuṅhu bheli dūtī
su-purukha-premaki aichana rīti
pahilehi — a princípio; rāga — atração; nayana-bhaṅge — por olhares; bhela — houve; anu-dina — aos poucos, dia após dia; bāḍhala — aumentou; avadhi — limite; nā — não; gela — alcançou; nā — não; so — Ele; ramaṇa — o desfrutador; nā — não; hāma — Eu; ramaṇī — a desfrutada; duṅhu-mana — ambas as mentes; manaḥ-bhava — a situação mental; peṣala — fundidas; jāni’ — sabendo; e — disto; sakhi — Meu caro amigo; se-saba — todos aqueles; prema-kāhinī — romances de amor; kānu-ṭhāme — perante Kṛṣṇa; kahabi — dirás; vichurala — Ele esqueceu; jāni’ — sabendo; nā — não; khoṅjaluṅ — procurei; dūtī — um mensageiro; nā — não; khoṅjaluṅ — busquei; nā — ninguém mais; duṅhukeri — de Nós dois; milane — pelo encontro; madhya — no meio; ta — certamente; pāṅca-bāṇa — cinco flechas do Cupido; ab — agora; sohi — aquela; virāga — separação; tuṅhu — tu; bheli — ficaste sendo; dūtī — o mensageiro; su-purukha — de pessoa tão bela; premaki — de casos amorosos; aichana — esta; rīti — a consequência.
“‘Oh! Antes de Nosso encontro, houve um apego inicial entre Nós, provocado por uma troca de olhares. Dessa maneira, desenvolveu-se o apego. Esse apego foi crescendo aos poucos, e já não há limite para ele. Agora, esse apego tornou-se algo natural entre Nós dois. Não é que seja devido a Kṛṣṇa, o desfrutador, tampouco é devido a Mim, por Eu ser a desfrutada. Não é bem assim. Esse apego tornou-se possível pelo Nosso encontro. Essa troca mútua de atração é conhecida como manobhava, ou o Cupido. A mente de Kṛṣṇa e a Minha mente fundiram-se em uma só. Agora, durante este período de separação, é muito difícil explicar esses casos amorosos. Meu caro amigo, talvez Kṛṣṇa tenha Se esquecido de todas essas coisas. No entanto, acho que podes entender o que se passa e levar-Lhe esta mensagem. Mas, durante Nosso primeiro encontro, não houve mensageiro algum entre Nós, nem Eu pedi que alguém fosse ter com Ele. Na verdade, Nosso intermediário foram cinco flechas do Cupido. Agora, durante este período de separação, aquela atração desenvolveu-se transformando-se em outro estado de êxtase. Meu caro amigo, por favor, age como mensageiro em Meu nome, pois, se alguém se apaixona por uma pessoa tão bela, esta é a consequência.’”
SIGNIFICADO—O próprio Rāmānanda Rāya foi quem compôs e cantou originalmente estes versos. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura sugere que, durante o período de desfrute, o apego pode ser comparado ao próprio Cupido. Entretanto, durante o período de separação, o Cupido torna-se o mensageiro do elevadíssimo amor. Isso se chama prema-vilāsa-vivarta. Ao dar-se a separação, o próprio desfrute age como mensageiro, e Śrīmatī Rādhārāṇī chamou esse mensageiro de amigo. A essência desta relação é simples: os romances amorosos são tão saborosos durante a separação quanto durante o desfrute. Estando plenamente absorta no amor a Kṛṣṇa, Śrīmatī Rādhārāṇī confundiu uma negra árvore tamāla com Kṛṣṇa e abraçou-a. Semelhante equívoco chama-se prema-vilāsa-vivarta.