No edit permissions for Português

Capítulo Oito

Conversas entre Śrī Caitanya Mahāprabhu e Rāmānanda Rāya

No Amṛta-pravāha-bhāṣya, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura apresenta o resumo do oitavo capítulo. Após visitar o templo de Jiyaḍa-nṛsiṁha, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi até as margens do rio Godāvarī, a um lugar conhecido como Vidyānagara. Quando Śrīla Rāmānanda Rāya foi banhar-se ali, ambos se encontraram. Após as apresentações, Śrī Rāmānanda Rāya solicitou que Śrī Caitanya Mahāprabhu permanecesse na vila por alguns dias. Honrando seu pedido, Caitanya Mahāprabhu hospedou-Se ali, na casa de certos brāhmaṇas védicos. À noite, Śrīla Rāmānanda Rāya costumava ir visitar Śrī Caitanya Mahāprabhu. Rāmānanda Rāya, que trajava roupas comuns, prestava respeitosas reverências ao Senhor. Śrī Caitanya Mahāprabhu indagou-lhe acerca do objetivo e do processo de adoração e também lhe pediu que recitasse versos da literatura védica.

Antes de mais nada, Śrīla Rāmānanda Rāya enunciou o sistema da instituição varṇāśrama. Recitou vários versos sobre karmārpaṇa, afirmando que se deveria dedicar tudo ao Senhor. Então, falou de ação desapegada, de conhecimento misturado com serviço devocional e, enfim, de serviço amoroso espontâneo ao Senhor. Após ouvir Śrīla Rāmānanda Rāya recitar alguns versos, Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou o princípio do serviço devocional puro, destituído de toda espécie de especulação. Depois disso, Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu a Rāmānanda Rāya que explicasse a plataforma superior de serviço devocional. Então, Śrīla Rāmānanda Rāya discorreu sobre o serviço devocional imaculado, amor a Deus, serviço ao Senhor em servidão pura, bem como em fraternidade e em amor de pai ou mãe. Por fim, falou de servir ao Senhor em amor conjugal. Falou, então, de como o amor conjugal pode desenvolver-se de diversas maneiras. Esse amor conjugal atinge sua perfeição máxima no amor de Śrīmatī Rādhārāṇī por Kṛṣṇa. Em seguida, descreveu a posição de Śrīmatī Rādhārāṇī e as doçuras transcendentais do amor a Deus. Então, Śrīla Rāmānanda Rāya recitou um verso dele próprio a respeito da plataforma de visão extática, tecnicamente chamada prema-vilāsa-vivarta. Śrīla Rāmānanda Rāya explicou também que todas as fases de amor conjugal podem ser alcançadas através da misericórdia dos residentes de Vṛndāvana, especialmente pela misericórdia das gopīs. Deste modo, todos esses assuntos foram descritos vividamente. Aos poucos, Rāmānanda Rāya pôde entender a posição de Śrī Caitanya Mahāprabhu, e, quando Śrī Caitanya Mahāprabhu manifestou Sua verdadeira forma, Rāmānanda Rāya caiu inconsciente. Após alguns dias, Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu a Rāmānanda Rāya que se retirasse do serviço governamental e fosse para Jagannātha Purī. Essas descrições dos encontros entre Rāmānanda Rāya e Śrī Caitanya Mahāprabhu são extraídas do caderno de anotações de Svarūpa Dāmodara Gosvāmī.

VERSO 1: Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é conhecido como Gaurāṅga, é o reservatório de todo o conhecimento conclusivo sobre o serviço devocional. Ele dotou de poder Śrī Rāmānanda Rāya, quem pode ser comparado a uma nuvem de serviço devocional. Essa nuvem encheu-se com a água de todos os significados conclusivos do serviço devocional e foi dotada de poder pelo oceano para espalhar essa água sobre o oceano de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Dessa forma, o oceano de Caitanya Mahāprabhu ficou repleto das joias do conhecimento do serviço devocional puro.

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda! Todas as glórias a Advaita Ācārya! E todas as glórias a todos os devotos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu!

VERSO 3: De acordo com Seu programa anterior, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu seguiu em frente em Sua jornada e, após alguns dias, chegou ao lugar de peregrinação conhecido como Jiyaḍa-nṛsiṁha.

VERSO 4: Após ver a Deidade do Senhor Nṛsiṁha no templo, Śrī Caitanya Mahāprabhu prestou-Lhe Suas respeitosas reverências atirando-Se prostrado ao chão. Então, em amor extático, realizou diversas danças, cantou e ofereceu orações.

VERSO 5: “Todas as glórias a Nṛsiṁhadeva! Todas as glórias a Nṛsiṁhadeva, que é o Senhor de Prahlāda Mahārāja e, como uma abelha, vive a contemplar o rosto semelhante ao lótus da deusa da fortuna.”

VERSO 6: “Embora muito feroz, a leoa é muito amável com seus filhotes. Analogamente, embora muito feroz com os não-devotos, tais como Hiraṇyakaśipu, o Senhor Nṛsiṁhadeva é muitíssimo afável e bondoso para com os devotos, tais como Prahlāda Mahārāja.”

VERSO 7: Dessa maneira, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu recitou diferentes versos dos śāstras. Então, o sacerdote do Senhor Nṛsiṁhadeva trouxe guirlandas e os restos do alimento do Senhor e os ofereceu a Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 8: Como de costume, um brāhmaṇa fez um convite a Śrī Caitanya Mahāprabhu. O Senhor passou a noite no templo e, então, recomeçou Sua jornada.

VERSO 9: Na manhã seguinte, em grande êxtase de amor, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu partiu em Sua viagem sem nenhum conhecimento da direção correta, e continuou ao longo de todo o dia e de toda a noite.

VERSO 10: Como anteriormente, Śrī Caitanya Mahāprabhu converteu ao vaiṣṇavismo muitas pessoas que encontrou na estrada. Após alguns dias, o Senhor chegou às margens do rio Godāvarī.

VERSO 11: Ao ver o rio Godāvarī, o Senhor lembrou-Se do rio Yamunā e, ao ver a floresta às margens do rio, lembrou-Se de Śrī Vṛndāvana-dhāma.

VERSO 12: Depois de realizar Seu canto e Sua dança costumeiros por algum tempo nessa floresta, o Senhor atravessou o rio e tomou Seu banho na outra margem.

VERSO 13: Após banhar-Se no rio, o Senhor caminhou a uma pequena distância do balneário e ocupou-Se em cantar o santo nome de Kṛṣṇa.

VERSO 14: Nesse momento, acompanhado por sons musicais, Rāmānanda Rāya chegou ali montado em um palanquim para se banhar.

VERSO 15: Muitos brāhmaṇas, seguindo os princípios védicos, acompanhavam Rāmānanda Rāya. Segundo os rituais védicos, Rāmānanda Rāya se banhou e ofereceu oblações a seus antepassados.

VERSO 16: Śrī Caitanya Mahāprabhu pôde entender que a pessoa que viera banhar-se no rio era Rāmānanda Rāya. O Senhor desejava tanto encontrar-Se com ele que Sua mente imediatamente começou a correr atrás dele.

VERSO 17: Embora Śrī Caitanya Mahāprabhu corresse atrás dele mentalmente, permaneceu sentado pacientemente. Então, ao avistar o maravilhoso sannyāsī, Rāmānanda Rāya foi ter com Ele.

VERSO 18: Então, Śrīla Rāmānanda Rāya viu que Śrī Caitanya Mahāprabhu era tão brilhante como centenas de sóis. O Senhor estava vestido com uma roupa açafroada. Seu corpo era grande e de compleição muito forte, e Seus olhos eram como pétalas de lótus.

VERSO 19: Ao ver o maravilhoso sannyāsī, Rāmānanda Rāya encheu-se de admiração. Foi até Ele e imediatamente prestou-Lhe suas respeitosas reverências prostrando-se como uma vara.

VERSO 20: O Senhor levantou-Se e pediu a Rāmānanda Rāya que se erguesse e cantasse o santo nome de Kṛṣṇa. Na verdade, Śrī Caitanya Mahāprabhu estava muito ansioso por abraçá-lo.

VERSO 21: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou se ele era Rāmānanda Rāya, ao que ele respondeu: “Sim, sou Teu servo muito baixo, e pertenço à comunidade dos śūdras.”

VERSO 22: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu deu um forte abraço em Śrī Rāmānanda Rāya. Na verdade, tanto o amo quanto o servo quase perderam a consciência devido ao amor extático.

VERSO 23: Seu amor mútuo e natural despertou, e ambos se abraçaram e caíram ao chão.

VERSO 24: Ao abraçarem-se, sintomas de êxtase – paralisia, transpiração, lágrimas, tremores, palpitações e palidez – manifestaram-se. A palavra “Kṛṣṇa” brotava de suas bocas balbuciantes.

VERSO 25: Ao verem essa manifestação extática de amor, os estereotipados brāhmaṇas, seguidores ritualistas dos princípios védicos, ficaram espantados. Esses brāhmaṇas começaram a refletir do seguinte modo.

VERSO 26: Os brāhmaṇas puseram-se a pensar: “Podemos ver que esse sannyāsī tem um brilho como a refulgência do Brahman, mas como é que está chorando ao abraçar um śūdra, membro da quarta casta na ordem social?”

VERSO 27: Eles pensaram: “Esse Rāmānanda Rāya é o governador de Madras, uma pessoa grave e altamente erudita, um mahā-paṇḍita, mas, ao tocar esse sannyāsī, tornou-se desquietado como um louco.”

VERSO 28: Enquanto os brāhmaṇas meditavam assim sobre as atividades de Śrī Caitanya Mahāprabhu e Rāmānanda Rāya, Śrī Caitanya Mahāprabhu os viu e conteve Suas emoções transcendentais.

VERSO 29: Ao recuperarem sua sanidade, ambos se sentaram, e Śrī Caitanya Mahāprabhu começou a sorrir, falando o seguinte.

VERSO 30: “Sārvabhauma Bhaṭṭācārya falou-Me a respeito de tuas boas qualidades, e fez um grande esforço para convencer-Me a encontrar-Me contigo.”

VERSO 31: “Na verdade, vim aqui só para encontrar-Me contigo. É maravilhoso que, mesmo sem Me esforçar, Eu tenha conseguido tua audiência aqui.”

VERSO 32: Rāmānanda Rāya respondeu: “Sārvabhauma Bhaṭṭācārya considera-me como seu servo. Mesmo na minha ausência, ele é muito atencioso em me fazer o bem.”

VERSO 33: “Pela misericórdia dele, recebi Tua audiência aqui. Consequentemente, considero que hoje me tornei um ser humano exitoso.”

VERSO 34: “Posso ver que concedeste misericórdia especial a Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Por isso, tocaste em mim, apesar de eu ser intocável. Isso só ocorreu devido ao amor dele por Ti.”

VERSO 35: “És a Suprema Personalidade de Deus, o próprio Nārāyaṇa, e eu sou apenas um servo do governo, interessado em atividades materialistas. Na verdade, sou o mais baixo entre os homens da quarta casta.”

VERSO 36: “Tu não temes os preceitos védicos que afirmam que não deves associar-Te com śūdras. Não foste desdenhoso de meu toque, embora os Vedas Te proíbam de Te associares com os śūdras.”

VERSO 37: “És a própria Suprema Personalidade de Deus, de modo que ninguém pode entender Teu propósito. Por Tua misericórdia, tocaste-me, embora isso seja proibido pelos Vedas.”

VERSO 38: “Vieste aqui especificamente para libertar-me. És tão misericordioso que sozinho podes libertar todas as almas caídas.”

VERSO 39: “É prática geral de todas as pessoas santas libertar os caídos. Portanto, vão de casa em casa apesar de não terem assunto pessoal a tratar em tais residências.”

VERSO 40: “‘Meu querido Senhor, grandes pessoas santas, às vezes, vão aos lares de chefes de família apesar de estes serem geralmente medíocres. Quando uma pessoa santa visita tais lares, pode-se entender que não é com nenhum outro objetivo a não ser o de beneficiar os chefes de família.’”

VERSO 41: “Cerca de mil homens me acompanham, incluindo os brāhmaṇas, e parece que todos eles ficaram com os corações derretidos pelo simples fato de terem Te visto.”

VERSO 42: “Ouço todos cantando o santo nome de Kṛṣṇa. Seus corpos estão dominados pelo êxtase, e há lágrimas em seus olhos.”

VERSO 43: “Meu querido Senhor, de acordo com o Teu comportamento e com as características de Teu corpo, és a Suprema Personalidade de Deus. Comportamento e características desse gênero são impossíveis em seres vivos comuns, pois eles não podem possuir tais qualidades transcendentais.”

VERSO 44: O Senhor respondeu a Rāmānanda Rāya: “Senhor, és o melhor dos devotos mais elevados; ao ver-te, portanto, os corações de todos se derretem.”

VERSO 45: “Se Eu, que sou um sannyāsī māyāvādī, um não-devoto, também estou flutuando no oceano de amor a Kṛṣṇa pelo simples fato de ter tocado em ti, o que dizer, então, dos outros?”

VERSO 46: “Sabendo disto, a fim de enternecer Meu coração, que é muito duro, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya pediu para Eu Me encontrar contigo.”

VERSO 47: Dessa maneira, um elogiou as qualidades do outro, e ambos ficaram satisfeitos por se verem.

VERSO 48: Nesse momento, certo brāhmaṇa vaiṣṇava, seguindo os princípios védicos, apareceu e prestou reverências. Caiu prostrado perante Śrī Caitanya Mahāprabhu e convidou-O para almoçar.

VERSO 49: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou o convite do brāhmaṇa, ciente de que ele era um devoto. Sorrindo suavemente, falou o seguinte a Rāmānanda Rāya.

VERSO 50: “Desejo ouvir-te falar sobre o Senhor Kṛṣṇa. Na verdade, Minha mente está inclinada a desejar isso; desejo, portanto, ver-te novamente.”

VERSOS 51-52: Rāmānanda Rāya respondeu: “Meu Senhor, embora tenhas vindo para corrigir-me, como alma caída que sou, minha mente ainda não está purificada simplesmente por ver-Te. Por favor, permanece aqui por cinco ou sete dias e bondosamente purifica a minha mente poluída. Depois de tal período, minha mente certamente estará purificada.”

VERSO 53: Embora nenhum dos dois pudesse tolerar a separação do outro, Rāmānanda Rāya prestou suas reverências ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu e partiu.

VERSO 54: Então, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para a casa do brāhmaṇa que O convidara e almoçou ali. Ao anoitecer daquele dia, tanto Rāmānanda Rāya quanto o Senhor estavam ansiosos por encontrarem-se novamente.

VERSO 55: Após terminar Seu banho vespertino, Śrī Caitanya Mahāprabhu sentou-Se e esperou pela chegada de Rāmānanda Rāya. Então, Rāmānanda Rāya, acompanhado por um servo, foi ao Seu encontro.

VERSO 56: Rāmānanda Rāya aproximou-se do Senhor Śrī Caitanya prestando-Lhe respeitosas reverências, e o Senhor o abraçou. Então, ambos, em um lugar isolado, começaram a conversar sobre Kṛṣṇa.

VERSO 57: Śrī Caitanya Mahāprabhu mandou Rāmānanda Rāya recitar um verso das escrituras reveladas a respeito da meta última da vida. Rāmānanda respondeu que, se alguém cumpre os deveres prescritos de sua posição social, desperta Sua consciência de Kṛṣṇa original.

VERSO 58: “A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, é adorado mediante o cumprimento adequado dos deveres prescritos no sistema de varṇa e āśrama. Não há outra maneira de satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. É preciso situar-se na instituição dos quatro varṇas e āśramas.”

VERSO 59: O Senhor respondeu: “Isso é externo. É melhor que Me fales de algum outro método.” Rāmānanda respondeu: “A essência de toda a perfeição é oferecer os resultados de nossas atividades a Kṛṣṇa.”

VERSO 60: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “‘Ó filho de Kuntī, tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres e presenteares, bem como todas as austeridades que possas praticar – deves fazer tudo como uma oferenda a Mim.’”

VERSO 61: “Isso também é exterioridade”, disse Śrī Caitanya Mahāprabhu. “Por favor, vai em frente e fala mais sobre este assunto.”
Rāmānanda Rāya respondeu: “A essência da perfeição é desvencilhar-se dos deveres ocupacionais prescritos no varṇāśrama.”

VERSO 62: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “‘Os deveres ocupacionais estão descritos nas escrituras religiosas. Quem os analisar poderá compreender plenamente suas qualidades e falhas e, então, abandoná-los por completo para prestar serviço à Suprema Personalidade de Deus. Semelhante pessoa é considerada um homem de primeira classe.’”

VERSO 63: “Como se afirma na escritura [Bg. 18.66]: ‘Após abandonares toda espécie de deveres religiosos e ocupacionais, se vieres a Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e te refugiares em Mim, Eu te protegerei de todas as reações pecaminosas da vida. Não temas.’”

VERSO 64: Após ouvir Rāmānanda Rāya falar dessa maneira, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Vai em frente e dize algo mais.” Então, Rāmānanda Rāya respondeu: “A essência da perfeição é o serviço devocional misturado com conhecimento empírico.”

VERSO 65: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “De acordo com a Bhagavad-gītā: ‘Aquele que está assim transcendentalmente situado percebe de imediato o Brahman Supremo e enche-se de júbilo. Jamais lamenta nem deseja ter algo; é igualmente disposto com todas as entidades vivas. Nesse estado, ele alcança o serviço devocional puro a Mim.’”

VERSO 66: Após ouvir isto, como de costume, o Senhor rejeitou, considerando se tratar de serviço devocional externo. Novamente, Ele pediu a Rāmānanda Rāya que continuasse falando, ao que Rāmānanda Rāya respondeu: “O serviço devocional puro, sem nenhum vestígio de conhecimento especulativo, é a essência da perfeição.”

VERSO 67: Rāmānanda Rāya continuou: “O senhor Brahmā disse: ‘Meu querido Senhor, os devotos que deixaram de lado a concepção impessoal da Verdade Absoluta e que por isso pararam de discutir verdades filosóficas empíricas devem ouvir de devotos autorrealizados sobre Teus santo nome, forma, passatempos e qualidades. Devem seguir com perfeição os princípios do serviço devocional e permanecer livres do sexo ilícito, do jogo de azar, da intoxicação e da matança de animais. Rendendo-se plenamente com o corpo, as palavras e a mente, poderão viver em qualquer āśrama ou status social. De fato, tais pessoas Te conquistam apesar de seres sempre inconquistável.’”

VERSO 68: Nesse momento, Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Tudo certo quanto a isso, mas ainda podes falar mais sobre o assunto.” Então, Rāmānanda Rāya respondeu: “Amor extático pela Suprema Personalidade de Deus é a essência de toda a perfeição.”

VERSO 69: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “‘Enquanto houver fome e sede, uma pessoa se sentirá muito feliz ao comer e beber. Quando o Senhor é adorado com amor puro, no coração do devoto desperta bem-aventurança transcendental.’”

VERSO 70: “‘Nem mesmo através de atividades piedosas de centenas de milhares de vidas pode-se obter o serviço devocional puro em consciência de Kṛṣṇa. Só se pode alcançá-lo pagando um preço – isto é, mostrando intensa avidez em obtê-lo. Caso esteja disponível em alguma parte, deve-se adquiri-lo sem demora.’”

VERSO 71: Ouvindo até o ponto do amor espontâneo, o Senhor disse: “Tudo isso está certo, mas, se souberes mais, por favor, dize-Me.”

VERSO 72: “‘Um homem purifica-se pelo simples fato de ouvir o santo nome da Suprema Personalidade de Deus, cujos pés de lótus criam os lugares sagrados de peregrinação. Portanto, o que resta a alcançar para aqueles que se tornaram Seus servos?’”

VERSO 73: “‘Aquele que Vos serve com constância livra-se de todos os desejos materiais e fica inteiramente pacífico. Quando nos ocuparemos como Vossos servos constantes e eternos e nos sentiremos sempre jubilosos de ter um amo tão perfeito?’”

VERSO 74: Ao ouvir isso de Rāmānanda Rāya, o Senhor pediu-lhe mais uma vez que desse um passo adiante. Em resposta, Rāmānanda Rāya disse: “O serviço amoroso a Kṛṣṇa, prestado em fraternidade, é a perfeição máxima.”

VERSO 75: “‘Aqueles que se dedicam à autorrealização, apreciando a refulgência Brahman do Senhor, e aqueles que se ocupam em serviço devocional, aceitando a Suprema Personalidade de Deus como amo, bem como aqueles que estão sob as garras de māyā, julgando o Senhor uma pessoa comum, não podem entender que certas personalidades elevadas – após acumularem muitíssimas atividades piedosas – brincam agora com o Senhor amistosamente como vaqueirinhos.’”

VERSO 76: O Senhor disse: “Esta afirmação é ótima, mas, por favor, prossegue ainda mais.” Então, Rāmānanda Rāya respondeu: “O serviço amoroso ao Senhor na relação paterna ou materna é a fase máxima de perfeição.”

VERSO 77: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “‘Ó brāhmaṇa, que atividades piedosas Nanda Mahārāja terá realizado para receber a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, como seu filho, e que atividades piedosas mãe Yaśodā terá realizado para fazer com que a Suprema e Absoluta Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, chame-a de mãe e mame em seus seios?’”

VERSO 78: “‘Nem o senhor Brahmā nem o senhor Śiva, tampouco a deusa da fortuna, que sempre se abriga no peito da Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, obtiveram o favor que mãe Yaśodā obteve de Śrī Kṛṣṇa, o outorgador da liberação.’”

VERSO 79: O Senhor disse: “Com certeza, tuas afirmações estão melhorando cada vez mais, uma após a outra. Porém, superando a todas elas, há outra doçura transcendental, podendo-se considerá-la como a mais sublime.” Então, Rāmānanda Rāya respondeu: “Apego conjugal a Kṛṣṇa é a posição mais elevada de amor a Deus.”

VERSO 80: “‘Enquanto o Senhor Śrī Kṛṣṇa dançava com as gopīs na rāsa-līlā, Seus braços abraçavam-nas em torno do pescoço. Jamais esse favor transcendental foi concedido à deusa da fortuna ou às outras consortes no mundo espiritual. De fato, nem as mais belas moças dos planetas celestiais, cujo brilho corpóreo e aroma assemelham-se à flor de lótus, jamais chegaram a imaginar tal coisa. O que dizer, então, de mulheres mundanas que são belíssimas segundo a estimativa material?’”

VERSO 81: “‘De repente, devido aos sentimentos de separação das gopīs, o Senhor Kṛṣṇa apareceu entre elas trajando roupas amarelas e usando uma guirlanda de flores. Seu rosto de lótus sorria, e Ele estava atraindo a mente do próprio Cupido.’”

VERSO 82: “Há diversos meios e processos pelos quais se pode alcançar o favor do Senhor Kṛṣṇa. Todos esses processos transcendentais serão estudados do ponto de vista da importância comparativa.”

VERSO 83: “É verdade que qualquer relação que um devoto específico tenha com o Senhor é a melhor para ele; de qualquer modo, ao estudarmos todos os diferentes métodos a partir de uma posição neutra, podemos entender que existem graus inferiores e superiores de amor.”

VERSO 84: “‘Experimenta-se um amor crescente em diversos sabores, um após o outro. Porém, o amor que tem o sabor máximo na sucessão gradual de desejos manifesta-se sob a forma do amor conjugal.’”

VERSO 85: “Há uma ordem gradual de aprimoramento em doçuras transcendentais, desde as iniciais até as últimas. Em cada doçura subsequente, manifestam-se as qualidades das doçuras anteriores, contando-se a partir de duas, depois três, até chegar a cinco qualidades completas.”

VERSO 86: “Assim como as qualidades aumentam, também o sabor aumenta em cada uma das doçuras. Portanto, todas as qualidades encontradas em śānta-rasa, dāsya-rasa, sakhya-rasa e vātsalya-rasa são manifestas no amor conjugal [mādhurya-rasa].”

VERSO 87: “As qualidades dos elementos materiais – céu, ar, fogo, água e terra – aumentam uma após a outra mediante um processo gradual de um, dois e três; e, na última fase, no elemento terra, todas as cinco qualidades são completamente visíveis.”

VERSO 88: “É possível alcançar perfeitamente os pés de lótus de Kṛṣṇa através do amor a Deus, especificamente através de mādhurya-rasa, ou amor conjugal. Na verdade, esse padrão de amor cativa o Senhor Kṛṣṇa. Afirma-se isso também no Śrīmad-Bhāgavatam.”

VERSO 89: “O Senhor Kṛṣṇa disse às gopīs: ‘O meio de obter Meu favor é prestando-Me serviço amoroso, e, afortunadamente, todas vós estais ocupadas assim. Os seres vivos que prestam serviço a Mim são candidatos a transferirem-se ao mundo espiritual e a alcançarem vida eterna com conhecimento e bem-aventurança.’”

VERSO 90: “O Senhor Kṛṣṇa fez uma promessa sólida e eterna. Se alguém Lhe presta serviço, Kṛṣṇa corresponde dando-lhe uma quantidade igual de êxito em serviço devocional a Ele.”

VERSO 91: “[Segundo o Senhor Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā 4.11:] ‘Conforme se rendem a Mim, Eu os recompenso de acordo. Todos trilham o Meu caminho sob todos os aspectos, ó filho de Pṛthā.’”

VERSO 92: “No Śrīmad-Bhāgavatam [10.32.22], declara-se que o Senhor Kṛṣṇa não pode reciprocar proporcionalmente o serviço devocional em mādhurya-rasa; portanto, Ele sempre permanece um devedor de tais devotos.”

VERSO 93: “Quando as gopīs encheram-se de descontentamento devido à ausência do Senhor Kṛṣṇa na rāsa-līlā, Kṛṣṇa retornou para elas e lhes disse: ‘Minhas queridas gopīs, por certo que nosso encontro está livre de toda a contaminação material. Devo admitir que, em muitas vidas, não Me seria possível quitar a dívida que tenho convosco, visto que rompestes os laços da vida familiar somente para buscar-Me. Em consequência disso, sou incapaz de retribuir-vos. Portanto, por favor, contentai-vos com vossas atividades honestas a este respeito.’”

VERSO 94: “Embora a beleza incomparável de Kṛṣṇa seja a doçura máxima do amor a Deus, Sua doçura aumenta ilimitadamente quando Ele está na companhia das gopīs. Logo, a troca de amor de Kṛṣṇa com as gopīs é a perfeição máxima do amor a Deus.”

VERSO 95: “‘Embora o filho de Devakī, a Suprema Personalidade de Deus, também seja o reservatório de toda espécie de beleza; não obstante, quando entre as gopīs, Ele Se torna mais belo, pois assemelha-Se a uma joia marakata rodeada por ouro e outras joias.’”

VERSO 96: O Senhor Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Com certeza este é o limite máximo da perfeição, mas, por favor, tem misericórdia de Mim e fala-Me mais, se houver mais.”

VERSO 97: Rāya Rāmānanda respondeu: “Até esta data, eu não conhecia ninguém neste mundo material que pudesse indagar além desta fase de perfeição do serviço devocional.”

VERSO 98: “Entre os casos amorosos das gopīs”, prosseguiu Rāmānanda Rāya, “o amor de Śrīmatī Rādhārāṇī por Śrī Kṛṣṇa é o mais elevado. Na verdade, as glórias de Śrīmatī Rādhārāṇī são altamente estimadas em todas as escrituras reveladas.”

VERSO 99: “‘Assim como Śrīmatī Rādhārāṇī é muito querida por Śrī Kṛṣṇa, Seu balneário, conhecido como Rādhā-kuṇḍa, também Lhe é querido. Entre todas as gopīs, Śrīmatī Rādhārāṇī é suprema e muito querida pelo Senhor Kṛṣṇa.’”

VERSO 100: “Ao começarem a conversar entre si, as gopīs disseram: ‘Queridas amigas, a gopī que Kṛṣṇa levou embora para um lugar solitário deve ter adorado o Senhor mais do que qualquer outra.’”

VERSO 101: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Por favor, continua falando. Fico muito feliz de ouvir-te, pois de tua boca flui um rio de néctar sem precedentes.”

VERSO 102: “Durante a dança da rāsa, Śrī Kṛṣṇa não gozou de um namoro com Śrīmatī Rādhārāṇī devido à presença das outras gopīs. Por causa da dependência das outras, a intensidade do amor entre Rādhā e Kṛṣṇa não se manifestou. Portanto, Ele A raptou.”

VERSO 103: “Se o Senhor Kṛṣṇa rejeitou a companhia das outras gopīs por causa de Śrīmatī Rādhārāṇī, podemos entender que o Senhor Śrī Kṛṣṇa tem intensa afeição por Ela.”

VERSO 104: Rāmānanda Rāya continuou: “Por favor, ouve-me, portanto, falar sobre as glórias dos romances amorosos de Śrīmatī Rādhārāṇī. Eles nada têm de comparável dentro destes três mundos.”

VERSO 105: “Vendo-Se tratada a nível de igualdade com todas as outras gopīs, Śrīmatī Rādhārāṇī revelou Seu comportamento astuto deixando o círculo da dança da rāsa. Sentindo a ausência de Śrīmatī Rādhārāṇī, Kṛṣṇa ficou muito triste e começou a lamentar-Se vagando pela floresta em busca dEla.”

VERSO 106: “‘O Senhor Kṛṣṇa, o inimigo de Kaṁsa, levou Śrīmatī Rādhārāṇī dentro de Seu coração, pois desejava dançar com Ela. Assim, deixou a área da dança da rāsa e a companhia de todas as outras lindas donzelas de Vraja.’”

VERSO 107: “‘Ferido pela flecha do Cupido e tristemente arrependido de ter maltratado Rādhārāṇī; Mādhava, o Senhor Kṛṣṇa, começou a procurar por Śrīmatī Rādhārāṇī ao longo das margens do rio Yamunā. Como não conseguiu encontrá-lA, refugiou-Se nos bosques de Vṛndāvana e começou a lamentar-Se.’”

VERSO 108: “Simplesmente considerando esses dois versos, pode-se entender o néctar que há em tais relações. É exatamente como abrir as comportas de um manancial de néctar.”

VERSO 109: “Embora Kṛṣṇa estivesse em meio a centenas de milhares de gopīs durante a dança da rāsa, ainda assim manteve-Se, em uma de Suas formas transcendentais, ao lado de Śrīmatī Rādhārāṇī.”

VERSO 110: “O Senhor Kṛṣṇa é equânime com todos em Seus tratamentos genéricos. Porém, devido ao conflitante amor extático de Śrīmatī Rādhārāṇī, houve contrariedade.”        

VERSO 111: “O desenvolvimento de romances amorosos entre jovens casais é como o movimento de uma serpente. Por causa disso, surgem duas classes de ira entre jovens casais – ira com motivo e ira sem motivo.”

VERSO 112: “Quando, por ira e ressentimento, Rādhārāṇī deixou a dança da rāsa; não A vendo mais, o Senhor Śrī Kṛṣṇa ficou muito ansioso.”

VERSO 113: “O desejo do Senhor Kṛṣṇa é perfeito e completo no círculo da rāsa-līlā; Śrīmatī Rādhārāṇī, porém, é o elo que ata esse desejo.”

VERSO 114: “A dança da rāsa não brilha no coração de Kṛṣṇa sem Śrīmatī Rādhārāṇī. Portanto, Ele também abandonou o círculo da dança da rāsa e saiu à procura dEla.”

VERSO 115: “Ao sair à procura de Śrīmatī Rādhārāṇī, Kṛṣṇa vagou de lá para cá. Contudo, não A encontrando, ficou ferido pela flecha do Cupido e começou a lamentar-Se.”

VERSO 116: “Uma vez que os desejos luxuriosos de Kṛṣṇa não se satisfizeram sequer em meio a centenas de milhares de gopīs e Ele assim andava à procura de Śrīmatī Rādhārāṇī, podemos facilmente imaginar quão transcendentalmente qualificada Ela é.”

VERSO 117: Após ouvir isso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu disse a Rāmānanda Rāya: “O motivo pelo qual vim à tua residência tornou-se agora um objeto de verdade em Meu conhecimento.”

VERSO 118: “Agora passei a entender a meta sublime da vida e o processo para alcançá-la. Não obstante, acho que ainda há algo mais, e Minha mente deseja conhecê-lo.”

VERSO 119: “Por favor, explica-Me as características transcendentais de Kṛṣṇa e de Śrīmatī Rādhārāṇī. Explica-Me também a verdade sobre a doçura transcendental e sobre a forma transcendental do amor a Deus.”

VERSO 120: “Por favor, explica-Me todas essas verdades. Além de ti, ninguém pode fazê-lo.”

VERSO 121: Śrī Rāmānanda Rāya respondeu: “Não sei nada sobre isso. Simplesmente vibro as palavras que me fazes proferir.”

VERSO 122: “Só faço repetir como um papagaio todas as instruções que tens me dado. És a própria Suprema Personalidade de Deus. Quem pode compreender Tuas representações dramáticas?”

VERSO 123: “Tu me inspiras dentro do coração e me fazes falar com a língua. Não sei se estou falando bem ou mal.”

VERSO 124: O Senhor Caitanya Mahāprabhu disse: “Sou um māyāvādī na ordem de vida renunciada, e nem ao menos sei o que é o transcendental serviço amoroso ao Senhor. Simplesmente flutuo no oceano da filosofia māyāvāda.”

VERSO 125: “Devido à associação com Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, Minha mente iluminou-se. Portanto, indaguei de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya acerca das verdades do transcendental serviço amoroso a Kṛṣṇa.”

VERSO 126: “Sārvabhauma Bhaṭṭācārya disse-Me: ‘Na realidade, nada conheço sobre os tópicos do Senhor Kṛṣṇa. Somente Rāmānanda Rāya conhece-os todos, mas ele não está presente aqui.’”

VERSO 127: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “Após ouvir sobre tuas glórias, vim à tua morada. Contudo, tu me ofereces palavras de louvor por respeito a um sannyāsī, aquele que está na ordem de vida renunciada.”

VERSO 128: “Quer alguém seja brāhmaṇa, sannyāsī ou śūdra – independentemente do que seja –, pode tornar-se mestre espiritual caso conheça a ciência de Kṛṣṇa.”

VERSO 129: Śrī Caitanya Mahāprabhu continuou: “Por favor, não tentes enganar-Me julgando-Me um sannyāsī erudito. Por favor, satisfaze Minha mente simplesmente expondo a verdade sobre Rādhā e Kṛṣṇa.”

VERSOS 130-131: Śrī Rāmānanda Rāya era um grande devoto do Senhor e um amante de Deus. Embora a energia ilusória de Kṛṣṇa não pudesse encobrir sua mente e embora ele pudesse entender a mente do Senhor, que era muito forte e intensa, a mente de Rāmānanda ficou um pouco perturbada.

VERSO 132: Śrī Rāmānanda Rāya disse: “Não passo de um títere dançarino, e quem puxa as cordas és Tu. Dançarei da maneira que me fizeres dançar.”

VERSO 133: “Meu querido Senhor, minha língua é como um instrumento de cordas, e quem o toca és Tu. Portanto, só faço vibrar tudo o que surge em Tua mente.”

VERSO 134: Então, Rāmānanda Rāya começou a falar sobre kṛṣṇa-tattva. “Ele é a Suprema Personalidade de Deus”, disse ele. “Ele é pessoalmente a Divindade original, a fonte de todas as encarnações e a causa de todas as causas.”

VERSO 135: “Existem inumeráveis planetas Vaikuṇṭha, bem como inumeráveis encarnações. No mundo material, também existem inumeráveis universos, e o repouso supremo de todos eles é Kṛṣṇa.”

VERSO 136: “O corpo transcendental de Śrī Kṛṣṇa é eterno e pleno de bem-aventurança e conhecimento. Ele é o filho de Nanda Mahārāja e é pleno de todas as opulências e potências, bem como de todas as doçuras espirituais.”

VERSO 137: “‘Kṛṣṇa, que é conhecido como Govinda, é o controlador supremo. Seu corpo é eterno, bem-aventurado e espiritual. Ele é a origem de tudo. Ele não tem outra origem, pois é a causa primordial de todas as causas.’”

VERSO 138: “No reino espiritual de Vṛndāvana, Kṛṣṇa é o sempre viçoso Cupido espiritual. Ele é adorado através do cantar do kāma-gāyatrī-mantra com a semente espiritual klīm.”

VERSO 139: “O próprio nome Kṛṣṇa significa que Ele atrai até o Cupido. Portanto, Ele é atrativo para todos – homens e mulheres, entidades vivas móveis e inertes. Na verdade, Kṛṣṇa é conhecido como o todo-atrativo.”

VERSO 140: “‘Quando Kṛṣṇa deixou a dança da rāsa-līlā, as gopīs ficaram muito melancólicas, e, no momento em que elas se lamentavam, Kṛṣṇa reapareceu vestido com roupas amarelas. Usando uma guirlanda de flores e sorrindo, Ele estava atrativo até para o Cupido. Foi assim que Kṛṣṇa apareceu entre as gopīs.’”

VERSO 141: “Cada devoto tem determinada classe de doçura transcendental em sua relação com Kṛṣṇa. Contudo, em todas as relações transcendentais, o devoto é o adorador [āśraya], e Kṛṣṇa, o objeto de adoração [viṣaya].”

VERSO 142: “‘Que Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, seja glorificado! Em virtude de Seus crescentes aspectos atrativos, Ele subjugou as gopīs chamadas Tārakā e Pali e absorveu as mentes de Śyāmā e Lalitā. Ele é o atraentíssimo amante de Śrīmatī Rādhārāṇī e é o reservatório de prazer para todas as doçuras devocionais.’”

VERSO 143: “Kṛṣṇa é todo-atrativo para todas as doçuras devocionais por ser a personificação da doçura conjugal. Kṛṣṇa é atrativo, não somente para todos os devotos, mas também para Si mesmo.”

VERSO 144: “‘Minhas queridas amigas, vede só como Śrī Kṛṣṇa está desfrutando da primavera! Com as gopīs abraçando cada um de Seus membros, Ele é como o amor ardente personificado. Com Seus passatempos transcendentais, Ele anima todas as gopīs e toda a criação. Com Seus macios braços e pernas negro-azulados, que se assemelham a flores de lótus azuis, Ele cria um festival para o Cupido.’”

VERSO 145: “Ele também atrai Nārāyaṇa, a encarnação de Saṅkarṣaṇa e o esposo da deusa da fortuna. Ele atrai, não só Nārāyaṇa, mas também todas as mulheres lideradas pela deusa da fortuna, a esposa de Nārāyaṇa.”

VERSO 146: “[Dirigindo-Se a Kṛṣṇa e Arjuna, o Senhor Mahā-Viṣṇu, o Mahāpuruṣa, disse:] ‘Eu quis ver-vos ambos e, por isso, trouxe os filhos do brāhmaṇa até aqui. Vós dois aparecestes no mundo material para restabelecer os princípios religiosos e aparecestes aqui com todas as vossas potências. Após matar todos os demônios, por favor, regressai rapidamente ao mundo espiritual.’”

VERSO 147: “‘Ó Senhor, não sabemos como a serpente Kāliya obteve semelhante oportunidade de ser tocada pela poeira de Vossos pés de lótus. Para esse fim, a deusa da fortuna praticou austeridades por séculos, abandonando todos os outros desejos e fazendo votos austeros. Na verdade, não sabemos como essa serpente Kāliya obteve tal oportunidade.’”

VERSO 148: “A doçura do Senhor Kṛṣṇa é tão atrativa que cativa Sua própria mente. Assim, Ele deseja inclusive abraçar a Si mesmo.”

VERSO 149: Seu palácio de Dvārakā, Kṛṣṇa desejou abraçá-lo, dizendo: ‘Oh! Nunca vi tal pessoa antes. Quem é Ele? Bastou que Eu O visse para ficar ansioso por abraçá-lO, exatamente como Śrīmatī Rādhārāṇī.’’”

VERSO 150: Então, Śrī Rāmānanda Rāya disse: “Assim, acabo de explicar sucintamente a forma original da Suprema Personalidade de Deus. Agora, peço permissão para descrever a posição de Śrīmatī Rādhārāṇī.”

VERSO 151: “Kṛṣṇa tem potências ilimitadas, as quais podem dividir-se em três partes principais. São elas a potência espiritual, a potência material e a potência marginal, que é conhecida como as entidades vivas.”

VERSO 152: “Em outras palavras, todas estas são potências de Deus – interna, externa e marginal. Contudo, a potência interna é a energia pessoal do Senhor e se sobressai sobre as outras duas.”

VERSO 153: “‘A potência original do Senhor Viṣṇu é superior ou espiritual. A entidade viva, em verdade, pertence a essa energia superior, mas existe outra energia, chamada energia material, e essa terceira energia é cheia de ignorância.’”

VERSO 154: “Originalmente, o Senhor Kṛṣṇa é sac-cid-ānanda-vigraha, a forma transcendental de eternidade, bem-aventurança e conhecimento; portanto, Sua potência pessoal, a potência interna, tem três formas diferentes.”

VERSO 155: “Hlādinī é Seu aspecto de bem-aventurança; sandhinī, de existência eterna, e samvit, de conscientização, que também é aceita como conhecimento.”

VERSO 156: “‘Meu querido Senhor, sois o reservatório transcendental de todas as qualidades transcendentais. Vossas potências de prazer, de existência e de conhecimento são todas, na realidade, uma única potência espiritual interna. Apesar de na verdade ser espiritual, a alma condicionada experimenta ora prazer, ora dor, ora uma mistura de dor e prazer. Isso porque ela é afetada pela matéria. No entanto, como Vós estais acima de todas as qualidades materiais, essas coisas não são encontradas em Vós. Vossa potência espiritual superior é inteiramente transcendental, e, para Vós, não há tal coisa como prazer relativo, prazer misturado com dor ou a própria dor.’”

VERSO 157: “A potência chamada hlādinī proporciona prazer transcendental a Kṛṣṇa. Através dessa potência de prazer, Kṛṣṇa pessoalmente saboreia todo o prazer espiritual.”

VERSO 158: “O Senhor Kṛṣṇa saboreia toda espécie de felicidade transcendental, embora Ele próprio seja a felicidade personificada. Sua potência de prazer também manifesta o prazer saboreado por Seu devoto puro.”

VERSO 159: “A parte mais essencial desta potência de prazer é o amor a Deus [prema]. Consequentemente, a explicação do amor a Deus é também uma doçura transcendental plena de prazer.”

VERSO 160: “A parte essencial do amor a Deus chama-se mahābhāva, êxtase transcendental, e Śrīmatī Rādhārāṇī representa esse êxtase.”

VERSO 161: “‘Entre as gopīs de Vṛndāvana, Śrīmatī Rādhārāṇī e uma outra gopī são consideradas as principais. Contudo, ao compararmos as gopīs, parece que Śrīmatī Rādhārāṇī é a mais importante, pois Sua característica verdadeira expressa o êxtase máximo de amor. O êxtase de amor experimentado pelas outras gopīs não pode comparar-se ao de Śrīmatī Rādhārāṇī.’”

VERSO 162: “O corpo de Śrīmatī Rādhārāṇī é a transformação autêntica do amor a Deus; Ela é a mais querida amiga de Kṛṣṇa, e sabe-se disso no mundo inteiro.”

VERSO 163: “‘Adoro Govinda, o Senhor primordial, que reside em Seu próprio reino, Goloka, com Rādhā, a qual Se assemelha à própria figura espiritual dEle e personifica a potência extática [hlādinī]. As companheiras dEla são Suas confidentes, que incorporam expansões de Sua forma corpórea e que são embebidas e permeadas do rasa espiritual sempre bem-aventurado.’”

VERSO 164: “Este êxtase supremo de Śrīmatī Rādhārāṇī é a essência da vida espiritual. A única ocupação dEla é satisfazer todos os desejos de Kṛṣṇa.”

VERSO 165: “Śrīmatī Rādhārāṇī é a joia espiritual máxima, e as demais gopīs – Lalitā, Viśākhā e assim por diante – são expansões de Seu corpo espiritual.”

VERSO 166: “O corpo transcendental de Śrīmatī Rādhārāṇī é imensamente brilhante e pleno de todos os aromas transcendentais. A afeição do Senhor Kṛṣṇa por Ela é como uma massagem perfumada.”

VERSO 167: “Śrīmatī Rādhārāṇī toma Seu primeiro banho na chuva do néctar da compaixão e Seu segundo banho no néctar da juventude.”

VERSO 168: “Após Seu banho ao meio-dia, Rādhārāṇī toma outro banho no néctar do brilho corpóreo e veste a roupa da timidez, que é exatamente como um sārī de seda negro.”

VERSO 169: “A afeição de Śrīmatī Rādhārāṇī por Kṛṣṇa é o traje superior, que é de cor rosada. Então, Ela cobre Seus seios com outra veste, composta de afeição para com Kṛṣṇa e de ira contra Ele.”

VERSO 170: “A beleza pessoal de Śrīmatī Rādhārāṇī compara-se ao pó avermelhado conhecido como kuṅkuma. Sua afeição por Suas companheiras compara-se à polpa de sândalo, e a doçura de Seu sorriso, à cânfora. Todos esses elementos, combinados, são untados sobre Seu corpo.”

VERSO 171: “O amor conjugal por Kṛṣṇa é tal qual um almíscar abundante. Esse almíscar decora todo o corpo dEla.”

VERSO 172: “Ira oculta e astúcia constituem o arranjo de Seu cabelo. A qualidade da ira provocada pelo ciúme é tal qual a seda que cobre Seu corpo.”

VERSO 173: “Seu apego a Kṛṣṇa é a cor avermelhada de nozes-de-bétel sobre Seus brilhantes lábios. Sua duplicidade em romances amorosos é tal qual o cosmético negro ao redor de Seus olhos.”

VERSO 174: “Os ornamentos aplicados a Seu corpo são os abrasantes êxtases de bondade, e o júbilo lidera esses êxtases de existência constante. Todos esses êxtases são como ornamentos por todo o corpo dEla.”

VERSO 175: “Estes ornamentos corpóreos constituem vinte classes de sintomas extáticos, começando com kila-kiñcita. Suas qualidades transcendentais são a guirlanda de flores pendurada por toda a extensão de Seu corpo.”

VERSO 176: “A tilaka da fortuna decora Sua ampla e bela testa. Seus diversos romances amorosos são uma joia, e Seu coração é o broche.”

VERSO 177: “As gopīs amigas de Śrīmatī Rādhārāṇī são Suas atividades mentais, que se concentram nos passatempos de Śrī Kṛṣṇa. Ela mantém Sua mão sobre o ombro de uma amiga, a qual representa a juventude.”

VERSO 178: “O leito de Śrīmatī Rādhārāṇī é o próprio orgulho, e situa-se na morada do aroma de Seu corpo. Ela sempre Se senta ali, onde pensa na companhia de Kṛṣṇa.”

VERSO 179: “Os brincos de Śrīmatī Rādhārāṇī representam o nome, a fama e as qualidades do Senhor Kṛṣṇa. As glórias do nome, da fama e das qualidades do Senhor Kṛṣṇa sempre inundam Suas conversas.”

VERSO 180: “Śrīmatī Rādhārāṇī induz Kṛṣṇa a beber o mel da intimidade conjugal. Assim, Ela Se dedica a satisfazer todos os desejos luxuriosos de Kṛṣṇa.”

VERSO 181: “Śrīmatī Rādhārāṇī é exatamente como uma mina repleta de joias preciosas do amor a Kṛṣṇa. Seu corpo transcendental está repleto de qualidades espirituais incomparáveis.”

VERSO 182: “‘Caso alguém pergunte sobre a origem do amor a Kṛṣṇa, a resposta é que a origem está apenas em Śrīmatī Rādhārāṇī. Quem é a mais querida amiga de Kṛṣṇa? Novamente a resposta é apenas: Śrīmatī Rādhārāṇī. Ninguém mais. O cabelo de Śrīmatī Rādhārāṇī é muito cacheado, Seus dois olhos inquietos não param de mover-se e Seus seios são rígidos. Já que se manifestam todas as qualidades transcendentais em Śrīmatī Rādhārāṇī, somente Ela é capaz de satisfazer todos os desejos de Kṛṣṇa. Ninguém mais.’”

VERSOS 183-184: “Mesmo Satyabhāmā, uma das rainhas de Śrī Kṛṣṇa, deseja a posição afortunada e as excelentes qualidades de Śrīmatī Rādhārāṇī. E é com Śrīmatī Rādhārāṇī que todas as gopīs aprendem a arte de vestir-se; e mesmo a deusa da fortuna, Lakṣmī, e a esposa do senhor Śiva, Pārvatī, desejam Sua beleza e Suas qualidades. Na verdade, Arundhatī, a célebre e casta esposa de Vasiṣṭha, também deseja imitar a castidade e os princípios religiosos de Śrīmatī Rādhārāṇī.”

VERSO 185: “Nem o próprio Senhor Kṛṣṇa pode calcular o limite das qualidades transcendentais de Śrīmatī Rādhārāṇī. Como, então, uma entidade viva insignificante pode enumerá-las?”

VERSO 186: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Agora entendi a verdade sobre os casos amorosos entre Rādhā e Kṛṣṇa. Não obstante, ainda desejo ouvir como ambos desfrutam gloriosamente de tal amor.”

VERSO 187: Rāya Rāmānanda respondeu: “O Senhor Kṛṣṇa é dhīra-lalita, pois Ele sempre consegue manter Suas namoradas sob Seu jugo. Assim, Sua única ocupação é desfrutar de gozo dos sentidos.”

VERSO 188: “Uma pessoa que é muito astuta e sempre juvenil, perita em fazer gracejos e livre de ansiedade, e que pode manter suas namoradas sempre sob seu jugo, chama-se dhīra-lalita.”

VERSO 189: “Dia e noite, o Senhor Śrī Kṛṣṇa goza da companhia de Śrīmatī Rādhārāṇī nos bosques de Vṛndāvana. Assim, Sua pré-adolescência revelou-se exitosa em virtude de Seus romances com Śrīmatī Rādhārāṇī.”

VERSO 190: “‘Assim, o Senhor Śrī Kṛṣṇa falou sobre as atividades sexuais da noite anterior. Dessa maneira, Ele fez Śrīmatī Rādhārāṇī fechar Seus olhos de vergonha. Aproveitando-Se dessa oportunidade, Śrī Kṛṣṇa pintou diversas espécies de golfinhos sobre os seios dEla. Deste modo, Ele passou a ser um exímio artista para todas as gopīs. Durante tais passatempos, o Senhor gozava da satisfação de Sua juventude.’”

VERSO 191: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Está tudo certo, mas, por favor, continua.” Nessa altura, Rāya Rāmānanda respondeu: “Não creio que minha inteligência vá além disto.”

VERSO 192: Então, Rāya Rāmānanda informou a Śrī Caitanya Mahāprabhu que havia ainda outro tópico, conhecido como prema-vilāsa-vivarta. “Posso falar-Te sobre isto”, disse Rāmānanda Rāya. “Contudo, não sei se isto Te fará feliz ou não.”

VERSO 193: Dizendo isto, Rāmānanda Rāya começou a cantar uma canção composta por ele, mas Śrī Caitanya Mahāprabhu, no êxtase de amor a Deus, imediatamente cobriu a boca de Rāmānanda com Sua mão.

VERSO 194: “‘Oh! Antes de Nosso encontro, houve um apego inicial entre Nós, provocado por uma troca de olhares. Dessa maneira, desenvolveu-se o apego. Esse apego foi crescendo aos poucos, e já não há limite para ele. Agora, esse apego tornou-se algo natural entre Nós dois. Não é que seja devido a Kṛṣṇa, o desfrutador, tampouco é devido a Mim, por Eu ser a desfrutada. Não é bem assim. Esse apego tornou-se possível pelo Nosso encontro. Essa troca mútua de atração é conhecida como manobhava, ou o Cupido. A mente de Kṛṣṇa e a Minha mente fundiram-se em uma só. Agora, durante este período de separação, é muito difícil explicar esses casos amorosos. Meu caro amigo, talvez Kṛṣṇa tenha Se esquecido de todas essas coisas. No entanto, acho que podes entender o que se passa e levar-Lhe esta mensagem. Mas, durante Nosso primeiro encontro, não houve mensageiro algum entre Nós, nem Eu pedi que alguém fosse ter com Ele. Na verdade, Nosso intermediário foram cinco flechas do Cupido. Agora, durante este período de separação, aquela atração desenvolveu-se transformando-se em outro estado de êxtase. Meu caro amigo, por favor, age como mensageiro em Meu nome, pois, se alguém se apaixona por uma pessoa tão bela, esta é a consequência.’”

VERSO 195: “‘Ó meu Senhor, Tu vives na floresta da colina Govardhana, e, como o rei dos elefantes, és perito na arte do amor conjugal. Ó mestre do universo, Teu coração e o coração de Śrīmatī Rādhārāṇī são como goma-laca, e agora se derreteram em Tua transpiração espiritual. Devido a isso, não é mais possível distinguir entre Tu e Śrīmatī Rādhārāṇī. Agora, Vós misturastes Vossa afeição recém-invocada, a qual é como um vermelhão, com Vossos corações derretidos, e, para o benefício do mundo inteiro, pintastes de vermelho os Vossos corações dentro deste grande palácio do universo.’”

VERSO 196: Śrī Caitanya Mahāprabhu confirmou estes versos recitados por Śrī Rāmānanda Rāya, dizendo: “Este é o limite da meta da vida humana. Apenas por tua misericórdia é que pude compreendê-lo conclusivamente.”

VERSO 197: “Só se pode alcançar a meta da vida praticando o processo. Agora, por favor, tem misericórdia de Mim e explica-Me o meio pelo qual se pode atingir essa meta.”

VERSO 198: Śrī Rāmānanda Rāya respondeu: “Não sei o que estou dizendo, mas Tu me fizeste falar o que falei, seja bom, seja ruim. Faço apenas repetir esta mensagem.”

VERSO 199: “Quem dentro destes três mundos é tão imperturbável que poderia permanecer firme enquanto manobras Tuas diferentes energias?”

VERSO 200: “Na realidade, falas através de minha boca, e, ao mesmo tempo, estás ouvindo. Isso é muito misterioso. De qualquer forma, por favor, ouve a explicação de como se pode alcançar a meta.”

VERSO 201: “Os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa são muito confidenciais. Não se pode compreendê-los através das doçuras de serviço, de fraternidade ou da afeição de pai ou mãe.”

VERSO 202: “Na verdade, somente as gopīs têm o direito de apreciar estes passatempos transcendentais, os quais só podem expandir-se a partir delas.”

VERSO 203: “Sem as gopīs, não se pode fomentar esses passatempos entre Rādhā e Kṛṣṇa. Tais passatempos difundem-se apenas com a cooperação delas. Saborear as doçuras é ocupação delas.”

VERSOS 204-205: “Sem a ajuda das gopīs, não se pode ter acesso a esses passatempos. Somente aquele que adora o Senhor no êxtase das gopīs, seguindo-lhes os passos, pode ocupar-se a serviço de Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa nos bosques de Vṛndāvana. Apenas então pode-se compreender o amor conjugal entre Rādhā e Kṛṣṇa. Não há outro procedimento para compreendê-lo.”

VERSO 206: “‘Os passatempos de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa são autorrefulgentes. Além de serem a felicidade personificada, são ilimitados e todo-poderosos. Ainda assim, os sentimentos espirituais de tais passatempos jamais atingem sua plenitude sem as gopīs, as amigas pessoais do Senhor. A Suprema personalidade de Deus nunca é completa sem Suas potências espirituais; portanto, a menos que alguém se refugie nas gopīs, não poderá gozar da companhia de Rādhā e Kṛṣṇa. Quem poderia interessar-se em Seus passatempos espirituais sem refugiar-se nelas?’”

VERSO 207: “Há um fato inexplicável sobre as inclinações naturais das gopīs: elas nunca desejam divertir-se com Kṛṣṇa pessoalmente.”

VERSO 208: “A felicidade das gopīs aumenta dez milhões de vezes quando elas conseguem ocupar Śrī Śrī Rādhā e Kṛṣṇa em Seus passatempos transcendentais.”

VERSO 209: “Por natureza, Śrīmatī Rādhārāṇī é tal qual uma trepadeira de amor a Deus, e as gopīs são os galhos, flores e folhas desta trepadeira.”

VERSO 210: “Quando essa trepadeira é borrifada com o néctar dos passatempos de Kṛṣṇa, a felicidade sentida pelos galhos, flores e folhas é dez milhões de vezes maior do que a sentida pela própria trepadeira.”

VERSO 211: “‘Todas as gopīs, as amigas pessoais de Śrīmatī Rādhārāṇī, são iguais a Ela. Assim como a Lua é agradável à flor de lótus, Kṛṣṇa é agradável aos habitantes de Vrajabhūmi. Sua potência de dar prazer é conhecida como hlādinī, da qual Śrīmatī Rādhārāṇī é o princípio ativo. Compara-se Rādhārāṇī a uma trepadeira com tenras flores e folhas. Quando o néctar dos passatempos de Kṛṣṇa é borrifado sobre Śrīmatī Rādhārāṇī, todas as amigas dEla, as gopīs, imediatamente apreciam o prazer cem vezes mais do que se este néctar fosse borrifado sobre elas. Na realidade, isso não é nada surpreendente.’”

VERSO 212: “Embora as gopīs, as amigas de Śrīmatī Rādhārāṇī, não desejem divertir-se diretamente com Kṛṣṇa, Śrīmatī Rādhārāṇī faz um grande esforço para induzir Kṛṣṇa a divertir-Se com as gopīs.”

VERSO 213: “Apresentando diversos pretextos às gopīs, Śrīmatī Rādhārāṇī às vezes as envia a Kṛṣṇa apenas para que elas possam associar-se com Ele diretamente. Em tais ocasiões, Ela goza de uma felicidade dez milhões de vezes maior do que a desfrutada pelo contato direto.”

VERSO 214: “Este comportamento mútuo no transcendental amor a Deus fomenta a doçura transcendental. Ao ver como as gopīs desenvolveram amor puro por Ele, o Senhor Kṛṣṇa fica muito satisfeito.”

VERSO 215: “Note-se que a característica natural das gopīs é amar o Senhor Supremo. O desejo luxurioso delas não deve ser comparado à luxúria material. Não obstante, como às vezes este desejo parece semelhante à luxúria material, é comum descrever-se o amor transcendental delas por Kṛṣṇa como ‘luxúria’.”

VERSO 216: “Apesar de às vezes ser considerado luxurioso, o relacionamento das gopīs com Kṛṣṇa está na plataforma de amor puro por Deus. Como tais relacionamentos são inteiramente espirituais, todos os devotos mais queridos do Senhor, como Uddhava e outros, também desejam participar deles.”

VERSO 217: “Experimenta desejos luxuriosos quem está preocupado com o gozo de seus próprios sentidos. Essa não é a atitude das gopīs. O único desejo delas é satisfazer os sentidos de Kṛṣṇa.”

VERSO 218: “Entre as gopīs, não há sequer um fragmento de desejo de gozo dos sentidos. O único desejo delas é dar prazer a Kṛṣṇa, e, dessa maneira, elas convivem e desfrutam com Ele.”

VERSO 219: “As gopīs disseram: ‘Querido Kṛṣṇa, cautelosamente apoiamos Teus delicados pés de lótus sobre nossos seios rijos. Quando caminhas pela floresta, pequenos cascalhos machucam Teus macios pés de lótus. Tememos que isso seja doloroso para Ti. És nossa vida e alma, e nossa mente fica muito perturbada quando Teus pés de lótus ficam doloridos!’”

VERSO 220: “Aquele que se deixa atrair por este amor extático das gopīs não se importa com os princípios reguladores da vida védica nem para a opinião pública. Ao invés disso, rende-se plenamente a Kṛṣṇa e presta-Lhe serviço.”

VERSO 221: “Se alguém adora o Senhor no caminho do amor espontâneo e vai a Vṛndāvana, recebe o abrigo de Vrajendra-nandana, o filho de Nanda Mahārāja.”

VERSO 222: “Em sua fase liberada, o devoto se sente atraído por um dos cinco humores do transcendental serviço amoroso ao Senhor. À medida que continua servindo ao Senhor com esta atitude transcendental, ele obtém um corpo espiritual para servir a Kṛṣṇa em Goloka Vṛndāvana.”

VERSO 223: “Aqueles santos que apresentaram as Upaniṣads são exemplos vívidos disso. Adorando o Senhor no caminho do amor espontâneo, eles alcançaram os pés de lótus de Vrajendra-nandana, o filho de Nanda Mahārāja.”

VERSO 224: “‘Praticando o sistema de yoga místico e controlando a respiração, os grandes sábios conquistaram a mente e os sentidos. Dedicando-se assim ao yoga místico, viram a Superalma dentro de seus corações e, por fim, imergiram no Brahman impessoal. Contudo, mesmo os inimigos da Suprema Personalidade de Deus alcançam tal posição pelo simples fato de pensarem no Senhor Supremo. As donzelas de Vraja, as gopīs, queriam apenas abraçar Kṛṣṇa e segurar-Lhe os braços, que são como serpentes. Sentindo-se atraídas pela beleza de Kṛṣṇa, elas finalmente adquiriram um gosto pelo néctar dos pés de lótus do Senhor. Nós também podemos saborear o néctar dos pés de lótus de Kṛṣṇa seguindo os passos das gopīs.’”

VERSO 225: “A palavra ‘sama-dṛśaḥ’, mencionada na quarta linha do verso anterior, quer dizer: ‘ter a mesma atitude que têm as gopīs’. A palavra ‘samāḥ’ quer dizer: ‘obter um corpo semelhante àquele das gopīs’.”

VERSO 226: “A palavra ‘aṅghri-padma-sudhā’ significa ‘associar-se intimamente com Kṛṣṇa’. Só pode alcançar tal perfeição quem tem amor espontâneo por Deus. Não é possível obter Kṛṣṇa em Goloka Vṛndāvana pelo simples fato de servi-lO de acordo com os princípios reguladores.”

VERSO 227: “‘A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, o filho de mãe Yaśodā, é acessível àqueles devotos ocupados em serviço amoroso e espontâneo, mas não é tão facilmente acessível aos especuladores mentais, àqueles que se esforçam por alcançar a autorrealização mediante rigorosas austeridades e penitências ou àqueles que consideram o corpo e o eu como sendo a mesma coisa.’”

VERSO 228: “Portanto, deve-se aceitar o humor das gopīs no serviço a elas. Com semelhante atitude transcendental, deve-se pensar sempre nos passatempos de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa.”

VERSO 229: “Após pensar em Rādhā e Kṛṣṇa e em Seus passatempos por um longo tempo, e após livrar-se por completo da contaminação material, o devoto é transferido ao mundo espiritual. Ali, obtém a oportunidade de servir a Rādhā e Kṛṣṇa como uma das gopīs.”

VERSO 230: “Sem seguir os passos das gopīs, não se pode lograr o serviço aos pés de lótus de Kṛṣṇa, o filho de Nanda Mahārāja. Caso alguém se deixe dominar pelo conhecimento da opulência do Senhor, não poderá alcançar os pés de lótus do Senhor, mesmo que se ocupe em serviço devocional.”

VERSO 231: “O exemplo não mencionado a este respeito é o da deusa da fortuna, que adorou o Senhor Kṛṣṇa a fim de participar de Seus passatempos em Vṛndāvana. Contudo, devido a seu estilo de vida opulento, ela não pôde lograr o serviço a Kṛṣṇa em Vṛndāvana.”

VERSO 232: “‘Enquanto o Senhor Śrī Kṛṣṇa dançava com as gopīs na rāsa-līlā, Seus braços envolveram os pescoços das gopīs em um abraço. Nem a deusa da fortuna nem outras consortes no mundo espiritual jamais desfrutaram deste favor transcendental. Quanto às belíssimas moças dos planetas celestiais, cujo esplendor e aroma corpóreos assemelham-se exatamente aos de uma flor de lótus, elas nem chegaram a imaginar tal coisa. O que dizer, então, de mulheres mundanas, que são lindas segundo o consenso material?’”

VERSO 233: Após ouvir isso, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu abraçou Rāmānanda Rāya, e ambos, apoiando-se no ombro um do outro, começaram a chorar.

VERSO 234: A noite inteira transcorreu dessa maneira, em amor extático por Deus. De manhã, ambos partiram para cumprir seus respectivos deveres.

VERSO 235: Antes de separar-se de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Rāmānanda Rāya caiu ao chão e agarrou os pés de lótus do Senhor. Então, submissamente, falou o seguinte.

VERSO 236: Śrī Rāmānanda Rāya disse: “Vieste aqui somente para me mostrar Tua misericórdia imotivada. Portanto, permanece aqui pelo menos por dez dias e purifica a minha mente poluída.”

VERSO 237: “Além de Ti, não há ninguém que possa libertar todas as entidades vivas, pois apenas Tu podes conceder-nos amor a Kṛṣṇa.”

VERSO 238: O Senhor respondeu: “Tendo ouvido falar de tuas qualidades, vim aqui. Vim ouvir-te falar sobre Kṛṣṇa e, assim, purificar Minha mente.”

VERSO 239: “Agora que presenciei verdadeiramente tuas glórias, o que ouvi de ti está confirmado. Quanto aos passatempos amorosos de Rādhā e Kṛṣṇa, és o apogeu do conhecimento.”

VERSO 240: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “Para não falar de dez dias; enquanto Eu viver, terei como impossível abandonar tua companhia.”

VERSO 241: “Nós dois permaneceremos juntos em Jagannātha Purī. Passaremos nosso tempo juntos, alegremente conversando sobre Kṛṣṇa em Seus passatempos.”

VERSO 242: Dessa maneira, ambos partiram para cumprir seus respectivos deveres. Então, à noite, Rāmānanda Rāya voltou para ver o Senhor Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 243: Assim, eles se encontraram repetidas vezes, sentando-se ambos em um local isolado e conversando alegremente sobre os passatempos de Kṛṣṇa através do método de perguntas e respostas.

VERSO 244: Śrī Caitanya Mahāprabhu fazia as perguntas e Śrī Rāmānanda Rāya as respondia. Dessa maneira, eles passavam a noite inteira conversando.

VERSO 245: Em certa ocasião, o Senhor perguntou: “De todas as espécies de educação, qual é a mais importante?” Rāmānanda Rāya respondeu: “Não há outra educação mais importante do que o transcendental serviço devocional a Kṛṣṇa.”

VERSO 246: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou a Rāmānanda Rāya: “De todas as atividades gloriosas, qual é a mais gloriosa?” Rāmānanda Rāya respondeu: “Goza da maior fama e glória aquele que tem a reputação de ser devoto do Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 247: Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “Dos muitos capitalistas que possuem grandes riquezas, quem é o mais elevado?” Rāmānanda Rāya respondeu: “O maior capitalista é aquele que é mais rico em amor por Rādhā e Kṛṣṇa.”

VERSO 248: Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “De todos os tipos de sofrimento, qual é o mais doloroso?”
Śrī Rāmānanda Rāya respondeu: “Não conheço nenhuma infelicidade mais insuportável do que sentir saudade do devoto de Kṛṣṇa.”

VERSO 249: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “De todas as pessoas liberadas, qual devemos aceitar como a maior?” Rāmānanda Rāya respondeu: “Aquele que tem amor por Kṛṣṇa alcançou a liberação máxima.”

VERSO 250: A seguir, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou a Rāmānanda Rāya: “Dentre muitas canções, que canção devemos considerar como a verdadeira religião da entidade viva?” Rāmānanda Rāya respondeu: “Aquela canção que descreve os casos amorosos de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa é superior a todas as demais canções.”

VERSO 251: “De todas as atividades benéficas e auspiciosas, qual é a melhor para a entidade viva?” Rāmānanda Rāya respondeu: “A única atividade auspiciosa é associar-se com os devotos de Kṛṣṇa.”

VERSO 252: Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “De que se devem lembrar constantemente todas as entidades vivas?” Rāmānanda Rāya respondeu: “O principal objeto de lembrança sempre será o santo nome do Senhor, Suas qualidades e Seus passatempos.”

VERSO 253: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “Dentre as muitas espécies de meditação, qual é a que deve ser feita por todas as entidades vivas?” Śrīla Rāmānanda Rāya respondeu: “O dever principal de toda entidade viva é meditar nos pés de lótus de Rādhā e Kṛṣṇa.”

VERSO 254: Śrī Caitanya Mahāprabhu indagou: “Onde deve viver a entidade viva, abandonando todos os outros locais?” Rāmānanda Rāya respondeu: “No lugar sagrado conhecido como Vṛndāvana, ou Vrajabhūmi, onde o Senhor realizou Sua dança da rāsa.”

VERSO 255: Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “De todos os assuntos que as pessoas ouvem, qual é o melhor para todas as entidades vivas?” Rāmānanda Rāya respondeu: “Ouvir sobre os casos amorosos entre Rādhā e Kṛṣṇa é o que existe de mais agradável ao ouvido.”

VERSO 256: Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou: “Entre todos os objetos adoráveis, qual é o principal?” Rāmānanda Rāya respondeu: “O principal objeto adorável é o santo nome de Rādhā e Kṛṣṇa, o mantra Hare Kṛṣṇa.”

VERSO 257: “E qual é o destino daqueles que desejam liberação e daqueles que desejam gozo dos sentidos?”, perguntou Śrī Caitanya Mahāprabhu. Rāmānanda Rāya respondeu: “Aqueles que tentarem fundir-se na existência do Senhor Supremo serão obrigados a aceitar um corpo como o de uma árvore. E aqueles que estiverem excessivamente inclinados ao gozo dos sentidos obterão corpos de semideuses.”

VERSO 258: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “Aqueles que estão destituídos de todas as doçuras são como os corvos que sugam o suco das frutas amargas da árvore nimba do conhecimento, ao passo que os que desfrutam de doçuras são como os cucos que comem os brotos da mangueira do amor a Deus.”

VERSO 259: Rāmānanda Rāya concluiu: “Os desventurados filósofos empíricos degustam o processo árido do conhecimento filosófico, ao passo que os devotos regularmente bebem o néctar do amor a Kṛṣṇa. Logo, eles são os mais afortunados de todos.”

VERSO 260: Dessa maneira, tanto Caitanya Mahāprabhu quanto Rāmānanda Rāya passaram toda a noite saboreando a doçura de kṛṣṇa-kathā, assuntos sobre Kṛṣṇa. Enquanto cantavam, dançavam e choravam, a noite chegou ao fim.

VERSO 261: Na manhã seguinte, ambos partiram para cumprir seus respectivos deveres; à noite, porém, Rāmānanda Rāya foi mais uma vez ao encontro do Senhor.

VERSO 262: Na noite seguinte, após conversar sobre Kṛṣṇa por algum tempo, Rāmānanda Rāya agarrou os pés de lótus do Senhor e falou o seguinte.

VERSO 263: “Há variedade transcendental nas conversas sobre Kṛṣṇa e Rādhārāṇī e Seus transcendentais casos amorosos, emoções e passatempos.”

VERSO 264: Então, Rāmānanda Rāya admitiu: “Manifestaste muitas verdades transcendentais em meu coração. Essa foi exatamente a maneira pela qual Nārāyaṇa educou o senhor Brahmā.”

VERSO 265: Rāmānanda Rāya continuou: “A Superalma dentro do coração de todos fala internamente, e não externamente. Sob todos os aspectos, Ele instrui os devotos, e esse é Seu método de instruir.”

VERSO 266: “‘Presto minhas reverências ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, o filho de Vasudeva, que é a Suprema e onipenetrante Personalidade de Deus. Medito nEle, a realidade transcendental, a causa primordial de todas as causas, de quem surgem todos os universos manifestos, em quem eles repousam e por quem são destruídos. Medito neste Senhor eternamente refulgente, que é direta e indiretamente consciente de todas as manifestações, e que é independente em virtude de não haver nenhuma causa superior a Ele. Foi Ele apenas quem primeiramente transmitiu o conhecimento védico ao coração de Brahmā, a primeira criatura. Através dEle, este mundo, tal qual uma miragem, parece real inclusive para grandes sábios e semideuses. Por causa dEle, os universos materiais, criados pelos três modos da natureza, parecem reais, embora sejam irreais. Portanto, medito nEle, a Verdade Absoluta, que existe eternamente em Sua morada transcendental e que é sempre livre da ilusão.’”

VERSO 267: Então, dizendo possuir apenas uma dúvida em seu coração, Rāmānanda Rāya suplicou ao Senhor: “Por favor, tem misericórdia de mim e elimina minha dúvida.”

VERSO 268: Assim, Rāmānanda Rāya disse ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu: “A princípio, vi-Te aparecer como um sannyāsī, mas, agora, vejo-Te como Śyāmasundara, o vaqueirinho.”

VERSO 269: “Agora vejo-Te aparecer como um boneco dourado, e todo o Teu corpo parece coberto por um brilho dourado.”

VERSO 270: “Vejo que estás segurando uma flauta em Tua boca, e Teus olhos de lótus movem-se muito inquietamente devido a diversos êxtases.”

VERSO 271: “Na verdade, é assim que Te vejo, e isso é muito maravilhoso. Meu Senhor, por favor, dize-me, sem duplicidade, qual é o motivo disso.”

VERSO 272: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Tens um profundo amor por Kṛṣṇa, e aquele que tem tão profundo amor extático pelo Senhor naturalmente vê as coisas de tal maneira. Por favor, acredita no que Eu te digo.”

VERSO 273: “Um devoto avançado na plataforma espiritual vê tudo, tanto o móvel quanto o inerte, como se fosse o Senhor Supremo. Para ele, tudo o que se vê em toda parte é apenas manifestações do Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 274: “Por certo que o mahā-bhāgavata, o devoto avançado, vê todas as coisas móveis e imóveis, mas não vê exatamente suas formas. Ao invés disto, em toda parte, ele imediatamente vê manifesta a forma do Senhor Supremo.”

VERSO 275: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “‘Quem é avançado em serviço devocional percebe dentro de tudo a alma das almas, a Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa. Consequentemente, sempre vê a forma da Suprema Personalidade de Deus como a causa de todas as causas e compreende que todas as coisas se encontram nEle.’”

VERSO 276: “‘As plantas, trepadeiras e árvores estavam repletas de frutas e flores devido ao amor extático por Kṛṣṇa. Estavam tão carregadas que se inclinavam. Tão profundo amor por Kṛṣṇa as inspirava que elas despejavam constantes chuvas de mel. As gopīs viam toda a floresta de Vṛndāvana dessa maneira.’”

VERSO 277: O Senhor Caitanya Mahāprabhu continuou: “Meu querido Rāya, és um devoto avançado e estás sempre cheio de amor extático por Rādhā e Kṛṣṇa. Portanto, tudo o que vês – em toda e qualquer parte – só faz despertar a tua consciência de Kṛṣṇa.”

VERSO 278: Rāmānanda Rāya respondeu: “Meu querido Senhor, por favor, abandona todas essas conversas de grande seriedade. Por favor, não me ocultes Tua forma verdadeira.”

VERSO 279: Rāmānanda Rāya prosseguiu: “Meu querido Senhor, posso compreender que assumiste o êxtase e a tez de Śrīmatī Rādhārāṇī. Ao fazê-lo, saboreias Teus próprios sentimentos transcendentais, motivo pelo qual apareceste como Śrī Caitanya Mahāprabhu.”

VERSO 280: “Meu querido Senhor, desceste sob esta encarnação de Senhor Caitanya por Tuas próprias razões pessoais. Vieste saborear Tua própria bem-aventurança espiritual e, ao mesmo tempo, estás transformando o mundo inteiro ao propagares o êxtase do amor a Deus.”

VERSO 281: “Meu querido Senhor, por Tua misericórdia imotivada, apareceste para conceder-me a liberação. Agora, estás atuando com duplicidade. Qual é o motivo desse comportamento?”

VERSO 282: O Senhor Śrī Kṛṣṇa é o reservatório de todo o prazer, e Śrīmatī Rādhārāṇī é a personificação do amor extático por Deus. Essas duas formas combinaram-se em uma só como Śrī Caitanya Mahāprabhu. Sendo assim, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu revelou Sua forma verdadeira a Rāmānanda Rāya.

VERSO 283: Ao ver essa forma, Rāmānanda Rāya quase perdeu a consciência em bem-aventurança transcendental. Incapaz de permanecer de pé, caiu ao chão.

VERSO 284: Tendo Rāmānanda Rāya caído inconsciente ao solo, Caitanya Mahāprabhu tocou em sua mão, e ele imediatamente recuperou a consciência. Contudo, ao ver o Senhor Caitanya vestido de sannyāsī, ele ficou assombrado.

VERSO 285: Após abraçar Rāmānanda Rāya, o Senhor apaziguou-o, informando-o: “A não ser tu, ninguém jamais viu esta forma.”

VERSO 286: Śrī Caitanya Mahāprabhu confirmou: “Todas as verdades sobre Meus passatempos e doçuras são de teu conhecimento. Por isso, mostrei-te esta forma.”

VERSO 287: “Na verdade, Meu corpo não é de compleição clara. Ele só parece ser porque tocou o corpo de Śrīmatī Rādhārāṇī. Porém, Ela não toca em ninguém mais senão o filho de Nanda Mahārāja.”

VERSO 288: “Agora transformei Meu corpo e mente no êxtase de Śrīmatī Rādhārāṇī; assim, estou saboreando Minha própria doçura sob esta forma.”

VERSO 289: Então, o Senhor Caitanya Mahāprabhu admitiu para Seu devoto puro, Rāmānanda Rāya: “Agora não resta nenhuma atividade confidencial que desconheças. Mesmo que Eu tente ocultar Minhas atividades, podes compreender tudo minuciosamente em virtude de teu avançado amor por Mim.”

VERSO 290: Então, o Senhor pediu a Rāmānanda Rāya: “Mantém todas estas conversas em segredo. Por favor, não as exponhas em parte alguma. Uma vez que Minhas atividades se parecem com as de um louco, as pessoas poderão encará-las de forma leviana e rir delas.”

VERSO 291: Caitanya Mahāprabhu disse então: “De fato, sou um louco, e tu também és um louco. Portanto, estamos ambos na mesma plataforma.”

VERSO 292: Por dez noites, o Senhor Caitanya Mahāprabhu e Rāmānanda Rāya passaram horas felizes conversando sobre os passatempos de Kṛṣṇa.

VERSO 293: As conversas entre Rāmānanda Rāya e Śrī Caitanya Mahāprabhu contêm os assuntos mais confidenciais, referentes ao amor conjugal entre Rādhā e Kṛṣṇa em Vṛndāvana [Vrajabhūmi]. Apesar de ambos terem conversado muito extensivamente sobre esses passatempos, não puderam chegar ao fim da conversa.

VERSO 294: Na realidade, essas conversas são como uma grande mina da qual se pode extrair, de um único local, toda classe de metais – cobre, bronze, prata, ouro – e também a pedra filosofal, a base de todos os metais.

VERSO 295: Tanto Śrī Caitanya Mahāprabhu quanto Rāmānanda Rāya trabalharam como mineiros, escavando toda classe de metais preciosos, cada um melhor que o outro. Suas perguntas e respostas são exatamente assim.

VERSO 296: No dia seguinte, Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu a Rāmānanda Rāya permissão para partir, e, na hora da despedida, o Senhor deu-lhe as seguintes ordens.

VERSO 297: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse-lhe: “Abandona todas as ocupações materiais e vai para Jagannātha Purī. Eu voltarei para lá muito em breve, após terminar Minhas viagens e peregrinações.”

VERSO 298: “Nós dois permaneceremos juntos em Jagannātha Purī, onde alegremente passaremos nossos momentos conversando sobre Kṛṣṇa.”

VERSO 299: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu abraçou Śrī Rāmānanda Rāya e, após enviá-lo de volta à sua casa, o Senhor descansou.

VERSO 300: Na manhã seguinte, após despertar, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo local, onde havia uma deidade de Hanumān. Após prestar-lhe reverências, o Senhor partiu para o sul da Índia.

VERSO 301: Os residentes de Vidyānagara tinham diferentes crenças, mas, após verem Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos abandonaram suas crenças pessoais e tornaram-se vaiṣṇavas.

VERSO 302: Ao começar a sentir saudades de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Rāmānanda Rāya ficou aturdido. Meditando no Senhor, ele abandonou todas as suas ocupações materiais.

VERSO 303: Acabo de descrever resumidamente o encontro entre Śrī Caitanya Mahāprabhu e Rāmānanda Rāya. Na realidade, ninguém é capaz de descrever cabalmente este encontro. Isso é impossível até mesmo para o Senhor Śeṣa Nāga, que tem milhares de capelos.

VERSO 304: As atividades de Śrī Caitanya Mahāprabhu são como leite condensado, e as atividades de Rāmānanda Rāya são como uma grande quantidade de açúcar-cande.

VERSO 305: O encontro deles é exatamente como uma mistura de leite condensado com açúcar-cande. Ao conversarem sobre os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa, foi como se juntasse cânfora à mistura. Caso alguém experimente essa preparação com todos os seus ingredientes, ele é muito afortunado.

VERSO 306: Esta preparação maravilhosa deve ser bebida pelos ouvidos. Quem dela prova ambiciona saboreá-la ainda mais.

VERSO 307: Aquele que ouve as conversas entre Rāmānanda Rāya e Śrī Caitanya Mahāprabhu desperta para o conhecimento transcendental das doçuras dos passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa. Assim, pode desenvolver amor imaculado pelos pés de lótus de Rādhā e Kṛṣṇa.

VERSO 308: O autor solicita a todos os leitores que ouçam estas conversas com fé e sem argumentação. Estudando-as desta maneira, todos serão capazes de compreender a verdade confidencial sobre Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 309: Esta parte dos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu é muito confidencial. Para obtermos benefícios rapidamente, basta termos fé; caso argumentemos, ficaremos sempre muito distantes.

VERSO 310: Aquele que aceitou os pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu, de Nityānanda Prabhu e de Advaita Prabhu como tudo pode conseguir este tesouro transcendental.

VERSO 311: Presto dez milhões de reverências aos pés de lótus de Śrī Rāmānanda Rāya, pois, a partir de sua boca, Śrī Caitanya Mahāprabhu expandiu muitas informações espirituais.

VERSO 312: Tenho procurado pregar sobre os passatempos do encontro do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu com Rāmānanda Rāya segundo as anotações de Śrī Svarūpa Dāmodara.

VERSO 313: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta seguindo seus passos.

« Previous Next »