VERSOS 204-205
sakhī vinā ei līlāya anyera nāhi gati
sakhī-bhāve ye tāṅre kare anugati
rādhā-kṛṣṇa-kuñjasevā-sādhya sei pāya
sei sādhya pāite āra nāhika upāya
sakhī vinā — sem as gopīs; ei līlāya — nesses passatempos; anyera — de outros; nāhi — não há; gati — acesso; sakhī-bhāve — no humor das gopīs; ye — todo aquele que; tāṅre — o Senhor Kṛṣṇa; kare — faz; anugati — seguindo; rādhā-kṛṣṇa — de Rādhā e Kṛṣṇa; kuñja-sevā — do serviço nos kuñjas, ou jardins, de Vṛndāvana; sādhya — a meta; sei pāya — obtém; sei — isto; sādhya — conquista; pāite — de receber; āra — outro; nāhika — não há; upāya — meio.
“Sem a ajuda das gopīs, não se pode ter acesso a esses passatempos. Somente aquele que adora o Senhor no êxtase das gopīs, seguindo-lhes os passos, pode ocupar-se a serviço de Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa nos bosques de Vṛndāvana. Apenas então pode-se compreender o amor conjugal entre Rādhā e Kṛṣṇa. Não há outro procedimento para compreendê-lo.”
SIGNIFICADO—O método para regressar ao lar, para voltar ao Supremo, é o serviço devocional, mas cada um sente um gosto diferente no serviço ao Senhor. Alguém pode ter inclinação para servir o Senhor em postura de serviço (dāsya-rasa), fraternidade (sakhya-rasa) ou amor de pai ou mãe (vātsalya-rasa), mas nada disso pode capacitá-lo a praticar serviço ao Senhor em amor conjugal. Para alcançar tal serviço, é preciso seguir os passos das gopīs no êxtase de sakhī-bhāva. Somente então pode-se compreender a doçura transcendental do amor conjugal.
No Ujjvala-nīlamaṇi (Sakhī-prakaraṇa 1), Śrīla Rūpa Gosvāmī aponta:
prema-līlā-vihārāṇāṁ
samyag vistārikā sakhī
viśrambha-ratna-peṭī ca
A pessoa que expande o amor conjugal de Kṛṣṇa e Seu desfrute entre as gopīs chama-se sakhī. Tal pessoa é uma gopī íntima nos romances conjugais. Tais assistentes são como joias na forma das confidentes de Kṛṣṇa. O Ujjvala-nīlamaṇi (Sakhī-prakaraṇa 88-91) descreve a verdadeira ocupação das sakhīs da seguinte maneira:
mithaḥ prema-guṇotkīrtis
tayor āsakti-kāritā
abhisāro dvayor eva
sakhyāḥ kṛṣṇe samarpaṇam
narmāśvāsana-nepathyaṁ
hṛdayodghāṭa-pāṭavam
chidra-saṁvṛtir etasyāḥ
paty-ādeḥ parivañcanā
śikṣā saṅgamanaṁ kāle
sevanaṁ vyajanādibhiḥ
tayor dvayor upālambhaḥ
sandeśa-preṣaṇaṁ tathā
nāyikā-prāṇa-saṁrakṣā
prayatnādyāḥ sakhī-kriyāḥ
Nos passatempos conjugais de Kṛṣṇa, Kṛṣṇa é o herói (nāyaka), e Rādhikā, a heroína (nāyikā). A primeira função das gopīs é cantar as glórias tanto do herói quanto da heroína. A segunda função delas é criar aos poucos uma situação na qual o herói Se sinta atraído pela heroína e vice-versa. Como terceira função, elas induzem ambos a aproximarem-Se um do outro. A quarta função delas é renderem-se a Kṛṣṇa; a quinta, criar uma atmosfera jovial; a sexta, garantir-Lhes de que podem gozar de Seus passatempos; a sétima, vestir e decorar tanto o herói quanto a heroína; a oitava, saber expressar habilmente os desejos de ambos; a nona, esconder as falhas da heroína; a décima, enganar seus respectivos esposos e parentes; a décima primeira, educar; a décima segunda, capacitar tanto o herói quanto a heroína a encontrarem-Se no momento oportuno; a décima terceira, abanar tanto o herói quanto a heroína; a décima quarta, de vez em quando censurar o herói e a heroína; a décima quinta, promover conversas entre ambos; e a décima sexta, proteger a heroína de diversas maneiras.
Certos sahajiyās materialistas, que, na realidade, não podem entender os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa, criam seu próprio estilo de vida sem referir-se à autoridade. Tais sahajiyās chamam-se sakhī-bhekī, e, às vezes, são chamados de gaura-nāgarīs. Eles creem que Kṛṣṇa gosta de desfrutar de corpos materiais, os quais servem de comida para chacais e cães. Em consequência disso, julgando-se sakhīs, eles artificialmente decoram seus corpos materiais para atrair Kṛṣṇa. No entanto, Kṛṣṇa jamais Se sente atraído por penteados e maquiagens artificiais de corpos materiais. Quanto a Śrīmatī Rādhārāṇī e Suas gopīs; seus corpos, lares, roupas, ornamentos, esforços e atividades são todos espirituais – todos eles se destinam a satisfazer os sentidos espirituais de Kṛṣṇa. Na verdade, são muito agradáveis e encantadores para Kṛṣṇa, tanto que a influência de Śrīmatī Rādhārāṇī e Suas amigas O conquista. Elas nada têm a ver com algo mundano dentro dos quatorze sistemas planetários do universo. Embora Kṛṣṇa seja atrativo para todos, Ele Se atrai pelas gopīs e por Śrīmatī Rādhārāṇī.
Ninguém deve deixar-se desencaminhar por invenções mentais supondo que seu corpo material é perfeito e julgando-se uma sakhī. Fazer isso é algo parecido com ahaṅgrahopāsanā, a adoração que o māyāvādī faz a seu próprio corpo como se este fosse o Supremo. Śrīla Jīva Gosvāmī acautela as pessoas mundanas a absterem-se de tais concepções. Ele também adverte que julgar-se um dos associados do Supremo sem seguir os passos das gopīs é tão ofensivo quanto julgar-se o Supremo. Tal pensamento recebe a designação de aparādha. Deve-se praticar viver em Vṛndāvana, ouvindo sobre as conversas das gopīs com Kṛṣṇa. Contudo, ninguém deve considerar-se uma gopī, pois isso é ofensivo.