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VERSO 90

kṛṣṇera pratijñā dṛḍha sarva-kāle āche
ye yaiche bhaje, kṛṣṇa tāre bhaje taiche

kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; pratijñā — a promessa; dṛḍha — sólida; sarva-kāle — em todos os tempos; āche — há; ye — qualquer pessoa que; yaiche — assim como; bhaje — presta serviço; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; tāre — ele; bhaje — reciproca com; taiche — para sempre.

“O Senhor Kṛṣṇa fez uma promessa sólida e eterna. Se alguém Lhe presta serviço, Kṛṣṇa corresponde dando-lhe uma quantidade igual de êxito em serviço devocional a Ele.”

SIGNIFICADO—É uma ideia completamente errada a de que se pode adorar Kṛṣṇa sob qualquer forma ou de qualquer maneira e, ainda assim, alcançar o resultado final, recebendo o favor do Senhor. Essa é a conclusão a que chegam os materialistas grosseiros. De um modo geral, tais homens dizem ser possível que cada um fabrique seu próprio método de adorar o Senhor Supremo e que qualquer espécie de adoração é suficiente para aproximar alguém da Suprema Personalidade de Deus. Com certeza, existem diferentes métodos para se alcançar diferentes resultados nos caminhos de atividade fruitiva, conhecimento especulativo, yoga místico e austeridade. Portanto, homens rudes dizem que, caso se adote qualquer um desses métodos, alcança-se o favor da Suprema Personalidade de Deus. Alegam que não importa a espécie de método adotado e dão um exemplo geral. Se alguém deseja chegar a determinado lugar, existem muitos caminhos que levam até lá, podendo ele ir àquele lugar por qualquer um desses caminhos. Analogamente, esses materialistas grosseiros dizem que há diferentes métodos para se alcançar o favor da Suprema Personalidade de Deus. Afirmam ser possível conceber a Suprema Personalidade de Deus como a deusa Durgā, a deusa Kālī, o senhor Śiva, o semideus Gaṇeśa, o Senhor Rāmacandra, Kṛṣṇa, o Brahman impessoal ou o que quer que seja, podendo-se cantar o nome do Senhor de qualquer maneira ou de qualquer forma e, por fim, tornar-se uno com Ele. Tais materialistas afirmam que o resultado é o mesmo. Dizem também que um homem pode ter diferentes nomes, mas que responderá se chamado por qualquer um deles. Portanto, declaram que não há necessidade de cantar o mantra Hare Kṛṣṇa. Se alguém cantar o nome de Kālī, Durgā, Śiva, Gaṇeśa ou qualquer outro, o resultado será o mesmo.

Não há dúvida de que tais declarações feitas por especuladores mentais os agradam muito, mas aqueles que têm conhecimento verdadeiro não admitem tais conclusões, as quais são contrárias à autoridade dos śāstras. Um ācārya fidedigno certamente não aceitará tais conclusões. Como Kṛṣṇa afirma claramente na Bhagavad-gītā (9.25):

yānti deva-vratā devān
pitṝn yānti pitṛ-vratāḥ
bhūtāni yānti bhūtejyā

yānti mad-yājino ’pi mām

“Os adoradores de semideuses nascerão entre os semideuses, os adoradores de fantasmas e espíritos nascerão entre tais seres, os adoradores de ancestrais irão ter com os ancestrais, e os que Me adorarem viverão coMigo.”

Poderão ser admitidos somente os devotos do Senhor no Seu reino – e não os adoradores de semideuses, os karmīs, os yogīs ou outros mais. Quem deseja elevação aos planetas celestiais adora diversos semideuses, e a natureza material talvez se satisfaça em oferecer a tais devotos as posições desejadas. Consequentemente, a natureza material confere a cada um a sua própria natureza, através do que ele aumenta sua afeição por diferentes classes de semideuses. No entanto, a Bhagavad-gītā diz que a adoração a semideuses se destina a homens que perderam toda a inteligência.

kāmais tais tair hṛta-jñānāḥ
prapadyante ’nya-devatāḥ
taṁ taṁ niyamam āsthāya

prakṛtyā niyatāḥ svayā

“Aqueles cujas mentes estão distorcidas por desejos materiais rendem-se a semideuses e observam as regras e regulações particulares de adoração segundo suas próprias naturezas.” (Bhagavad-gītā 7.20)

Mesmo que alguém se eleve aos planetas celestiais, os resultados de tal bênção são limitados.

anta-vat tu phalaṁ teṣāṁ
tad bhavaty alpa-medhasām
devān deva-yajo yānti

mad-bhaktā yānti mām api

“Homens de pouca inteligência adoram os semideuses, e seus frutos são limitados e temporários. Aqueles que adoram os semideuses vão para os planetas dos semideuses; Meus devotos, porém, alcançam Meu planeta supremo.” (Bhagavad-gītā 7.23)

Elevar-se aos planetas celestiais ou a outros planetas materiais não significa alcançar a vida eterna de conhecimento e bem-aventurança. No final do mundo material, todas as consecuções de elevação material também terminarão. Ainda segundo Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā (18.55), apenas aqueles que se dedicarem a Seu serviço devocional amoroso serão admitidos no mundo espiritual e voltarão ao Supremo, e não outros.

bhaktyā mām abhijānāti
yāvān yaś cāsmi tattvataḥ
tato māṁ tattvato jñātvā

viśate tad-anantaram

“É apenas prestando serviço devocional que se pode compreender a Personalidade Suprema como Ela é. E quem tem plena consciência do Senhor Supremo através de tal devoção pode entrar no reino de Deus.”

Os impersonalistas não podem entender a Suprema Personalidade de Deus; portanto, não lhes é possível entrar no reino espiritual de Deus e voltar ao lar, voltar ao Supremo. Na realidade, obtêm-se diferentes resultados por diferentes meios. Não é que todas as conquistas sejam iguais. Não se pode comparar os interessados nos quatro princípios de dharma, artha, kāma e mokṣa com as pessoas interessadas no imaculado serviço devocional ao Senhor. Portanto, o Śrīmad-Bhāgavatam (1.1.2) diz:

dharmaḥ projjhita-kaitavo ’tra paramo nirmatsarāṇāṁ satāṁ
vedyaṁ vāstavam atra vastu śiva-daṁ tāpa-trayonmūlanam
śrīmad-bhāgavate mahā-muni-kṛte kiṁ vā parair īśvaraḥ
sadyo hṛdy avarudhyate ’tra kṛtibhiḥ śuśrūṣubhis tat-kṣaṇāt

“Rejeitando por completo todas as atividades religiosas materialmente motivadas, este Bhāgavata Purāṇa propõe a verdade máxima, que é compreensível àqueles devotos que são puros de coração. A verdade mais elevada distingue-se da ilusão por ser a realidade para o bem-estar de todos. Tal verdade desarraiga as três espécies de sofrimentos. Este belo Bhāgavatam, compilado pelo grande sábio Śrī Vyāsadeva, é por si só suficiente para que se compreenda Deus. Tão logo alguém ouça atenta e submissamente a mensagem do Bhāgavatam, apega-se ao Senhor Supremo.”

Aqueles que aspiram à liberação tentam fundir-se no Brahman impessoal. Com esse objetivo, realizam cerimônias ritualísticas religiosas, mas o Śrīmad-Bhāgavatam considera esse processo como enganador. Na verdade, tais pessoas nunca podem sonhar em voltar ao lar, em voltar ao Supremo. Há um abismo de diferença entre a meta de dharma, artha, kāma e mokṣa e a meta do serviço devocional.

A deusa Durgā é a deidade superintendente deste mundo material, feito de elementos materiais. Os semideuses são apenas diferentes diretores encarregados de operar os departamentos de atividades materiais, estando sob a influência da própria energia material. As potências internas de Kṛṣṇa, contudo, nada têm a ver com a criação deste mundo cósmico material. O mundo espiritual e todas as atividades espirituais estão sob a orientação da energia espiritual interna, e tais atividades são executadas por yogamāyā, a energia espiritual. Yogamāyā é a energia espiritual, ou energia interna, da Suprema Personalidade de Deus. Aqueles que estão interessados em ser promovidos ao mundo espiritual e dedicar-se ao serviço do Senhor alcançam a perfeição espiritual sob o controle de yogamāyā. Aqueles que se interessam em promoção material ocupam-se em cerimônias ritualísticas religiosas e em desenvolvimento econômico para aprimorar o gozo dos sentidos. Eles finalmente tentam fundir-se na existência impessoal do Senhor. De um modo geral, tais pessoas tornam-se impersonalistas, interessadas em adorar o senhor Śiva ou a deusa Durgā, mas a recompensa que conseguem é cem por cento materialista.

Seguindo o exemplo das gopīs, os devotos às vezes adoram a deusa Kātyāyanī, mas compreendem que Kātyāyanī é uma encarnação de yogamāyā. As gopīs adoraram Kātyāyanī, yogamāyā, para conseguir Kṛṣṇa como seu esposo. Por outro lado, afirma-se na escritura Sapta-śatī que certo rei kṣatriya chamado Suratha e um rico vaiśya chamado Samādhi adoraram a natureza material sob a forma da deusa Durgā para alcançar a perfeição material. Se alguém tenta misturar a adoração de yogamāyā com a de mahamāyā, considerando-as a mesma coisa, não demonstra realmente uma inteligência muito elevada. A ideia de que tudo é a mesma coisa é uma espécie de tolice praticada por aqueles que possuem pouca massa cinzenta. Tolos e patifes dizem que a adoração de yogamāyā e a de mahamāyā são a mesma coisa. Essa conclusão trata-se apenas do resultado da especulação mental, não tendo nenhum efeito prático. No mundo material, é comum que alguém conceda um título exaltado a uma coisa inteiramente indigna, o que na Bengala é conhecido como dar a uma criança cega o nome de Padmalocana, que significa “de olhos de lótus”. Pode-se tolamente chamar uma criança cega de Padmalocana, mas tal designação não tem nenhum sentido.

No mundo espiritual, o Senhor Absoluto é sempre idêntico a Seus nome, fama, forma, qualidades e passatempos. Tal identidade é impossível no mundo material, onde o nome de uma pessoa é diferente da própria pessoa. O Senhor Supremo tem muitos santos nomes, como Paramātmā, Brahman e o Criador, mas aquele que adora o Senhor como o Criador não pode entender a relação entre um devoto e o Senhor nas cinco classes de doçuras transcendentais nem pode ter verdadeira concepção de Kṛṣṇa. Não é simplesmente compreendendo a Suprema Personalidade de Deus como o Brahman impessoal que se pode entender as seis opulências transcendentais do Senhor.

A compreensão impessoal da Verdade Absoluta é certamente transcendental, mas isso não significa que alguém possa entender a forma sac-cid-ānanda do Senhor dessa maneira. De modo semelhante, a compreensão de Paramātmā também é uma compreensão incompleta da Verdade Absoluta. A expansão plenária da Verdade Absoluta dentro do coração de todos é o aspecto Paramātmā do Senhor. Um devoto da Personalidade de Deus, Nārāyaṇa, não pode realmente entender os aspectos atrativos transcendentais de Kṛṣṇa. Por outro lado, o devoto de Kṛṣṇa que se apega ao sublime aspecto atrativo do Senhor não considera Nārāyaṇa muito importante. Às vezes, ao verem Kṛṣṇa sob a forma de Nārāyaṇa, as gopīs não ficavam muito atraídas por Ele. As gopīs nunca chamaram Kṛṣṇa de Rukmiṇī-ramaṇa. Os devotos de Kṛṣṇa em Vṛndāvana chamam-nO de Rādhāramaṇa, Nandanandana e Yaśodānandana, mas não de Vasudeva-nandana e Devakī-nandana. Embora, segundo a concepção material, Nārāyaṇa, Rukmiṇī-ramaṇa e Kṛṣṇa sejam a mesma coisa; no mundo espiritual, não se pode usar o nome de Rukmiṇī-ramaṇa ou Nārāyaṇa em lugar de Kṛṣṇa. Caso alguém faça isso devido a um pobre fundo de conhecimento, sua doçura de relacionamento com o Senhor torna-se espiritualmente defeituosa, sendo chamada rasābhāsa, uma sobreposição de doçuras transcendentais. O devoto avançado que tenha realmente compreendido os aspectos transcendentais do Senhor não cometerá o erro de criar uma situação de rasābhāsa usando um nome no lugar de outro. Devido à influência de Kali-yuga, há excesso de rasābhāsa em nome de extravagância e liberalidade. Os devotos puros não apreciam nem um pouco esse fanatismo.

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