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Introdução

kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! he
kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! he
kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! rakṣa mām
kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! kṛṣṇa! pāhi mām
rāma! rāghava! rāma! rāghava! rāma! rāghava! rakṣa mām
kṛṣṇa! keśava! kṛṣṇa! keśava! kṛṣṇa! keśava! pāhi mām

Caitanya-caritāmṛta (Madhya 7.96)

Ao tentar escrever este livro, Kṛṣṇa, deixem-me primeiro oferecer minhas respeitosas reverências a meu mestre espiritual Oṁ Viṣṇupāda 108 Śrī Śrīmad Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja Prabhupāda. Deixem-me, em seguida, oferecer minhas respeitosas reverências ao oceano de misericórdia, o Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o próprio Kṛṣṇa, que aparece no papel de um devoto só para distribuir os mais elevados princípios do serviço devocional. O Senhor Caitanya começou Sua pregação pela região chamada Gauḍadeśa (Bengala Ocidental). E, como pertenço à Madhva-Gauḍīya-sampradāya, devo oferecer minhas respeitosas reverências à nossa sucessão discipular. Esta Madhva-Gauḍīya-sampradāya também é conhecida como Brahma-sampradāya porque a sucessão discipular começou originalmente de Brahmā. Brahmā instruiu o sábio Nārada, Nārada instruiu Vyāsadeva e Vyāsadeva instruiu Madhva Muni ou Madhvācārya. Mādhavendra Purī, o fundador da Madhva-Gauḍīya-sampradāya, pertencia à sucessão discipular de Madhvācārya; ele teve muitos discípulos célebres, tanto na ordem de vida renunciada, sannyāsa, quanto na ordem de vida matrimonial – discípulos tais como Nityānanda Prabhu, Advaita Prabhu e Īśvara Purī, que foi o mestre espiritual do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Ofereçamos, portanto, nossas respeitosas reverências a Īśvara Purī, Nityānanda Prabhu, Śrī Advaita Ācārya Prabhu, Śrīvāsa Paṇḍita e Śrī Gadādhara Paṇḍita. Ofereçamos, a seguir, nossas respeitosas reverências a Svarūpa Dāmodara, que foi secretário particular do Senhor Caitanya Mahāprabhu, e ofereçamos nossas respeitosas reverências a Śrī Vāsudeva Datta e ao servo constante do Senhor Caitanya, Śrī Govinda, e ao amigo constante do Senhor Caitanya, Mukunda, e também a Murāri Gupta. E ofereçamos nossas respeitosas reverências aos seis Gosvāmīs de Vṛndāvana, Śrī Rūpa Gosvāmī, Śrī Sanātana Gosvāmī, Śrī Raghunātha Bhaṭṭa Gosvāmī, Śrī Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmī, Śrī Jīva Gosvāmī e Śrī Raghunātha Dāsa Gosvāmī.

O próprio Kṛṣṇa explicou no Bhagavad-gītā que Ele é a Suprema Personalidade de Deus. Sempre que há discrepância nos princípios reguladores da vida religiosa do homem e as atividades irreligiosas se destacam, Ele aparece neste universo terrestre. Em outras palavras, quando o Senhor Śrī Kṛṣṇa apareceu, havia necessidade de reduzir a carga de atividades pecaminosas acumuladas neste planeta ou neste universo.

O Senhor Mahā-Viṣṇu, a porção plenária de Kṛṣṇa, encarrega-Se dos assuntos da criação material. Por isso, quando o Senhor descende, a encarnação emana de Viṣṇu. O Mahā-Viṣṇu é a causa original da criação material, e, a partir dEle, expande-Se o Garbhodakaśāyī Viṣṇu e, em seguida, o Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. De modo geral, todas as encarnações que aparecem dentro deste Universo material são expansões plenárias de Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Portanto, a obrigação de reduzir a sobrecarga de atividades pecaminosas nesta Terra não compete à Suprema Personalidade de Deus, o próprio Kṛṣṇa. Porém, quando Kṛṣṇa aparece, todas as expansões de Viṣṇu também se juntam a Ele. As diferentes expansões de Kṛṣṇa – a saber, Nārāyaṇa, a expansão quádrupla de Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha, bem como a expansão plenária parcial de Matsya (a encarnação de peixe) e outros yuga-avatāras (encarnações para o milênio) e os manvantara-avatāras, (as encarnações dos Manus) – todas se reúnem e aparecem com o corpo de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Kṛṣṇa é o todo completo, e todas as expansões plenárias e encarnações sempre vivem com Ele.

Quando Kṛṣṇa apareceu, o Senhor Viṣṇu também estava com Ele. Na verdade, Kṛṣṇa aparece para demonstrar Seus passatempos de Vṛndāvana e para atrair as afortunadas almas condicionadas, convidando-as a voltar ao lar, de volta ao Supremo. A matança dos demônios foi simultânea às Suas atividades em Vṛndāvana e foi feita só pela porção Viṣṇu de Kṛṣṇa.

A morada do Senhor está descrita no Bhagavad-gītā, capítulo oito, verso vinte, onde se diz que existe outra natureza eterna, o céu espiritual, que é transcendental a esta matéria manifesta e imanifesta. O mundo manifesto pode ser visto na forma de muitas estrelas e sistemas planetários, como o Sol e a Lua, mas, além deles, há uma porção imanifesta, que não é acessível a ninguém neste corpo. E, além dessa matéria imanifesta, está o reino espiritual. Esse reino é descrito no Bhagavad-gītā como supremo e eterno. Ele nunca é destruído. Esta natureza material está sujeita a repetidas criações e aniquilações. No entanto, aquela parte, a natureza espiritual, permanece como é, eternamente.

A morada suprema da Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, também está descrita na Brahma-saṁhitā como a morada de cintāmaṇi. Essa morada do Senhor Kṛṣṇa, conhecida como Goloka Vṛndāvana, está cheia de palácios feitos de pedra filosofal. Lá, as árvores chamam-se árvores-dos-desejos, e as vacas chamam-se surabhis. Lá, o Senhor é servido por centenas e milhares de deusas da fortuna. Seu nome é Govinda, o Senhor Primordial, e Ele é a causa de todas as causas. Lá, o Senhor toca Sua flauta, Seus olhos são como pétalas de lótus e a cor de Seu corpo é como a de uma bela nuvem. Em Sua cabeça, há uma pena de pavão, e Ele é tão atraente que supera milhares de cupidos. No Gītā, o Senhor Kṛṣṇa dá apenas uma pequena indicação de Sua morada pessoal, que é o planeta mais elevado no reino espiritual. No Śrīmad-Bhāgavatam, em contraste, Kṛṣṇa de fato aparece com toda a Sua plenitude e demonstra Suas atividades em Vṛndāvana, a seguir em Mathurā e, depois, em Dvārakā. O conteúdo deste livro revelará todas essas atividades.

A família em que Kṛṣṇa apareceu chama-se dinastia Yadu. Essa dinastia pertence à família que descende de Soma, o deus do planeta Lua. Existem duas diferentes famílias de kṣatriyas na ordem real: uma descendente do rei do planeta Lua e a outra descendente do rei do planeta Sol. Sempre que a Suprema Personalidade de Deus aparece, Ele geralmente aparece numa família de kṣatriyas porque Ele aparece com a missão de estabelecer os princípios religiosos, ou a vida de justiça. A família kṣatriya é a protetora da raça humana, segundo o sistema védico. Quando a Suprema Personalidade de Deus apareceu como o Senhor Rāmacandra, Ele apareceu na família que descendia do deus do Sol, conhecida como Raghu-vaṁśa, e, quando apareceu como o Senhor Kṛṣṇa, Ele o fez na família do Yadu-vaṁśa. Há uma longa lista dos reis do Yadu-vaṁśa no Nono Canto, capítulo vinte e quatro, do Śrīmad-Bhāgavatam. Todos eles foram reis grandes e poderosos. O nome do pai de Kṛṣṇa era Vasudeva, filho de Śūrasena, descendente da dinastia Yadu. Em verdade, a Suprema Personalidade de Deus não pertence a nenhuma dinastia deste mundo material, mas a família em que a Suprema Personalidade de Deus aparece fica famosa, por Sua graça. Por exemplo, o sândalo é produzido na região da Malaia. O sândalo tem suas próprias qualificações à parte de ter sua origem na Malaia, mas, porque ocorre desta madeira ser produzida principalmente na Malaia, ele é conhecido como sândalo malaio. O mesmo pode-se dizer do Sol, que nasce no Oriente, mas não pode ser chamado de “sol oriental”. De forma semelhante, Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, pertence a todos, mas, por Sua própria escolha, aparece numa família em particular e essa família torna-se famosa.

Como foi explicado antes, quando Kṛṣṇa aparece, todas as Suas expansões plenárias aparecem com Ele. Kṛṣṇa apareceu junto com Balarāma (Baladeva), que é conhecido como Seu irmão mais velho. Balarāma é a origem de Saṅkarṣaṇa, da expansão quádrupla. Balarāma é também uma expansão plenária de Kṛṣṇa. Neste livro, será feita uma tentativa de mostrar como Kṛṣṇa apareceu na família da dinastia Yadu e como Ele exibiu Suas características transcendentais. Isto se descreve de maneira muito viva no Śrīmad-Bhāgavatam – especialmente no Décimo Canto. Portanto, a base deste livro será o Śrīmad-Bhāgavatam.

De modo geral, as almas liberadas ouvem e saboreiam os passatempos do Senhor, enquanto aqueles que são almas condicionadas se interessam por ler histórias de ficção sobre as atividades materiais de algum homem comum. Encontram-se narrações que descrevem as atividades transcendentais do Senhor no Śrīmad-Bhāgavatam e em outros Purāṇas. Contudo, as almas condicionadas ainda preferem estudar narrações ordinárias. Elas não se interessam em estudar as narrações dos passatempos do Senhor, Kṛṣṇa. Contudo, as narrações dos passatempos do Senhor Kṛṣṇa são tão atraentes que são agradáveis para todas as classes de pessoas. Existem três classes de pessoas neste mundo. Uma classe consiste nas almas liberadas, outra consiste naquelas que estão tentando liberar-se e, por fim, existe a classe dos materialistas. Quer a pessoa seja liberta, quer esteja tentando libertar-se, quer até mesmo seja grosseiramente materialista, vale a pena estudar os passatempos do Senhor Kṛṣṇa.

As almas libertas não têm interesse em atividades materialistas. A teoria impersonalista de que a pessoa, após a libertação, torna-se inativa e não precisa ouvir nada, não prova que uma pessoa liberta seja de fato inativa. Uma alma não pode ser inativa, senão que é sempre viva. Ela é ativa, quer no estado condicionado, quer no estado liberto. Uma pessoa doente, por exemplo, também é ativa, mas suas atividades são todas dolorosas. A mesma pessoa, quando livre da condição doentia, ainda é ativa, mas, na condição saudável, as atividades são cheias de prazer. De forma semelhante, os impersonalistas conseguem livrar-se das atividades condicionais doentias, mas não têm informação das atividades na condição saudável. Aqueles que de fato são libertos e estão em pleno conhecimento gostam de ouvir as atividades de Kṛṣṇa; tal ocupação é atividade espiritual pura.

É essencial para quem é liberto ouvir sobre os passatempos de Kṛṣṇa. Esse é o assunto de prazer supremo para alguém que esteja no estado liberto. Também, se pessoas que estão tentando libertar-se ouvem narrações tais como o Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam, então o caminho de sua libertação torna-se muito claro. O Bhagavad-gītā é o estudo preliminar do Śrīmad-Bhagavatam. Pelo estudo do Gītā, a pessoa fica plenamente consciente da posição do Senhor Kṛṣṇa, e, quando está sob os pés de lótus de Kṛṣṇa, ela entende as narrações de Kṛṣṇa conforme são descritas no Śrīmad-Bhāgavatam. Portanto, o Senhor Caitanya aconselhou Seus seguidores dizendo que a função deles é propagar kṛṣṇa-kathā.

Kṛṣṇa-kathā se refere às narrações sobre Kṛṣṇa. Existem duas kṛṣṇa-kathās: narrações faladas por Kṛṣṇa e narrações faladas sobre Kṛṣṇa. O Bhagavad-gītā é a narração ou filosofia sobre a ciência de Deus, falada pelo próprio Kṛṣṇa. O Śrīmad-Bhāgavatam é a narração sobre as atividades e os passatempos transcendentais de Kṛṣṇa. Ambos são kṛṣṇa-kathā. É ordem do Senhor Caitanya que se difunda kṛṣṇa-kathā em todo o mundo, porque, se as almas condicionadas, que sofrem as dores da existência material, adotarem kṛṣṇa-kathā, então o caminho de sua libertação estará livre e claro. O propósito de apresentar este livro é primariamente induzir as pessoas a compreender Kṛṣṇa ou kṛṣṇa-kathā, porque, por esse meio, elas podem libertar-se do cativeiro material.

Esta kṛṣṇa-kathā também será muito agradável para as pessoas mais materialistas, porque os passatempos de Kṛṣṇa com as gopīs (vaqueirinhas) são exatamente como os casos de amor entre os jovens neste mundo material. De fato, a sexualidade encontrada na sociedade humana não é contra a natureza, porque essa mesma sexualidade existe na Personalidade original de Deus. A potência de prazer chama-se Śrīmatī Rādhārāṇī. A atração das aventuras amorosas baseadas na sexualidade é o aspecto original da Suprema Personalidade de Deus, e nós, as almas condicionadas, sendo partes integrantes do Supremo, também temos tais sentimentos, mas eles são experimentados dentro de uma condição pervertida e diminuta. Portanto, quem procura a vida sexual neste mundo material, mas ouve sobre os passatempos de Kṛṣṇa com as gopīs, começa a saborear um prazer transcendental, mesmo que ainda pareça material. A vantagem é que, aos poucos, esses materialistas se elevarão à plataforma espiritual. Afirma-se no Bhāgavatam que, se alguém ouve de maneira submissa as autoridades narrarem os passatempos do Senhor Kṛṣṇa com as gopīs, essa pessoa será promovida à plataforma do transcendental serviço amoroso ao Senhor, e a doença material da luxúria dentro de seu coração será completamente dominada. Em outras palavras, tal pessoa anula sua vida sexual material.

Este livro, Kṛṣṇa, atrairá igualmente as almas libertas e as pessoas que estão tentando libertar-se, bem como os materialistas grosseiros condicionados. Conforme a declaração de Mahārāja Parīkṣit, que ouviu sobre Kṛṣṇa de Śukadeva Gosvāmī, kṛṣṇa-kathā aplica-se igualmente a todo ser humano, em qualquer condição de vida que esteja. Todos apreciarão kṛṣṇa-kathā no mais alto grau. Contudo, Mahārāja Parīkṣit também advertiu que as pessoas que simplesmente se ocupam em matar animais e em matar a si mesmas talvez não sintam muita atração por esta kṛṣṇa-kathā. Em outras palavras, quem se atrai são as pessoas comuns que estão seguindo os princípios morais reguladores das escrituras, independente de em que condições se encontrem. O mesmo não ocorre, porém, com quem está se matando. A palavra exata usada no Śrīmad-Bhāgavatam é paśughna, que significa aquele que mata animais ou o que mata a si próprio. As pessoas que não são autorrealizadas e que não estão interessadas na compreensão espiritual estão matando a si próprias, estão cometendo suicídio. Já que esta forma de vida humana destina-se especialmente à autorrealização, se a pessoa despreza essa parte importante de suas atividades, ela simplesmente perde seu tempo, como os animais. Então, é um paśughna. O outro sentido da palavra refere-se àqueles que realmente estão matando animais. Isso se refere aos comedores de animais (até comedores de cães), pois estão todos ocupados em matar animais de muitas maneiras, tais como caçar e abrir matadouros. Tais pessoas não conseguem se interessar por kṛṣṇa-kathā.

O rei Parīkṣit estava especialmente interessado em ouvir kṛṣṇa-kathā, porque sabia que seus antepassados e especialmente seu avô, Arjuna, tinham sido vitoriosos na grande Batalha de Kurukṣetra só por causa de Kṛṣṇa. Podemos também considerar este mundo material como um campo de batalha de Kurukṣetra. Todos estão lutando duro pela existência neste campo de batalha, e, a cada passo, há perigos. Segundo Mahārāja Parīkṣit, o campo de batalha de Kurukṣetra era como um vasto oceano cheio de animais perigosos. Seu avô Arjuna teve de lutar contra grandes heróis, como Bhīṣma, Droṇa, Karṇa e muitos outros que não eram guerreiros comuns. Tais guerreiros foram comparados ao peixe timiṅgila no oceano. O peixe timiṅgila pode engolir grandes baleias com muita facilidade. Os grandes combatentes no campo de batalha de Kurukṣetra podiam engolir muitos e muitos Arjunas com muita facilidade, mas, apenas por causa da misericórdia de Kṛṣṇa, Arjuna conseguiu matar a todos. Assim como, sem esforço algum, pode-se passar por cima da pequena poça de água contida na pegada de um bezerro, Arjuna, pela graça de Kṛṣṇa, foi capaz de passar facilmente pelo oceano da Batalha de Kurukṣetra.

Mahārāja Parīkṣit apreciava muito as atividades de Kṛṣṇa por muitas outras razões. Não apenas Kṛṣṇa salvara seu avô, mas também a ele próprio. No final da Batalha de Kurukṣetra, todos os membros da dinastia Kuru, tanto os filhos e netos do lado de Dhṛtarāṣṭra, quanto aqueles do lado dos Pāṇḍavas, morreram na luta. Exceto os cinco irmãos Pāṇḍavas, todos morreram no campo da Batalha de Kurukṣetra. Mahārāja Parīkṣit, naquela ocasião, estava no ventre de sua mãe. Seu pai, Abhimanyu, o filho de Arjuna, também morreu no campo de batalha de Kurukṣetra, e assim Mahārāja Parīkṣit foi um filho póstumo. Quando ele estava no ventre de sua mãe, uma arma brahmāstra foi disparada por Aśvatthāmā para matar a criança. Quando a mãe de Parīkṣit Mahārāja, Uttarā, aproximou-se de Kṛṣṇa, Kṛṣṇa vendo o perigo de aborto, entrou em seu ventre como a Superalma e salvou Mahārāja Parīkṣit. O outro nome de Mahārāja Parīkṣit é Viṣṇurāta, porque ele foi salvo pelo próprio Senhor Viṣṇu enquanto ainda estava no útero.

Logo, todos, em qualquer condição de vida, devem estar interessados em ouvir sobre Kṛṣṇa e suas atividades porque Ele é a Suprema Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus. Ele é onipenetrante; Ele vive no coração de todos e vive em Sua forma universal. E, apesar de tudo, como se descreve no Bhagavad-gītā, Ele aparece na sociedade humana, como Ele é, apenas para convidar a todos para Sua morada transcendental, de volta ao lar, de volta ao Supremo. Todos devem estar interessados em saber sobre Kṛṣṇa, e apresentamos este livro com este propósito: que as pessoas possam saber sobre Kṛṣṇa e serem beneficiadas perfeitamente nesta forma de vida humana.

No Nono Canto do Śrīmad-Bhāgavatam, descreve-Se Śrī Baladeva como o filho de Rohiṇī, uma esposa de Vasudeva. Vasudeva, o pai de Kṛṣṇa, teve dezesseis esposas, e uma delas era Rohiṇī, a mãe de Balarāma. No entanto, se Balarāma também é descrito como o filho de Devakī, como podia Ele ser o filho de ambas, Devakī e Rohiṇī? Esta foi uma das perguntas feitas por Mahārāja Parīkṣit a Śukadeva Gosvāmī, e, a seu tempo, será respondida. Mahārāja Parīkṣit também perguntou a Śukadeva Gosvāmī por que Śrī Kṛṣṇa, logo depois de Seu aparecimento como filho de Vasudeva, foi levado para a casa de Nanda Mahārāja em Vṛndāvana, Gokula. Ele também queria saber quais eram as atividades do Senhor Kṛṣṇa enquanto Ele estava em Vṛndāvana e enquanto estava em Mathurā. Além disso, ele tinha uma curiosidade especial em saber por que Kṛṣṇa matou Seu tio materno, Kaṁsa. Kaṁsa, sendo o irmão de Sua mãe, era um superior muito íntimo de Kṛṣṇa. Então, como foi que Kṛṣṇa o matou? Ele também perguntou por quantos anos o Senhor Kṛṣṇa permaneceu na sociedade humana, por quantos anos Ele reinou sobre o reino de Dvārakā e quantas esposas Ele aceitou lá. Um rei kṣatriya, em geral, está acostumado a aceitar mais de uma esposa; portanto, Mahārāja Parīkṣit também perguntou sobre o número de Suas esposas. O assunto deste livro é a resposta de Śukadeva Gosvāmī a essas e outras perguntas feitas por Mahārāja Parīkṣit.

A posição de Mahārāja Parīkṣit e Śukadeva Gosvāmī é singular. Mahārāja Parīkṣit é a pessoa certa para ouvir sobre os passatempos transcendentais de Kṛṣṇa, e Śukadeva Gosvāmī é a pessoa certa para descrevê-los. Se tal combinação afortunada se torna possível, a kṛṣṇa-kathā revela-se imediatamente, e as pessoas podem obter o benefício máximo possível de tal conversa.

Śukadeva Gosvāmī apresentou esta narração quando Mahārāja Parīkṣit se preparava para abandonar o corpo, jejuando às margens do Ganges. Para garantir a Śukadeva Gosvāmī que, ouvindo kṛṣṇa-kathā, ele não se cansaria, Mahārāja Parīkṣit expressou-se com muita franqueza: “A fome e a sede podem molestar pessoas comuns ou a mim, mas os assuntos de Kṛṣṇa são tão agradáveis que podemos continuar a ouvi-los sem sentir cansaço, porque essa audição nos coloca na posição transcendental”. Compreende-se que alguém deve ser muito afortunado para ouvir com seriedade sobre kṛṣṇa-kathā, como Mahārāja Parīkṣit. Ele estava especialmente atento ao assunto porque estava esperando a morte a qualquer momento. Todos nós devemos ter consciência da morte a qualquer momento. Esta vida de modo algum está garantida; a qualquer hora podemos morrer. Não importa se a pessoa é jovem ou velha. Então, antes que a morte aconteça, devemos estar totalmente conscientes de Kṛṣṇa.

Às portas da morte, o rei Parīkṣit estava ouvindo o Śrīmad-Bhāgavatam de Śukadeva Gosvāmī. Quando o rei Parīkṣit expressou seu infatigável desejo de ouvir sobre Kṛṣṇa, Śukadeva Gosvāmī ficou muito satisfeito. Śukadeva foi o maior de todos os recitadores do Bhāgavatam e, assim, ele começou a falar sobre os passatempos de Kṛṣṇa, que destroem tudo o que é inauspicioso nesta Era de Kali. Śukadeva Gosvāmī agradeceu ao rei por seu interesse em ouvir sobre Kṛṣṇa e animou-o dizendo: “Meu querido rei, sua inteligência é muito aguçada, porque você está muito interessado em ouvir sobre os passatempos de Kṛṣṇa”. Ele informou a Mahārāja Parīkṣit que ouvir e cantar os passatempos de Kṛṣṇa é tão auspicioso que o processo purifica as três variedades de homens envolvidos: aquele que recita os tópicos transcendentais de Kṛṣṇa, aquele que ouve tais tópicos e aquele que pergunta sobre eles. Estes passatempos são como a água do Ganges, que flui do dedo maior do pé do Senhor Viṣṇu e purifica os três mundos: os sistemas planetários superior, intermediário e inferior.

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