VERSO 3
niśamya bhīṣmoktam athācyutoktaṁ
pravṛtta-vijñāna-vidhūta-vibhramaḥ
śaśāsa gām indra ivājitāśrayaḥ
paridhyupāntām anujānuvartitaḥ
niśamya — após ouvir; bhīṣma‑uktam — aquilo que foi falado por Bhīṣmadeva; atha — como também; acyuta‑uktam — o que foi falado pelo infalível Senhor Kṛṣṇa; pravṛtta — ocupando‑se em; vijñāna — conhecimento perfeito; vidhūta — completamente limpo; vibhramaḥ — todos os receios; śaśāsa — reinou sobre; gām — a Terra; indra — o rei do planeta celestial; iva — como; ajita‑āśrayaḥ — protegido pelo invencível Senhor; paridhi‑upāntām — incluindo os mares; anuja — os irmãos mais novos; anuvartitaḥ — sendo seguido por eles.
Mahārāja Yudhiṣṭhira, após ser iluminado pelo que falaram Bhīṣmadeva e o Senhor Kṛṣṇa, o infalível, ocupou‑se em assuntos de conhecimento perfeito, porque todos os seus receios foram erradicados. Assim, ele reinou sobre terras e mares, sendo seguido por seus irmãos mais novos.
SIGNIFICADO—A lei inglesa moderna de primogenitura, ou a lei que lega a herança ao primeiro filho, também prevalecia naqueles dias em que Mahārāja Yudhiṣṭhira governava a Terra e os mares. Naqueles dias, o rei de Hastināpura (agora parte de Nova Delhi) era o imperador do mundo, incluindo os mares, até a época de Mahārāja Parīkṣit, o neto de Mahārāja Yudhiṣṭhira. Os irmãos mais novos de Mahārāja Yudhiṣṭhira agiam como seus ministros e comandantes de Estado, e havia completa cooperação entre os irmãos do rei perfeitamente religiosos. Mahārāja Yudhiṣṭhira era o rei ou representante ideal do Senhor Śrī Kṛṣṇa para governar o reino da Terra, e era comparável ao rei Indra, o governante representativo dos planetas celestiais. Semideuses como Indra, Candra, Sūrya, Varuṇa e Vāyu são reis representativos de diversos planetas do universo, e, de modo semelhante, Mahārāja Yudhiṣṭhira era um deles, regendo o reino da Terra. Mahārāja Yudhiṣṭhira não era um líder político sem iluminação, típico de uma democracia moderna. Mahārāja Yudhiṣṭhira foi instruído por Bhīṣmadeva e também pelo infalível Senhor e, por isso, tinha conhecimento completo e perfeito de tudo.
O chefe de estado executivo eleito de hoje em dia é como uma marionete, pois não tem poder de governar. Mesmo que ele seja iluminado como Mahārāja Yudhiṣṭhira, não pode fazer nada por sua própria vontade devido à sua sujeição à constituição. Portanto, há muitos estados sobre a Terra disputando por motivos de diferenças ideológicas ou outras motivações egoístas. Todavia, um rei como Mahārāja Yudhiṣṭhira não tinha nenhuma ideologia feita por ele mesmo. Ele tinha apenas que seguir as instruções do Senhor infalível e do representante do Senhor e do agente autorizado, Bhīṣmadeva. Instrui‑se nos śāstras que a pessoa deve seguir a grande autoridade e o Senhor infalível, sem nenhuma motivação pessoal ou ideologia pré‑fabricada. Portanto, era possível a Mahārāja Yudhiṣṭhira governar o mundo inteiro, incluindo os mares, porque os princípios eram infalíveis e universalmente aplicáveis a todos. Uma concepção de Estado mundial poderia ser possível se pudéssemos seguir uma autoridade infalível. Um ser humano imperfeito não pode criar uma ideologia aceitável para todos. Somente o perfeito e infalível pode criar um programa que seja aplicável em qualquer lugar e que possa ser seguido por todos no mundo. É uma pessoa que governa, e não um governo impessoal. Se a pessoa é perfeita, o governo é perfeito. Se a pessoa é um tolo, o governo é um paraíso de tolos. Eis a lei da natureza. Há muitas histórias de reis ou líderes executivos imperfeitos. Portanto, o líder executivo tem que ser uma pessoa treinada como Mahārāja Yudhiṣṭhira, e ele deve ter pleno poder autocrático para governar o mundo. A concepção de um Estado mundial só pode tomar forma sob o regime de um rei perfeito como Mahārāja Yudhiṣṭhira. O mundo era feliz naqueles dias, porque havia reis como Mahārāja Yudhiṣṭhira para governar o mundo.