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Capítulo Dez

A Partida do Senhor Kṛṣṇa para Dvārakā

VERSO 1: Śaunaka Muni perguntou: Após matar seus inimigos que desejavam usurpar a herança a que tinha direito, como o maior de todos os homens religiosos, Mahārāja Yudhiṣṭhira, assistido por seus irmãos, governou seus súditos? É certo que ele não podia desfrutar livremente de seu reino com consciência irrestrita.

VERSO 2: Sūta Gosvāmī disse: O Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, que é o mantenedor do mundo, ficou satisfeito após restabelecer Mahārāja Yudhiṣṭhira em seu próprio reino e após restaurar a dinastia Kuru, que havia sido consumida pelo incêndio de bambu da ira.

VERSO 3: Mahārāja Yudhiṣṭhira, após ser iluminado pelo que falaram Bhīṣmadeva e o Senhor Kṛṣṇa, o infalível, ocupou‑se em assuntos de conhecimento perfeito, porque todos os seus receios foram erradicados. Assim, ele reinou sobre terras e mares, sendo seguido por seus irmãos mais novos.

VERSO 4: Durante o reinado de Mahārāja Yudhiṣṭhira, as nuvens choviam toda a água de que as pessoas necessitavam, e a terra produzia todas as coisas necessárias ao homem, em abundância. Devido a seus úberes gordos de leite e a sua alegre disposição, as vacas costumavam regar os pastos com o leite.

VERSO 5: Os rios, oceanos, colinas, montanhas, florestas, trepadeiras e drogas ativas, em todas as estações, pagavam seus devidos impostos ao rei em profusão.

VERSO 6: Pelo fato de o rei não ter inimigos, os seres vivos não eram perturbados em tempo algum por agonias mentais, doenças ou calor e frio excessivos.

VERSO 7: Śrī Hari, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, residiu em Hastināpura por alguns meses, para serenar Seus parentes e satisfazer Sua própria irmã [Subhadrā].

VERSO 8: Em seguida, quando o Senhor pediu permissão para partir e o rei a concedeu, o Senhor ofereceu Seus respeitos a Mahārāja Yudhiṣṭhira prostrando-Se a seus pés, e o rei O abraçou. Depois disso, o Senhor, sendo abraçado pelos outros e recebendo suas reverências, subiu em Sua quadriga.

VERSOS 9-10: Naquele momento, Subhadrā, Draupadī, Kuntī, Uttarā, Gāndhārī, Dhṛtarāṣṭra, Yuyutsu, Kṛpācārya, Nakula, Sahadeva, Bhīmasena, Dhaumya e Satyavatī – todos quase desmaiaram, pois lhes era impossível suportar a saudade do Senhor Kṛṣṇa.

VERSOS 11-12: Os inteligentes, que entenderam o Senhor Supremo na companhia de devotos puros e se livraram da má companhia materialista, jamais podem deixar de ouvir as glórias do Senhor, mesmo que as tenham ouvido apenas uma vez. Como, então, os Pāṇḍavas conseguiriam tolerar Sua separação, uma vez que tinham se associado intimamente com Sua pessoa, vendo-O face a face, tocando-O, conversando com Ele e dormindo, sentando-se e jantando com Ele?

VERSO 13: Todos os seus corações se derretiam por Ele na caldeira da atração. Eles O olhavam sem piscar os olhos e, perplexos, moviam-se daqui para lá.

VERSO 14: As damas da família, cujos olhos se inundavam de lágrimas devido à ansiedade por Kṛṣṇa, saíram do palácio. Apenas com grande dificuldade é que elas puderam conter suas lágrimas. Elas temiam que as lágrimas causassem infortúnio no momento da partida dEle.

VERSO 15: Enquanto o Senhor partia do palácio de Hastināpura, diferentes tipos de tambores – como mṛdaṅga, dhola, nagra, dhundhurī e dundubhi – e flautas de diferentes tipos, vīṇā, gomukha e bherī, soaram todos juntos para Lhe prestar homenagem.

VERSO 16: Por causa de seu desejo amoroso de ver o Senhor, as damas reais dos Kurus subiram ao topo do palácio e, sorrindo com recatada afeição, lançaram chuvas de flores sobre o Senhor.

VERSO 17 : Naquele momento, Arjuna, o grande guerreiro e conquistador do sono, que é o amigo íntimo do amadíssimo Senhor Supremo, pegou um guarda-sol que tinha um cabo de joias e era bordado com rendas e pérolas.

VERSO 18: Uddhava e Sātyaki começaram a abanar o Senhor com abanos decorados, e o Senhor, como o senhor de Madhu, sentou-Se sobre as flores espalhadas e lhes acenou ao longo da estrada.

VERSO 19: Aqui e ali, ouvia-se que as bênçãos oferecidas a Kṛṣṇa nem eram convenientes nem inconvenientes, porque todas eram para o Absoluto, que agora estava representando o papel de um ser humano.

VERSO 20: Absortas em pensamentos sobre as qualidades transcendentais do Senhor, que é louvado em poesia seleta, as damas nos terraços de todas as casas de Hastināpura começaram a falar dEle. Essa conversa era mais atrativa que os hinos dos Vedas.

VERSO 21: Disseram elas: Aqui está Ele, a original Personalidade de Deus de quem nos lembramos claramente. Era Ele apenas quem existia antes da criação manifesta dos modos da natureza, e é nEle apenas, porque Ele é o Senhor Supremo, que todos os seres vivos imergem, como se dormissem à noite, ao ser suspensa sua energia.

VERSO 22: A Personalidade de Deus, mais uma vez desejando dar nomes e formas a Suas partes integrantes, as entidades vivas, colocou-as sob a orientação da natureza material. Por Sua própria potência, a natureza material é dotada de poder para recriar.

VERSO 23: Eis aqui a mesma Suprema Personalidade de Deus cuja forma transcendental é experimentada pelos grandes devotos que estão inteiramente limpos da consciência material em virtude de rígido serviço devocional e pleno controle da vida e dos sentidos. E esta é a única maneira de purificar a existência.

VERSO 24: Ó queridas amigas! Eis aqui aquela mesma Personalidade de Deus cujos atrativos e confidenciais passatempos são descritos nas partes confidenciais da literatura védica por Seus grandes devotos. É unicamente Ele quem cria, mantém e aniquila o mundo material e, ainda assim, continua não afetado.

VERSO 25: Sempre que há reis e administradores vivendo como animais nos modos mais baixos de existência, o Senhor, sob Sua forma transcendental, manifesta Seu poder supremo, a Verdade Positiva, demonstra misericórdia especial para com os fiéis, executa atividades maravilhosas e manifesta várias formas transcendentais conforme seja necessário, em diferentes períodos e eras.

VERSO 26: Oh! Quão supremamente glorificada é a dinastia do rei Yadu, e quão virtuosa é a terra de Mathurā, onde o líder supremo de todos os seres vivos, o esposo da deusa da fortuna, nasceu e vagueou em Sua infância!

VERSO 27: Sem dúvida, é maravilhoso que Dvārakā tenha superado as glórias dos planetas celestiais e destacado a celebridade da Terra. Os habitantes de Dvārakā estão sempre vendo a alma de todos os seres vivos [Kṛṣṇa] sob Seu aspecto amoroso. Ele olha para eles e os favorece com doces sorrisos.

VERSO 28: Ó amigas, apenas pensai em Suas esposas, cujas mãos Ele aceitou. Como elas devem ter-se submetido a votos, banhos, fogos de sacrifício e perfeita adoração ao Senhor do universo para agora saborearem constantemente o néctar de Seus lábios [através do beijo]! As donzelas de Vrajabhūmi desmaiavam frequentemente, esperando ser favorecidas dessa maneira.

VERSO 29: Os filhos dessas damas são Pradyumna, Sāmba, Amba etc. Damas como Rukmiṇī, Satyabhāmā e Jāmbavatī foram tomadas à força por Ele durante as cerimônias svayaṁvara, depois de Ele ter derrotado muitos reis poderosos, encabeçados por Śiśupāla. E outras moças também foram tomadas à força por Ele após Ele ter matado Bhaumāsura e milhares de seus subordinados. Todas essas damas são gloriosas.

VERSO 30: Todas essas mulheres glorificaram auspiciosamente suas vidas, apesar de carecerem de individualidade e pureza. Seu esposo, a Personalidade de Deus de olhos de lótus, nunca as deixava sozinhas em casa. Ele sempre satisfazia seus corações, dando-lhes presentes valiosos.

VERSO 31: Enquanto as damas da capital de Hastināpura O saudavam e falavam dessa maneira, o Senhor, sorrindo, aceitava suas gentis saudações, e, lançando a graça de Seu olhar sobre elas, Ele partiu da cidade.

VERSO 32: Mahārāja Yudhiṣṭhira, embora não fosse inimigo de ninguém, organizou quatro divisões de defesa [cavalo, elefante, quadriga e infantaria] para acompanhar o Senhor Kṛṣṇa, o inimigo dos asuras [demônios]. O Mahārāja fez isso por causa do inimigo, e também por afeição pelo Senhor.

VERSO 33: Devido à profunda afeição pelo Senhor Kṛṣṇa, os Pāṇḍavas, que pertenciam à dinastia Kuru, acompanharam-nO até uma considerável distância a fim de vê-lO partir. Eles estavam dominados por pensamentos da futura separação. O Senhor, contudo, persuadiu-os a voltar para casa e continuou em direção a Dvārakā com Seus queridos companheiros.

VERSOS 34-35: Ó Śaunaka, o Senhor, então, procedeu rumo a Kurujāṅgala, Pāñcālā, Śūrasenā, a região às margens do rio Yamunā, Brahmāvarta, Kurukṣetra, Matsya, Sārasvata, a província do deserto e da terra de água escassa. Após cruzar essas províncias, Ele gradualmente alcançou as províncias de Sauvīra e Ābhīra, e, então, a oeste dessas, alcançou finalmente Dvārakā.

VERSO 36: Em Sua jornada através dessas províncias, Ele foi bem recebido, adorado e recebeu vários presentes. À tarde, em todos os lugares, o Senhor suspendia Sua viagem para executar os ritos vespertinos. Isso era regularmente observado após o pôr do sol.

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