VERSO 4
kāmaṁ vavarṣa parjanyaḥ
sarva-kāma-dughā mahī
siṣicuḥ sma vrajān gāvaḥ
payasodhasvatīr mudā
kāmam — tudo necessário; vavarṣa — choviam; parjanyaḥ — chuvas; sarva — tudo; kāma — necessidade; dughā — produtor; mahī — a terra; siṣicuḥ sma — regar; vrajān — pastos; gāvaḥ — a vaca; payasā udhasvatīḥ — devido às tetas estufadas; mudā — por causa de uma atitude jovial.
Durante o reinado de Mahārāja Yudhiṣṭhira, as nuvens choviam toda a água de que as pessoas necessitavam, e a terra produzia todas as coisas necessárias ao homem, em abundância. Devido a seus úberes gordos de leite e a sua alegre disposição, as vacas costumavam regar os pastos com o leite.
SIGNIFICADO—O princípio básico do desenvolvimento econômico se centraliza na terra e nas vacas. As necessidades da sociedade humana consistem em grãos alimentícios, frutas, leite, minerais, roupas, madeira etc. A pessoa necessita de todos esses itens para satisfazer as necessidades materiais do corpo. Certamente, não há necessidade de carne, ou peixe, ou ferramentas de ferro e maquinarias. Durante o regime de Mahārāja Yudhiṣṭhira, havia chuvas regulares em todo o mundo. Os aguaceiros não estão sob o controle do ser humano. O rei celestial Indradeva é o controlador das chuvas, e ele é o servo do Senhor. Quando o Senhor é obedecido pelo rei e pelas pessoas sob a administração do rei, há chuvas regulares no horizonte, e essas chuvas são as causas de toda a variedade de produtos agrícolas. As chuvas regulares não ajudam apenas a ampliar a produção de cereais e frutas, mas, quando se combinam com as influências astronômicas, há ampla produção de pedras preciosas e pérolas. Os cereais e vegetais podem alimentar suntuosamente o homem e os animais, e uma vaca gorda fornece leite suficiente para suntuosamente suprir vigor e vitalidade a um homem. Se há bastante leite, bastantes cereais, bastantes frutas, bastante algodão, bastante seda e bastantes joias, por que, então, as pessoas precisam ainda de cinemas, casas de prostituição, matadouros etc.? Qual a necessidade de uma vida artificial e luxuosa de cinema, carros, rádio, carne e hotéis? Acaso essa civilização produziu algo além das desavenças individuais e nacionais? Estaria essa civilização promovendo a causa da igualdade e fraternidade ao enviar milhares de homens a fábricas infernais e aos campos de batalha, por causa dos caprichos de um homem em particular?
Afirma‑se que as vacas costumavam regar o pasto com leite porque suas tetas eram gordas, e os animais eram alegres. Eles não necessitam, portanto, de atenção adequada para uma vida feliz, sendo alimentados com quantidade suficiente de grama no campo? Por que deveria o homem matar vacas para seus propósitos egoístas? Por que o homem não pode se satisfazer com cereais, frutas e leite, que, combinados adequadamente, podem produzir centenas e milhares de alimentos saborosos? Por que há matadouros em todo o mundo para abater animais inocentes? Mahārāja Parīkṣit, neto de Mahārāja Yudhiṣṭhira, ao viajar por seu vasto reino, viu um homem negro tentando matar uma vaca. O rei prendeu de imediato o carniceiro e o castigou o suficiente. Por que um rei ou líder executivo não deveria proteger a vida dos pobres animais que são incapazes de se defender? Isso é humanidade? Por acaso os animais também não são cidadãos de um país? Então, por que se permite que sejam esquartejados em matadouros organizados? Acaso esses são os sinais de igualdade, fraternidade e não‑violência?
Portanto, em contraste com a forma moderna, avançada e civilizada de governo, uma autocracia como a de Mahārāja Yudhiṣṭhira é muito superior a uma assim chamada democracia na qual os animais são mortos e um homem inferior a um animal tem permissão de votar em outro homem inferior a um animal.
Todos nós somos criaturas da natureza material. Na Bhagavad‑gītā, afirma-se que o próprio Senhor é o pai que dá a semente, e a natureza material é a mãe de todas as formas de seres vivos. Desse modo, a mãe natureza material tem bastante alimento tanto para os animais quanto para os homens, pela graça do Pai todo‑poderoso, Śrī Kṛṣṇa. O ser humano é o irmão mais velho de todos os outros seres vivos. Ele é dotado de inteligência mais poderosa que a dos animais para compreender o curso da natureza e as indicações do Pai todo‑poderoso. As civilizações humanas devem depender da produção da natureza material, sem tentativas artificiais de desenvolvimento econômico para converter o mundo num caos de poder e cobiça artificiais, apenas para satisfazer luxos artificiais e gozo dos sentidos. Isso nada mais é que a vida de cães e porcos.