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VERSO 36

uddāma-bhāva-piśunāmala-valgu-hāsa-
vrīḍāvaloka-nihato madano ’pi yāsām
sammuhya cāpam ajahāt pramadottamās tā
yasyendriyaṁ vimathituṁ kuhakair na śekuḥ

uddāma — muito graves; bhāva — expressões; piśuna — excitantes; amala — imaculados; valgu-hāsa — belos sorrisos; vrīḍa — canto dos olhos; avaloka — olhando; nihataḥ — conquistado; madanaḥ — Cupido (ou amadana — o muito tolerante Śiva); api — também; yāsām — cujos; sammuhya — sendo superado por; cāpam — arcos; ajahāt — abandonasse; pramada — mulher, que provoca loucura; uttamāḥ — de alto grau; todas; yasya — cujos; indriyam — sentidos; vimathitum — perturbar; kuhakaiḥ — por feitos mágicos; na — nunca; śekuḥ — eram capazes.

Embora os belos sorrisos e olhares furtivos das rainhas fossem todos imaculados e excitantes, e embora elas pudessem conquistar o próprio Cupido fazendo com que, frustrado, abandonasse o arco, e embora mesmo o tolerante Śiva pudesse cair vítima delas, ainda assim, apesar de todos os seus atrativos e feitos mágicos, elas não podiam agitar os sentidos do Senhor.

SIGNIFICADO—O caminho da salvação, ou o caminho de volta ao Supremo, sempre proíbe a associação com mulheres, e todo o esquema sanātana-dharma, ou varṇāśrama-dharma, proíbe ou restringe a associação com mulheres. Como, então, alguém pode ser aceito como a Suprema Personalidade de Deus se é adito a mais de dezesseis mil esposas? Essa relevante questão pode ser levantada por pessoas inquisitivas realmente ansiosas por conhecer a natureza transcendental do Senhor Supremo. E, para responder a tais perguntas, os sábios de Naimiṣāraṇya discutiram o caráter transcendental do Senhor neste verso e nos seguintes. Este verso deixa bem claro que os aspectos atrativos femininos que podem conquistar o Cupido, ou mesmo o supremamente tolerante senhor Śiva, não podiam conquistar os sentidos do Senhor. A ocupação do Cupido é provocar a luxúria mundana. Todo o universo se move pela agitação da flecha do Cupido. As atividades do mundo estão sendo executadas pela atração central de macho e fêmea. O macho busca a parceira que lhe apraz, e a fêmea busca um macho adequado. Assim funciona o estímulo material. Logo que o macho se combina com a fêmea, o cativeiro material do ser vivo é pronta e fortemente travado pela relação sexual, e, como resultado disso, a atração de macho e fêmea pelo doce lar, terra natal, progênie corpórea, sociedade, amizade e acúmulo de riqueza torna-se o campo ilusório de atividades e, deste modo, manifesta-se uma falsa porém infatigável atração pela existência material temporária, que é cheia de misérias. Portanto, aqueles que estão no caminho da salvação de volta ao lar, de volta ao Supremo, são especialmente aconselhados por todas as instruções escriturais a se livrarem desta parafernália de atração material. Isso só é possível através da associação com devotos do Senhor, que são chamados de mahātmās. O Cupido atira suas flechas nos seres vivos para deixá-los loucos em busca do sexo oposto, sem levar em consideração se o parceiro é verdadeiramente belo ou não. As provocações do Cupido estão acontecendo, mesmo entre as sociedades bestiais que são todas de má aparência segundo o conceito das nações civilizadas. A influência do Cupido se exerce mesmo entre as formas mais feias, para não falar das beldades mais perfeitas. O senhor Śiva, que é considerado como o mais tolerante, também foi atingido pela flecha do Cupido porque ele também ficou louco atrás da encarnação Mohinī do Senhor e se reconheceu derrotado. O próprio Cupido, contudo, foi cativado pelos distintos e excitantes procedimentos das deusas da fortuna, e ele abandonou voluntariamente seu arco e suas flechas, em espírito de frustração. Assim eram a beleza e a atração das rainhas do Senhor Kṛṣṇa. Todavia, elas não podiam perturbar os sentidos transcendentais do Senhor. Isso porque o Senhor é o todo-perfeito ātmārāma, ou autossuficiente. Ele não precisa da ajuda alheia para Sua satisfação pessoal. Portanto, as rainhas não podiam satisfazer o Senhor pelos seus atrativos femininos, mas elas O satisfizeram por sua afeição e por seus serviços sinceros. Somente pelo imaculado e transcendental serviço amoroso elas podiam satisfazer o Senhor, e o Senhor mostrou Sua satisfação ao tratá-las como esposas em reciprocidade. Satisfazendo-Se assim unicamente pelo serviço imaculado prestado por elas, o Senhor correspondia ao serviço assim como um esposo devotado. De outro modo, Ele não teria motivo para Se tornar o marido de tantas esposas. Ele é o esposo de todos, mas Ele corresponde àquele que O aceita como tal. Essa afeição imaculada pelo Senhor jamais deve ser comparada à luxúria mundana. Ela é puramente transcendental. E a conduta distinta, que as rainhas revelavam em maneiras femininas naturais, também era transcendental, pois os sentimentos se expressavam devido ao êxtase transcendental. Já se explicou no verso anterior que o Senhor parecia um esposo mundano, mas, na verdade, Sua relação com Suas esposas era transcendental, pura e não condicionada pelos modos da natureza material.

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