VERSO 23
pitāmaha-samaḥ sāmye
prasāde giriśopamaḥ
āśrayaḥ sarva-bhūtānāṁ
yathā devo ramāśrayaḥ
pitāmaha — o avô, ou Brahmā; samaḥ — igualmente bom; sāmye — quanto a; prasāde — em caridade ou munificência; giriśa — senhor Śiva; upamaḥ — comparação de equilíbrio; āśrayaḥ — abrigo; sarva — todos; bhūtānām — dos seres vivos; yathā — como; devaḥ — o Senhor Supremo; ramā-āśrayaḥ — a Personalidade de Deus.
Esta criança será como seu avô Yudhiṣṭhira ou como Brahmā em equanimidade mental. Será munificente como o senhor da colina Kailāsa, Śiva. E será o abrigo de todos, assim como a Suprema Personalidade de Deus Nārāyaṇa, que é o refúgio até mesmo da deusa da fortuna.
SIGNIFICADO—A equanimidade mental se refere tanto a Mahārāja Yudhiṣṭhira quanto a Brahmā, o avô de todos os seres vivos. De acordo com Śrīdhara Svāmī, o avô mencionado é Brahmā, mas, de acordo com Viśvanātha Cakravartī, o avô é o próprio Mahārāja Yudhiṣṭhira. Contudo, em ambos os casos, a comparação é igualmente boa, porque ambos são representantes reconhecidos do Senhor Supremo e, desse modo, ambos têm que manter a equanimidade mental, estando ocupados no trabalho de bem-estar dos seres vivos. Qualquer agente executivo responsável no topo da administração tem que tolerar diferentes tipos de investidas das próprias pessoas para quem ele trabalha. Brahmājī foi criticado até mesmo pelas gopīs, as devotas perfeitas mais elevadas do Senhor. As gopīs estavam insatisfeitas com o trabalho de Brahmā porque o senhor Brahmā, como criador deste universo específico, criou pálpebra que as impediam de ver o Senhor Kṛṣṇa. Elas não podiam tolerar sequer o momento de piscar os olhos, pois isso as impedia de ver seu amado Senhor Kṛṣṇa. O que dizer, então, de outros que são naturalmente muito críticos de cada ação de um homem responsável? Similarmente, Mahārāja Yudhiṣṭhira teve que passar por muitas situações difíceis criadas por seus inimigos, e mostrou ser o mais perfeito mantenedor de equanimidade mental em todas as circunstâncias críticas. Portanto, o exemplo de ambos os avós, sobre a manutenção da equanimidade mental, é completamente adequado.
O senhor Śiva é um semideus notório que concede dádivas aos suplicantes. Portanto, seu nome é Āśutoṣa, ou aquele que é muito facilmente satisfeito. Ele também é chamado de Bhūtanātha, ou o senhor das pessoas comuns, que são apegadas a ele principalmente por causa de suas dádivas munificentes, mesmo sem consideração sobre seus efeitos posteriores. Rāvaṇa era muito apegado ao senhor Śiva e, por tê-lo agradado facilmente, Rāvaṇa se tornou tão poderoso que quis desafiar a autoridade do Senhor Rāma. É claro que Rāvaṇa não foi ajudado de modo algum pelo senhor Śiva quando lutou contra Rāma, a Suprema Personalidade de Deus e o Senhor do senhor Śiva. Para Vṛkāsura, o senhor Śiva concedeu uma bênção que era não somente desastrosa, mas também perturbadora. Vṛkāsura recebeu, pela graça do senhor Śiva, o poder de destruir a cabeça de qualquer pessoa simplesmente por tocá-la. Embora isso fosse concedido pelo senhor Śiva, o sujeito astuto quis experimentar seu poder tocando a cabeça do senhor Śiva. Desse modo, o senhor Śiva teve que se refugiar em Viṣṇu para se salvar do apuro, e o Senhor Viṣṇu, através de Sua potência ilusória, pediu a Vṛkāsura para fazer uma experiência com sua própria cabeça. O sujeito procedeu como pedido e deu fim a si mesmo, e o mundo, dessa maneira, foi salvo de todos os tipos de problemas da parte desse malicioso pedinte dos semideuses. O ponto de destaque é que o senhor Śiva jamais deixa de dar qualquer tipo de dádiva a todos. Portanto, ele é o mais generoso, embora às vezes cometa algum tipo de erro.
Ramā se refere à deusa da fortuna. E seu abrigo é o Senhor Viṣṇu. O Senhor Viṣṇu é o mantenedor de todos os seres vivos. Há inúmeros seres vivos, não apenas na superfície deste planeta, mas também em todas as outras centenas de milhares de planetas. Todos são providos de todas as necessidades da vida para a marcha progressiva rumo à meta da autorrealização, mas, no caminho do gozo dos sentidos, eles são postos em dificuldades pela ação de māyā, a energia ilusória, e, desse modo, viajam pelo caminho de um falso plano de desenvolvimento econômico. Tal desenvolvimento econômico nunca é bem-sucedido porque é ilusório. Esses homens andam sempre em busca da misericórdia da ilusória deusa da fortuna, mas não sabem que a deusa da fortuna só pode viver sob a proteção de Viṣṇu. Sem Viṣṇu, a deusa da fortuna é uma ilusão. Devemos, portanto, buscar a proteção de Viṣṇu, ao invés de buscar diretamente a proteção da deusa da fortuna. Somente Viṣṇu e os devotos de Viṣṇu podem proteger a todos, e porque Mahārāja Parīkṣit, em pessoa, fora protegido por Viṣṇu, foi-lhe completamente possível dar completa proteção a todos que queriam viver sob seu governo.