VERSO 30
patiṁ prayāntaṁ subalasya putrī
pati-vratā cānujagāma sādhvī
himālayaṁ nyasta-daṇḍa-praharṣaṁ
manasvinām iva sat samprahāraḥ
patim — seu esposo; prayāntam — enquanto deixava o lar; subalasya — do rei Subala; putrī — a filha digna; pati-vratā — devotada a seu esposo; ca — também; anujagāma — seguiu; sādhvī — a casta; himālayam — rumo às montanhas dos Himālayas; nyasta-daṇḍa — aquele que aceita o bastão da ordem renunciada; praharṣam — objeto de deleite; manasvinām — dos grandes lutadores; iva — como; sat — legítimo; samprahāraḥ — bom açoite.
A amável e casta Gāndhārī, que era filha do rei Subala de Kandahar [ou Gāndhāra], seguiu seu esposo, vendo que ele se dirigia para as montanhas dos Himālayas, que são o deleite daqueles que aceitam o bastão da ordem de vida renunciada, tal como os lutadores que aceitam um bom açoite do inimigo.
SIGNIFICADO—Saubalinī, ou Gāndhārī, filha do rei Subala e esposa do rei Dhṛtarāṣṭra, era ideal como esposa devotada a seu marido. A civilização védica prepara especialmente esposas castas e devotadas, das quais Gāndhārī é uma dentre muitas mencionadas na história. Lakṣmījī Sītādevī também era filha de um grande rei, mas seguiu seu esposo, o Senhor Rāmacandra, em direção à floresta. Da mesma forma, na qualidade de mulher, Gāndhārī poderia ter permanecido em casa ou na casa de seu pai, mas, como senhora casta e amável, seguiu seu esposo sem mais considerações. Vidura transmitiu a Dhṛtarāṣṭra instruções para a ordem de vida renunciada, e Gāndhārī ficou ao lado de seu esposo. Mas ele não pediu que ela o seguisse, visto que, naquela ocasião, estava plenamente determinado, assim como um grande guerreiro que se defronta com todos os tipos de perigos no campo de batalha. Ele já não se sentia atraído à sua dita esposa ou ditos parentes, e decidiu partir sozinho, mas, como uma senhora casta, Gāndhārī decidiu seguir seu esposo até o último momento. Mahārāja Dhṛtarāṣṭra aceitou a ordem de vānaprastha, e, nesse estágio, a esposa tem permissão de permanecer como serva voluntária, mas, no estágio sannyāsa, nenhuma esposa pode ficar com seu ex-marido. O sannyāsī é considerado um homem morto do ponto de vista civil, motivo pelo qual a esposa, civilmente, torna-se viúva, sem nenhum vínculo com seu ex-marido. Mahārāja Dhṛtarāṣṭra não negou essa oportunidade a sua fiel esposa, e ela seguiu seu esposo por sua própria conta e risco.
Os sannyāsīs aceitam um bastão como sinal da ordem de vida renunciada. Há dois tipos de sannyāsīs. Aqueles que seguem a filosofia māyāvāda, encabeçados por Śrīpāda Śaṅkarācārya, aceitam apenas uma vara (eka-daṇḍa), mas aqueles que seguem a filosofia vaiṣṇavite aceitam três varas combinadas (tri-daṇḍa). Os sannyāsīs māyāvādīs são ekadaṇḍi-svāmīs, ao passo que os sannyāsīs vaiṣṇavas são conhecidos como tridaṇḍi-svāmīs, ou, mais distintamente, tridaṇḍi-gosvāmīs, para serem diferenciados dos filósofos māyāvādīs. A maioria dos ekadaṇḍi-svāmīs gosta dos Himālayas, mas os sannyāsīs vaiṣṇavas gostam de Vṛndāvana e Purī. Os sannyāsīs vaiṣṇavas são narottamas, ao passo que os sannyāsīs māyāvādīs são dhīras. Mahārāja Dhṛtarāṣṭra foi aconselhado a seguir os dhīras porque, àquela altura, seria difícil que ele se tornasse um narottama.