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VERSO 8

yudhiṣṭhira uvāca
api smaratha no yuṣmat-
pakṣa-cchāyā-samedhitān
vipad-gaṇād viṣāgnyāder
mocitā yat samātṛkāḥ

yudhiṣṭhiraḥ uvāca — Mahārāja Yudhiṣṭhira disse; api — se; smaratha — te lembras; naḥ — nos; yuṣmat — de ti; pakṣa — parcialidade conosco, como as asas de um pássaro; chāyā — proteção; samedhitān — nós que fomos criados por ti; vipat-gaṇāt — de vários tipos de calamidades; viṣa — pela administração de veneno; agni-ādeḥ — ateando fogo; mocitāḥ — libertados de; yat — o que fizeste; sa — juntamente com; mātṛkāḥ — nossa mãe.

Mahārāja Yudhiṣṭhira disse: Meu tio, tu te lembras de como sempre nos protegeste, juntamente com nossa mãe, de todas as espécies de calamidades? Tua parcialidade, como as asas de um pássaro, salvou-nos do envenenamento e do incêndio premeditado.

SIGNIFICADO—Devido à morte de Pāṇḍu em idade prematura, seus filhos pequenos e sua viúva foram objeto de cuidado especial por parte de todos os membros mais velhos da família, especialmente Bhīṣmadeva e Mahātmā Vidura. Vidura era mais ou menos parcial com os Pāṇḍavas devido à situação política deles. Embora Dhṛtarāṣṭra fosse igualmente cuidadoso com os filhos pequenos de Mahārāja Pāṇḍu, ele era um dos elementos que tramavam varrer para fora os descendentes de Pāṇḍu e substituí-los colocando os filhos de Dhṛtarāṣṭra como os governantes do reino. Mahātmā Vidura pôde acompanhar esse plano secreto de Dhṛtarāṣṭra e companhia, e, por isso, embora fosse um servo fiel de seu irmão mais velho, Dhṛtarāṣṭra, Vidura não gostava das ambições políticas dele em favor de seus próprios filhos. Portanto, ele era muito cuidadoso quanto à proteção dos Pāṇḍavas e de sua mãe viúva. Desse modo, ele era, por assim dizer, parcial com os Pāṇḍavas, preferindo-os aos filhos de Dhṛtarāṣṭra, embora todos eles fossem igualmente queridos sob seu olhar comum. Ele era igualmente afeiçoado a ambos os grupos de sobrinhos, no sentido de que sempre repreendia Duryodhana por sua política ardilosa contra seus primos. Ele sempre criticava seu irmão mais velho por sua política de encorajamento a seus filhos e, ao mesmo tempo, estava sempre alerta para dar proteção especial aos Pāṇḍavas. Todas essas diferentes atividades de Vidura dentro da política palaciana o tornaram famoso como parcial com os Pāṇḍavas. Mahārāja Yudhiṣṭhira se referiu à história passada de Vidura, antes de sua partida do lar para uma prolongada viagem de peregrinação. Mahārāja Yudhiṣṭhira o lembrou de que ele fora igualmente bondoso e parcial com seus sobrinhos crescidos, mesmo após a Guerra de Kurukṣetra, um grande desastre familiar.

Antes da Guerra de Kurukṣetra, a política de Dhṛtarāṣṭra era de pacífica aniquilação de seus sobrinhos; portanto, ele mandou Purocana construir uma casa em Vāraṇāvata, e, quando a construção foi terminada, Dhṛtarāṣṭra desejou que a família de seu irmão vivesse ali por algum tempo. Quando os Pāṇḍavas se puseram a caminho de Vāraṇāvata, na presença de todos os membros da família real, Vidura, com muito tato, deu instruções aos Pāṇḍavas sobre o futuro plano de Dhṛtarāṣṭra. Isso está especificamente descrito no Mahābhārata (Ādi-parva 114). Ele indicou indiretamente: “Uma arma, que não é feita de aço ou qualquer outro elemento material, pode ser mais afiada para matar um inimigo, e aquele que sabe disso nunca é morto.” Isto é, ele avisou que o grupo dos Pāṇḍavas estava sendo enviado a Vāraṇāvata para ser morto e, portanto, aconselhou a Yudhiṣṭhira que tivesse muito cuidado em seu novo palácio residencial. Ele também deu pistas sobre o incêndio e disse que o fogo não pode extinguir a alma, mas pode aniquilar o corpo material. Contudo, aquele que protege a alma pode viver. Kuntī não podia acompanhar essa conversa indireta entre Mahārāja Yudhiṣṭhira e Vidura, e, assim, quando perguntou a seu filho sobre o significado da conversa, Yudhiṣṭhira respondeu que, a partir das palavras de Vidura, entendia-se que havia uma previsão de incêndio na casa para onde eles estavam indo. Mais tarde, Vidura foi disfarçado até os Pāṇḍavas e os informou de que o vigia da residência atearia fogo à casa na décima quarta noite da lua minguante. Tal era o plano secreto de Dhṛtarāṣṭra para que os Pāṇḍavas morressem todos de uma vez, juntamente com sua mãe. E, pelo aviso de Vidura, os Pāṇḍavas escaparam através de um túnel subterrâneo, de modo que Dhṛtarāṣṭra não ficasse sabendo de sua fuga, tanto que, após atearem fogo, os Kauravas estavam tão certos da morte dos Pāṇḍavas que Dhṛtarāṣṭra executou os últimos ritos fúnebres com grande alegria. E, durante o período de luto, todos os membros do palácio ficaram dominados pela lamentação, mas Vidura não o estava, por saber que os Pāṇḍavas estavam vivos em alguma parte. Há muitos exemplos de calamidades assim, sendo que, em cada uma delas, Vidura protegeu os Pāṇḍavas por um lado e, por outro lado, tentou dissuadir seu irmão Dhṛtarāṣṭra de sua política ardilosa. Assim, ele era sempre parcial com os Pāṇḍavas, tal como um pássaro protege seus ovos com as asas.

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