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VERSO 27

deśa-kālārtha-yuktāni
hṛt-tāpopaśamāni ca
haranti smarataś cittaṁ
govindābhihitāni me

deśa — espaço; kāla — tempo; artha — importância; yuktāni — impregnadas com; hṛt — o coração; tāpa — ardente; upaśamāni — extinguindo; ca — e; haranti — estão atraindo; smarataḥ — por lembrar; cittam — mente; govinda — a Personalidade Suprema do prazer; abhihitāni — narradas por; me — a mim.

Sinto-me atraído agora por aquelas instruções transmitidas a mim pela Personalidade de Deus [Govinda] porque elas estão impregnadas com instruções para aliviar o coração ardente em todas as circunstâncias de tempo e espaço.

SIGNIFICADO—Aqui, Arjuna refere-se à instrução da Bhagavad-gītā, que lhe foi transmitida pelo Senhor no Campo de Batalha de Kurukṣetra. O Senhor deixou as instruções da Bhagavad-gītā não somente para o benefício de Arjuna, mas também para todas as épocas em todas as terras. A Bhagavad-gītā, tendo sido proferida pela Suprema Personalidade de Deus, é a essência de toda a sabedoria védica. É muito bem apresentado pelo próprio Senhor para todos que têm pouquíssimo tempo para pesquisar as vastas literaturas védicas, como as Upaniṣads, os Purāṇas e os Vedānta-sūtras. Ele está colocado dentro do estudo da grande epopeia histórica Mahābhārata, que foi especialmente preparada para as classes menos inteligentes, a saber, as mulheres, os trabalhadores e aqueles que são descendentes indignos dos brāhmaṇas, kṣatriyas e seções superiores dos vaiśyas. O problema que surgiu no coração de Arjuna no Campo de Batalha de Kurukṣetra foi resolvido pelos ensinamentos da Bhagavad-gītā. Novamente, após a partida do Senhor da vista das pessoas terrestres, quando Arjuna estava face a face com a extinção de seu poder e proeminência adquiridos, ele quis mais uma vez recordar os grandes ensinamentos da Bhagavad-gītā simplesmente para ensinar a todos os interessados que a Bhagavad-gītā pode ser consultada em todos os momentos críticos, não apenas para consolo de todas as espécies de agonias mentais, mas também como solução para as grandes perplexidades que possam desconcertar alguém em horas críticas.

O Senhor misericordioso deixou os grandes ensinamentos da Bhagavad-gītā para que possamos receber as instruções do Senhor mesmo quando Ele fica invisível ao campo de visão material. Os sentidos materiais não podem de maneira alguma apreciar o Senhor Supremo, mas, através de Seu poder inconcebível, o Senhor pode encarnar-Se de modo apropriado à percepção sensorial das almas condicionadas, por intermédio da matéria, que também é outra forma da energia manifestada do Senhor. Assim, a Bhagavad-gītā, ou qualquer outra representação escritural, sonora e autêntica do Senhor, também é uma encarnação do Senhor. Não há diferença entre a representação sonora do Senhor e o próprio Senhor. Uma pessoa pode obter o mesmo benefício da Bhagavad-gītā obtido por Arjuna na presença pessoal do Senhor.

O ser humano fiel, que deseja ser liberto das garras da existência material, pode muito facilmente tirar proveito da Bhagavad-gītā, e, tendo isso em vista, o Senhor instruiu Arjuna como se Arjuna estivesse necessitado disso. Na Bhagavad-gītā, cinco fatores importantes de conhecimento são delineados, pertinentes (1) ao Senhor Supremo, (2) ao ser vivo, (3) à natureza, (4) ao tempo e espaço e (5) ao processo de atividade. Dentre esses, o Senhor Supremo e o ser vivo são qualitativamente unos. A diferença entre os dois tem sido analisada como a diferença entre o todo e a parte integrante. A natureza é a matéria inerte exibindo a interação de três modos diferentes, e o tempo eterno e o espaço ilimitado são considerados como estando além da existência da natureza material. As atividades do ser vivo são diferentes variedades de aptidões que podem enredar ou liberar o ser vivo dentro e fora da natureza material. Todos esses assuntos são concisamente discutidos na Bhagavad-gītā, e, mais tarde, os temas são elaborados no Śrīmad-Bhāgavatam para posterior iluminação. Dentre os cinco temas, o Senhor Supremo, a entidade viva, a natureza, o tempo e o espaço são eternos, mas a entidade viva, a natureza e o tempo estão sob a direção do Senhor Supremo, que é absoluto e completamente independente de qualquer outro controle. O Senhor Supremo é o controlador supremo. A atividade material do ser vivo não tem início, mas pode ser retificada pela transferência à qualidade espiritual. Então, ela pode cessar suas reações materiais qualitativas. Tanto o Senhor quanto a entidade viva são conscientes, e ambos têm o sentido de identificação, de serem conscientes como uma força viva. Mas o ser vivo sob o condicionamento da natureza material, chamada mahat-tattva, identifica-se erroneamente como sendo diferente do Senhor. Todo o esquema da sabedoria védica é voltado para a meta de erradicar essa falsa concepção e, desse modo, libertar o ser vivo da ilusão da identificação material. Quando essa ilusão é erradicada pelo conhecimento e pela renúncia, os seres vivos são atores responsáveis e também desfrutadores. O sentido de gozo no Senhor é real, mas esse sentido no ser vivo não passa de uma espécie de desejo fantasioso. Essa diferença na consciência é a distinção entre as duas identidades, a saber, o Senhor e o ser vivo. De outro modo, não haveria diferença entre o Senhor e o ser vivo. Portanto, o ser vivo é eternamente uno e diferente, simultaneamente. Toda a instrução da Bhagavad-gītā repousa sobre esse princípio.

Na Bhagavad-gītā, o Senhor e os seres vivos são ambos descritos como sanātana, ou eternos, e a morada do Senhor, que está muito além do céu material, também é descrita como sanātana. O ser vivo é convidado a viver na existência sanātana do Senhor, e o processo que pode ajudar um ser vivo a aproximar-se da morada do Senhor, onde se manifesta a atividade liberada da alma, chama-se sanātana-dharma. Não podemos, entretanto, alcançar a morada eterna do Senhor sem estarmos livres da falsa concepção da identificação material, e a Bhagavad-gītā nos dá a chave de como alcançar essa fase de perfeição. O processo de libertar-se da falsa concepção da identificação material chama-se, em diferentes fases, atividade fruitiva, filosofia empírica e serviço devocional, até a compreensão transcendental. Essa compreensão transcendental se torna possível ajustando-se todos os itens acima em relação com o Senhor. Os deveres prescritos do ser humano, segundo a orientação dos Vedas, podem gradualmente purificar a mente pecaminosa da alma condicionada e elevá-la até a fase de conhecimento. A fase purificada de aquisição de conhecimento torna-se a base do serviço devocional ao Senhor. Enquanto uma pessoa está ocupada em pesquisar a solução dos problemas da vida, seu conhecimento chama-se jñāna, ou conhecimento purificado, mas, ao compreender a verdadeira solução da vida, a pessoa situa-se no serviço devocional ao Senhor. A Bhagavad-gītā começa encarando os problemas da vida, discriminando a alma dos elementos da matéria, e prova, por meio de todo raciocínio lógico e argumentos, que a alma é indestrutível em qualquer circunstância e que a cobertura exterior da matéria, o corpo e a mente, mudam-se para outro período de existência material, a qual é cheia de misérias. Portanto, a Bhagavad-gītā se destina a colocar fim a todas as diferentes espécies de misérias, e Arjuna refugiou-se nesse grande conhecimento, que tinha sido transmitido a ele durante a Guerra de Kurukṣetra.

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