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VERSO 47

apāpeṣu sva-bhṛtyeṣu
bālenāpakva-buddhinā
pāpaṁ kṛtaṁ tad bhagavān
sarvātmā kṣantum arhati

apāpeṣu — àquele que está completamente livre de todos os pecados; sva-bhṛtyeṣu — àquele que é subordinado e merece ser protegido; bālena — por uma criança; apakva — que é imatura; buddhinā — pela inteligência; pāpam — ato pecaminoso; kṛtam — tem sido feito; tat bhagavān — portanto, a Personalidade de Deus; sarva-ātmā — que é onipenetrante; kṣantum — simplesmente para perdoar; arhati — merece.

Então, o ṛṣi orou à onipenetrante Personalidade de Deus para que perdoasse seu filho imaturo, que não tinha inteligência e que cometera o grande pecado de amaldiçoar alguém que estava completamente livre de todos os pecados, que era subordinado e que merecia proteção.

SIGNIFICADO—Todos são responsáveis pelas próprias ações, sejam piedosas ou pecaminosas. O ṛṣi Śamīka pôde prever que seu filho cometera um grande pecado ao amaldiçoar Mahārāja Parīkṣit, o qual merecia ser protegido pelos brāhmaṇas, pois era um governante piedoso e completamente livre de todos os pecados por ser um devoto de primeira classe do Senhor. Quando se comete uma ofensa ao devoto do Senhor, é muito difícil superar a reação. Os brāhmaṇas, estando na cabeça das ordens sociais, destinam-se a proteger seus subordinados, e não a amaldiçoá-los. Há ocasiões em que um brāhmaṇa pode amaldiçoar furiosamente um subordinado kṣatriya ou vaiśya etc., mas, no caso de Mahārāja Parīkṣit, não havia fundamento para isso, como já se explicou. O menino brāhmaṇa o fez devido à simples vaidade de ser filho de brāhmaṇa e, assim, tornou-se passível de punição pela lei de Deus. O Senhor nunca perdoa alguém que condene Seu devoto puro. Portanto, ao amaldiçoar o rei, o tolo Śṛṅgi cometera não apenas um pecado, mas também a maior ofensa. Portanto, o ṛṣi pôde prever que somente a Suprema Personalidade de Deus poderia salvar seu filho do ato pecaminoso. Portanto, ele orou diretamente pedindo perdão ao Senhor Supremo, o qual é o único que pode desfazer algo impossível de ser mudado. O apelo foi feito em nome de um menino tolo que não tinha desenvolvido inteligência alguma.

Pode-se levantar aqui a questão de que, se era desejo do Senhor que Mahārāja Parīkṣit fosse colocado naquela posição incômoda para que pudesse libertar-se da existência material, por que, então, um filho de brāhmaṇa era tido como responsável por esse ato ofensivo? A resposta é que o ato ofensivo fora executado por uma criança somente para que ela pudesse ser facilmente perdoada, e, assim, a oração do pai foi aceita. Mas caso se questione o motivo pelo qual a comunidade brāhmaṇa foi responsabilizada como um todo por permitir a presença de Kali nos afazeres do mundo, apresenta-se a seguinte resposta no Varāha Purāṇa: que os demônios, que agiram com hostilidade contra a Personalidade de Deus, mas não foram mortos pelo Senhor, obtiveram permissão de nascer nas famílias dos brāhmaṇas para aproveitarem-se da era de Kali. O Senhor todo-misericordioso deu-lhes uma oportunidade de nascerem em famílias de brāhmaṇas piedosos para que eles pudessem progredir no caminho da salvação. Mas os demônios, ao invés de utilizar a boa oportunidade, abusaram da cultura bramânica deixando-se inflar pela vaidade de terem-se tornado brāhmaṇas. O exemplo típico é o filho de Śamīka Ṛṣi, e todos os filhos tolos de brāhmaṇas são aqui aconselhados a não se tornarem tão tolos como Śṛṅgi e precaverem-se sempre contra as qualidades demoníacas que tiveram em seus nascimentos anteriores. É claro que o menino tolo teve o perdão do Senhor, mas outros, que talvez não tenham um pai como Śamīka Ṛṣi, serão postos em grande dificuldade se abusarem das vantagens obtidas pelo nascimento em família brāhmaṇa.

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