VERSO 19
na vai jano jātu kathañcanāvrajen
mukunda-sevy anyavad aṅga saṁsṛtim
smaran mukundāṅghry-upagūhanaṁ punar
vihātum icchen na rasa-graho janaḥ
na — nunca; vai — certamente; janaḥ — uma pessoa; jātu — em tempo algum; kathañcana — de uma forma ou de outra; āvrajet — não se submete; mukunda-sevī — o devoto do Senhor; anyavat — como outros; aṅga — ó meu caro; saṁsṛtim — existência material; smaran — lembrar-se; mukunda-aṅghri — os pés de lótus do Senhor; upagūhanam — abraçando; punaḥ — novamente; vihātum — desejando abandonar; icchet — desejo; na — nunca; rasa-grahaḥ — alguém que tenha saboreado a doçura; janaḥ — pessoa.
Meu caro Vyāsa, embora um devoto do Senhor Kṛṣṇa às vezes caia, de uma forma ou de outra, ele certamente não fica sujeito à existência material como os outros [os trabalhadores fruitivos e os demais], porque uma pessoa que tenha uma vez saboreado o gosto dos pés de lótus do Senhor não pode fazer nada além de se lembrar repetidamente desse êxtase.
SIGNIFICADO—Um devoto do Senhor perde automaticamente o interesse pelo encanto da existência material porque ele é rasa-graha, ou aquele que saboreou a doçura dos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa. Certamente, há muitos exemplos de devotos que caíram devido a más companhias, assim como os trabalhadores fruitivos, que estão sempre propensos à degradação. Porém, embora caia, um devoto nunca deve ser considerado como um karmī caído. O karmī sofre o resultado de suas próprias reações fruitivas, enquanto o devoto é reformado pelo castigo aplicado pelo próprio Senhor. Os sofrimentos de um órfão e os sofrimentos do amado filho de um rei não são iguais. O órfão é realmente pobre porque não tem ninguém que cuide dele, mas o querido filho de um homem rico, embora pareça estar no mesmo nível do órfão, está sempre sob os cuidados de seu competente pai. Um devoto do Senhor, devido à companhia errada, às vezes imita os trabalhadores fruitivos. Os trabalhadores fruitivos querem assenhorear-se do mundo material. Analogamente, um devoto neófito pensa tolamente em acumular algum poder material em troca do serviço devocional. Tais devotos tolos são às vezes postos em dificuldades pelo próprio Senhor. Como favor especial, Ele pode tirar toda a parafernália material do devoto. Por tal ação, o devoto confuso é abandonado por todos os amigos e parentes, e assim volta novamente à razão, pela misericórdia do Senhor, e se corrige para prestar seu serviço devocional.
Na Bhagavad-gītā, também se diz que esses devotos caídos recebem uma oportunidade de nascer numa família de brāhmaṇas altamente qualificados, ou numa rica família mercantil. Um devoto nessa posição não é tão afortunado como aquele que é castigado pelo Senhor e colocado numa posição de aparente desamparo. O devoto que se torna desprotegido pela vontade do Senhor é mais afortunado do que aqueles que nascem em boas famílias. Os devotos caídos que nascem em boas famílias podem esquecer-se dos pés de lótus do Senhor, porque são menos afortunados, mas o devoto que é posto numa condição desamparada é mais afortunado, pois retorna prontamente aos pés de lótus do Senhor ao sentir-se desprotegido por completo.
O serviço devocional puro é tão saboroso espiritualmente que um devoto perde automaticamente o interesse pelo desfrute material. Eis o sinal da perfeição no serviço devocional progressivo. Um devoto puro lembra-se continuamente dos pés de lótus do Senhor Śrī Kṛṣṇa e não se esquece dEle nem por um instante, nem mesmo em troca de toda a opulência dos três mundos.