VERSO 35
yamādibhir yoga-pathaiḥ
kāma-lobha-hato muhuḥ
mukunda-sevayā yadvat
tathātmāddhā na śāmyati
yama-ādibhiḥ — pelo processo de praticar autorrestrição; yoga-pathaiḥ — pelo sistema de yoga (poderes místicos corpóreos para alcançar o estágio divino); kāma — desejos de satisfazer os sentidos; lobha — luxúria para a satisfação dos sentidos; hataḥ — restringidos; muhuḥ — sempre; mukunda — a Personalidade de Deus; sevayā — pelo serviço a; yadvat — tal como é; tathā — assim; ātmā — a alma; addhā — para todos os propósitos práticos; na — não; śāmyati — fica satisfeita.
É verdade que, por praticar a restrição dos sentidos, através do sistema de yoga, podemos nos aliviar dos distúrbios do desejo e da luxúria, mas isso não é suficiente para satisfazer a alma, pois essa [satisfação] se obtém do serviço devocional à Personalidade de Deus.
SIGNIFICADO—O yoga visa a controlar os sentidos. Pela prática do processo místico de exercícios corporais de sentar, pensar, sentir, querer, concentrar-se, meditar e, finalmente, mergulhar na transcendência, é possível controlar os sentidos. Os sentidos são considerados como serpentes venenosas, e o sistema de yoga destina-se a controlá-los. Por outro lado, Nārada Muni recomenda outro método para controlar os sentidos: ocupá-los no transcendental serviço amoroso a Mukunda, a Personalidade de Deus. Através de sua experiência, ele diz que o serviço devocional ao Senhor é mais eficiente e prático do que o sistema de controlar os sentidos artificialmente. No serviço ao Senhor Mukunda, os sentidos são ocupados transcendentalmente. Assim, não há possibilidade de que se ocupem no gozo dos sentidos. Os sentidos precisam de alguma ocupação. Restringi-los artificialmente não é restringi-los de modo algum, pois, tão logo haja alguma oportunidade para desfrute, os sentidos semelhantes a serpentes com certeza se aproveitarão disso. Há muitos exemplos disso na história, como o caso de Viśvāmitra Muni, que caiu vítima da beleza de Menakā. Porém, Ṭhākura Haridāsa foi tentado à meia-noite pela bem vestida Māyā, apesar do que ela não pôde induzir aquele grande devoto à sua armadilha.
Toda a ideia é que, sem o serviço devocional ao Senhor, nem o sistema de yoga, nem a especulação filosófica seca podem tornar-se exitosos, em momento algum. O serviço devocional puro ao Senhor, sem estar maculado por trabalho fruitivo, yoga místico ou filosofia especulativa, é o principal procedimento para se alcançar a autorrealização. Tal serviço devocional puro é de natureza transcendental, e os sistemas de yoga e jñāna são subordinados a esse processo. Quando o serviço devocional transcendental é misturado com um processo subordinado, ele deixa de ser transcendental, passando a ser chamado de serviço devocional misto. Śrīla Vyāsadeva, o autor do Śrīmad-Bhāgavatam, desenvolverá gradualmente, neste texto, todos esses diferentes sistemas de realização transcendental.