VERSO 33
tri-bhuvana-kamanaṁ tamāla-varṇaṁ
ravi-kara-gaura-vara-ambaraṁ dadhāne
vapur alaka-kulāvṛtānanābjaṁ
vijaya-sakhe ratir astu me ’navadyā
tri-bhuvana — três níveis de sistemas planetários; kamanam — o mais desejável; tamāla-varṇam — azulada como a árvore tamāla; ravi-kara — raios do Sol; gaura — cor dourada; varāmbaram — roupa cintilante; dadhāne — aquele que veste; vapuḥ — corpo; alaka-kula-āvṛta — coberto com pinturas de polpa de sândalo; anana-abjam — rosto como um lótus; vijaya-sakhe — ao amigo de Arjuna; ratiḥ astu — que a atração repouse nEle; me — minha; anavadyā — sem desejo de resultados fruitivos.
Śrī Kṛṣṇa é o amigo íntimo de Arjuna. Ele aparece nesta Terra em Seu corpo transcendental, cuja cor se assemelha à cor azulada da árvore tamāla. Seu corpo atrai a todos nos três sistemas planetários [superior, intermediário e inferior]. Que Sua cintilante roupa amarela, e Seu rosto de lótus coberto com pinturas de polpa de sândalo, sejam o objeto de minha atenção, e que eu não deseje os resultados fruitivos.
SIGNIFICADO—Quando Śrī Kṛṣṇa, por Seu prazer interno, aparece na Terra, Ele o faz por intermédio de Sua potência interna. Os aspectos atrativos de Seu corpo transcendental são desejados em todos os três mundos, a saber, os sistemas planetários superior, intermediário e inferior. Em nenhuma parte do universo há aspectos corpóreos tão belos como os do Senhor Kṛṣṇa. Portanto, Seu corpo transcendental nada tem a ver com qualquer coisa materialmente criada. Arjuna é descrito aqui como o conquistador, e Kṛṣṇa é descrito como seu amigo íntimo. Bhīṣmadeva, em seu leito de flechas após a Batalha de Kurukṣetra, está se lembrando especificamente da roupa que o Senhor Kṛṣṇa vestiu como o quadrigário de Arjuna. Enquanto a batalha prosseguia entre Bhīṣma e Arjuna, a atenção de Bhiṣma foi atraída pela cintilante roupa de Kṛṣṇa, e, indiretamente, ele admirou seu assim chamado inimigo, Arjuna, por possuir o Senhor como seu amigo. Arjuna era sempre vencedor porque o Senhor era seu amigo. Bhīṣmadeva aproveita essa oportunidade para dirigir-se ao Senhor como vijaya-sakhe (amigo de Arjuna) porque o Senhor fica satisfeito quando é tratado conjuntamente a Seus devotos, que se relacionam com Ele em diferentes humores transcendentais. Enquanto Kṛṣṇa era o quadrigário de Arjuna, os raios do Sol reluziam na roupa do Senhor, e o belo matiz criado pelo reflexo desses raios nunca foi esquecido por Bhīṣmadeva. Sendo um grande lutador, ele estava saboreando a relação com Kṛṣṇa no humor cavalheiresco. A relação transcendental com o Senhor em qualquer uma das diferentes rasas (humores) é palatável pelos respectivos devotos no êxtase mais elevado. Os mundanos menos inteligentes, que querem fazer um espetáculo de estarem relacionados transcendentalmente com o Senhor, de maneira artificial, saltam de repente para a relação de amor conjugal, imitando as donzelas de Vrajadhāma. Essa relação barata com o Senhor demonstra apenas a mentalidade rasteira dos mundanos, porque alguém que tenha saboreado o humor conjugal com o Senhor não pode estar apegado à rasa conjugal mundana, que é condenada inclusive pelos éticos mundanos. A relação eterna de uma alma particular com o Senhor desenvolve-se. Uma relação genuína do ser vivo com o Senhor Supremo pode tomar qualquer forma dentre as cinco rasas principais, e, para um devoto genuíno, nenhuma dentre elas faz diferença quanto ao grau transcendental. Bhīṣmadeva é um exemplo concreto disso, e deve-se observar cuidadosamente como o grande general tem uma relação com o Senhor na plataforma transcendental.