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Introdução

Ο conceito de Deus e ο conceito da Verdade Absoluta não estão no mesmo nível. Ο Śrīmad-Bhāgavatam tem como objetivo a Verdade Absoluta. Ο conceito de Deus indica ο controlador, ao passo que ο conceito da Verdade Absoluta indica ο summum bonum, ou a fonte última de todas as energias. Não é possível uma divergência de opinião sobre ο aspecto pessoal de Deus como sendo ο controlador porque um controlador não pode ser impessoal. Evidentemente, ο governo moderno, especialmente ο governo democrático, é impessoal até certo ponto, mas, em última análise, ο chefe do executivo é uma pessoa, e ο aspecto impessoal do governo é subordinado ao aspecto pessoal. Assim, não há dúvidas de que sempre que nos referirmos a um controle sobre outras pessoas teremos que admitir a existência de um aspecto pessoal. Por haver diferentes controladores para diferentes posições administrativas, pode ser que haja muitos deuses menores. Segundo a Bhagavad-gītā, qualquer controlador que tenha algum poder extraordinário específico é chamado de vibhūtimat sattva, ou controlador dotado de poder pelo Senhor. Há muitos vibhūtimat sattvas, controladores ou deuses com poderes específicos diversos, mas a Verdade Absoluta é única e incomparável. Este Śrīmad-Bhāgavatam designa a Verdade Absoluta, ou ο summum bonum, como sendo ο paraṁ satyam.

Śrīla Vyāsadeva, ο autor do Śrīmad-Bhāgavatam, primeiramente oferece suas respeitosas reverências ao paraṁ satyam (Verdade Absoluta), e, porque ο paraṁ satyam é a fonte última de todas as energias, ο paraṁ satyam é a Pessoa Suprema. Não resta dúvidas de que os deuses, ou os controladores, são pessoas, mas ο paraṁ satyam, de quem os deuses obtêm poderes de controle, é a Pessoa Suprema. A palavra sânscrita īśvara (controlador) transmite ο significado de Deus, mas a Pessoa Suprema é chamada de parameśvara, ou ο īśvara supremo. A Pessoa Suprema, ou parameśvara, é a suprema personalidade consciente, e, porque Ele não recebe nenhum poder de nenhuma outra fonte, Ele possui a suprema independência. Na literatura védica, Brahmā é descrito como ο deus supremo ou ο cabeça de todos os outros deuses, tais como Indra, Candra e Varuṇa, mas ο Śrīmad-Bhāgavatam confirma que nem mesmo Brahmā é independente no que diz respeito a seu poder e conhecimento. Ele recebeu conhecimento sob a forma dos Vedas a partir da Pessoa Suprema, que mora dentro do coração de todo ser vivo. Essa Personalidade Suprema sabe de tudo direta e indiretamente. Os indivíduos infinitesimais, que são partes integrantes da Personalidade Suprema, talvez saibam direta e indiretamente tudo a respeito de seus corpos ou características externas, mas a Personalidade Suprema sabe tudo sobre Seus aspectos externo e interno.

As palavras janmādy asya sugerem que a fonte de toda produção, manutenção ou destruição é a mesma suprema pessoa consciente. Mesmo com a nossa experiência atual, podemos entender que nada é gerado a partir da matéria inerte, senão que a matéria inerte pode ser gerada a partir da entidade viva. Por exemplo, através do contato com a entidade viva, ο corpo material transforma-se em máquina funcional. Os homens com um fundo insuficiente de conhecimento equivocam-se ao pensar que ο mecanismo do corpo é ο ser vivo, mas ο fato é que ο ser vivo é a base da máquina corpórea. A máquina do corpo torna-se inútil assim que a centelha viva sai do corpo. De forma similar, a fonte original de toda energia material é a Pessoa Suprema. Esse fato é expresso em todos os textos védicos, e todos os expoentes da ciência espiritual têm aceitado esta verdade. A força viva é chamada de Brahman, e um dos ācāryas (mestres) mais importantes, a saber, Śrīpāda Śaṅkarācārya, prega que o Brahman é substância, ao passo que ο mundo cósmico é categoria. A fonte original de todas as energias é a força viva, o que é logicamente aceito como a Pessoa Suprema. Ela é, portanto, consciente de todas as coisas passadas, presentes e futuras, e também de cada canto de Suas manifestações, tanto materiais quanto espirituais. Ο ser vivo imperfeito não sabe nem mesmo ο que está acontecendo dentro de seu próprio corpo. Ele come seu alimento, mas não sabe que ο alimento é transformado em energia ou que ele sustenta ο seu corpo. Quando um ser vivo é perfeito, ele sabe tudo que acontece, e, uma vez que a Pessoa Suprema é todo-perfeita, é bastante natural que Ele saiba tudo com todos os detalhes. Consequentemente, a personalidade perfeita é chamada de Vāsudeva no Śrīmad-Bhāgavatam. Vāsudeva significa aquele que vive em toda parte com consciência plena e em completa posse de Sua energia completa. Tudo isso é claramente explicado no Śrīmad-Bhāgavatam, e ο leitor terá ampla oportunidade de estudá-lo examinando-o criticamente.

Na era atual, ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu pregou ο Śrīmad-Bhāgavatam através da demonstração prática. É mais fácil penetrar nos tópicos do Śrīmad-Bhāgavatam por intermédio da misericórdia sem causa de Śrī Caitanya. Por isso, inserimos aqui um pequeno esboço de Sua vida e preceitos para ajudar ο leitor a entender ο verdadeiro mérito do Śrīmad-Bhāgavatam.

É imprescindível que aprendamos ο Śrīmad-Bhāgavatam com a pessoa Bhāgavatam. A pessoa Bhāgavatam é aquela cuja própria vida é ο Śrīmad-Bhāgavatam na prática. Uma vez que Śrī Caitanya Mahāprabhu é a Absoluta Personalidade de Deus, Ele é tanto Bhagavān quanto Bhāgavatam em pessoa e em som. Portanto, Seu processo de abordar o Śrīmad-Bhāgavatam é prático para todas as pessoas do mundo. Era Seu desejo que ο Śrīmad-Bhāgavatam fosse pregado nos quatro cantos do mundo por parte daqueles que tivessem nascido na Índia.

Ο Śrīmad-Bhāgavatam é a ciência de Kṛṣṇa, a Absoluta Personalidade de Deus de quem temos informação preliminar pelo texto da Bhagavad-gītā. Śrī Caitanya Mahāprabhu diz que qualquer um que seja bem versado na ciência de Kṛṣṇa (o Śrīmad-Bhāgavatam e a Bhagavad-gītā) pode se tornar um pregador ou preceptor autorizado da ciência de Kṛṣṇa, independente de quem seja.

Há uma necessidade da ciência de Kṛṣṇa na sociedade humana para ο bem de toda a humanidade sofredora do mundo. Nós simplesmente pedimos aos leitores de todas as nações que aceitem esta ciência de Kṛṣṇa para ο seu próprio bem, para ο bem da sociedade e para ο bem dos povos de todo ο mundo.

Pequeno Esboço da Vida e dos Ensinamentos do Senhor Caitanya, ο Pregador do Śrīmad-Bhāgavatam

Ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, ο grande apóstolo do amor a Deus e ο pai do canto congregacional do santo nome do Senhor, apareceu em Śrīdhāma Māyāpur, um recanto da cidade de Navadvīpa na Bengala, na noite de Phālgunī Pūrṇimā do ano de 1407 Śakābda (correspondente a fevereiro de 1486, pelo calendário cristão).

Seu pai, Śrī Jagannātha Miśra, um brāhmaṇa erudito do distrito de Sylhet, veio para Navadvīpa como estudante, porque, naquela época, Navadvīpa era considerada ο centro da educação e da cultura. Ele foi morar às margens do Ganges após se casar com Śrīmatī Śacīdevī, filha de Śrīla Nīlāmbara Cakravartī, ο grande estudioso erudito de Navadvīpa.

Jagannātha Miśra teve várias filhas com sua esposa, Śrīmatī Śacīdevī, mas a maioria delas faleceu prematuramente. Dois filhos que sobreviveram, Śrī Viśvarūpa e Viśvambhara, tornaram-se, por fim, ο objeto da afeição de seus pais. Ο décimo filho, ο caçula, que se chamava Viśvambhara, passou a ser conhecido posteriormente como Nimāi Paṇḍita, e depois, após ter aceitado a ordem renunciada de vida, ficou conhecido como Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

Ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu manifestou Suas atividades transcendentais por quarenta e oito anos e, então, desapareceu no ano de 1455 Śakābda, em Purī.

Durante os primeiros vinte e quatro anos, Ele permaneceu em Navadvīpa como estudante e chefe de família. Sua primeira esposa foi Śrīmatī Lakṣmīpriyā, que morreu ainda jovem numa ocasião em que ο Senhor esteve ausente de casa. Ao regressar da Bengala Oriental, Sua mãe Lhe pediu para aceitar uma segunda esposa, ao que Ele acedeu. Sua segunda esposa foi Śrīmatī Viṣṇupriyā Devī, que teve de sofrer a separação do Senhor por toda a vida porque ο Senhor tomou a ordem de sannyāsa aos vinte e quatro anos, quando Śrīmatī Viṣṇupriyā tinha apenas dezesseis anos de idade.

Após tomar sannyāsa, ο Senhor estabeleceu Sua sede em Jagannātha Purī devido ao pedido de Sua mãe, Śrīmatī Śacīdevī. Ο Senhor permaneceu vinte e quatro anos em Purī. Durante seis anos desse período, Ele viajou continuamente por toda a Índia (e sobretudo pelo sul da Índia) pregando ο Śrīmad-Bhāgavatam.

Ο Senhor Caitanya não apenas pregou ο Śrīmad-Bhāgavatam, mas também propagou os ensinamentos da Bhagavad-gītā da maneira mais prática possível. Na Bhagavad-gītā, ο Senhor Śrī Kṛṣṇa é descrito como a Absoluta Personalidade de Deus, e Seus últimos ensinamentos nesse grande livro de conhecimento transcendental dizem que devemos abandonar todas as formas de atividades religiosas e aceitá-lO (o Senhor Śrī Kṛṣṇa) como ο único Senhor adorável. Ο Senhor, então, garantiu que todos os Seus devotos seriam protegidos de todas as espécies de atos pecaminosos e que, para eles, não haveria motivo para ansiedade.

Infelizmente, apesar da ordem direta do Senhor Śrī Kṛṣṇa e dos ensinamentos da Bhagavad-gītā, as pessoas pouco inteligentes Ο entendem mal, considerando-Ο apenas uma grande personalidade histórica, e, desse modo, não podem aceitá-lO como a Personalidade de Deus original. Essas pessoas com um fundo insuficiente de conhecimento são desencaminhadas por muitos não-devotos. Assim é que os ensinamentos da Bhagavad-gītā foram mal interpretados até mesmo por grandes eruditos. Após ο desaparecimento do Senhor Śrī Kṛṣṇa, houve centenas de comentários sobre a Bhagavad-gītā por muitos acadêmicos eruditos, e quase todos eles foram motivados pelo interesse egoísta.

Ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu é ο próprio Senhor Śrī Kṛṣṇa. Dessa vez, entretanto, Ele apareceu como um grande devoto do Senhor a fim de pregar para as pessoas em geral, como também para religiosos e filósofos, sobre a posição transcendental de Śrī Kṛṣṇa, ο Senhor primordial e a causa de todas as causas. A essência de Sua pregação é que ο Senhor Śrī Kṛṣṇa, que apareceu em Vrajabhūmi (Vṛndāvana) como ο filho do rei de Vraja (Nanda Mahārāja), é a Suprema Personalidade de Deus e é, portanto, digno de ser adorado por todos. Vṛndāvana-dhāma não é diferente do Senhor porque ο nome, a fama, a forma e ο local onde ο Senhor Se manifesta são idênticos ao Senhor, como conhecimento absoluto. Por isso, Vṛndāvana-dhāma é tão adorável quanto ο Senhor. A forma mais elevada de transcendental adoração ao Senhor foi demonstrada pelas donzelas de Vrajabhūmi sob a forma de afeição pura pelo Senhor, e ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu recomenda esse processo como sendo a forma mais excelente de adoração. Ele aceita ο Śrīmad Bhāgavata Purāṇa como a literatura imaculada para ο entendimento do Senhor, e prega que a meta última da vida para todos os seres humanos é atingir ο estágio de prema, ou amor a Deus.

Muitos devotos do Senhor Caitanya, tais como Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura, Śrī Locana Dāsa Ṭhākura, Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, Śrī Kavikarṇapūra, Śrī Prabodhānanda Sarasvatī, Śrī Rūpa Gosvāmī, Śrī Sanātana Gosvāmī, Śrī Raghunātha Bhaṭṭa Gosvāmī, Śrī Jīva Gosvāmī, Śrī Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmī, Śrī Raghunātha Dāsa Gosvāmī e, nos últimos duzentos anos, Śrī Viśvanātha Cakravartī, Śrī Baladeva Vidyābhūṣaṇa, Śrī Śyāmānanda Gosvāmī, Śrī Narottama Dāsa Ṭhākura, Śrī Bhaktivinoda Ṭhākura e, por fim, Śrī Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura (nosso mestre espiritual), e muitos outros eruditos e devotos eminentes e renomados do Senhor, têm escrito muitos e muitos volumes de obras e literaturas sobre a vida e os preceitos do Senhor. Todos esses textos baseiam-se nos śāstras, tais como os Vedas, Purāṇas, Upaniṣads, Rāmāyaṇa, Mahābhārata e outras histórias e literaturas autênticas aprovadas pelos ācāryas reconhecidos. Tais śāstras são únicos na composição e incomparáveis na apresentação, e são plenos de conhecimento transcendental. Infelizmente, as pessoas do mundo ainda não os conhecem, mas, quando estes textos, que na maioria são escritos em sânscrito e bengali, chegarem ao conhecimento do mundo e quando forem apresentados diante das pessoas meditativas, então a glória e a mensagem de amor da Índia inundarão este mundo mórbido, que, em vão, busca a paz e a prosperidade através de diversos métodos ilusórios não aprovados pelos ācāryas na corrente de sucessão discipular.

Os leitores desta pequena descrição da vida e dos preceitos do Senhor Caitanya aproveitarão muito ao lerem as obras de Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura (Śrī Caitanya-bhāgavata) e Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī (Śrī Caitanya-caritāmṛta). Ο princípio da vida do Senhor é expresso de forma muito fascinante pelo autor do Caitanya-bhāgavata, e, no que diz respeito aos ensinamentos, esses são mais vividamente explicados no Caitanya-caritāmṛta. Agora, essas obras são acessíveis ao público ocidental através de nosso livro Ensinamentos do Senhor Caitanya.

Ο princípio da vida do Senhor foi registrado por um de Seus devotos e principais contemporâneos, a saber, Śrīla Murāri Gupta, um médico que exercia a profissão na época, e a parte final da vida de Śrī Caitanya Mahāprabhu foi registrada por Seu secretário particular, Śrī Dāmodara Gosvāmī, ou Śrīla Svarūpa Dāmodara, que era, por assim dizer, um companheiro constante do Senhor em Purī. Esses dois devotos registraram praticamente todos os incidentes das atividades do Senhor, e, posteriormente, todos os livros a respeito do Senhor, que foram mencionados acima, foram compostos com base nos kaḍacās (livros de anotações) de Śrīla Dāmodara Gosvāmī e Murāri Gupta.

Assim, ο Senhor apareceu na noite de Phālgunī Pūrṇimā de 1407 Śakābda, e foi pela vontade do Senhor que houve um eclipse lunar naquela noite. Durante as horas do eclipse, ο público hindu costumava tomar banho no Ganges ou em qualquer outro rio sagrado e cantar os mantras védicos de purificação. Quando ο Senhor Caitanya nasceu, durante ο eclipse lunar, toda a Índia estrugia com ο som sagrado de Hare Kṛṣṇa, Hare Κṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Esses dezesseis nomes do Senhor são mencionados em muitos Purāṇas e Upaniṣads, e são descritos como ο tāraka-brahma nāma desta era. É recomendado nos śāstras que ο cantar desses santos nomes do Senhor, cantados sem ofensas, pode libertar uma alma caída do cativeiro material. Há inumeráveis nomes do Senhor tanto na Índia quanto fora da Índia, e todos eles são igualmente bons porque todos eles indicam a Suprema Personalidade de Deus. Contudo, por estes dezesseis nomes serem recomendados especialmente para esta era, as pessoas devem tirar proveito deles e trilhar ο caminho dos grandes ācāryas que alcançaram ο sucesso praticando as regras dos śāstras (escrituras reveladas).

Essa ocorrência simultânea do aparecimento do Senhor e do eclipse lunar indicava a missão distintiva do Senhor. Essa missão consistia em pregar a importância de se cantarem os santos nomes do Senhor nesta era de Κali (era das desavenças). Na era atual, briga-se até por questões insignificantes, em razão do que os śāstras recomendam para esta era uma plataforma comum de autorrealização, a saber, ο canto dos santos nomes do Senhor. As pessoas poderão promover encontros para glorificar ο Senhor em suas respectivas línguas e com canções melodiosas, e, se tais encontros forem feitos de maneira inofensiva, é certo que os participantes alcançarão gradualmente a perfeição espiritual, sem terem que se submeter a métodos mais rigorosos. Em tais encontros, todos – os intelectuais e os ignorantes, os ricos e os pobres, os hindus e os muçulmanos, os ingleses e os indianos e os candālas e os brāhmaṇas poderão ouvir os sons transcendentais e, assim, limpar ο espelho do coração da poeira contaminante da matéria. Para confirmar a missão do Senhor, todas as pessoas do mundo aceitarão ο santo nome do Senhor como a plataforma comum para a religião universal da humanidade. Em outras palavras, ο advento do santo nome ocorreu juntamente com ο advento do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

Quando ο Senhor era ainda um bebê de colo, Ele parava imediatamente de chorar assim que as senhoras à Sua volta cantavam os santos nomes e batiam palmas. Esse incidente peculiar foi observado pelos vizinhos com respeito e veneração. Às vezes, as mocinhas sentiam prazer em fazer ο Senhor chorar para, então, fazê-lO parar, cantando ο santo nome. Destarte, desde Sua infância, ο Senhor começou a pregar a importância do santo nome. Na Sua meninice, ο Senhor Śrī Caitanya era conhecido como Nimāi. Esse nome Lhe foi dado por Sua amada mãe porque ο Senhor nascera debaixo de uma árvore nimba no pátio da casa de Seu pai.

Quando, aos seis meses de idade, ofereceram-Lhe alimento sólido na cerimônia chamada anna-prāśana, ο Senhor indicou Suas atividades futuras. Nessa ocasião, era costume oferecer à criança moedas e livros a fim de se saber quais seriam suas tendências futuras. Ao Senhor, foram oferecidas moedas de um lado, e ο Śrīmad-Bhāgavatam de outro. Ο Senhor escolheu ο Bhāgavatam em vez das moedas.

Certa feita, enquanto apenas sabia engatinhar, uma cobra apareceu diante do Senhor, e Ele começou a brincar com ela. Todos os membros da casa se encheram de medo e ansiedade, mas, após alguns instantes, a cobra se foi, e ο neném foi arrebatado pela mãe. Uma vez, Ele foi raptado por um ladrão que pretendia roubar-Lhe os ornamentos, mas ο Senhor fez uma viagem divertida no ombro do ladrão desconcertado, que procurava um lugar isolado para saquear ο bebê. Aconteceu que ο ladrão, vagando daqui para ali, foi parar novamente na casa de Jagannātha Miśra e, temendo ser preso, restituiu ο menino de imediato. Evidentemente, os pais e parentes ansiosos ficaram contentes ao reverem a criança perdida.

Certa vez, Jagannātha Miśra hospedou um brāhmaṇa peregrino, ο qual se colocou a oferecer comida à Divindade, quando ο Senhor apareceu diante dele e comeu do alimento. A comida teve que ser rejeitada porque ο menino tinha tocado nela, e, por isso, ο brāhmaṇa foi obrigado a cozinhar tudo de novo. Na segunda vez, aconteceu a mesma coisa, e, quando isso se repetiu pela terceira vez, ο neném foi posto para dormir. Por volta de meia noite, quando todos os membros da casa já dormiam profundamente dentro de seus cômodos fechados, ο brāhmaṇa peregrino ofereceu sua comida preparada especialmente para a Deidade, e, mais uma vez, ο Senhor bebê apareceu diante do peregrino e arruinou sua oferenda. Ο brāhmaṇa, então, começou a chorar, mas, visto que todos estavam dormindo, ninguém ο ouviu. Nessa altura, ο Senhor bebê apareceu diante do afortunado brāhmaṇa e revelou Sua identidade como o próprio Kṛṣṇa. Ο brāhmaṇa foi proibido de revelar esse incidente, e ο bebê voltou para Seu berço.

Há muitos incidentes similares em Sua infância. Como menino travesso, às vezes Ele importunava os brāhmaṇas ortodoxos que costumavam banhar-se no Ganges. Quando os brāhmaṇas iam queixar-se com ο pai, dizendo que Ele ficava jogando-lhes água em vez de ir para a escola, ο Senhor aparecia subitamente diante do pai como se estivesse acabando de chegar da escola com Seu uniforme e livros escolares. No ghāṭa (balneário), Ele também costumava pregar peças nas moças da vizinhança que se dedicavam a adorar Śiva na esperança de conseguir bons esposos. Essa é uma prática comum entre moças solteiras nas famílias hindus. Enquanto estavam ocupadas nessa adoração, ο Senhor aparecia travessamente diante delas e dizia: “Caras irmãs, por favor, dai-Me todas as oferendas que acabastes de trazer para ο senhor Śiva. Ο senhor Śiva é Meu devoto, e Pārvatī, Minha criada. Se vós Me adorardes, ο senhor Śiva e todos os outros semideuses ficarão deveras satisfeitos.” Algumas delas se negavam a obedecer ao Senhor travesso, ao que Ele as amaldiçoava, dizendo que, devido à sua recusa, elas se casariam com homens velhos que tivessem sete filhos com esposas anteriores. Por temor e, às vezes, por amor, as mocinhas também Lhe ofereciam vários presentes, momento no qual ο Senhor as abençoava, garantindo-lhes que teriam esposos jovens e bons e seriam mães de dúzias de filhos. As bênçãos animavam as mocinhas, mas, muitas vezes, elas se queixavam desses incidentes com suas mães.

Dessa maneira, ο Senhor passou a Sua tenra infância. Quando tinha apenas dezesseis anos de idade, Ele começou ο Seu próprio catuṣpāṭhī (escola de vila dirigida por um brāhmaṇa erudito). Nessa escola, Ele só fazia explicar Kṛṣṇa, mesmo nas leituras de gramática. Śrīla Jīva Gosvāmī, a fim de agradar ao Senhor, compôs, mais tarde, uma gramática em sânscrito em que todas as regras de gramática eram explicadas com exemplos que usavam os santos nomes do Senhor. Essa gramática ainda existe hoje em dia. Ela é conhecida como Hari-nāmāmṛta-vyākaraṇa e é adotada nos currículos das escolas na Bengala.

Durante esse período, um grande erudito de Kashmir chamado Keśava Kāśmīri foi para Navadvīpa a fim de discutir sobre os śāstras. Ο paṇḍita de Kashmir era um erudito campeão, e havia viajado por todos os lugares de erudição na Índia. Finalmente, ele chegava a Navadvīpa para debater com os paṇḍitas eruditos dali. Os paṇḍitas de Navadvīpa decidiram colocar Nimāi Paṇḍita (ο Senhor Caitanya) para competir com ο paṇḍita de Kashmir, pensando que, se Nimāi Paṇḍita fosse derrotado, eles teriam outra oportunidade de debater com ο erudito, pois Nimāi Paṇḍita não passava de um menino. Ε, se ο paṇḍita de Kashmir fosse derrotado, eles seriam mais glorificados ainda porque as pessoas proclamariam que um mero garoto de Navadvīpa havia derrotado um erudito campeão que era famoso em toda a Índia. Então, aconteceu de Nimāi Paṇḍita encontrar-Se com Keśava Kāśmīri enquanto perambulava. pelas margens do Ganges. Ο Senhor pediu-lhe que compusesse um verso em sânscrito em louvor ao Ganges, e, dentro de poucos minutos, ο paṇḍita compôs cem ślokas, recitando os versos torrencialmente e exibindo a força de sua vasta erudição. Nimāi Paṇḍita memorizou de uma só vez todos os ślokas sem um erro. Ele citou ο sexagésimo quarto śloka e chamou a atenção do paṇḍita para algumas irregularidades retóricas e literárias. Particularmente, Ele desaprovou ο emprego pelo paṇḍita da palavra bhavānī-bhartuḥ. Ele indicou que ο uso dessa palavra era redundante. Bhavānī significa a esposa de Śiva, e quem mais pode ser seu bhartā, ou esposo? Ele também indicou várias outras discrepâncias, diante do que ο paṇḍita de Kashmir se encheu de admiração. Ele ficou espantado de ver que um mero estudante de gramática pudesse assinalar os erros literários de um estudioso erudito. Embora esse debate tivesse acontecido antes de qualquer encontro em público, a notícia se espalhou com a velocidade de um relâmpago por toda a Navadvīpa. Por fim, no entanto, em um sonho, Sarasvatī, a deusa da sabedoria, ordenou que Keśava Kāśmīri se submetesse ao Senhor, e, deste modo, ο paṇḍita de Kashmir se tornou um seguidor do Senhor.

Depois, então, ο Senhor casou-Se com grande pompa e alegria, e, por essa época, Ele começou a pregar ο canto congregacional do santo nome do Senhor em Navadvīpa. Alguns dos brāhmaṇas ficaram com inveja de Sua popularidade e puseram muitos obstáculos em Seu caminho. Eram tão invejosos que, por fim, levaram a questão perante ο magistrado muçulmano de Navadvīpa. Naquela época, a Bengala era governada por patanes, e ο governador da província era ο Nawab Hussain Shah. Ο magistrado muçulmano de Navadvīpa levou a sério as queixas dos brāhmaṇas e, a princípio, advertiu os seguidores de Nimāi Paṇḍita a que nãο cantassem em voz alta ο nome de Ηari. Porém, ο Senhor Caitanya mandou que Seus seguidores desobedecessem às ordens do Kazi, e, como de costume, eles continuaram com seu grupo de saṅkīrtana (canto). Ο magistrado, então, mandou policiais que interromperam ο saṅkīrtana e quebraram algumas das mṛdaṅgas (tambores). Quando Nimāi Paṇḍita ouviu falar desse incidente, organizou um grupo de desobediência civil. Ele é pioneiro do movimento de desobediência civil na Índia em prol de causas justas. Organizou uma procissão de cem mil homens com milhares de mṛdaṅgas e karatālas (címbalos de mão), e essa procissão passou pelas ruas de Navadvīpa em desafio ao Kazi que havia decretado a proibição. Por fim, a procissão chegou à casa do Kazi, que subiu as escadas com medo da massa popular. A grande multidão reunida em frente à casa do Kazi revelava uma disposição agressiva, mas ο Senhor mandou que eles ficassem pacíficos. Nessa altura, ο Kazi desceu da casa e tentou apaziguar ο Senhor, chamando-Ο de sobrinho. Ele assinalou que Nīlāmbara Cakravartī chamava-o de tio, e, consequentemente, Śrīmatī Śacīdevī, a mãe de Nimāi Paṇḍita, era sua irmã. Ele perguntou ao Senhor se ο filho de sua irmã poderia ficar zangado com Seu tio materno, e ο Senhor respondeu que, uma vez que ο Kazi era Seu tio materno, ele devia receber seu sobrinho bem em casa. Dessa maneira, os dois sábios eruditos chegaram a um acordo e, em seguida, começaram uma longa discussão sobre ο Alcorão e os śāstras hindus. Ο Senhor levantou a questão da matança de vacas, e ο Kazi respondeu-Lhe devidamente, fazendo referência ao Alcorão. Por sua vez, ο Kazi também questionou ο Senhor acerca do sacrifício de vacas nos Vedas, e ο Senhor respondeu que esse sacrifício que é mencionado nos Vedas não é realmente matança de vacas. Nesse sacrifício, um touro ou uma vaca velha era sacrificado para receber nova vida através do poder de mantras védicos. Contudo, em Κali-yuga, esses sacrifícios de vacas são proibidos porque não há brāhmaṇas qualificados capazes de conduzir tal sacrifício. De fato, em Κali-yuga, todos os yajñas (sacrifícios) são proibidos porque são empenhos inúteis feitos por homens ignorantes. Em Kali-yuga, somente ο saṅkīrtana-yajña é recomendado para todos os propósitos práticos. Falando assim, ο Senhor, por fim, convenceu ο Kazi, que se tornou seguidor do Senhor. A partir desse dia, ο Kazi declarou que ninguém deveria impedir ο movimento de saṅkīrtana inaugurado pelo Senhor, e deixou essa ordem em seu testamento para ο conhecimento de seus descendentes. Ο túmulo do Kazi ainda existe na área de Navadvīpa, e os peregrinos hindus vão ali prestar-lhe seus respeitos. Os descendentes do Kazi ainda moram nessa região, e nunca se opuseram ao saṅkīrtana, mesmo durante os dias de tumulto entre hindus e muçulmanos.

Esse incidente mostra que ο Senhor não era um vaiṣṇava fajuto e medroso. Ο vaiṣṇava é um devoto destemido do Senhor e, pela causa justa, pode tomar qualquer medida adequada a tal fim. Arjuna também foi um devoto vaiṣṇava do Senhor Kṛṣṇa, e lutou com bravura para a satisfação do Senhor. De forma similar, Vajrāṅgajī, ou Hanumān, também foi devoto do Senhor Rāma, e deu uma lição no grupo de não-devotos chefiado por Rāvaṇa. Os princípios do vaiṣṇavismo são satisfazer ο Senhor custe ο que custar. Ο vaiṣṇava é, por natureza, um ser vivo pacífico, não violento, e tem todas as boas qualidades de Deus, mas, quando ο não-devoto blasfema ο Senhor ou Seu devoto, ο vaiṣṇava não tolera de forma alguma essa insolência.

Após esse incidente, ο Senhor começou a pregar e propagar Seu bhāgavata-dharma, ou movimento de saṅkīrtana, mais vigorosamente, e quem quer que se opusesse a essa propagação do yuga-dharma, ou dever da era, era devidamente punido com vários tipos de castigos. Dois cavalheiros brāhmaṇas chamados Cāpala e Gopāla, que também eram tios maternos do Senhor, foram atacados de lepra como punição, e, mais tarde, ao se arrependerem, foram aceitos pelo Senhor. No transcorrer de Seu trabalho de pregação, Ele costumava mandar diariamente todos os Seus seguidores, incluindo Śrīla Nityānanda Prabhu e Ṭhākura Haridāsa, dois membros principais de Seu grupo, de porta em porta para pregar ο Śrīmad-Bhāgavatam. Toda Navadvīpa estava tomada pelo Seu movimento de saṅkīrtana, e Sua sede era na casa de Śrīvāsa Ṭhākura e Śrī Advaita Prabhu, dois de Seus principais discípulos casados. Esses dois cabeças eruditos da comunidade brāhmaṇa eram os mais ardentes apoiadores do movimento do Senhor Caitanya. Śrī Advaita Prabhu foi a causa principal do advento do Senhor. Quando Advaita Prabhu viu que toda a sociedade humana estava cheia de atividades materialistas e desprovida de serviço devocional, que é a única coisa que pode salvar a humanidade das três espécies de misérias da existência material, Ele, por Sua imotivada compaixão pela desgastada sociedade humana, orou com fervor pela encarnação do Senhor e adorou continuamente ο Senhor com água do Ganges e folhas de tulasī, a árvore sagrada. Quanto ao trabalho de pregação no movimento de saṅkīrtana, esperava-se que todos contribuíssem com sua participação diária de acordo com a ordem do Senhor.

Certa vez, Nityānanda Prabhu e Śrīla Haridāsa Ṭhākura estavam andando por uma rua principal e, no caminho, depararam-se com uma multidão em tumulto. Indagando os transeuntes, ficaram sabendo que dois irmãos, chamados Jagāi e Mādhāi, estavam provocando distúrbio público em estado de embriaguez. Foram informados, também, que esses dois irmãos haviam nascido em uma respeitável família de brāhmaṇas, mas, por causa de más companhias, tinham se transformado em libertinos da pior espécie. Eles não eram apenas beberrões, mas também comedores de carne, caçadores de mulheres, ladrões e pecadores da pior espécie. Śrīla Nityānanda Prabhu inteirou-Se de todas essas histórias e decidiu que essas duas almas caídas teriam de ser as primeiras a serem salvas. Com efeito, se fossem libertados de sua vida pecaminosa, redundaria daí maior glória para o bom nome do Senhor Caitanya. Pensando dessa maneira, Nityānanda Prabhu e Haridāsa abriram caminho no meio da multidão e pediram aos dois irmãos que cantassem os santos nomes do Senhor Hari. Os dois bêbados enfureceram-se com esse pedido e atacaram Nityānanda Prabhu, falando palavrões. Os dois irmãos O perseguiram por uma distância considerável. À noite, foi apresentado ao Senhor ο relatório do trabalho de pregação, e Ele ficou contente ao saber que Nityānanda e Haridāsa tinham tentado salvar dois sujeitos tão estúpidos.

No dia seguinte, Nityānanda Prabhu foi ver os irmãos, e assim que Se aproximou deles, um deles atirou-Lhe um caco de pote de barro. Esse caco de barro feriu-Ο na testa, e imediatamente começou a jorrar sangue. Nityānanda Prabhu, bondoso como era, em vez de protestar contra esse ato abominável, disse: “Não Me importa que tenhais atirado essa pedra em Mim. Ainda assim, peço-vos que canteis ο santo nome do Senhor Hari.”

Um dos irmãos, Jagāi, surpreendeu-se ao ver essa atitude de Nityānanda Prabhu, e caiu imediatamente a Seus pés, pedindo-Lhe que perdoasse seu irmão pecaminoso. Quando Mādhāi tentou novamente agredir Nityānanda Prabhu, Jagāi impediu-o e implorou-lhe que se lançasse a Seus pés. Enquanto isso, a notícia do ferimento de Nityānanda chegou aos ouvidos do Senhor, que correu imediatamente para ο local, em atitude impetuosa e iracunda. Ο Senhor invocou de imediato o Seu cakra Sudarśana (a arma final do Senhor, que tem a forma de uma roda) para matar os pecadores, mas Nityānanda Prabhu recordou-Lhe Sua missão. A missão do Senhor é salvar as almas desamparadamente caídas de Kali-yuga, e os irmãos Jagāi e Mādhāi eram exemplos típicos de tais almas caídas. Noventa por cento da população desta era assemelha-se a esses irmãos, a despeito de bom nascimento e respeitabilidade mundana. Segundo ο veredito das escrituras reveladas, toda a população do mundo nesta era será da mais baixa qualidade dos śūdras, ou mesmo inferior. Observe-se, aliás, que Śrī Caitanya Mahāprabhu nunca reconheceu ο estereotipado sistema de castas baseado em hereditariedade. Pelo contrário, Ele seguia estritamente ο veredito dos śāstras em relação ao nosso svarūpa, ou identidade verdadeira.

Enquanto o Senhor invocava Seu cakra Sudarśana, e Śrīla Nityānanda Prabhu implorava-Lhe que perdoasse os dois irmãos, os irmãos caíram aos pés de lótus do Senhor e Lhe pediram perdão por seu comportamento grosseiro. Nityānanda Prabhu pediu também ao Senhor para que aceitasse essas almas arrependidas, e ο Senhor concordou em aceitá-los sob uma condição: de que, a partir daquele momento, abandonassem completamente todas as suas atividades pecaminosas e hábitos de libertinagem. Os irmãos concordaram e prometeram abandonar todos os seus hábitos pecaminosos, e ο bondoso Senhor aceitou-os e não comentou mais sobre suas más ações passadas.

Essa é a bondade específica do Senhor Caitanya. Nesta era, ninguém pode dizer que é isento de pecado. É impossível que alguém possa dizer isso. Porém, ο Senhor Caitanya aceita todos os tipos de pessoas pecaminosas sob a condição única de que elas prometam não se entregar a hábitos pecaminosos após serem iniciadas espiritualmente pelo mestre espiritual fidedigno.

Há alguns pontos instrutivos a serem observados nesse incidente dos dois irmãos. Neste Kali-yuga, praticamente todas as pessoas são da qualidade de Jagāi e Mādhāi. Se elas quiserem aliviar-se das reações de suas más ações, terão de refugiar-se no Senhor Caitanya Mahāprabhu e, após a iniciação espiritual, abster-se de coisas proibidas nos śāstras. Essas regras proibitivas são explicadas nos ensinamentos do Senhor dados a Śrīla Rūpa Gosvāmī.

Durante Sua vida de casado, ο Senhor não manifestou muitos dos milagres que são geralmente esperados de tais personalidades. Contudo, certa feita, Ele fez um milagre maravilhoso na casa de Śrīnivāsa Ṭhākura enquanto o saṅkīrtana estava em seu auge. Ele perguntou aos devotos ο que eles queriam comer, e, ao ser informado de que eles queriam comer mangas, Ele pediu que trouxessem um caroço de manga, embora não fosse a estação das mangas. Quando Lhe trouxeram a manga, Ele a plantou no pátio da casa de Śrīnivāsa e, de imediato, começou a crescer uma muda da semente. Em poucos instantes, essa muda tornou-se uma mangueira totalmente crescida, cheia de mais frutas maduras do que poderiam comer os devotos. A árvore permaneceu no pátio de Śrīnivāsa, e, daquele dia em diante, os devotos passaram a colher daquela árvore tantas mangas quanto tivessem vontade.

Ο Senhor tinha em alta estima as afeições das donzelas de Vrajabhūmi (Vṛndāvana) por Kṛṣṇa, e, em apreço do imaculado serviço delas ao Senhor, uma vez Śrī Caitanya Mahāprabhu cantou os santos nomes das gopīs (vaqueirinhas) em vez dos nomes do Senhor. Nessa altura, alguns de Seus estudantes, que também eram discípulos, vieram vê-lO e, ao perceberem que ο Senhor estava cantando os nomes das gopīs, ficaram espantados. Por pura ignorância, eles perguntaram ao Senhor o motivo para Ele estar cantando os nomes das gopīs e O aconselharam a cantar ο nome de Kṛṣṇa. Ο Senhor, que estava em êxtase, foi assim perturbado por esses estudantes tolos. Ele os castigou e os mandou embora. Os estudantes tinham quase a mesma idade que ο Senhor, e, desse modo, julgaram erroneamente que ο Senhor era um deles. Eles fizeram uma reunião e resolveram que revidariam contra o Senhor caso Ele ousasse puni-los novamente dessa maneira. Esse incidente provocou algumas conversas maliciosas a respeito do Senhor por parte do público em geral.

Quando ο Senhor ficou sabendo disso, Ele começou a analisar os vários tipos de homens que compõem a sociedade. Observou que especialmente os estudantes, professores, trabalhadores fruitivos, yogīs, não-devotos e diferentes tipos de ateístas opunham-se ao serviço devocional ao Senhor. “Minha missão é salvar todas as almas caídas desta era”, pensou Ele, “mas, se eles cometerem ofensas contra Mim, julgando-Me um homem comum, não se beneficiarão. Se quiserem começar sua vida de compreensão espiritual, terão, de alguma forma, que Me oferecer reverências.” Assim, ο Senhor decidiu aceitar a ordem renunciada da vida (sannyāsa) porque ο povo, em geral, sentia-se mais inclinado a oferecer respeitos a um sannyāsī.

Há quinhentos anos, a sociedade não estava ainda numa condição tão degradada como está hoje em dia. Naquela época, as pessoas ofereciam respeitos a um sannyāsī, e os sannyāsīs seguiam estritamente as regras e regulações da ordem renunciada da vida. Śrī Caitanya Mahāprabhu não era muito a favor da ordem renunciada da vida nesta era de Κali, mas, pelo motivo de pouquíssimos sannyāsīs nesta era serem capazes de observar as regras e regulações da vida de sannyāsī, Śrī Caitanya Mahāprabhu decidiu aceitar a ordem e tornar-se um sannyāsī ideal para que ο povo em geral Ο respeitasse. Uma pessoa se vê na obrigação de mostrar respeito a um sannyāsī, pois ο sannyāsī é considerado ο mestre de todos os varṇas e āśramas.

Enquanto meditava sobre a possibilidade de aceitar a ordem de sannyāsa, Keśava Bhāratī, um sannyāsī da escola māyāvādī e residente de Katwa (na Bengala), foi visitar Navadvīpa e recebeu o convite de jantar com ο Senhor. Quando Keśava Bhāratī chegou à casa do Senhor, Este lhe pediu que Lhe concedesse a ordem sannyāsa da vida. Tratava-se de uma questão de formalidade. A ordem sannyāsa deve ser aceita de outro sannyāsī. Embora ο Senhor fosse independente sob todos os aspectos, ainda assim, a fim de observar as formalidades dos śāstras, Ele aceitou a ordem de sannyāsa de Keśava Bhāratī, embora Keśava Bhāratī não pertencesse à escola vaiṣṇava-sampradāya.

Após entender-Se com Keśava Bhāratī, ο Senhor foi de Navadvīpa para Katwa para aceitar formalmente a ordem sannyāsa da vida. Ele foi acompanhado por Śrīla Nityānanda Prabhu, Candraśekhara Ācārya e Mukunda Datta. Esses três Ο ajudaram nos detalhes da cerimônia. Ο incidente em que ο Senhor aceita a ordem de sannyāsa é descrito elaboradamente no Caitanya-bhāgavata, de Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura.

Deste modo, aos vinte e quatro anos, ο Senhor aceitou a ordem sannyāsa da vida no mês de Māgha. Após aceitar essa ordem, Ele Se tornou um pregador do bhāgavata-dharma totalmente dedicado. Embora estivesse fazendo ο mesmo trabalho de pregação enquanto estivera casado, ao experimentar alguns obstáculos em Sua pregação, Ele sacrificou ο conforto da vida no lar em benefício das almas caídas. Durante Sua vida de casado, Seus principais assistentes foram Śrīla Advaita Prabhu e Śrīla Śrīvāsa Ṭhākura, mas, depois de aceitar a ordem de sannyāsa, Seus assistentes principais passaram a ser Śrīla Nityānanda Prabhu, que fora designado para pregar especificamente na Bengala, e os seis Gosvāmīs (Rūpa Gosvāmī, Sanātana Gosvāmī, Jīva Gosvāmī, Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmī, Raghunātha dāsa Gosvāmī e Raghunātha Bhaṭṭa Gosvāmī), encabeçados por Śrīla Rūpa e Sanātana, que foram designados para ir a Vṛndāvana e escavar os verdadeiros locais de peregrinação. A atual cidade de Vṛndāvana e a importância de Vrajabhūmi foram descobertas pela vontade do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

Após aceitar a ordem de sannyāsa, ο Senhor quis partir imediatamente para Vṛndāvana. Durante três dias seguidos, Ele viajou pelo Rāḍha-deśa (locais por onde corre ο Ganges). Ele estava em êxtase completo com a ideia de ir para Vṛndāvana. Entretanto, Śrīla Nityānanda desviou-Ο do caminho e O levou até a casa de Advaita Prabhu em Śāntipura. Ο Senhor ficou alguns dias na casa de Śrī Advaita Prabhu, e, sabendo que ο Senhor estava deixando lar e esposa para sempre, Śrī Advaita Prabhu mandou que Seus homens fossem a Navadvīpa e trouxessem mãe Śacī para ter um último encontro com seu filho. Algumas pessoas inescrupulosas dizem que ο Senhor Caitanya encontrou-Se com a esposa após tomar sannyāsa e ofereceu-lhe Seu tamanco de madeira para ela adorar, mas as fontes autênticas nãο dão informações de tal encontro. Sua mãe encontrou-se com Ele na casa de Advaita Prabhu e, aο ver ο filho como sannyāsī, lamentou-se. Ela fez ο filho prometer que faria Sua sede em Purī para que ela pudesse facilmente ter informações sobre Ele. Ο Senhor cedeu a esse último desejo de Sua amada mãe. Após esse incidente, ο Senhor partiu para Purī, deixando todos os residentes de Navadvīpa em um oceano de lamentação devido à Sua separação.

Ο Senhor visitou muitos locais importantes a caminho de Purī. Visitou ο templo de Gopīnāthajī, que havia roubado leite condensado para Seu devoto Śrīla Mādhavendra Purī. Desde então, a Deidade Gopīnāthajī é conhecida também como Kṣīra-corā-gopīnātha. Ο Senhor saboreava essa história com grande prazer. A propensão a roubar existe até mesmo na consciência absoluta, mas, por ser manifestada pelo Absoluto, ela perde sua natureza pervertida e, desta maneira, torna-se adorável, inclusive pelo Senhor Caitanya, com base na consideração absoluta de que ο Senhor e Sua propensão a roubar são idênticos. Essa interessante história de Gopīnāthajī é vividamente explicada por Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī no Caitanya-caritāmṛta.

Após visitar ο templo de Kṣīra-corā-gopīnātha de Remunā, em Balasore, Orissa, ο Senhor dirigiu-Se para Purī e, no caminho, visitou ο templo de Sākṣi-gopāla, que apareceu como testemunha na questão de uma briga de família de dois devotos brāhmaṇas. Ο Senhor οuviu a história de Sākṣi-gopāla com grande prazer porque quis deixar claro para os ateístas que as Deidades adoráveis nos templos, aprovadas pelos grandes ācāryas, não são ídolos, como alegam homens com um fundo insuficiente de conhecimento. A Deidade no templo é a encarnação arcā da Personalidade de Deus, razão pela qual a Deidade é idêntica aο Senhor sob todos os aspectos. Εla corresponde à proporção da afeição do devoto por Εla. Na história de Sākṣi-gopāla, em que houve um mal-entendido de família entre dois devotos do Senhor, ο Senhor, a fim de mitigar a confusão, como também para mostrar favor específico a Seus servos, viajou de Vṛndāvana para Vidyānagara, uma vila em Orissa, sob a forma de Sua encarnação arcā. Dali, a Deidade foi levada para Cuttack, e assim, ainda hoje em dia, ο templo de Sākṣi-gopāla é visitado por milhares de peregrinos a caminho de Jagannātha Purī. Ο Senhor passou a noite ali e, depois, seguiu em direção a Purī. Nο caminho, Nityānanda Prabhu quebrou Seu bastão de sannyāsa. Ο Senhor ficou aparentemente irado com Ele por causa disso e foi sozinho para Purī, deixando Seus companheiros para trás.

Em Purī, assim que entrou nο templo de Jagannātha, ficou mergulhado em êxtase transcendental e caiu inconsciente nο piso do templo. Os guardas do templo nãο podiam entender os feitos transcendentais do Senhor, mas havia um grande paṇḍita erudito chamado Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, que estava presente, e pôde entender que ο fato de ο Senhor ter perdido Sua consciência aο entrar nο templo de Jagannātha nãο era uma coisa comum. Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, que era ο principal paṇḍita apontado na corte de Mahārāja Pratāparudra, ο rei de Orissa, sentiu-se atraído pelo brilho juvenil do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu e entendeu que tal transe transcendental só era manifestado raramente e apenas pelos devotos mais elevados que já estão nο plano transcendental, totalmente esquecidos da existência material. Apenas uma alma liberada poderia manifestar tal feito transcendental, e ο Bhaṭṭācārya, que era vastamente erudito, entendeu isso à luz da literatura transcendental com a qual estava familiarizado. Pediu, então, aos guardas do templo que não perturbassem ο sannyāsī desconhecido. Pediu-lhes para levarem ο Senhor a sua casa para que O pudesse observar mais detalhadamente em Seu estado inconsciente. Ο Senhor foi levado, então, para a casa de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, que, naquela época, tinha suficiente poder de autoridade por ser ο sabhā-paṇḍita, ou ο deão estadual da faculdade de literaturas sânscritas. Ο paṇḍita erudito quis examinar minuciosamente os aspectos transcendentais do Senhor Caitanya porque, muitas vezes, devotos inescrupulosos imitam os aspectos físicos a fim de ostentar realizações transcendentais para atrair pessoas inocentes e tirar proveito delas. Um estudioso erudito como ο Bhaṭṭācārya pode descobrir tais impostores e, quando ο faz, rejeita-os prontamente.

No caso do Senhor Caitanya Mahāprabhu, ο Bhaṭṭācārya examinou todos os sintomas à luz dos śāstras. Ele fez suas investigações como faria um cientista, e não como um sentimentalista tolo. Observou ο movimento do estômago, as batidas do coração e a respiração pelas narinas. Também tomou-Lhe ο pulso, e viu que todas as atividades de Seu corpo estavam completamente suspensas. Ao colocar um chumaço de algodão diante das narinas do Senhor, ele descobriu que ο Senhor respirava suavemente pelo movimento leve das finas fibras do algodão. Desse modo, chegou à conclusão de que ο transe inconsciente do Senhor era genuíno, e colocou-se a tratá-lO da maneira prescrita. O Senhor Caitanya Mahāprabhu, entretanto, só poderia ser tratado de maneira especial. Ele só iria responder ao ressoar dos santos nomes do Senhor, cantados por Seus devotos. Esse tratamento especial era desconhecido por parte de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya porque ο Senhor ainda lhe era um desconhecido. Quando ο Bhaṭṭācārya Ο viu pela primeira vez no templo, ele simplesmente O considerou como sendo um dentre muitos peregrinos.

Enquanto isso, os companheiros do Senhor, que chegaram ao templo um pouco depois dEle, ouviram falar das proezas transcendentais do Senhor e que Ele tinha sido levado pelo Bhaṭṭācārya. Os peregrinos no templo ainda comentavam sobre ο incidente. No entanto, por acaso, um desses peregrinos havia se encontrado com Gopīnātha Ācārya, que era conhecido de Gadādhara Paṇḍita, e, por isso, ficaram sabendo que ο Senhor estava deitado em estado inconsciente na residência de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, ο qual era cunhado de Gopīnātha Ācārya. Todos os membros do grupo foram apresentados por Gadādhara Paṇḍita a Gopīnātha Ācārya, que os levou até a casa do Bhaṭṭācārya, onde ο Senhor estava deitado inconsciente em um transe espiritual. Então, todos os membros cantaram em voz alta ο santo nome do Senhor Ηari como de costume, e ο Senhor recuperou a consciência. Depois disso, ο Bhaṭṭācārya recebeu todos os membros do grupo, incluindo ο Senhor Nityānanda Prabhu, e pediu-lhes que aceitassem ser seus convidados de honra. Ο grupo, incluindo ο Senhor, foi tomar banho no mar, e ο Bhaṭṭācārya providenciou acomodações e comida para eles na casa de Kāśī Miśra. Gopīnātha Ācārya, seu cunhado, também ο ajudou. Os dois cunhados conversaram amistosamente sobre a divindade do Senhor, e, com argumentos, Gopīnātha Ācārya, que conhecera ο Senhor anteriormente, tentou estabelecer que ο Senhor era a Personalidade de Deus, e ο Bhaṭṭācārya tentou estabelecer que Ele era um dos grandes devotos. Ambos argumentaram a partir do ponto de vista de śāstras autênticos, e não com base no sentimental vox populi. As encarnações de Deus são determinadas por śāstras autênticos, e não por votos populares de fanáticos ignorantes. Como ο Senhor Caitanya era realmente uma encarnação de Deus, fanáticos ignorantes têm proclamado muitas supostas encarnações de Deus nesta era sem se referirem às escrituras autênticas. Sārvabhauma Bhaṭṭācārya ou Gopīnātha Ācārya, entretanto, não se entregaram a tal sentimentalismo tolo; pelo contrário, ambos tentaram estabelecer ou rejeitar Sua divindade com base em śāstras autênticos.

Mais tarde, foi revelado que ο Bhaṭṭācārya também provinha da área de Navadvīpa, e ficaram sabendo dele que Nīlāmbara Cakravartī, ο avô materno do Senhor Caitanya, fora um colega de escola do pai de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Nesse sentido, ο jovem sannyāsī Senhor Caitanya evocou a afeição paterna do Bhaṭṭācārya. Bhaṭṭācārya fora ο professor de muitos sannyāsīs na ordem do sampradāya de Śaṅkarācārya, e ele próprio também pertencia a esse culto. Como tal, ο Bhaṭṭācārya desejou que ο jovem sannyāsī Senhor Caitanya também ο ouvisse falar sobre os ensinamentos do Vedānta.

Aqueles que são seguidores do culto de Śaṅkara são conhecidos, geralmente, como vedantistas. Isso não quer dizer, entretanto, que ο Vedānta é um estudo monopolizado pelo sampradāya de Śaṅkara. O Vedānta é estudado por todos os sampradāyas fidedignos, sendo que cada uma delas tem suas próprias interpretações. Contudo, é sabido que, de um modo geral, os seguidores do sampradāya de Śaṅkara ignoram o conhecimento dos vedantistas vaiṣṇavas. Por esse motivo, o primeiro título oferecido ao autor pelos vaiṣṇavas foi Bhaktivedanta.

O Senhor concordou em ouvir as aulas do Bhaṭṭācārya sobre o Vedānta, e, para isso, eles se sentaram juntos no templo do Senhor Jagannātha. O Bhaṭṭācārya falou por sete dias seguidos, e o Senhor o ouviu com toda a atenção, sem interrompê-lo. O silêncio do Senhor levantou algumas dúvidas no coração do Bhaṭṭācārya, fazendo com que ele perguntasse ao Senhor por que Este não fazia nenhuma pergunta, nem fazia comentário sobre suas explicações do Vedānta.

O Senhor Se fez passar por um estudante tolo perante o Bhaṭṭācārya e fingiu que o ouvia explicar o Vedānta, pois o Bhaṭṭācārya sentia que esse era o dever de um sannyāsī. Contudo, o Senhor não concordou com suas palestras. Com isso, o Senhor indicou que os assim chamados vedantistas do sampradāya de Śaṅkara, ou de qualquer outro sampradāya, que não sigam as instruções de Śrīla Vyāsadeva, são estudantes mecânicos do Vedānta. Não estão totalmente cientes desse grande conhecimento. A explicação do Vedānta-sūtra é dada pelo próprio autor no texto do Śrīmad-Bhāgavatam. Alguém que não tenha conhecimento do Bhāgavatam dificilmente poderá saber o que diz o Vedānta.

Sendo homem de vasta erudição, o Bhaṭṭācārya pôde entender as observações sarcásticas do Senhor sobre o vedantista vulgar. Por isso, perguntou-Lhe por que Ele não interrogou algo sobre algum ponto que não tivesse conseguido entender. O Bhaṭṭācārya entendeu o objetivo de Seu completo silêncio durante os dias que o ouvira. Isso mostrava claramente que o Senhor tinha algo mais em mente; desta maneira, o Bhaṭṭācārya pediu-Lhe que revelasse Seus pensamentos.

Ao ser assim solicitado, o Senhor falou o seguinte: “Caro senhor, posso entender o significado dos sūtras do Vedānta-sūtra, tais como janmādy asya yataḥ, śāstra-yonitvāt e athāto brahma jijñāsā, mas, quando o senhor os explica a seu próprio modo, acho difícil entendê-los. O propósito dos sūtras já é explicado neles, mas suas explicações os estão encobrindo com algo mais. Deliberadamente, o senhor não dá o significado direto dos sūtras, mas dá suas próprias interpretações, de forma indireta.”

Assim, o Senhor atacou todos os vedantistas que interpretam o Vedānta-sūtra caprichosamente, de acordo com sua limitada capacidade de pensar, para servir a seus próprios fins. Essas interpretações indiretas das literaturas autênticas, tais como o Vedānta-sūtra, são condenadas aqui pelo Senhor.

O Senhor continuou: “Śrīla Vyāsadeva resume os significados diretos dos mantras das Upaniṣads no Vedānta-sūtra. Infelizmente, o senhor não aceita o significado direto desses mantras. O senhor os interpreta indiretamente, de forma diferente.”

“A autoridade dos Vedas é inquestionável e está acima de qualquer possibilidade de dúvida. E o que quer que seja declarado nos Vedas tem que ser aceito completamente, ou a pessoa está desafiando a autoridade dos Vedas.”

“O búzio e o estrume de vaca são osso e excremento de dois seres vivos. Porém, porque os Vedas afirmam que eles são puros, as pessoas aceitam-nos como tais por causa da autoridade dos Vedas.”

A ideia é que não podemos colocar nossa razão imperfeita acima da autoridade dos Vedas. As ordens dos Vedas têm que ser obedecidas tal como são apresentadas, sem nenhuma argumentação mundana. Os assim chamados seguidores dos preceitos védicos dão suas próprias interpretações desses preceitos e, deste modo, estabelecem diferentes facções e seitas da religião védica. O senhor Buddha negou diretamente a autoridade dos Vedas e estabeleceu sua própria religião. Unicamente por esse motivo, a religião budista não foi aceita pelos estritos seguidores dos Vedas. Contudo, aqueles que são assim chamados seguidores dos Vedas são mais prejudiciais que os budistas. Os budistas têm a coragem de negar diretamente os Vedas, mas os assim chamados seguidores dos Vedas não têm coragem de negar os Vedas, embora, de maneira indireta, desobedeçam a todos os preceitos dos Vedas. O Senhor Caitanya condenava isso.

Os exemplos dados pelo Senhor do búzio e do estrume de vaca são muito apropriados a esse respeito. Se alguém argumentar que, uma vez que o estrume de vaca é puro, as fezes de um brāhmaṇa erudito são mais puras ainda, seu argumento não será aceito. O estrume de vaca é aceito, e as fezes de um brāhmaṇa altamente situado são rejeitadas. Ο Senhor continuou:

“Os preceitos védicos são autorizados por si mesmos, e, se alguma criatura mundana faz adaptações nas interpretações dos Vedas, ela desafia sua autoridade. É tolice julgar-se mais inteligente do que Śrīla Vyāsadeva. Ele já se expressou em seus sūtras, e não necessita da ajuda de personalidades de menor importância. Sua obra, ο Vedānta-sūtra, é brilhante como ο sol do meio-dia, e, quando alguém tenta dar suas próprias interpretações sobre ο Vedānta-sūtra, que é autorrefulgente como ο Sol, ele tenta tapar esse Sol com a nuvem de sua imaginação.”

“Os Vedas e os Purāṇas têm ο mesmo objetivo. Eles determinam a Verdade Absoluta, que é superior a todas as outras coisas. A Verdade Absoluta é compreendida, em última análise, como a Absoluta Personalidade de Deus com poder controlador absoluto. Como tal, a Absoluta Personalidade de Deus tem que ser completamente plena de opulência, força, fama, beleza, conhecimento e renúncia. Não obstante, afirma-se surpreendentemente que a transcendental Personalidade de Deus é impessoal.”

“A descrição impessoal da Verdade Absoluta nos Vedas é dada para anular a concepção mundana do todo absoluto. As características pessoais do Senhor são completamente diferentes de todos os tipos de características mundanas. Todas as entidades vivas são pessoas individuais, e são partes integrantes do todo supremo. Se as partes integrantes são pessoas individuais, a fonte de sua emanação não pode ser impessoal. Ele é a Pessoa Suprema entre todas as pessoas relativas.”

“Os Vedas nos informam que dEle [Brahman] tudo emana e nEle tudo descansa. Ε, após a aniquilação, tudo se funde unicamente nEle. Portanto, Ele é a fundamental causa dativa, causativa e acomodatícia de todas as causas. Ε essas causas não podem ser atribuídas a um objeto impessoal.”

“Os Vedas informam-nos que foi Ele somente quem Se tornou muitos, e, quando Ele assim ο deseja, lança Seu olhar sobre a natureza material. Antes de Ele lançar ο olhar sobre a natureza material, não havia criação cósmica material. Portanto, Seu olhar não é material. A mente ou os sentidos materiais não eram nascidos quando ο Senhor lançou ο olhar sobre a natureza material. Assim, a evidência dos Vedas prova que, sem dúvidas, ο Senhor tem olhos transcendentais e mente transcendental. Eles não são materiais. Sua impersonalidade, portanto, é uma negação de Sua materialidade, mas não a negação de Sua personalidade transcendental.”

“Brahman refere-se, em última análise, à Personalidade de Deus. A compreensão do Brahman impessoal é apenas a concepção negativa das criações mundanas. Ο Paramātmā é ο aspecto localizado de Brahman dentro de todas as espécies de corpos materiais. Em última análise, a compreensão do Brahman Supremo é a compreensão da Personalidade de Deus de acordo com todas as evidências das escrituras reveladas. Ele é a fonte última dos viṣṇu-tattvas.

“Os Purāṇas também suplementam os Vedas. Os mantras védicos são difíceis demais para um homem comum. As mulheres, os śūdras e as assim chamadas castas superiores de duas vezes nascidos são incapazes de penetrar ο sentido dos Vedas. Ε, deste modo, tanto ο Mahābhārata quanto os Purāṇas são feitos sob uma forma fácil a fim de explicar as verdades dos Vedas. Em suas orações diante do menino Śrī Kṛṣṇa, Brahmā disse que não há limites para a fortuna dos habitantes de Vrajabhūmi, encabeçados por Śrī Nanda Mahārāja e Yaśodāmayī, porque a eterna Verdade Absoluta torna-Se parente íntimo deles.”

“Ο mantra védico afirma que a Verdade Absoluta não tem pernas nem mãos e, não obstante, anda mais rápido do que todos e aceita tudo que Lhe é oferecido com devoção. Essas declarações sugerem definitivamente as características pessoais do Senhor, embora Suas mãos e pernas sejam distintas de mãos e pernas mundanas ou outros sentidos.”

“Ο Brahman, portanto, não é, de forma alguma, impessoal, mas, quando tais mantras são interpretados indiretamente, julga-se erroneamente que a Verdade Absoluta é impessoal. A Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, é plena de todas as opulências e, por isso, tem uma forma transcendental de existência, conhecimento e bem-aventurança plenos. Como, então, alguém pode afirmar que a Verdade Absoluta é impessoal?”

“Sendo pleno de opulências, subentende-se que ο Brahman tem energias múltiplas, e todas essas energias são classificadas sob três títulos segundo a autoridade do Viṣṇu Purāṇa (6.7.60), que diz que as energias transcendentais do Senhor Viṣṇu são basicamente três. Sua energia espiritual e a energia das entidades vivas são classificadas como energia superior, ao passo que a energia material é uma energia inferior, que surge devido à ignorância.”

“A energia das entidades vivas é tecnicamente chamada de energia kṣetrajña. Tal kṣetrajña-śakti, apesar de ser igual ao Senhor em qualidade, é subjugada pela energia material devido à ignorância e, desta maneira, sofre todas as espécies de misérias materiais. Em outras palavras, as entidades vivas estão localizadas na energia marginal entre as energias superior (espiritual) e inferior (material), e, na proporção do contato do ser vivo ou com a energia material ou com a espiritual, a entidade viva situa-se em níveis proporcionalmente superiores ou inferiores de existência.”

“Como se mencionou antes, ο Senhor está além das energias inferior e marginal, e Sua energia espiritual se manifesta em três fases diferentes: como existência eterna, bem-aventurança eterna e conhecimento eterno. Quanto à existência eterna, ela é conduzida pela potência sandhinī; do mesmo modo, a bem-aventurança e ο conhecimento são conduzidos pelas potências hlādinī e saṁvit, respectivamente. Como supremo Senhor energético, Ele é ο controlador supremo das energias espiritual, marginal e material. Ε todos esses diferentes tipos de energias estão relacionados com ο Senhor no serviço devocional eterno.”

“A Suprema Personalidade de Deus está assim desfrutando em Sua forma transcendental eterna. Não é surpreendente que alguém ouse chamar ο Senhor Supremo de não-energético? Ο Senhor é ο controlador de todas as energias, e as entidades vivas são partes integrantes de uma das energias. Portanto, há um abismo de diferença entre ο Senhor e as entidades vivas. Como, então, alguém pode dizer que ο Senhor e as entidades vivas são iguais? Na Bhagavad-gītā, também, as entidades vivas são descritas como pertencentes à energia superior do Senhor. De acordo com os princípios de íntima correlação entre a energia e ο energético, ambos são não-diferentes também. Por isso, ο Senhor e as entidades vivas são não-diferentes como a energia e ο energético.”

“A terra, a água, ο fogo, ο ar, ο éter, a mente, a inteligência e ο ego são energias inferiores do Senhor, mas as entidades vivas são diferentes de todos esses elementos, pois são a energia superior. Essa é a versão da Bhagavad-gītā (7.4).”

“A forma transcendental do Senhor existe eternamente e é plena de bem-aventurança transcendental. Como, então, poderia esta forma ser um produto do modo material da bondade? Qualquer um, portanto, que não acredite na forma do Senhor é certamente um demônio sem fé e, como tal, é intocável, uma persona non grata que não deve ser vista e deve ser punida pelo rei plutônico.”

“Os budistas são chamados de ateístas porque não têm respeito pelos Vedas, mas aqueles que menosprezam as conclusões védicas, como mencionamos anteriormente, sob o disfarce de seguidores dos Vedas, são, na verdade, mais perigosos do que os budistas.”

“Śrī Vyāsadeva bondosamente compilou ο conhecimento védico em seu Vedānta-sūtra, mas, se ouvimos ο comentário da escola māyāvāda (que é representada pelo sampradāya de Śaṅkara) certamente seremos desencaminhados na senda da realização espiritual.”

“A teoria das emanações é ο tema inicial do Vedānta-sūtra. Todas as manifestações cósmicas são emanações da Absoluta Personalidade de Deus através de Suas diferentes energias inconcebíveis. Ο exemplo da pedra de toque é aplicável à teoria da emanação. A pedra de toque pode converter uma quantidade ilimitada de ferro em ouro, e, mesmo assim, a pedra de toque permanece tal como é. De forma similar, ο Senhor Supremo pode produzir todos os mundos manifestados através de Suas energias inconcebíveis, e, não obstante, Ele é pleno e imutável. Ele é pūrṇa [completo] e, apesar de um número ilimitado de pūrṇas emanarem dEle, Ele ainda é pūrṇa.

“A teoria da ilusão da escola māyāvāda é advogada com base no argumento de que a teoria da emanação provocará uma transformação da Verdade Absoluta. Se fosse assim, Vyāsadeva estaria errado. Para evitar isso, eles habilmente inventaram a teoria da ilusão. Porém, ο mundo, ou a criação cósmica, não é falso, como afirma a escola māyāvāda. Simplesmente não têm existência permanente. Uma coisa impermanente não pode ser chamada de totalmente falsa. Porém, a concepção de que ο corpo material é ο eu é certamente errada.”

“Ο praṇava [οm], ou ο oṁkāra nos Vedas, é ο hino primordial. Esse som transcendental é idêntico à forma do Senhor. Todos os hinos védicos se baseiam nesse praṇava oṁkāra. Τat tvam asi é apenas um termo integrante nos textos védicos, de modo que essa expressão não pode ser ο hino primordial dos Vedas. Śrīpāda Śaṅkarācārya dá mais ênfase ao termo integrante tat tvam asi do que ao princípio oṁkāra primordial.”

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Ο Senhor falou assim sobre ο Vedānta-sūtra e refutou todas as teorias da escola māyāvāda.1 Ο Bhaṭṭācārya tentou defender a si mesmo e à sua escola māyāvāda com malabarismos de lógica e gramática, mas ο Senhor ο derrotou com Seus argumentos vigorosos. Ele afirmou que todos nós estamos relacionados com a Personalidade de Deus eternamente e que ο serviço devocional é nossa função eterna no intercâmbio de nosso relacionamento. Ο resultado de tais intercâmbios é atingir prema, ou amor a Deus. Quando se atinge ο amor a Deus, automaticamente surge ο amor por todos os outros seres, porque ο Senhor é ο somatório de todos os seres vivos.

Ο Senhor disse que, à exceção destes três itens – a saber, a relação eterna com Deus, as atividades recíprocas do relacionamento com Ele e a consecução do amor por Ele –, tudo que é ensinado nos Vedas é supérfluo e inventado.

Ο Senhor acrescentou ainda que a filosofia māyāvāda ensinada por Śrīpāda Śaṅkarācārya é uma explicação imaginária dos Vedas, mas que ela teve que ser ensinada por ele (Śaṅkarācārya) porque a Personalidade de Deus mandou que ele assim ο fizesse. No Padma Purāṇa, declara-se que a Personalidade de Deus mandou ο senhor Śiva desviar dEle (a Personalidade de Deus) a raça humana. Foi preciso ocultar a Personalidade de Deus dessa maneira para que as pessoas se sentissem animadas a gerar cada vez mais população. Ο senhor Śiva disse a Devī: “Em Kali-yuga, eu, disfarçado de um brāhmaṇa, pregarei a filosofia māyāvāda, que nada mais é do que budismo camuflado.

Após ouvir todas essas palavras do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, ο Bhaṭṭācārya encheu-se de admiração e respeito e olhou para Ele em completo silêncio. Ο Senhor, então, animou-o garantindo-lhe que não havia motivo para admiração. “Eu digo que o serviço devocional à Personalidade de Deus é a meta máxima da vida humana. Ele, então, citou um śloka do Bhāgavatam e lhe garantiu que mesmo as almas liberadas que estão absortas no espírito e na compreensão espiritual também aceitam ο serviço devocional ao Senhor Hari, pois a Personalidade de Deus possui qualidades transcendentais tão formidáveis que atrai ο coração da alma liberada também.

Então, ο Bhaṭṭācārya desejou ouvir a explicação do śloka ātmārāma do Bhāgavatam (1.7.10). Primeiramente, ο Senhor pediu que ο Bhaṭṭācārya ο explicasse e, depois disso, Ele ο explicaria. Ο Bhaṭṭācārya explicou ο śloka de forma erudita, dando ênfase especial à lógica. Ele explicou ο śloka de nove maneiras diferentes, baseando-se principalmente na lógica, porque ele era ο mais renomado erudito em lógica da época.

Após ouvir ο Bhaṭṭācārya, ο Senhor agradeceu-lhe pela apresentação erudita do śloka, e, então, a pedido do Bhaṭṭācārya, ο Senhor explicou ο śloka de sessenta e quatro maneiras diferentes, sem tocar nas nove explicações dadas pelo Bhaṭṭācārya.

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Assim, após ouvir a explicação do śloka ātmārāma por parte do Senhor, ο Bhaṭṭācārya ficou convencido de que tal apresentação erudita era impossível para uma criatura da Terra.1 Antes disso, Śrī Gopīnātha Ācārya havia tentado convencê-lo da divindade do Senhor, mas, naquela ocasião, ele não O conseguiu aceitar como tal. Todavia, ο Bhaṭṭācārya ficou admirado com a exposição do Vedānta-sūtra e as explicações do śloka ātmārāma dadas pelo Senhor e, deste modo, começou a achar que tinha cometido uma grande ofensa aos pés de lótus do Senhor por não Ο ter reconhecido como ο próprio Kṛṣṇa. Ele, então, rendeu-se ao Senhor, arrependendo-se da maneira como Ο havia tratado anteriormente, e ο Senhor bondosamente aceitou ο Bhaṭṭācārya. Por Sua misericórdia sem causa, ο Senhor primeiramente Se manifestou para ele como ο Nārāyaṇa de quatro braços e, depois então, como ο Senhor Kṛṣṇa de dois braços, com uma flauta na mão.

O Bhaṭṭācārya caiu imediatamente aos pés de lótus do Senhor e compôs muitos ślokas adequados em louvor ao Senhor por Sua graça. Ele compôs quase cem ślokas em louvor ao Senhor. O Senhor, então, abraçou-o, e, devido ao êxtase transcendental, o Bhaṭṭācārya perdeu consciência do estado físico da vida. Lágrimas, tremor, palpitações do coração, transpiração, ondas emocionais, dança, canto, choro e todos os oito sintomas de transe manifestaram-se no corpo do Bhaṭṭācārya. Śrī Gopīnātha Ācārya ficou muito contente e surpreso com essa maravilhosa conversão de seu cunhado pela graça do Senhor.

Dentre os cem famosos ślokas que o Bhaṭṭācārya compôs em louvor ao Senhor, os dois que seguem são muito importantes, e esses dois ślokas explicam a missão do Senhor na sua essência:

1. Rendo-me à Personalidade de Deus que agora apareceu como ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu. Oceano de infinita misericórdia, Ele desceu para nos ensinar ο desapego da matéria, a sabedoria e ο serviço devocional a Ele.

2. Uma vez que ο serviço devocional puro ao Senhor acabou se perdendo no esquecimento do tempo, ο Senhor apareceu para restaurar os princípios, e, em razão disso, ofereço minhas reverências a Seus pés de lótus.

Ο Senhor explicou que a palavra mukti é equivalente à palavra Viṣṇu, ou a Personalidade de Deus. Atingir mukti, ou libertar-se do cativeiro da existência material, é atingir ο serviço ao Senhor.

Ο Senhor, então, prosseguiu em direção ao sul da Índia por algum tempo e converteu em devotos do Senhor Śrī Kṛṣṇa todos com quem Se encontrou no caminho. Tais devotos também converteram muitas outras pessoas ao culto do serviço devocional, ou ao bhāgavata-dharma do Senhor, e, desse modo, Ele chegou às margens do Godāvarī, onde encontrou Śrīla Rāmānanda Rāya, ο governador de Madras sob a jurisdição de Mahārāja Pratāparudra, ο rei de Orissa. Suas conversas com Rāmānanda Rāya são muito importantes para a compreensão superior do conhecimento transcendental, e o diálogo em si constitui um pequeno livro. Entretanto, daremos aqui um resumo da conversa.

Śrī Rāmānanda Rāya era uma alma autorrealizada, embora, externamente, pertencesse a uma casta socialmente inferior à casta dos brāhmaṇas. Ele não estava na ordem renunciada da vida e, além disso, era um alto funcionário governamental do estado. Mesmo assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou-o como uma alma liberada com base no grau superior de sua compreensão do conhecimento transcendental. De forma similar, o Senhor aceitou Śrīla Haridāsa Ṭhākura, um devoto veterano do Senhor proveniente de família maometana. Ε há muitos outros grandes devotos do Senhor provenientes de diferentes comunidades, seitas e castas. Ο único critério do Senhor era o padrão de serviço devocional da pessoa em particular. Ele não Se interessava pela aparência externa de um homem; Seu único interesse era a alma interior e suas atividades. Portanto, deve-se entender que todas as atividades missionárias do Senhor estão no plano espiritual, e, assim sendo, ο culto de Śrī Caitanya Mahāprabhu, ou ο culto do bhāgavata-dharma, nada tem a ver com assuntos mundanos, sociologia, política, desenvolvimento econômico ou qualquer uma de tais esferas da vida. Ο Śrīmad-Bhāgavatam é a necessidade puramente transcendental da alma.

Ao Se encontrar com Śrī Rāmānanda Rāya às margens do Godāvarī, ο Senhor levantou a questão do varṇāśrama-dharma seguido pelos hindus. Śrīla Rāmānanda Rāya disse que, seguindo os princípios de varṇāśrama-dharma, ο sistema de quatro castas e quatro ordens da vida humana, todos poderiam compreender a Transcendência. Na opinião do Senhor, ο sistema de varṇāśrama-dharma é apenas superficial, e pouco tem a ver com a compreensão máxima dos valores espirituais. A perfeição máxima da vida é desligar-se do apego material e, proporcionalmente, compreender ο transcendental serviço amoroso ao Senhor. A Personalidade de Deus reconhece um ser vivo que esteja progredindo nesse caminho. Ο serviço devocional é, portanto, a culminação do cultivo de todo conhecimento. Quando Śrī Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, apareceu para a libertação de todas as almas caídas, Ele recomendou a salvação de todas as entidades vivas como se segue. A Suprema e Absoluta Personalidade de Deus, de quem emanam todas as entidades vivas, tem que ser adorado através de todas as suas respectivas ocupações, porque tudo que vemos também é a expansão de Sua energia. Assim funciona a perfeição verdadeira, que é aprovada por todos os ācāryas fidedignos do passado e do presente. Ο sistema de varṇāśrama baseia-se mais ou menos em princípios morais e éticos. Há pouquíssima compreensão da Transcendência em tal posição, e ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu rejeitou-o, considerando-o superficial e pediu que Rāmānanda Rāya se aprofundasse mais no assunto.

Śrī Rāmānanda Rāya sugeriu ao Senhor, então, a renúncia das ações fruitivas. A Bhagavad-gītā (9.27) aconselha a esse respeito: “Tudo que fizeres, tudo que comeres e tudo que deres, bem como tudo que executares em penitência, oferece unicamente a Mim.” Essa dedicação por parte do trabalhador sugere que a Personalidade de Deus é um passo superior à concepção impessoal do sistema varṇāśrama, mas, ainda assim, a relação do ser vivo com ο Senhor não fica esclarecida dessa maneira. Por isso, ο Senhor rejeitou essa proposição e pediu para Rāmānanda Rāya continuar.

Rāya sugeriu, então, a renúncia ao varṇāśrama-dharma e a aceitação do serviço devocional. Ο Senhor também não aprovou essa sugestão pelo motivo de que não se deve renunciar subitamente a posição, pois pode ser que isso não traga ο resultado desejado.

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Rāya sugeriu, em seguida, que alcançar a compreensão espiritual, isenta da concepção material da vida, é a consecução mais elevada para ο ser vivo. Ο Senhor também rejeitou essa proposição porque, sob ο pretexto de tal compreensão espiritual, muito estrago tem sido feito por pessoas inescrupulosas; por isso, a compreensão espiritual de uma hora para outra não é possível. Ο Rāya sugeriu, então, a companhia sincera das almas autorrealizadas e ouvir submissamente a mensagem transcendental dos passatempos da Personalidade de Deus. Essa sugestão foi aceita como bem-vinda pelo Senhor. Essa sugestão foi dada seguindo ο modelo estabelecido por Brahmājī, ο qual disse que a Personalidade de Deus é conhecido como ajita, ou seja, aquele que não pode ser conquistado ou de quem ninguém pode se aproximar. Porém, esse ajita também Se torna jita (conquistado) através de um método, que é muito simples e fácil. Ο método simples é que temos de abandonar a arrogante atitude de declarar que somos ο próprio Deus. Devemos ser muito mansos e submissos e tentar viver pacificamente, ouvindo com atenção as palavras da alma transcendentalmente autorrealizada que fala sobre a mensagem do bhāgavata-dharma, ou a religião de glorificação ao Senhor Supremo e Seus devotos. Glorificar um grande homem é um instinto natural dos seres vivos, só que eles ainda não aprenderam a glorificar ο Senhor. A perfeição da vida é atingida simplesmente por se glorificar ο Senhor na companhia de um devoto autorrealizado do Senhor. Ο devoto autorrealizado é aquele que se rende totalmente ao Senhor e que não tem apego à prosperidade material. A prosperidade material e ο gozo dos sentidos, juntamente com seu progresso, são atividades de ignorância na sociedade humana. A paz e a amizade são impossíveis para uma sociedade desligada do contato com Deus e Seus devotos. É imprescindível, portanto, buscar sinceramente a companhia dos devotos puros e ouvi-los paciente e submissamente em qualquer posição que se esteja na vida. A posição de uma pessoa em status superior ou inferior de vida não a impede de trilhar ο caminho da autorrealização. A única coisa que é preciso fazer é ouvir de uma alma autorrealizada dentro de uma programação rotineira. Ο mestre poderá, também, dar palestras baseadas nos textos védicos, seguindo os passos dos ācāryas anteriores que compreenderam a Verdade Absoluta. Ο Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu recomendou este método simples de autorrealização, conhecido, em geral, como bhāgavata-dharma. Ο Śrīmad-Bhāgavatam é ο guia perfeito para esse objetivo.

Além destes tópicos discutidos pelo Senhor e Śrī Rāmānanda Rāya, houve ainda conversas espirituais mais elevadas entre as duas grandes personalidades, que nós intencionalmente não apresentaremos aqui, porque é preciso elevar-se ao plano espiritual para depois poder ouvir as conversas mais elevadas que Śrī Caitanya Mahāprabhu teve com Rāmānanda Rāya. Essas conversas poderão ser lidas em outro livro (Ensinamentos do Senhor Caitanya).

Na conclusão deste encontro, ο Senhor aconselhou Śrī Rāmānanda Rāya a se retirar do serviço e ir a Purī para que eles pudessem viver juntos e saborear um relacionamento transcendental. Um pouco mais tarde, Śrī Rāmānanda Rāya retirou-se do serviço governamental e conseguiu uma pensão do rei. Ele regressou à sua residência em Purī, onde foi um dos devotos mais íntimos do Senhor. Havia outro cavalheiro em Purī, chamado Sikhi Māhiti, que também era confidente como Rāmānanda Rāya. Ο Senhor costumava ter conversas confidenciais sobre valores espirituais com três ou quatro companheiros em Purī, e passou dezoito anos dessa maneira em transe espiritual. Suas conversas foram registradas por Seu secretário particular, Śrī Dāmodara Gosvāmī, um dos quatro devotos mais íntimos.

Ο Senhor viajou longamente por toda a parte meridional da Índia, onde ο grande santo de Mahārāṣṭra, conhecido como Santo Tukārāma, também foi iniciado pelo Senhor. Após a iniciação dada pelo Senhor, ο Santo Tukārāma inundou toda a província de Mahārāṣṭra com ο movimento de saṅkīrtana, cujo fluxo transcendental ainda está florescendo na parte sudeste da grande península indiana.

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No sul da Índia, ο Senhor descobriu dois importantíssimos textos antigos, a saber, a Brahma-saṁhitā e ο Κṛṣṇa-karṇāmṛta, e essas duas obras constituem valiosos estudos autorizados para pessoas que estejam na linha devocional. Ο Senhor regressou, então, a Purī após Sua viagem pelo sul da Índia.

Aο regressar a Purī, os devotos ansiosos pelo regresso do Senhor voltaram à vida, e ο Senhor permaneceu ali manifestando passatempos contínuos de Suas realizações transcendentais. Ο incidente mais importante durante esse período foi aquele em que Ele deu audiência ao rei Pratāparudra. Ο rei Pratāparudra era um grande devoto do Senhor, mas se considerava um dos servos do Senhor encarregado de varrer ο templo. Essa atitude submissa do rei foi muito apreciada por Śrī Caitanya Mahāprabhu. Ο rei pediu tanto ao Bhaṭṭācārya quanto a Rāya que lhe providenciassem um encontro com ο Senhor. Quando, entretanto, esses dois fervorosos devotos do Senhor fizeram-Lhe esse pedido, Ele Se negou terminantemente a aceder ao pedido, embora esse tivesse sido feito por companheiros pessoais como Rāmānanda Rāya e Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Ο Senhor afirmou que é perigoso para um sannyāsī estar em contato íntimo com homens de consciência mundana em relação a dinheiro e com mulheres. Ο Senhor foi um sannyāsī ideal. Nenhuma mulher podia se aproximar do Senhor nem mesmo para oferecer respeitos. Os assentos das mulheres eram colocados bem longe do Senhor. Como preceptor e ācārya ideal, Ele era muito estrito em Seus deveres de sannyāsī. Além de ser uma encarnação divina, ο Senhor manifestou o caráter de um homem ideal. Seu comportamento com outras pessoas estava acima de qualquer suspeita. Em Sua atuação como ācārya, Ele era mais duro que ο raio e mais suave que a rosa. Um de Seus companheiros, Haridāsa Júnior, cometeu um grande erro ao olhar luxuriosamente para uma jovem. Ο Senhor, como a Superalma, pôde descobrir essa luxúria na mente de Haridāsa Júnior, que foi imediatamente banido da companhia do Senhor e nunca mais foi aceito, apesar de terem implorado ao Senhor para Ele perdoar Haridāsa pelo erro. Posteriormente, Haridāsa Júnior cometeu suicídio por ter sido desligado da companhia do Senhor, e a notícia do suicídio foi devidamente relatada ao Senhor. Mesmo nesse momento, ο Senhor não Se esqueceu da ofensa, dizendo que Haridāsa tinha certamente recebido a punição merecida.

Quando se tratava dos princípios da ordem renunciada da vida e da disciplina, ο Senhor não transigia, em consequência do que, mesmo sabendo que ο rei era um grande devoto, Ele Se negou a vê-lo, só porque ο rei era um homem de posses. Por esse exemplo, ο Senhor quis enfatizar qual ο comportamento apropriado para um transcendentalista. Ο transcendentalista não deve ter contato com mulheres e com dinheiro. Ele deve sempre se abster de tais intimidades. Ο rei foi, contudo, favorecido pelo Senhor através do hábil arranjo dos devotos. Isso significa que ο querido devoto do Senhor pode favorecer um neófito mais liberalmente do que ο Senhor. Por isso, os devotos puros nunca cometem uma ofensa aos pés de outro devoto puro. Uma ofensa aos pés de lótus do Senhor é às vezes perdoada pelo Senhor misericordioso, mas uma ofensa aos pés de um devoto é muito perigosa para alguém que queira realmente avançar no serviço devocional.

Enquanto ο Senhor permaneceu em Purī, milhares de Seus devotos costumavam ir vê-lO durante ο festival da carruagem, Ratha-yātrā, do Senhor Jagannātha. Ε, durante ο festival do carro, a limpeza do templo de Guṇḍicā sob a supervisão direta do Senhor era uma função importante. Ο movimento de saṅkīrtana congregacional do Senhor em Purī era um espetáculo único para a massa popular. É assim que se faz para voltar a atenção das massas para a compreensão espiritual. Ο Senhor inaugurou esse sistema de saṅkīrtana de massa, e os líderes de todos os países podem aprender deste movimento espiritual como manter a massa popular em um estado puro de paz e amizade uns com os outros. Essa é a necessidade atual da sociedade humana em todo ο mundo.

Após algum tempo, ο Senhor partiu mais uma vez em viagem para ο norte da Índia, e decidiu visitar Vṛndāvana e as redondezas. Ele atravessou as selvas de Jharikhaṇḍa (Madhya Bhārata), onde todos os animais selvagens aderiram também a Seu movimento de saṅkīrtana. Os tigres selvagens, os elefantes, os ursos e os veados se juntaram ao Senhor, que os acompanhou em saṅkīrtana. Com isso, Ele provou que, através da propagação do movimento de saṅkīrtana (canto e glorificação congregacionais do nome do Senhor), mesmo os animais selvagens podem viver pacífica e amistosamente, e ο que dizer, então, dos homens que supostamente são civilizados. Nenhum homem no mundo se negará a aderir aο movimento de saṅkīrtana. Tampouco ο movimento de saṅkīrtana do Senhor é restrito a alguma casta, credo, cor ou espécie. Eis aqui a evidência direta de Sua grande missão: Ele permitiu que até os animais selvagens participassem de Seu grande movimento.

Regressando de Vṛndāvana, Ele parou primeiramente em Prayāga, onde Se encontrou com Rūpa Gosvāmī, junto de seu irmão mais novo, Anupama. Em seguida, Ele desceu até Benares. Durante dois meses, Ele deu instruções a Śrī Sanātana Gosvāmī sobre a ciência transcendental. A instrução dada a Sanātana Gosvāmī já é, por si mesma, uma longa narração, e não seria possível apresentá-la por completo aqui. As ideias principais são as seguintes.

Sanātana Gosvāmī (conhecido anteriormente como Sākara Mallika) era oficial de gabinete do governo da Bengala, sob ο regime de Nawab Hussain Shah. Ele decidiu se juntar ao Senhor e, por conseguinte, retirar-se do cargo. Voltando de Vṛndāvana ao chegar a Vārāṇasī, ο Senhor ficou como hóspede de Śrī Tapana Miśra e Candraśekhara, assistido por um brāhmaṇa de Mahārāṣṭra. Naquela época, Vārāṇasī era liderada por um grande sannyāsī da escola māyāvāda chamado Śrīpāda Prakāśānanda Sarasvatī. Quando ο Senhor esteve em Vārāṇasī, as pessoas em geral sentiram-se mais atraídas pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu devido a Seu movimento de saṅkīrtana de massa. Onde quer que Ele Se apresentasse, especialmente no templo de Viśvanātha, milhares de peregrinos Ο seguiam. Alguns se sentiam atraídos por Seus traços fisionômicos, e outros, por Suas melodiosas canções de glorificação ao Senhor.

Os sannyāsīs māyāvādīs se dão ο nome de Nārāyaṇa. Ainda hoje em dia, Vārāṇasī é uma cidade repleta de sannyāsīs māyāvādīs. Algumas pessoas que viram ο Senhor em Seu grupo de saṅkīrtana consideraram que Ele era ο verdadeiro Nārāyaṇa, e essa notícia chegou ao acampamento do grande sannyāsī Prakāśānanda.

Na Índia, ainda há certa rivalidade entre as escolas māyāvāda e bhāgavata, e assim, quando a notícia do Senhor chegou até Prakāśānanda, ele ficou sabendo que ο Senhor era um sannyāsī vaiṣṇava, motivo pelo qual menosprezou ο valor do Senhor diante daqueles que haviam lhe trazido a notícia. Ele depreciou as atividades do Senhor por causa de Sua pregação do movimento de saṅkīrtana, que, na sua opinião, nada mais era do que sentimentalismo religioso. Prakāśānanda era um profundo estudante do Vedānta, e aconselhou seus seguidores a dar atenção ao Vedānta, e não se entregar ao saṅkīrtana.

Certo devoto brāhmaṇa, que se tornara devoto do Senhor, não gostou da crítica de Prakāśānanda, e foi ter com ο Senhor para exprimir suas mágoas. Ele contou ao Senhor que, ao pronunciar ο nome do Senhor perante ο sannyāsī Prakāśānanda, este criticou fortemente ο Senhor, embora ο brāhmaṇa ouvisse Prakāśānanda pronunciar várias vezes ο nome Caitanya. Ο brāhmaṇa ficou espantado de ver que ο sannyāsī Prakāśānanda não pudera vibrar ο som Kṛṣṇa nem mesmo uma vez, apesar de ter pronunciado várias vezes ο nome Caitanya.

Sorridente, o Senhor explicou ao devoto brāhmaṇa por que ο māyāvādī não conseguira pronunciar ο santo nome de Kṛṣṇa. “Os māyāvādīs são ofensores aos pés de lótus de Kṛṣṇa, embora sempre pronunciem brahma, ātmā ou caitanya etc. Ε porque são ofensores aos pés de lótus de Kṛṣṇa, não são realmente capazes de pronunciar ο santo nome de Kṛṣṇa. Ο nome Kṛṣṇa e a Personalidade de Deus Kṛṣṇa são idênticos. No reino absoluto, não há diferença entre ο nome, a forma ou a pessoa da Verdade Absoluta, porque, no reino absoluto, tudo é bem-aventurança transcendental. Não há diferença entre ο corpo e a alma de Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus. Desta maneira, Ele difere da entidade viva que sempre é diferente de seu corpo externo. Por causa da posição transcendental de Kṛṣṇa, é muito difícil que um leigo conheça realmente a Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, Seu santo nome e fama, etc. Seu nome, fama, forma e passatempos têm a mesma identidade transcendental, não sendo possível conhecê-los através do uso dos sentidos materiais.

“Ο relacionamento transcendental dos passatempos do Senhor é a fonte de muito mais bem-aventurança do que se possa experimentar através da compreensão do Brahman ou através do tornar-se uno com ο Supremo. Se não fosse assim, aqueles que já estão situados na bem-aventurança transcendental do Brahman não se sentiriam atraídos pela bem-aventurança transcendental dos passatempos do Senhor.”

Depois disso, os devotos do Senhor promoveram um grande encontro, para o qual todos os sannyāsīs foram convidados, inclusive ο Senhor e Prakāśānanda Sarasvatī. Nesse encontro, os dois eruditos (ο Senhor e Prakāśānanda) tiveram uma longa conversa sobre os valores espirituais do movimento de saṅkīrtana, cujo sumário damos abaixo.

Ο grande sannyāsī māyāvādī Prakāśānanda perguntou ao Senhor qual era ο motivo de Ele preferir ο movimento de saṅkīrtana a estudar ο Vedānta-sūtra. Prakāśānanda disse que é dever de um sannyāsī ler ο Vedānta-sūtra. O que fizera ο Senhor Se entregar ao saṅkīrtana?

Após essa pergunta, ο Senhor respondeu humildemente: “Eu aceitei ο movimento de saṅkīrtana em vez do estudo do Vedānta porque sou um grande tolo.” Ο Senhor, assim, fez-Se passar por um dos inumeráveis tolos desta era que são absolutamente incapazes de estudar a filosofia Vedānta. A dedicação dos tolos ao estudo do Vedānta tem feito muitos estragos na sociedade. Ο Senhor continuou, então: “Ε, por Eu ser um grande tolo, Meu mestre espiritual Me proibiu de tocar na filosofia do Vedānta. Ele disse que é melhor Eu cantar ο santo nome do Senhor, pois esse canto Me libertará do cativeiro material.”

“Nesta era de Kali, não há outra religião além da glorificação do Senhor proferindo Seu santo nome, e esse é ο preceito de todas as escrituras reveladas. Ε Meu mestre espiritual ensinou-Me um śloka (do Bṛhan-nāradīya Purāṇa).”

harer nāma harer nāma harer nāmaiva kevalam
kalau nāsty eva nāsty eva nāsty eva gatir anyathā

“Assim, por ordem de Meu mestre espiritual, Eu canto o santo nome de Ηari, e agora estou louco por esse santo nome. Sempre que profiro ο santo nome, Eu Me esqueço de Mim mesmo por completo, e às vezes dou gargalhadas, choro e danço como um louco. Eu achava que tinha realmente enlouquecido por esse processo de cantar e, por isso, perguntei a Meu mestre espiritual a respeito disso. Ele Me informou que este era ο verdadeiro efeito produzido por se cantar ο santo nome: uma emoção transcendental que é uma manifestação rara. Essa manifestação é ο sinal do amor a Deus, que é a meta última da vida. Ο amor a Deus é transcendental à liberação [mukti] e, por conseguinte, é chamado de ο quinto estágio de compreensão espiritual, acima do estágio da liberação. Cantando-se ο santo nome de Kṛṣṇa, atinge-se ο estágio de amor a Deus, e foi bom que, felizmente, fui favorecido com esta bênção.”

Ao ouvir essa declaração do Senhor, ο sannyāsī māyāvādī perguntou ao Senhor o que havia de mal em se estudar ο Vedānta juntamente com ο cantar do santo nome. Prakāśānanda Sarasvatī sabia bem que ο Senhor fora conhecido anteriormente como Nimāi Paṇḍita, um estudioso muito erudito de Navadvīpa, e ο fato de Ele Se fazer passar por grande tolo tinha certamente algum objetivo. Ao ouvir essa pergunta do sannyāsī, ο Senhor sorriu e disse: “Meu caro senhor, se Me permites, responderei tua pergunta.”

Todos os sannyāsīs ali presentes ficaram muito satisfeitos com ο Senhor por Sua honestidade, e unanimemente responderam que não se sentiriam ofendidos pelo que Ele respondesse. Ο Senhor, então, falou ο seguinte:

“Ο Vedānta-sūtra consiste nas palavras ou sons transcendentais proferidos pela transcendental Personalidade de Deus. Como tal, não pode haver deficiências humanas no Vedānta, tais como erro, ilusão, logro ou ineficiência. A mensagem das Upaniṣads é expressa no Vedānta-sūtra, e ο que é dito diretamente ali é por certo glorioso. Quaisquer interpretações dadas por Śaṅkarācārya, por não se apoiarem diretamente no sūtra, se tornam comentários que arruínam tudo.”

“A palavra Brahman indica ο maior de todos, que é pleno de opulências transcendentais, superiores a tudo. Ο Brahman é, em última análise, a Personalidade de Deus, e Ele é coberto por interpretações tendenciosas que Ο estabelecem como sendo impessoal. Tudo que existe no mundo espiritual é pleno de bem-aventurança transcendental, incluindo a forma, o corpo, o lugar e a parafernália do Senhor. Tudo isso é eternamente consciente e bem-aventurado. Ο ācārya Śaṅkara não tem culpa de ter interpretado ο Vedānta assim, mas alguém que ο aceite dessa maneira estará certamente condenado. Qualquer um que aceite ο corpo transcendental da Personalidade de Deus como algo mundano comete, sem dúvidas, a maior das blasfêmias.”

Deste modo, ο Senhor falou ao sannyāsī quase da mesma forma que falou ao Bhaṭṭācārya de Purī, e, com argumentos vigorosos, anulou as interpretações māyāvādas do Vedānta-sūtra. Todos os sannyāsīs ali presentes proclamaram que ο Senhor era a personificação dos Vedas e a Personalidade de Deus. Todos os sannyāsīs foram convertidos ao culto de bhakti, todos eles aceitaram ο santo nome do Senhor Śrī Kṛṣṇa e jantaram na companhia do Senhor. Após essa conversão dos sannyāsīs, a popularidade do Senhor aumentou em Vārāṇasī, e milhares de pessoas se reuniram para ver a pessoa do Senhor. Ο Senhor, então, estabeleceu a importância básica do śrīmad-bhāgavata-dharma, e derrotou todos os outros sistemas de compreensão espiritual. Depois disso, todos em Vārāṇasī mergulharam no transcendental movimento de saṅkīrtana.

Enquanto ο Senhor esteve acampado em Vārāṇasī, Sanātana Gosvāmī também apareceu ali após se retirar do trabalho. Até ali, ele tinha sido um dos ministros de estado no governo da Bengala, que estava, então, sob ο regime do Nawab Hussain Shah. Ele teve certa dificuldade para se livrar do serviço de estado, pois ο Nawab relutou em deixá-lo partir. Não obstante, ele foi para Vārāṇasī, e ο Senhor ensinou-lhe os princípios do serviço devocional. Ele lhe ensinou sobre a posição constitucional do ser vivo, a causa de seu cativeiro nas condições materiais, sua relação eterna com a Personalidade de Deus, a posição transcendental da Suprema Personalidade de Deus, Suas expansões em diferentes porções plenárias de encarnações, Seu controle de diferentes partes do universo, a natureza de Sua morada transcendental, as atividades devocionais, seus diferentes estágios de desenvolvimento, as regras e regulações para se atingirem os estágios graduais de perfeição espiritual, os sintomas de diferentes encarnações em diferentes eras, e como determiná-las com referência ao contexto das escrituras reveladas.

Os ensinamentos do Senhor a Sanātana Gosvāmī compõem um grande capítulo no texto do Śrī Caitanya-caritāmṛta, e, para explicar todos os ensinamentos em detalhes minuciosos, seria necessário um volume à parte. Esses ensinamentos são explicados em detalhes em nosso livro Ensinamentos do Senhor Caitanya.

Em Mathurā, ο Senhor visitou todos os locais importantes, após o que chegou a Vṛndāvana. Ο Senhor Caitanya apareceu na família de um brāhmaṇa de casta superior e, além disso, como sannyāsī, Ele era ο preceptor para todos os varṇas e āśramas. Contudo, Ele costumava aceitar refeições de todas as classes de vaiṣṇavas. Em Mathurā, os brāhmaṇas sanodiyās são considerados como pertencentes à posição inferior da sociedade, mas ο Senhor aceitou refeições na família de um desses brāhmaṇas por ser Seu anfitrião discípulo da família de Mādhavendra Purī.

Em Vṛndāvana, ο Senhor tomou banho em vinte e quatro balneários, ou ghātas, importantes. Ele viajou por todos os doze vanas (florestas) importantes. Nessas florestas, todas as vacas e aves Lhe deram as boas-vindas, como se Ele fosse um velho amigo delas. Ο Senhor também começou a abraçar todas as árvores dessas florestas e, por ter feito isso, sentiu os sintomas do êxtase transcendental. Às vezes, Ele caía inconsciente, mas recuperava Sua consciência ao ouvir cantar ο santo nome de Kṛṣṇa. Os sintomas transcendentais, visíveis no corpo do Senhor durante Sua viagem através da floresta de Vṛndāvana, foram todos únicos e inexplicáveis, e acabamos de dar apenas um resumo deles.

Alguns dos locais importantes visitados pelo Senhor em Vṛndāvana foram Kāmyavana, Ādīśvara, Pāvana-sarovara, Khadiravana, Śeṣaśāyī, Khela-tīrtha, Bhāṇḍīravana, Bhadravana, Śrīvana, Lauhavana, Mahāvana, Gokula, Kāliya-hrada, Dvādaśāditya, Keśī-tīrtha etc. Ao visitar ο local onde ocorreu a dança da rāsa, Ele caiu imediatamente em transe. Enquanto permaneceu em Vṛndāvana, ο Senhor estabeleceu Sua sede em Akrūra-ghāṭa.

De Vṛndāvana, Seu servo pessoal, Kṛṣṇadāsa Vipra, induziu-Ο a voltar. para Prayāga e tomar banho durante ο Māgha Mela. Ο Senhor acedeu a essa proposta, e eles partiram para Prayāga. No caminho, encontraram alguns patanes, entre os quais estava ο erudito Μοulana. Ο Senhor teve algumas conversas com Μοulana e seus companheiros, e convenceu Μοulana de que, no Alcorão, também há descrições do bhāgavata-dharma e Kṛṣṇa. Todos os patanes foram convertidos a Seu culto do serviço devocional.

Quando Ele regressou a Prayāga, Śrīla Rūpa Gosvāmī e seu irmão caçula O encontraram próximo ao templo de Bindu-mādhava. Desta vez, ο Senhor foi acolhido pelo povo de Prayāga com mais respeito. Vallabha Bhaṭṭa, que residia do outro lado de Prayāga na vila de Āḍāila, iria receber ο Senhor em sua casa, mas, enquanto ia para lá, ο Senhor pulou no rio Yamunā. Com muita dificuldade, Ele foi resgatado em um estado inconsciente. Por fim, Ele visitou a casa de Vallabha Bhaṭṭa. Esse Vallabha Bhaṭṭa era um de Seus admiradores principais, mas, posteriormente, ele inaugurou ο seu próprio grupo, o sampradāya de Vallabha.

Às margens do Daśāśvamedha-ghāṭa, em Prayāga, ο Senhor deu instruções a Rūpa Gosvāmī, durante dez dias seguidos, sobre a ciência do serviço devocional ao Senhor. Ele ensinou ao Gosvāmī as divisões das criaturas vivas nas 8.400.000 espécies de vida. Depois, Ele lhe ensinou acerca das espécies humanas. Dentre elas, Ele discorreu sobre os seguidores dos princípios védicos. Dentre esses, sobre os trabalhadores fruitivos; dentre esses, sobre os filósofos empíricos, e, dentre esses, sobre as almas liberadas. Ele disse que há apenas uns poucos que são realmente devotos puros do Senhor Śrī Kṛṣṇa.

Śrīla Rūpa Gosvāmī era ο irmão mais novo de Sanātana Gosvāmī e, ao retirar-se do serviço, trouxe consigo dois barcos cheios de moedas de ouro. Isso significa que ele trouxe consigo alguns milhões de rúpias, acumuladas durante seu serviço. Ε, antes de deixar ο lar para se encontrar com ο Senhor Caitanya Mahāprabhu, ele dividiu a riqueza como se segue: cinquenta por cento para ο serviço ao Senhor e Seus devotos, vinte e cinco por cento para os parentes, e vinte e cinco por cento para necessidades pessoais em caso de emergência. Dessa maneira, ele estabeleceu um exemplo para todos os chefes de família.

Ο Senhor ensinou ao Gosvāmī a respeito do serviço devocional, comparando-o com uma trepadeira, e aconselhou-o a proteger a trepadeira de bhakti com muito cuidado em relação à ofensa do elefante louco, a qual se comete contra os devotos puros. Além disso, a trepadeira tem que ser protegida em relação aos desejos de gozo dos sentidos, liberação monista e perfeição do sistema de haṭha-yoga. Todas essas coisas são prejudiciais no caminho do serviço devocional. Do mesmo modo, a violência contra os seres vivos e ο desejo de lucro mundano, envolvimento mundano e fama mundana são prejudiciais ao progresso de bhakti, ou bhāgavata-dharma.

Ο serviço devocional puro tem que ser isento de todos os desejos de gozo dos sentidos, aspirações fruitivas e cultivo de conhecimento monista. Temos que nos livrar de todos os tipos de designações e, quando nos convertermos assim à pureza transcendental, poderemos, então, servir ao Senhor com sentidos purificados.

Enquanto houver desejo de gozar com os sentidos ou tornar-se uno com ο Supremo ou possuir poderes místicos, não será possível atingir o estágio de serviço devocional puro.

Ο serviço devocional é conduzido sob duas categorias, a saber, a prática primária e a emoção espontânea. Quando alguém pode elevar-se à plataforma de emoção espontânea, pode fazer mais progresso, desenvolvendo apego espiritual, sentimento, amor e muitos estágios superiores de vida devocional, para os quais não há palavras equivalentes no nosso idioma. Tentamos explicar a ciência do serviço devocional em nosso livro Ο Néctar da Devoção, baseado na autoridade do Bhakti-rasāmṛta-sindhu, de Śrīla Rūpa Gosvāmī.

Ο transcendental serviço devocional tem cinco estágios de reciprocidade:

1. Ο estágio de autorrealização logo após ο libertar-se do cativeiro material é chamado estágio śānta, ou neutro.

2. Depois disso, com ο desenvolvimento do conhecimento transcendental das opulências internas do Senhor, ο devoto se ocupa no estágio dāsya.

3. Com ο desenvolvimento posterior do estágio dāsya, desenvolve-se uma fraternidade respeitosa com ο Senhor, e, além disso, manifesta-se um sentimento de amizade em nível de igualdade. Esses dois estágios são chamados de estágio sakhya, ou serviço devocional com amizade.

4. Acima desse, consta ο estágio da afeição paternal pelo Senhor, que é chamado de estágio vātsalya.

5. Ε, acima desse, está ο estágio de amor conjugal, chamado de ο estágio máximo de amor a Deus, embora não haja diferença em qualidade em nenhum dos estágios mencionados. Ο último estágio, ο de amor conjugal por Deus, é chamado de estágio mādhurya.

Assim, Ele deu instruções a Rūpa Gosvāmī sobre a ciência devocional e o encarregou de ir para Vṛndāvana escavar os locais perdidos dos passatempos transcendentais do Senhor. Depois disso, ο Senhor regressou a Vārāṇasī, salvou os sannyāsīs e deu instruções ao irmão mais velho de Rūpa Gosvāmī. Este ponto nós já discutimos.

Ο Senhor deixou apenas oito ślokas de Suas instruções por escrito, que são conhecidos como Śikṣāṣtaka. Todos os outros textos de Seu culto divino foram escritos exaustivamente pelos principais seguidores do Senhor, os seis Gosvāmīs de Vṛndāvana e seus seguidores. Ο culto da filosofia de Caitanya é mais rico do que qualquer outro, e se admite que esse culto é a religião viva de hoje em dia, com potência para se espalhar como o viśva-dharma, ou religião universal. Para nossa boa fortuna, a questão foi aceita por alguns sábios entusiastas, como Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja e seus discípulos. Esperaremos ansiosamente pelos dias felizes do bhāgavata-dharma, ou prema-dharma, inaugurado pelo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

Os oito ślokas concluídos pelo Senhor são:

1

Glória ao Śrī Kṛṣṇa saṅkīrtana, que limpa do coração toda a poeira acumulada durante anos e extingue o fogo da vida condicional, de repetidos nascimentos e mortes. Este movimento de saṅkīrtana é a bênção principal para toda a humanidade porque espalha os raios da lua da bênção. É a vida de todo o conhecimento transcendental. Aumenta ο oceano de bem-aventurança transcendental e nos capacita a saborear completamente ο néctar pelo qual sempre ansiamos.

2

Ó meu Senhor, somente Teu santo nome pode dar toda bênção aos seres vivos, e, por isso, tens centenas e milhões de nomes, tais como Κṛṣṇa e Govinda. Nesses nomes transcendentais, aplicaste todas as Tuas energias transcendentais. Nem mesmo há regras rígidas para se cantar esses nomes. Ó meu Senhor, por Tua bondade, permites que nos aproximemos facilmente de Ti, cantando Teus santos nomes, mas, desventurado como sou, não sinto atração por eles.

3

Deve-se cantar ο santo nome do Senhor em um estado de espírito humilde, julgando-se inferior à palha na rua; deve-se ser mais tolerante que uma árvore, desprovido de todo sentido de falso prestígio, e deve-se estar pronto para oferecer todo respeito aos outros. Em tal estado de espírito, pode-se cantar ο santo nome do Senhor constantemente.

4

Ó Senhor todo-poderoso, não tenho desejo de acumular riqueza, nem desejo belas mulheres, nem quero ter seguidores. Tudo que desejo é Te prestar serviço devocional imotivado, nascimento após nascimento.

5

Ó filho de Mahārāja Nanda [Kṛṣṇa], sou Teu servo eterno, porém, de alguma forma caí no oceano de nascimentos e mortes. Resgata-me, por favor, deste oceano de morte e situa-me como um dos átomos a Teus pés de lótus.

6

Ó meu Senhor, quando meus olhos se decorarão com lágrimas de amor, fluindo constantemente por eu cantar Teu santo nome? Quando minha voz se abafará, e quando os pelos de meu corpo se arrepiarão com a recitação de Teu nome?

7

Ó Govinda! Sentindo saudades de Ti, para mim parece que um instante dura doze anos ou mais. De meus olhos, fluem lágrimas como se fossem torrentes de chuva, e sinto que ο mundo está vazio na Tua ausência.

8

Não conheço ninguém além de Kṛṣṇa como meu Senhor, e Ele sempre ο será, mesmo que me trate asperamente ao me abraçar ou parta meu coração por não estar presente diante de mim. Ele é completamente livre para fazer qualquer coisa, pois sempre será ο meu Senhor adorável, incondicionalmente.

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