VERSO 13
naiṣātiduḥsahā kṣun māṁ
tyaktodam api bādhate
pibantaṁ tvan-mukhāmbhoja-
cyutaṁ hari-kathāmṛtam
na — não; eṣā — tudo isto; ati-duḥsahā — extremamente difícil de suportar; kṣut — fome; mām — a mim; tyakta-udam — mesmo após deixar de beber água; api — também; bādhate — não incomoda; pibantam — enquanto bebo; tvat-mukha-ambhoja-cyutam — que emana de tua boca de lótus; hari-kathā-amṛtam — o néctar dos tópicos relativos a Kṛṣṇa.
Por causa do meu voto à beira da morte, deixei até mesmo de beber água, mas, como estou bebendo o néctar dos tópicos relacionados com Kṛṣṇa, que flui da boca de lótus de Sua Santidade, minha fome e sede, que são extremamente difíceis de suportar, não podem incomodar-me.
SIGNIFICADO—Como maneira de preparar-se para enfrentar a morte em sete dias, Mahārāja Parīkṣit deixou completamente de comer e beber. Como um ser humano, ele decerto estava faminto e sedento, de modo que Śukadeva Gosvāmī talvez achasse melhor parar de narrar os tópicos transcendentais referentes a Kṛṣṇa; porém, apesar do seu jejum, Mahārāja Parīkṣit não estava fatigado de modo algum. “A fome e a sede decorrentes do meu jejum não me perturbam”, disse ele. “Certa vez, quando eu estava dominado pela sede, fui ao āśrama de Śamīka Muni para beber água, mas o muni não a forneceu. Portanto, envolvi seu ombro com uma serpente morta e, em razão disso, fui amaldiçoado pelo menino brāhmaṇa. Agora, entretanto, tenho muita disposição. Não estou nada perturbado pela minha fome e sede.” Isso indica que, embora haja perturbações provocadas pela fome e pela sede na plataforma material, não há fenômenos tais como fadiga na plataforma espiritual.
O mundo inteiro está sofrendo devido à sede espiritual. Todo ser vivo é Brahman, ou alma espiritual, e precisa de alimento espiritual para satisfazer sua fome e sua sede. Infelizmente, entretanto, o mundo desconhece por completo o néctar do kṛṣṇa-kathā. O movimento da consciência de Kṛṣṇa, portanto, é uma dádiva para os filósofos, religiosos e pessoas em geral. Decerto, há uma atração fascinante em Kṛṣṇa e no kṛṣṇa-kathā. Portanto, a Verdade Absoluta chama-se Kṛṣṇa, o mais atrativo.
A palavra amṛta é também uma importante referência à Lua, e a palavra ambuja significa “lótus”. O agradável luar e a agradável fragrância do lótus combinavam-se para dar prazer a todos os que ouviam kṛṣṇa-kathā fluir da boca de Śukadeva Gosvāmī. Segundo se afirma:
matir na kṛṣṇe parataḥ svato vā
mitho ’bhipadyeta gṛha-vratānām
adānta-gobhir viśatāṁ tamisraṁ
punaḥ punaś carvita-carvaṇānām
“Devido aos seus sentidos descontrolados, as pessoas demasiadamente apegadas à vida materialista progridem rumo às condições infernais e repetidamente mastigam aquilo que já foi mastigado. Mesmo que instruídas pelos outros, ou mesmo que se valham de seus próprios esforços, ou inclusive mediante uma combinação de ambos os processos, elas jamais sentem inclinação por Kṛṣṇa.” (Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.30) No momento atual, toda a sociedade humana está ocupada na atividade de mastigar o mastigado (punaḥ punaś carvita-carvaṇānām). As pessoas estão dispostas a se submeterem a mṛtyu-saṁsāra-vartmani, nascer em uma forma, morrer, aceitar outra forma e novamente morrer. A fim de acabar com esses repetidos nascimentos e mortes, o kṛṣṇa-kathā, ou a consciência de Kṛṣṇa, é uma necessidade imprescindível. Porém, enquanto não ouvir kṛṣṇa-kathā de uma alma realizada como Śukadeva Gosvāmī, pessoa alguma poderá saborear o néctar de kṛṣṇa-kathā, que põe termo a toda fadiga material, nem desfrutar da bem-aventurança da existência transcendental. Em relação ao movimento da consciência de Kṛṣṇa, realmente vemos que aqueles que saborearam o néctar de kṛṣṇa-kathā perdem todos os desejos materiais, ao passo que aqueles que não entendem Kṛṣṇa ou kṛṣṇa-kathā consideram a vida consciente de Kṛṣṇa como “lavagem cerebral” e “controle da mente”. Enquanto os devotos desfrutam de bem-aventurança espiritual, os não-devotos ficam surpresos de que os devotos tenham-se esquecido dos anseios materiais.