VERSO 39
dehe pañcatvam āpanne
dehī karmānugo ’vaśaḥ
dehāntaram anuprāpya
prāktanaṁ tyajate vapuḥ
dehe — quando o corpo; pañcatvam āpanne — decompõe-se em cinco elementos; dehī — o proprietário do corpo, o ser vivo; karma-anugaḥ — seguindo as reações de suas próprias atividades fruitivas; avaśaḥ — espontaneamente, automaticamente; deha-antaram — outro corpo (feito de elementos materiais); anuprāpya — recebendo como resultado; prāktanam — o anterior; tyajate — abandona; vapuḥ — corpo.
Quando o presente corpo se reduz a pó e volta a decompor-se em cinco elementos – terra, água, fogo, ar e éter –, o proprietário do corpo, o ser vivo, de acordo com suas atividades fruitivas, automaticamente recebe outro corpo formado de elementos materiais. Ao obter o próximo corpo, ele se desfaz do corpo atual.
SIGNIFICADO—Confirma isso a Bhagavad-gītā, que apresenta o começo da compreensão espiritual.
dehino ’smin yathā dehe
kaumāraṁ yauvanaṁ jarā
tathā dehāntara-prāptir
dhīras tatra na muhyati
“Assim como a alma encarnada passa seguidamente, neste corpo, da infância à juventude e à velhice, da mesma maneira, a alma passa para um outro corpo após a morte. Uma pessoa sóbria não se confunde com tal mudança.” (Bhagavad-gītā 2.13) Uma pessoa ou um animal não são o corpo material; ao contrário, o corpo material é a cobertura do ser vivo. A Bhagavad-gītā compara o corpo a uma roupa e explica elaboradamente como as pessoas mudam de roupa, uma após outra. O mesmo conhecimento védico é confirmado aqui. O ser vivo, a alma, está constantemente trocando de corpos, um após outro. Mesmo na vida atual, o corpo passa da infância à meninice, da meninice à juventude, e da juventude à velhice; igualmente, quando o corpo é demasiadamente velho para continuar, o ser vivo abandona esse corpo e, pelas leis da natureza, automaticamente recebe outro corpo, de acordo com suas atividades, desejos e ambições fruitivas. Essa sequência é controlada pelas leis da natureza, e, portanto, enquanto a entidade viva estiver sob o controle da energia material externa, o processo de mudança corpórea ocorre automaticamente, de acordo com as atividades fruitivas por ela desempenhadas. Vasudeva, portanto, queria deixar Kaṁsa ciente de que, se ele cometesse esse ato pecaminoso, matando uma mulher, ele decerto obteria um corpo material ainda mais condicionado aos sofrimentos da existência material em sua próxima vida. Por isso, Vasudeva aconselhou Kaṁsa a não cometer atividades pecaminosas.
Alguém que, devido à ignorância, tamo-guṇa, comete atividades pecaminosas, obtém um corpo inferior. Kāraṇaṁ guṇa-saṅgo ’sya sad-asad-yoni janmasu. (Bhagavad-gītā 13.22) Existem centenas e milhares de diferentes espécies de vida. Por que existem corpos superiores e inferiores? Esses corpos são recebidos por alguém de acordo com o seu grau de contaminação na natureza material. Se nesta vida a pessoa é contaminada pelo modo da ignorância e por atividades pecaminosas (duṣkṛtī), na próxima vida, pelas leis da natureza, ela decerto obterá um corpo que propicia muito sofrimento. As leis da natureza não se sujeitam aos desejos caprichosos da alma condicionada. Nosso empenho, portanto, deve consistir em associarmo-nos sempre com sattva-guṇa e afastarmo-nos de rajo-guṇa ou tamo-guṇa (rajas-tamo-bhāvāḥ). Os desejos luxuriosos e a cobiça mantêm a entidade viva em ignorância perpétua e impedem-na de elevar-se à plataforma de sattva-guṇa ou śuddha-sattva-guṇa. Todos são aconselhados a situar-se em śuddha-sattva-guṇa, serviço devocional, pois assim ficam imunes às reações dos três modos da natureza material.