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VERSO 2

asyāpi deva vapuṣo mad-anugrahasya
svecchā-mayasya na tu bhūta-mayasya ko ’pi
neśe mahi tv avasituṁ manasāntareṇa
sākṣāt tavaiva kim utātma-sukhānubhūteḥ

asya — deste; api — até mesmo; deva — ó Senhor; vapuṣaḥ — o corpo; mat-anugrahasya — que mostrou misericórdia para mim; sva-icchā­mayasya — que aparece em resposta aos desejos de Vossos devotos puros; na — não; tu — por outro lado; bhūta-mayasya — um produto da matéria; kaḥ — Brahmā; api — até mesmo; na īśe — não sou capaz; mahi — a potência; tu — de fato; avasitum — de calcular; manasā — com minha mente; antareṇa — que é controlada e retirada; sākṣāt — diretamente; tava — Vossa; eva — de fato; kim uta — o que se dizer; ātma — dentro de Vós mesmo; sukha — da felicidade; anubhūteḥ — de Vossa experiência.

Meu querido Senhor, nem eu nem nenhuma pessoa pode ava­liar a potência deste Vosso corpo transcendental, que me mostrou tamanha misericórdia e que aparece apenas para satisfazer os desejos de Vossos devotos puros. Embora minha mente esteja completamente afastada dos assuntos materiais, não posso compreender Vossa forma pessoal. Como, então, seria possível que eu enten­desse a felicidade que experimentais em Vós mesmo?

SIGNIFICADO—Em Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, capítulo quatorze, Śrīla Prabhupāda explica que, neste verso, o senhor Brahmā expres­sou o seguinte sentimento devocional: “Vosso aparecimento como um vaqueirinho é para o benefício dos devotos, e embora eu tenha cometido ofensas a Vossos pés de lótus por roubar Vossas vacas, meninos e bezerros, posso compreender que agora me estais conce­dendo misericórdia. Eis aqui Vossa qualidade transcendental: sois muito afetuoso para com Vossos devotos. Porém, apesar de Vossa afeição por mim, não posso avaliar a potência de Vossas atividades físicas. Deve-se entender que se eu, o senhor Brahmā, a personalidade supre­ma deste universo, não posso avaliar o corpo aparentemente infantil da Suprema Personalidade de Deus, o que se dizer dos outros, então? E se eu não consigo avaliar a potência espiritual de Vosso corpo infan­til, então o que posso entender de Vossos passatempos transcendentais? Por isso, como se diz na Bhagavad-gītā, qualquer um que compreen­da um pouco dos passatempos, aparecimento e desaparecimento trans­cendentais do Senhor, de imediato se torna apto para entrar no reino de Deus após deixar o corpo material. Essa declaração é confirmada nos Vedas, onde se afirma claramente que, mediante a compreensão acerca da Suprema Personalidade de Deus, pode-se superar o ciclo de repetidos nascimentos e mortes. Recomendo a todos, portanto, que não tentem compreender-Vos através do conhecimento especula­tivo.”

Quando Brahmā desrespeitou a posição suprema da Personalidade de Deus, o Senhor Kṛṣṇa primeiro confundiu-o exibindo Seu próprio poder transcendental como o Senhor. Depois, tendo humildado Seu devoto Brahmā, Kṛṣṇa conferiu-lhe Sua audiência pessoal.

Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, o corpo transcen­dental do Senhor Kṛṣṇa também pode funcionar através de Suas ex­pansões plenárias, chamadas viṣṇu-tattva. Como o próprio Brahmā declara na Brahma-saṁhitā (5.32): aṅgāni yasya sakalendriya-vṛttimanti. Este verso indica não apenas que o Senhor pode executar qualquer função corporal com qualquer um de Seus membros, mas também que Ele pode ver através dos olhos de Suas expansões Viṣṇu ou, de fato, através dos olhos de qualquer entidade viva, e igualmente que Ele pode ouvir através dos ouvidos de qualquer expansão Viṣṇu ou jīva. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura salienta que, embora o Senhor possa executar qualquer função com qualquer um de Seus sentidos, Ele, em Seus passatempos transcendentais como Śrī Kṛṣṇa, em geral vê com Seus olhos, toca com Suas mãos, ouve com Seus ouvidos e assim por diante. Assim, Ele Se comporta como o mais belo e encantador vaqueirinho.

O conhecimento védico se expande a partir do senhor Brahmā, que é descrito no primeiro verso do Śrīmad-Bhāgavatam como ādi-kavi, o erudito védico primordial. Brahmā, todavia, não pôde compreender o corpo transcendental do Senhor Kṛṣṇa, por esse corpo estar além do alcance do conhecimento védico ordinário. Dentre todas as formas transcendentais do Senhor, a forma de dois braços de Govinda – Kṛṣṇa – é a original e suprema. Logo, os passatempos do Senhor Govinda em que Ele rouba manteiga, mama nos seios das gopīs, cuida dos bezerros, toca flauta e realiza travessuras infantis são extraordi­nários mesmo em comparação com as atividades das expansões do Senhor Viṣṇu.

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