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VERSO 23

ekas tvam ātmā puruṣaḥ purāṇaḥ
satyaḥ svayaṁ-jyotir ananta ādyaḥ
nityo ’kṣaro ’jasra-sukho nirañjanaḥ
pūrṇādvayo mukta upādhito ’mṛtaḥ

ekaḥ — um; tvam — Vós; ātmā — a Alma Suprema; puruṣaḥ — a Pessoa Suprema; purāṇaḥ — o mais antigo; satyaḥ — a Verdade Absoluta; svayam-jyotiḥ — automanifesta; anantaḥ — sem fim; ādyaḥ — sem início; nityaḥ — eterno; akṣaraḥ — indestrutível; ajasra-sukhaḥ — cuja feli­cidade não se pode obstruir; nirañjanaḥ — isento de contaminação; pūrṇa — completo; advayaḥ — único e inigualável; muktaḥ — livre; upā­dhitaḥ — de todas as designações materiais; amṛtaḥ — imortal.

Sois a única Alma Suprema, a primordial Personalidade Supre­ma, a Verdade Absoluta – automanifesta, sem fim e sem início. Sois eterno e infalível, perfeito e completo, sem nenhum rival e livre de todas as designações materiais. Vossa felicidade jamais pode ser obstruída, tampouco tendes alguma conexão com a contami­nação material. Na realidade, sois o indestrutível néctar da imor­talidade.

SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī explica como os vários termos deste verso demonstram que o corpo transcendental do Senhor Kṛṣṇa é livre das características dos corpos materiais. Todos os corpos materiais passam por seis fases: nascimento, crescimento, maturidade, reprodução, de­clínio e destruição. Contudo, o Senhor Kṛṣṇa não aceita nascimento ma­terial, visto ser Ele a realidade original, fato claramente indicado aqui pela palavra adya, “original”. Nosso nascimento material ocorre dentro de uma atmosfera material específica, em corpos materiais que são amalgamações de vários elementos materiais. Porque o Senhor Kṛṣṇa existia muito antes da criação de qualquer atmosfera ou elemento materiais, fica afastada qualquer hipótese de que Seu corpo transcendental aceite algum nascimento material.

De igual modo, a palavra pūrṇa, que significa “pleno e comple­to”, refuta o conceito de que o Senhor Kṛṣṇa possa desenvolver-Se, pois Ele sempre existe em plenitude. Quando o corpo material de uma pessoa amadurece, ela não pode mais desfrutar como na juven­tude, mas as palavras ajasra-sukha, “desfrutando de felicidade livre de empecilhos”, indicam que o corpo do Senhor Kṛṣṇa nunca atinge a chamada meia-idade, pois é sempre cheio da juvenil bem-aventuran­ça espiritual. A palavra akṣara, “que não diminui”, refuta a possibilidade de envelhecimento ou declínio do corpo do Senhor Kṛṣṇa, e a palavra amṛta, “imortal”, nega a possibilidade de morte.

Em outras palavras, o corpo transcendental do Senhor Kṛṣṇa é destituído das transformações dos corpos materiais. O Senhor cria, porém, inúmeros mundos e expande-Se como inúmeras entidades vivas. Mas a dita reprodução do Senhor é completamente espiritual e não ocorre em certa fase de Sua existência corpórea; constitui, antes, a tendência eterna do Senhor a expandir Sua bem-aventurança e glórias espirituais.

Como o Senhor afirma no śruti, pūrvam evāham ihāsam: “Só Eu existia no princípio.” Por isso, o Senhor aqui é chamado de puruṣaḥ purāṇaḥ, “o desfrutador primordial”. Este puruṣa original expande-­Se como a Superalma e entra em todo ser vivo. Ainda assim, Ele é, em última análise, a Verdade Absoluta, Kṛṣṇa, como se afirma na Gopāla-tāpanī Upaniṣad, yaḥ sākṣāt para-brahmeti govindaṁ sac-cid-ānanda-vigrahaṁ vṛndāvana-sura-bhūruha-talāsīnam: “A própria Verdade Absoluta é Govinda, que tem uma forma eterna de bem-­aventurança e conhecimento e que está sentado sob a sombra das árvores-dos-desejos de Vṛndāvana.” Esta Verdade Absoluta encon­tra-Se além da ignorância material e além até mesmo do conheci­mento espiritual ordinário, como o declara o mesmo śruti Gopāla-­tāpanī: vidyāvidyābhyāṁ bhinnaḥ. De muitas maneiras, portanto, é estabelecida na literatura védica a supremacia do Senhor Kṛṣṇa, e o próprio senhor Brahmā a confirma nesta passagem.

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