VERSO 40
śrī-kṛṣṇa vṛṣṇi-kula-puṣkara-joṣa-dāyin
kṣmā-nirjara-dvija-paśūdadhi-vṛddhi-kārin
uddharma-śārvara-hara kṣiti-rākṣasa-dhrug
ā-kalpam ārkam arhan bhagavan namas te
śrī-kṛṣṇa — ó Senhor Kṛṣṇa; vṛṣṇi-kula — da dinastia Yadu; puṣkara — ao lótus; joṣa — prazer; dāyin — a vós que concedeis; kṣmā — da terra; nirjara — os semideuses; dvija — os brāhmaṇas; paśu — e dos animais; udadhi — dos grandes oceanos; vṛddhi — o aumento; kārin — ó Vós que causais; uddharma — de princípios ateístas; śārvara — da escuridão; hara — ó dissipador; kṣiti — sobre a Terra; rākṣasa — dos demônios; dhruk — o oponente; ā-kalpam — até o fim do universo; ā-arkam — enquanto o Sol brilhar; arhan — à Deidade sumamente adorável; bhagavan — ó Suprema Personalidade de Deus; namaḥ — ofereço minhas respeitosas reverências; te — a Vós.
Meu querido Śrī Kṛṣṇa, concedeis felicidade à dinastia Vṛṣṇi, que é como um lótus, e expandis os grandes oceanos constituídos da terra, dos semideuses, dos brāhmaṇas e das vacas. Dissipais as densas trevas da irreligião e opondes-Vos aos demônios que apareceram nesta Terra. Ó Suprema Personalidade de Deus, enquanto existir este universo e enquanto brilhar o Sol, oferecerei minhas reverências a Vós.
SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Sanātana Gosvāmī, o senhor Brahmā está aqui ocupado no êxtase de nāma-saṅkīrtana, glorificando vários nomes santos do Senhor Kṛṣṇa que indicam Seus variados passatempos. O Senhor Kṛṣṇa habilmente eliminou a população demoníaca da Terra, que se tornara insuportável com o advento de políticos demoníacos como Kaṁsa, Jarāsandha e Śiśupāla. De modo semelhante, há muitas pessoas que se dizem tementes a Deus na sociedade moderna, mas que de fato sentem-se atraídas por uma existência demoníaca. Tais pessoas ficam animadas com o pôr do sol e saem na escuridão para gozar a vida em restaurantes, boates, discotecas, hotéis e assim por diante, todos os quais se destinam à prática de sexo ilícito, embriaguez, jogatina e consumo de carne. Há também aqueles que abertamente desafiam a Deus e a Suas leis, declarando-se ateus e demônios. Os inimigos do Senhor, tanto os dissimulados quanto os notórios, constituem um ímpio fardo para a Terra, e o Senhor Kṛṣṇa desce para habilmente eliminar esse fardo.
Nesta passagem, o senhor Brahmā afirma de modo indireto que o Senhor Kṛṣṇa devia remover o próprio ateísmo sutil de Brahmā, que o levara a tentar exercer seu poder ilusório sobre o Senhor Kṛṣṇa. Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, o senhor Brahmā, envergonhado, sentia-se como um brahma-rākṣasa de Satyaloka que viera à Terra para perturbar o Senhor Kṛṣṇa e Seus amigos íntimos e bezerros. Brahmā está lamentando que, embora o Senhor Kṛṣṇa seja muito sublime, o Senhor de todos os senhores, por Ele ter aparecido diante de Brahmā sob um aspecto tão simples e inocente – ornado com um cajado, um búzio, ornamentos, argila vermelha, pena de pavão etc., e brincando com Seus amigos vaqueirinhos –, ele ousara desafiá-lO. A respeito das preces de Brahmā, das quais este verso constitui a conclusão, Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura diz: “Que essas orações de Brahmā, que dissipam todas as dúvidas e difundem todas as conclusões definitivas acerca do serviço devocional, tornem-se o engenhoso trabalho de alicerce de minha consciência.”