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CAPÍTULO QUINZE

O Extermínio de Dhenuka, o Demônio Asno

Este capítulo descreve como o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa, enquanto pastoreavam as vacas nas terras de Vṛndāvana, ma­taram Dhenukāsura, possibilitando que os residentes de Vṛndāvana comessem os frutos das árvores tāla, e como salvaram os vaqueirinhos do veneno de Kāliya.

Revelando Sua fase de passatempos infantis (paugaṇḍa), Rāma e Kṛṣṇa estavam certo dia levando as vacas para pastar quando entra­ram em uma floresta atrativa, embelezada com um lago de águas cris­talinas. Ali na floresta, Eles começaram a brincar com Seus amigos. Fingindo estar cansado, o Senhor Baladeva repousou a ca­beça no colo de um vaqueirinho e descansou, enquanto o Senhor Kṛṣṇa ajudava a aliviar a fadiga de Seu irmão mais velho massagean­do-Lhe os pés. Depois, Kṛṣṇa também colocou a cabeça no colo de um vaqueirinho para descansar, e outro menino massageou Seus pés. Dessa forma, Kṛṣṇa, Balarāma e Seus amigos vaqueirinhos deleita­ram-se com vários passatempos.

Durante essa brincadeira, Śrīdāmā, Subala, Stoka-Kṛṣṇa e outros vaqueirinhos descreveram a Rāma e Kṛṣṇa um demônio perverso e indomável chamado Dhenuka, o qual, sob a forma de um asno, vivia na floresta de Tālavana perto da colina Govardhana. Essa floresta era cheia de muitas variedades de frutas doces. Contudo, por medo deste demônio, ninguém ousava tentar saborear aquelas frutas, de modo que alguém teria de matar o demônio e todos os seus companheiros. O Senhor Rāma e o Senhor Kṛṣṇa, logo que ouviram falar da situa­ção, partiram para essa floresta a fim de satisfazer o desejo de Seus companheiros.

Ao chegar a Tālavana, o Senhor Balarāma, sacudindo as palmei­ras, derrubou muitas frutas, e logo que fez isso, o demônio asno, Dhenuka, precipitou-se em Sua direção para atacá-lO. Mas Balarāma, com uma mão, agarrou-lhe as patas traseiras, girou-o no ar e arremessou-o ao topo de uma árvore, matando-o desse modo. Enfure­cidos, todos os amigos de Dhenukāsura arremeteram contra Rāma e Kṛṣṇa, mas estes os pegaram um a um, giraram-nos no ar e mataram­-nos, até que, por fim, o tumulto teve fim. Quando Kṛṣṇa e Balarāma retornaram à comunidade dos vaqueiros, Yaśodā e Rohiṇī puseram­-nOs em seus respectivos colos, beijaram Seus rostos, alimentaram-­nOs com pratos requintados e, em seguida, puseram-nOs na cama.

Alguns dias depois, o Senhor Kṛṣṇa foi com os amigos, mas sem Seu irmão mais velho, às margens do Kālindī levar as vacas para pastar. As vacas e os vaqueirinhos ficaram muito sedentos e beberam um pouco da água do Kālindī. Mas como a água fora contaminada com veneno, todos eles caíram inconscientes na beira do rio. Kṛṣṇa então, por meio da misericordiosa chuva de Seu olhar, trouxe-os de volta à vida, e eles, recuperando a consciência, apreciaram Sua grande misericórdia.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Quando o Senhor Rāma e o Senhor Kṛṣṇa chegaram à idade paugaṇḍa [seis a dez anos] enquanto moravam em Vṛndāvana, os vaqueiros permitiram que Eles assumis­sem a tarefa de pastorear as vacas. Ocupados assim na companhia de Seus amigos, os dois meninos tornaram a terra de Vṛndāvana muito auspiciosa em virtude de imprimirem sobre ela as marcas de Seus pés de lótus.

VERSO 2: Com o desejo de Se deleitar com passatempos, o Senhor Mādhava, soando Sua flauta, rodeado pelos vaqueirinhos que canta­vam Suas glórias e pelo Senhor Baladeva, trazendo as vacas a Sua frente, entrou na floresta de Vṛndāvana, que era cheia de flores e rica em alimentos para os animais.

VERSO 3: Após observar aquela floresta, que ressoava com encantadores sons de abelhas, animais e pássaros, e que era embelezada por um lago de águas cristalinas semelhantes à mente das grandes almas e por uma brisa que transportava a fragrância de flores de lótus de cem pétalas, o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personali­dade de Deus, decidiu desfrutar sua auspiciosa atmosfera.

VERSO 4: O Senhor primordial viu que as árvores majestosas, com seus belos botões avermelhados e seu pesado fardo de frutos e flores, curvavam-se para tocar Seus pés com as pontas dos galhos. Então, Ele sorriu meigamente e dirigiu-Se a Seu irmão mais velho.

VERSO 5: A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó mais eminente dos Senhores, vê só como essas árvores prostram suas cabeças a Teus pés de lótus, que são adoráveis para os semideuses imortais. As árvores estão oferecendo-Te seus frutos e suas flores para erradicar a tenebrosa ignorância que provocou seu nascimento como ár­vores.

VERSO 6: Ó personalidade original, essas abelhas devem ser todas grandes sábios e elevadíssimos devotos Teus, pois elas Te adoram seguindo-Te pelo caminho e cantando-lhe as glórias, que por si mesmas são um lugar sagrado para o mundo inteiro. Embora estejas disfarçado dentro desta floresta, ó pessoa imaculada, elas se recusam a aban­donar a Ti, que és o Senhor adorável delas.

VERSO 7: Ó adorável Senhor, esses pavões estão dançando de alegria diante de Ti, essas corças estão agradando-Te com olhares afetuosos, assim como o fazem as gopīs, e esses cucos estão honrando-Te com preces védicas. Todos esses residentes da floresta são muito afortunados, e o comportamento deles para conTigo decer­to condiz com a atitude de grandes almas ao receberem outra grande alma em seu lar.

VERSO 8: Esta Terra se tornou agora muito afortunada porque tocaste sua relva e arbustos com Teus pés, porque tocaste suas árvores e trepadeiras com Tuas unhas, e porque agraciaste seus rios, montanhas, aves e animais com Teus olhares misericordiosos. Mas, acima de tudo, abraçaste as jovens vaqueirinhas com Teus braços – favor almejado até mesmo pela própria deusa da fortuna.

VERSO 9: Śukadeva Gosvāmī disse: Expressando assim Sua satisfação com a bela floresta de Vṛndāvana e seus habitantes, o Senhor Kṛṣṇa, junto com Seus amigos, gostava de pastorear as vacas e outros animais nas margens do rio Yamunā abaixo da colina Govardhana.

VERSOS 10-12: Às vezes, as abelhas em Vṛndāvana ficavam tão enlouqueci­das de êxtase que fechavam os olhos e começavam a cantar. O Senhor Kṛṣṇa, passeando pela trilha da floresta com Seus amigos vaqueirinhos e Baladeva, respondia então às abelhas imitando o canto delas, enquanto Seus amigos cantavam sobre Seus passatempos. Às vezes, o Senhor Kṛṣṇa imitava o tagarelar do papagaio; outras vezes, com uma voz doce, imitava o cucular do cuco, e ainda outras vezes, o arrulhar dos cisnes. Algumas vezes, Ele, com muito vigor, imitava a dança do pavão, fazendo Seus amigos rirem. Outras vezes, com a voz tão grave quanto o ribombar de nuvens, Ele afetuosamente chamava pelo nome os animais que se haviam desgarrado do rebanho, encantando desse modo as vacas e os vaqueirinhos.

VERSO 13: Às vezes, Ele gritava imitando aves tais como os cakoras, os krauñcas, os cakrāhvas, os bhāradvājas e os pavões, e às vezes corria com os animais menores fingindo ter medo de leões e tigres.

VERSO 14: Quando Seu irmão mais velho, cansado de tanto brincar, repousava a cabeça no colo de um vaqueirinho, o Senhor Kṛṣṇa ajudava-O a relaxar massageando pessoalmente Seus pés e oferecendo outros serviços.

VERSO 15: Às vezes, enquanto os vaqueirinhos dançavam, cantavam, movimentavam-se e brincavam de lutar uns com os outros, Kṛṣṇa e Balarāma, postados ali perto e de mãos dadas, glorificavam as atividades de Seus amigos e riam.

VERSO 16: Às vezes, o Senhor Kṛṣṇa, cansado de lutar, deitava-Se na base de uma árvore, descansando em um leito de ramos e botões suaves e usando como travesseiro o colo de um amigo vaqueirinho.

VERSO 17: Alguns dos vaqueirinhos, que eram todos grandes almas, então massageavam-Lhe os pés de lótus, e outros, qualificados por estarem livres de todo pecado, abanavam o Senhor Supremo com grande perícia.

VERSO 18: Meu querido rei, outros meninos cantavam encantadoras canções apropriadas para a ocasião, e seus corações derretiam de amor pelo Senhor.

VERSO 19: Dessa maneira, o Senhor Supremo, cujos suaves pés de lótus são servidos pela deusa da fortuna em pessoa, ocultava Suas opulências transcendentais por meio de Sua potência interna e agia tal qual o filho de um vaqueiro. Todavia, mesmo enquanto Se divertia como um menino de vila na companhia de outros meninos de vila, Ele muitas vezes exibia proezas que só Deus poderia realizar.

VERSO 20: Certa vez, alguns dos vaqueirinhos – Śrīdāmā, o amigo muito íntimo de Rāma e Kṛṣṇa, junto com Subala, Stokakṛṣṇa e outros – falaram com muito amor as seguintes palavras.

VERSO 21: [Os vaqueirinhos disseram:] Ó Rāma, Rāma de braços poderosos! Ó Kṛṣṇa, destruidor dos canalhas! Não longe daqui, há uma enorme floresta cheia de bosques de palmeiras.

VERSO 22: Naquela floresta de Tālavana, muitas frutas caem das árvo­res, e muitas já estão no chão. Mas todas elas são guardadas pelo perverso Dhenuka.

VERSO 23: Ó Rāma, ó Kṛṣṇa! Dhenuka é um demônio poderosíssimo e que assumiu a forma de um asno. Está rodeado de muitos amigos que assumiram uma forma semelhante à sua e que são tão poderosos quanto ele.

VERSO 24: O demônio Dhenuka come seres humanos vivos, motivo pelo qual todos os homens e animais temem imensamente ir à floresta de Tāla. Ó matador do inimigo, até mesmo as aves temem voar naquela região.

VERSO 25: Na floresta de Tāla, existem frutas de aroma muito doce que ninguém jamais saboreou. De fato, mesmo agora podemos sentir a fragrância das frutas tāla espalhada por toda parte.

VERSO 26: Ó Kṛṣṇa! Por favor, consegue aquelas frutas para nós. Nossas mentes se sentem muito atraídas por seu aroma! Querido Balarāma, nosso desejo de comer aquelas frutas é imenso. Se considerais uma boa ideia, vamos à floresta Tāla.

VERSO 27: Ouvindo as palavras de Seus queridos companheiros, Kṛṣṇa e Balarāma riram e, desejosos de agradar-lhes, partiram para Tālavana rodeados de Seus amigos vaqueirinhos.

VERSO 28: O Senhor Balarāma entrou primeiro na floresta Tāla. Então, com Seus braços, começou a sacudir vigorosamente as árvores com a força de um elefante louco, fazendo as frutas tāla caírem no chão.

VERSO 29: Ao ouvir o som das frutas que caíam, Dhenuka, o demônio asno, precipitou-se ao ataque, fazendo a terra e as árvores tremerem.

VERSO 30: O poderoso demônio se lançou em direção ao Senhor Baladeva e, com os cascos de suas patas traseiras, golpeou prontamente o peito do Senhor. Então, em meio a zurros ensurdecedores, Dhenuka passou a correr de um lado para o outro.

VERSO 31: Novamente disparando em direção ao Senhor Balarāma, ó rei, o furioso asno aproximou-se outra vez do Senhor. Então, zurrando de ira, o demônio O atacou com um coice.

VERSO 32: O Senhor Balarāma agarrou Dhenuka pelos cascos, girou-o no ar com uma só mão e arremessou-o no topo de uma palmeira. Esse violento movimento giratório matou o demônio.

VERSO 33: O Senhor Balarāma lançou o cadáver de Dhenukāsura sobre a palmeira mais alta da floresta, e quando o demônio morto caiu no topo da árvore, esta começou a sacudir. A grande palmeira, fazendo com que outra árvore a seu lado também sacudisse, partiu­-se em virtude do peso do demônio. A árvore vizinha fez sacudir outra árvore, e esta, por sua vez, atingiu mais outra, que também começou a sacudir. Desse modo, muitas árvores na floresta sacudiram e se partiram.

VERSO 34: Em virtude do passatempo do Senhor Balarāma de lançar o corpo do demônio asno ao topo da mais alta palmeira do local, todas as árvores começaram a balançar e chocar-se umas contra as outras como se agitadas por ventos poderosos.

VERSO 35: Meu querido Parīkṣit, o fato de o Senhor Balarāma ter matado Dhenukāsura não é algo tão admirável, considerando que Ele é a ilimitada Personalidade de Deus, o controlador do universo inteiro. De fato, o cosmo inteiro repousa nEle, assim como um tecido repousa sobre seus fios horizontais e verticais.

VERSO 36: Os outros demônios asnos, amigos íntimos de Dhenukāsura, ficaram enfurecidos ao ver sua morte, e então precipitaram-se todos de imediato em direção a Kṛṣṇa e Balarāma para atacá-lOs.

VERSO 37: Ó rei, quando os demônios atacaram, Kṛṣṇa e Balarāma facilmente agarraram-nos um após o outro por suas patas traseiras e lançaram-nos todos nos topos das palmeiras.

VERSO 38: Coberta com pilhas de frutas e com os cadáveres dos demônios, que estavam enroscados nos topos partidos das palmeiras, a terra parecia muito bela. De fato, a terra brilhava como o céu adornado de nuvens.

VERSO 39: Ao ouvirem sobre o magnífico feito dos dois irmãos, os semi­deuses e outros elevados seres vivos lançaram chuvas de flores e, em glorificação, ofereceram música e orações.

VERSO 40: As pessoas agora se sentiam livres para voltar à floresta onde Dhenuka fora morto e, sem medo, comiam as frutas das palmei­ras. Da mesma forma, as vacas agora à vontade, podiam pastar livremente por sobre aquela relva.

VERSO 41: Então, o Senhor Śrī Kṛṣṇa de olhos de lótus, cujas glórias são muito piedosas de ouvir e cantar, voltou para casa em Vraja com Seu irmão mais velho, Balarāma. Ao longo do caminho, os vaqueirinhos, Seus fiéis seguidores, cantavam Suas glórias.

VERSO 42: O cabelo do Senhor Kṛṣṇa, coberto com a poeira levantada pelas vacas, estava decorado com uma pena de pavão e flores silvestres. O Senhor tinha um olhar encantador e um belo sorri­so, tocando Sua flauta enquanto Seus companheiros cantavam Suas glórias. Com olhos muito ansiosos por vê-lO, as gopīs, todas juntas, adiantaram-se para encontrá-lO.

VERSO 43: Com seus olhos semelhantes a abelhas, as mulheres de Vṛndāvana bebiam o mel do belo rosto do Senhor Mukunda e, assim, abandonavam a tristeza que sentiam durante o dia por estarem com saudade dEle. As jovens de Vṛndāvana lançavam olhares de soslaio ao Senhor – olhares cheios de timidez, riso e submissão –, e Śrī Kṛṣṇa, aceitando completamente esses olhares como um adequado oferecimento de respeito, entrava na vila dos vaqueiros.

VERSO 44: Mãe Yaśodā e mãe Rohiṇī, agindo com muita afeição para com seus dois filhos, ofereciam-Lhes tudo o que havia de melhor em resposta a todos os Seus desejos e nas várias ocasiões apropriadas.

VERSO 45: Após serem banhados e massageados, os dois jovens Senhores aliviavam-Se da exaustão provocada por andar nas estradas do campo. Então, trajavam vestes atrativas e eram enfeitados com guirlandas e fragrâncias transcendentais.

VERSO 46: Após comerem o suntuoso jantar que Suas mães Lhes davam e serem mimados de várias maneiras, os dois irmãos deitavam­-Se em Suas ótimas camas e adormeciam felizes na vila de Vraja.

VERSO 47: Ó rei, o Supremo Senhor Kṛṣṇa vagueava assim pela área de Vṛndāvana, representando Seus passatempos. Certa vez, rodeado de Seus amigos, Ele foi sem Balarāma ao rio Yamunā.

VERSO 48: Naquela ocasião, as vacas e vaqueirinhos estavam sentindo intensa aflição decorrente do sol ofuscante do verão. Afligidos pela sede, eles beberam a água do rio Yamunā. Contudo, ela fora contaminada por um veneno.

VERSOS 49-50: Logo que tocaram a água envenenada, todas as vacas e me­ninos, em virtude do divino poder do Senhor, perderam a cons­ciência e caíram sem vida à beira da água. Ó herói dos Kurus, ao vê-los em tal estado, o Senhor Kṛṣṇa, o mestre de todos os mestres da potência mística, sentiu compaixão destes devotos, que não tinham outro Senhor senão Ele. Em razão disso, Ele de imediato os trouxe de volta à vida lançando sobre eles o néctar de Seu olhar.

VERSO 51: Após recuperarem sua plena consciência, as vacas e os meninos levantaram-se da água e começaram a se entreolhar com grande espanto.

VERSO 52: Ó rei, os vaqueirinhos então entenderam que, embora tivessem bebido veneno e de fato morrido, eles, devido ao simples olhar misericordioso de Govinda, haviam recuperado suas vidas e, por sua própria força, tinham-se levantado.

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