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VERSO 18

tato jagan-maṅgalam acyutāṁśaṁ
samāhitaṁ śūra-sutena devī
dadhāra sarvātmakam ātma-bhūtaṁ
kāṣṭhā yathānanda-karaṁ manastaḥ

tataḥ — em seguida; jagat-maṅgalam — ventura para todas as entidades vivas em todos os universos da criação; acyuta-aṁśam — a Suprema Personalidade de Deus, que nunca está desprovido das seis opulências, todas as quais estão presentes em todas as Suas expansões plenárias; samāhitam — transferido com toda a plenitude; śūra-sutena — por Vasudeva, o filho de Śūrasena; devī — Devakī­-devī; dadhāra — carregava; sarva-ātmakam — a Alma Suprema de todos; ātma-bhūtam — a causa de todas as causas; kāṣṭhā — o Orien­te; yathā — assim como; ānanda-karam — a bem-aventurada (a Lua); manastaḥ — estando situado na mente.

Em seguida, acompanhado pelas expansões plenárias, a opulentíssima Suprema Personalidade de Deus, que é muito auspicioso para o universo inteiro, foi transferido da mente de Vasudeva para a mente de Devakī. Devakī, sendo assim iniciada por Vasudeva, tornou­-se bela ao carregar no âmago de seu coração o Senhor Kṛṣṇa, a cons­ciência original de todos, a causa de todas as causas, assim como o Oriente se torna belo por abrigar a lua nascente.

SIGNIFICADO—Como indica aqui a palavra manastaḥ, a Suprema Personalidade de Deus foi transferida de dentro da mente ou do coração de Vasu­deva para dentro do coração de Devakī. Devemos atentar para o fato de que o Senhor não foi transferido a Devakī através do pro­cesso humano comum, senão que isso se deu através de dīkṣā, iniciação. Menciona-se aqui, portanto, a importância da iniciação. A menos que alguém seja iniciado pela pessoa certa, que sempre conserva em seu coração a Suprema Personalidade de Deus, ele não adquire o poder de carregar a Divindade Suprema no âmago do seu próprio coração.

A palavra acyutāṁśam é usada porque a Suprema Personalidade de Deus é ṣaḍ-aiśvarya-pūrṇa, pleno das seguintes opulências: riqueza, força, fama, conhecimento, beleza e renúncia. A Divindade Suprema nunca Se separa de Suas opulências pessoais. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (5.39), rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan: o Senhor sempre Se apresenta com todas as Suas expansões plenárias, tais como Rāma, Nṛsiṁha e Varāha. Portanto, a palavra acyutāṁśam é especificamente usada aqui, significando que o Senhor sempre está presente com Suas expansões plenárias e com Suas opu­lências. Ao contrário do que fazem os yogīs, não há necessidade de pensar artificialmente no Senhor. Dhyānāvasthita-tad-gatena manasā paśyanti yaṁ yoginaḥ (Śrīmad-Bhāgavatam 12.13.1). Em suas mentes, os yogīs meditam na Pessoa Suprema. Para o devoto, entretanto, o Senhor está presente, e Sua presença precisa apenas ser despertada através da iniciação concedida pelo mestre espiritual genuíno. O Senhor não precisava viver no ventre de Devakī, pois estando pre­sente no âmago do coração dela, bastava isso para ela levá-lO con­sigo. Jamais se deve pensar que Vasudeva gerou Kṛṣṇa no ventre de Devakī e que ela levava a criança em seu ventre.

Ao conservar a forma da Suprema Personalidade de Deus em seu coração, Vasudeva parecia o refulgente Sol, cujos raios brilhantes sempre são insuportáveis e abrasadores para o homem comum. A forma do Senhor situada no coração puro e imaculado de Vasudeva não é diferente da forma original de Kṛṣṇa. O aparecimento da forma de Kṛṣṇa em qualquer parte, e especificamente no coração, chama-se dhāma. Dhāma refere-se não apenas à forma de Kṛṣṇa, mas ao Seu nome, Sua forma, Sua qualidade e Sua parafernália. Tudo se manifesta simultaneamente.

Portanto, a forma eterna da Suprema Personalidade de Deus, a qual tinha potências plenas, foi transferida da mente de Vasudeva para a mente de Devakī, assim como os raios do sol poente são trans­feridos para a lua cheia que surge no Oriente.

Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, veio do corpo de Vasu­deva e entrou no corpo de Devakī. Suas condições são bem diferen­tes daquelas em que está situada a entidade viva comum. Quando Kṛṣṇa está presente, é bom que se saiba que todas as Suas expan­sões plenárias, tais como Nārāyaṇa, e encarnações como Nṛsiṁha e Varāha, estão com Ele, e elas não estão sujeitas às condições da exis­tência material. Dessa maneira, Devakī tornou-se a residência da Suprema Personalidade de Deus, que, único e inigualável, é a causa de toda a criação. Devakī se tornou a residência da Verdade Absoluta, mas, como estava na casa de Kaṁsa, ela parecia um fogo abafado, ou o conhecimento mal utilizado. Quando o fogo é coberto pelas paredes de um pote ou é mantido em uma jarra, os raios iluminantes do fogo não são muito valorizados. Igualmente, o conhecimento mal utilizado, que não beneficia as pessoas em geral, não é muito apreciado. Assim, Devakī foi mantida entre as paredes da prisão do palácio de Kaṁsa, e ninguém podia ver sua beleza transcendental, resultante do fato de ela ter concebido a Suprema Personalidade de Deus.

Comentando este verso, Śrī Vīrarāghava Ācārya escreve: vasudeva-­devakī jaṭharayor hṛdayayor bhagavataḥ sambandhaḥ. O episódio em que o Senhor Supremo vem do coração de Vasudeva e entra no ventre de Devakī foi um relacionamento de coração para coração.

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