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VERSO 4

kātyāyani mahā-māye
mahā-yoginy adhīśvari
nanda-gopa-sutaṁ devi
patiṁ me kuru te namaḥ
iti mantraṁ japantyas tāḥ
pūjāṁ cakruḥ kumārikāḥ

kātyāyanī — ó deusa Kātyāyanī; mahā-māye — ó grande potência; mahā-yogini — ó possuidora de enorme poder místico; adhīśvari — ó poderosa controladora; nanda-gopa-sutam — o filho de Mahārāja Nanda; devi — ó deusa; patim — o marido; me — meu; kuru — por favor, faze; te — a ti; namaḥ — minhas reverências; iti — com estas palavras; mantram — o hino; japantyaḥ — cantando; tāḥ — elas; pūjām — adora­ção; cakruḥ — faziam; kumārikāḥ — as mocinhas solteiras.

Cada uma das mocinhas solteiras realizava sua adoração enquanto cantava o seguinte mantra: “Ó deusa Kātyāyanī, ó grande potência do Senhor, ó possuidora de enorme poder místico e poderosa controladora de tudo, por favor, faze o filho de Nanda Mahārāja meu marido. Ofereço-te minhas reverências.”

SIGNIFICADOSegundo vários ācāryas, a deusa Durgā mencionada neste verso não é a energia ilusória de Kṛṣṇa chamada Māyā, mas sim a potên­cia interna do Senhor conhecida como Yoga-māyā. A distinção entre a potência interna e a externa, ou ilusória, do Senhor é descrita no Nārada-pañcarātra, na conversa entre Śruti e Vidyā:

jānāty ekāparā kāntaṁ
saivā durgā tad-ātmikā
yā parā paramā śaktir
mahā-viṣṇu-svarūpiṇī

yasyā vijñāna-mātreṇa
parāṇāṁ paramātmanaḥ
mahūrtād deva-devasya
prāptir bhavati nānyathā

ekeyaṁ prema-sarvasva
svabhāvā gokuleśvarī
anayā su-labho jñeya
ādi-devo ’khileśvaraḥ

asyā āvārika-śaktir
mahā-māyākhileśvarī
yayā mugdaṁ jagat sarvaṁ
sarve dehābhimāninaḥ

“A potência inferior do Senhor, conhecida como Durgā, dedica-se a Seu serviço amoroso. Sendo a potência do Senhor, esta energia in­ferior não difere dEle. Existe outra potência, superior, cuja forma está no mesmo nível espiritual que o próprio Deus. Apenas por com­preender cientificamente esta potência suprema pode-se alcançar de imediato a Alma Suprema de todas as almas, que é o Senhor de todos os senhores. Não há outro processo para alcançá-lO. Essa potência suprema do Senhor é conhecida como Gokuleśvarī, a deusa de Go­kula. Sua natureza é estar cem por cento absorta em amor por Deus, e, através dela, é fácil alcançar o Deus primordial, o Senhor de tudo o que existe. Esta potência interna do Senhor tem uma potência en­cobridora, conhecida como Mahā-māyā, que governa o mundo mate­rial. De fato, ela confunde o universo inteiro, razão pela qual todos no universo identificam-se erroneamente com o corpo material.”

Podemos concluir, a partir das afirmações acima, que as potências interna e externa, ou superior e inferior, do Senhor Supremo são personi­ficadas como Yoga-māyā e Mahā-māyā, respectivamente. O nome Durgā às vezes é usado para se referir à potência interna e superior, como se afirma no Pañcarātra: “Em todos os mantras usados para adorar Kṛṣṇa, a deidade regente é conhecida como Durgā.” Logo, nas vibrações sonoras transcendentais que glorificam e adoram a Ver­dade Absoluta, Kṛṣṇa, a deidade que preside o mantra ou hino es­pecífico chama-se Durgā. O nome Durgā, portanto, refere-se também àquela personalidade que funciona como a potência interna do Senhor e que está assim na plataforma de śuddha-sattva, existência transcen­dental pura. Entende-se que essa potência interna é a irmã de Kṛṣṇa, conhecida também como Ekānaṁśā ou Subhadrā. Esta é a Durgā que foi adorada pelas gopīs em Vṛndāvana. Vários ācāryas salientaram que as pessoas comuns às vezes ficam confusas e pensam que os nomes Mahā-māyā e Durgā referem-se exclusivamente à potência externa do Senhor.

Ainda que, por hipótese, aceitemos que as gopīs adoravam a Māyā externa, não há erro por parte delas, visto que, em seus passatempos amo­rosos com Kṛṣṇa, elas agiam como membros comuns da sociedade. A esse respeito, Śrīla Prabhupāda comenta: “Os vaiṣṇavas, em geral, não adoram nenhum semideus. Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura proibiu rigorosamente toda adoração a semideuses para qualquer pessoa que queira avançar no serviço devocional puro. Porém, as gopīs, que estão além de comparação no que tange o seu afeto por Kṛṣṇa, foram vistas adorando Durgā. Os adoradores de semideuses mencionam às vezes que as gopīs também adoraram a deusa Durgā, mas devemos entender o propósito das gopīs. Em geral, as pessoas adoram a deusa Durgā para conseguir alguma bênção material. Aqui, as gopīs rezaram à deusa para se tornarem esposas do Senhor Kṛṣṇa. O significado é que, se Kṛṣṇa é o centro da atividade, o devoto pode adotar qualquer meio para atingir essa meta. As gopīs podiam adotar qualquer meio para satisfazer ou servir Kṛṣṇa. Essa era a característica excelsa das gopīs. Elas adoraram a deusa Durgā por um mês inteiro a fim de terem Kṛṣṇa como seu marido. Todos os dias, elas oravam para que Kṛṣṇa, o filho de Nanda Mahārāja, Se tornasse seu marido.”

A conclusão é que um devoto sincero de Kṛṣṇa jamais imaginará que existe qualquer qualidade material nas transcendentais gopīs, que são as devotas mais sublimes do Senhor. A única motivação em todas as atividades delas era apenas amar e satisfazer a Kṛṣṇa, e se nós, por tolice, considerarmos as atividades delas como sendo de alguma maneira mundanas, não nos será possível compreender a consciência de Kṛṣṇa.

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