No edit permissions for Português

CAPÍTULO VINTE E DOIS

Kṛṣṇa Rouba as Vestes das Gopīs Solteiras

Este capítulo descreve como as filhas dos vaqueiros que estavam em idade de se casar adoraram Kātyāyanī para conseguir o Senhor Śrī Kṛṣṇa como esposo, e como Kṛṣṇa roubou as vestes das mocinhas e deu-lhes bênçãos.

Durante o mês de mārgaśīrṣa, todo dia de manhã bem cedo as jovens filhas dos vaqueiros davam-se as mãos e, cantando as qua­lidades transcendentais de Kṛṣṇa, iam ao Yamunā para se banharem. Desejando obter Kṛṣṇa como seu esposo, elas então adoravam a deusa Kātyāyanī com incenso, flores e outros artigos.

Certo dia, as jovens gopīs deixaram suas roupas na margem como de costume e começaram a brincar na água enquanto cantavam sobre as atividades do Senhor Kṛṣṇa. De repente, o próprio Kṛṣṇa chegou ali, levou embora todas as roupas e subiu em uma árvore kadamba pró­xima. Querendo provocar as gopīs, Kṛṣṇa disse: “Sei como vós, gopīs, deveis estar fatigadas de vossas austeridades, então, por favor, vinde até a margem pegar vossas roupas.”

Nesse momento, as gopīs fingiram estar zangadas e disseram que a água fria do Yamunā lhes causava muito agonia e que se Kṛṣṇa não lhes devolvesse as roupas, elas informariam ao rei Kaṁsa tudo o que acontecera. Porém, se Ele devolvesse as roupas, elas, de bom grado, cumpririam Suas ordens com uma atitude de servas humildes.

Śrī Kṛṣṇa retrucou que não tinha medo do rei Kaṁsa e que se elas realmente pretendiam seguir Sua ordem e ser Suas servas, cada uma delas devia ir de imediato à margem do rio e pegar suas respectivas roupas. As meninas, tremendo de frio, saíram da água cobrindo suas partes íntimas com as mãos. Kṛṣṇa, que sentia enorme afeição por elas, tornou a falar: “Por tomardes banho nuas enquanto executáveis um voto, cometestes uma ofensa contra o senhor das águas e, para anulá-la, deveis oferecer reverências de mãos postas. Então, vosso voto de austeridade surtirá efeito.”

As gopīs seguiram essa instrução e, de mãos postas em respeito, ofereceram reverências a Śrī Kṛṣṇa. Satisfeito, Ele lhes devolveu as roupas. Todavia, os corações das mocinhas sentiram-se tão atraídos por Ele que elas não eram capazes de ir embora. Compreendendo suas mentes, Kṛṣṇa disse saber que elas haviam adorado Kātyāyanī para consegui-­lO como esposo. Por elas terem-Lhe oferecido seus corações, seus desejos jamais seriam maculados pela postura de desfrute materia­lista, assim como grãos de cevada fritos não podem mais brotar. O Senhor, então, disse-lhes que o mais acalentado desejo delas seria satisfeito no próximo outono.

Completamente satisfeitas, as gopīs retornaram a Vraja, e Śrī Kṛṣṇa e Seus amigos vaqueirinhos foram para um lugar distante pastorear as vacas.

Algum tempo depois, ao se sentirem perturbados pelo enorme calor do verão, os meninos se abrigaram embaixo de uma árvore que se assemelhava a um guarda-sol. Nesse momento, o Senhor disse que a vida de uma árvore é muito sublime, pois, mesmo enquanto sente dor, a ár­vore continua a proteger os outros do calor, da chuva, da neve e assim por diante. Com suas folhas, flores, frutas, sombra, raízes, casca, madeira, fragrância, seiva, cinzas, polpa e brotos, a árvore satisfaz os desejos de todos. Essa espécie de vida é ideal. De fato, disse Kṛṣṇa, a perfeição da vida é agir com a própria energia vital, riqueza, inteligência e palavras para o benefício de todos.

Depois que o Senhor havia glorificado as árvores dessa maneira, todo o grupo foi ao Yamunā, onde os vaqueirinhos deixaram as vacas beber a água doce, e eles também beberam um pouco.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Durante o primeiro mês do inverno, as mocinhas solteiras de Gokula observaram um voto de adorar a deusa Kātyāyanī. Durante todo o mês, elas só comeram khichrī sem tempero.

VERSOS 2-3: Meu querido rei, depois de se banharem na água do Yamunā logo que o sol nascera, as gopīs fizeram na margem do rio uma deidade de barro da deusa Durgā. Elas, então, adoraram-na com substâncias aromáticas, tais como polpa de sândalo, bem como outros artigos, tanto opulentos quanto simples, incluindo lamparinas, frutas, nozes-de-bétel, folhas recém-crescidas e guirlandas e incenso fragrantes.

VERSO 4: Cada uma das mocinhas solteiras realizava sua adoração enquanto cantava o seguinte mantra: “Ó deusa Kātyāyanī, ó grande potência do Senhor, ó possuidora de enorme poder místico e poderosa controladora de tudo, por favor, faze o filho de Nanda Mahārāja meu marido. Ofereço-te minhas reverências.”

VERSO 5: Assim, durante um mês inteiro, as jovens cumpriram seu voto e, com suas mentes cem por cento absortas em Kṛṣṇa, adoraram de modo apropriado a deusa Bhadrakālī, meditando no seguinte pensamento: “Que o filho do rei Nanda Se torne meu marido.”

VERSO 6: Todo dia, elas se levantavam de madrugada. Chamando umas às outras pelo nome, todas se davam as mãos e, enquanto iam ao Kālindī para se banharem, cantavam em voz alta as glórias de Kṛṣṇa.

VERSO 7: Certo dia, elas foram à margem do rio e, como costumavam fazer, colocaram suas roupas de lado e passaram a brincar ale­gremente na água enquanto cantavam as glórias de Kṛṣṇa.

VERSO 8: O Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus e mestre de todos os mestres do yoga místico, sabia o que as gopīs estavam fazendo e, por isso, foi até lá rodeado por Seus jovens compa­nheiros para conceder às gopīs a perfeição de seu esforço.

VERSO 9: Pegando as roupas das meninas, Ele subiu depressa ao topo de uma árvore kadamba. Então, enquanto Ele e Seus companheiros riam alto, o Senhor dirigiu às meninas as seguintes palavras jocosas.

VERSO 10: Minhas queridas meninas, cada uma pode vir aqui como quiser e pegar de volta suas roupas. Estou dizendo a verdade e não estou brincando convosco, pois vejo que estais cansadas da execução de votos austeros.

VERSO 11: Eu jamais disse uma mentira, e estes meninos sabem disso. Portanto, ó meninas de cintura fina, por favor, adiantai-vos, uma a uma ou todas juntas, e apanhai vossas roupas.

VERSO 12: Vendo como Kṛṣṇa brincava com elas, as gopīs ficaram imer­sas em pleno amor por Ele e, enquanto se entreolhavam, come­çaram a rir e a brincar entre si, apesar de constrangidas. Ainda assim, porém, não saíram da água.

VERSO 13: Enquanto Śrī Govinda falava com as gopīs dessa maneira, Suas palavras jocosas cativaram por completo a mente delas. Submersas até o pescoço na água fria, elas começaram a tremer. Então, dirigiram-Lhe as seguintes palavras.

VERSO 14: Querido Kṛṣṇa, não sejas injusto! Sabemos que és o respeitá­vel filho de Nanda e que és honrado por todos em Vraja. Também és muito querido para nós. Por favor, devolve nossas roupas. Estamos tremendo na água fria.

VERSO 15: Ó Śyāmasundara, somos Tuas servas e devemos fazer tudo o que disseres. Mas devolve nossa roupa. Sabes quais são os princípios religiosos, e se não nos deres nossas roupas, teremos de contar ao rei. Por favor!

VERSO 16: A Suprema Personalidade de Deus disse: Se vós, meninas, sois mesmo Minhas servas e se de fato quereis fazer o que digo, então vinde aqui com vossos inocentes sorrisos e que cada menina pegue as suas próprias roupas. Se não fizerdes o que digo, não as devol­verei. E mesmo que o rei se zangue, o que ele poderá fazer?

VERSO 17: Então, tremendo devido ao doloroso frio, todas as jovens saíram da água cobrindo suas partes íntimas com as mãos.

VERSO 18: Ao ver como as gopīs estavam afetadas pelo constrangimento, o Senhor Supremo ficou satisfeito com sua afeição amorosa e pura. Colocando as roupas delas em Seu ombro, o Senhor sorriu e, com afeição, disse-lhes o seguinte.

VERSO 19: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Meninas, vós vos banhastes nuas en­quanto executáveis vosso voto, e isso sem dúvida é uma ofensa contra os semideuses. Para anular vosso pecado, deveis oferecer reverências de mãos postas acima da cabeça. Depois disso, deveis apanhar de volta vossas roupas.

VERSO 20: Assim, as jovenzinhas de Vṛndāvana, considerando o que o Senhor Acyuta lhes dissera, reconheceram que, por banharem-se nuas no rio, haviam sofrido uma queda de seu voto. Todavia, como ainda desejavam cumprir seu voto com sucesso e como o Senhor Kṛṣṇa é Ele mesmo o resultado último de todas as atividades pie­dosas, elas Lhe ofereceram reverências para se purificarem de todos os pecados.

VERSO 21: Vendo-as prostrarem-se daquela maneira, a Suprema Personalidade de Deus, o filho de Devakī, devolveu-lhes as vestes, sentindo compaixão delas e satisfeito com seu ato.

VERSO 22: Apesar de terem sido completamente enganadas, privadas de sua modéstia, ridicularizadas e obrigadas a agir como bonecas de brinquedo, e apesar de sua roupa ter sido roubada, as gopīs não sentiam nenhuma hostilidade para com Śrī Kṛṣṇa. Ao contrário, es­tavam jubilosas diante da oportunidade de se associar com seu amado.

VERSO 23: As gopīs ficaram habituadas a associar-se com seu amado Kṛṣṇa e, dessa maneira, deixaram-se cativar por Ele. Assim, mesmo depois de vestirem suas roupas, elas não se afastaram. Apenas permane­ceram onde estavam, olhando timidamente para Ele.

VERSO 24: O Senhor Supremo compreendeu a determinação das gopīs de executar seu voto estrito. O Senhor também entendeu que as me­ninas desejavam tocar-Lhe os pés de lótus, motivo pelo qual o Senhor Dāmodara, Kṛṣṇa, disse-lhes o seguinte.

VERSO 25: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Ó meninas santas, compreendo que o verdadeiro motivo desta austeridade foi adorar-Me. Aprovo semelhante intenção, e de fato ela deve acontecer.

VERSO 26: O desejo daqueles que fixam a mente em Mim não leva ao de­sejo material de gozo dos sentidos, assim como grãos de cevada queimados pelo sol e depois cozidos não podem mais gerar novos brotos.

VERSO 27: Ide agora, meninas, e voltai para Vraja. Vosso desejo está sa­tisfeito, pois, em Minha companhia, desfrutareis as noites vindou­ras. Afinal, era esse o propósito de vosso voto de adorar a deusa Kātyāyanī, ó moças de coração puro.

VERSO 28: Śukadeva Gosvāmī disse: Assim instruídas pela Suprema Per­sonalidade de Deus, as mocinhas, com seu desejo agora satisfei­to, só conseguiram com grande dificuldade retornar à vila de Vraja, meditando o tempo todo em Seus pés de lótus.

VERSO 29: Algum tempo depois, o Senhor Kṛṣṇa, o filho de Devakī, ro­deado por Seus amigos vaqueirinhos e acompanhado por Seu irmão mais velho, Balarāma, afastou-Se bastante de Vṛndāvana, apascentando as vacas.

VERSO 30: Quando o calor do sol se intensificou, o Senhor Kṛṣṇa viu que as árvores estavam servindo de guarda-sóis por abrigá-lO com sua sombra. Ele, então, disse o seguinte a Seus amigos.

VERSOS 31-32: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Ó Stoka-kṛṣṇa e Aṁśu, ó Śrīdāmā, Subala e Arjuna, ó Viśāla, Vṛṣabha, Ojasvī, Devaprastha e Varūthapa, vede só estas afortunadíssimas árvores, cujas vidas estão cem por cento dedicadas ao benefício alheio. Mesmo enquanto suportam o vento, a chuva, o calor e a neve, elas nos protegem desses elementos.

VERSO 33: Vede só como estas árvores sustentam todas as entidades vivas! O nascimento delas é bem-sucedido. Seu comportamento é como o de grandes personalidades, pois qualquer um que peça algo a uma árvore nunca vai embora desapontado.

VERSO 34: Com suas folhas, flores e frutos, sua sombra, raízes, casca e madeira, e também com sua fragrância, seiva, cinzas, polpa e brotos, estas árvores satisfazem os desejos de todos.

VERSO 35: É dever de todo ser vivo realizar atividades beneficentes em favor dos outros valendo-se de sua vida, riqueza, inteligência e pa­lavras.

VERSO 36: Assim, movimentando-se por entre as árvores, cujos ramos estavam inclinados devido à abundância de ramos, frutas, flores e folhas, o Senhor Kṛṣṇa chegou ao rio Yamunā.

VERSO 37: Os vaqueirinhos deixaram as vacas beberem a água cristalina, fresca e saudável do Yamunā. Ó rei Parīkṣit, os próprios vaqueirinhos também beberam aquela água doce até se saciarem.

VERSO 38: Então, ó rei, os vaqueirinhos começaram a apascentar os ani­mais tranquilamente dentro de uma pequena floresta ao longo do Yamunā. No entanto, logo foram afligidos pela fome e, aproximando-se de Kṛṣṇa e Balarāma, disseram o seguinte.

« Previous Next »